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O Reino Unido nunca descartou por completo o envio dos caças e esta visita revelou-se uma oportunidade para repensar o pedido ucraniano

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O Reino Unido nunca descartou por completo o envio dos caças e esta visita revelou-se uma oportunidade para repensar o pedido ucraniano

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"É um privilégio ter-te aqui, Volodymyr." Zelensky esteve em Londres e Paris para conseguir caças e armas de longo alcance

Zelensky começou o dia em Downing Street, esteve no Palácio de Westminister e em Buckingham e visitou centro de treinos britânico. Acabou o dia em Paris, numa reunião com Macron e Scholz.

Foi uma visita inesperada e apenas anunciada à última hora. Era quase certo que o Presidente ucraniano iria a Bruxelas na quinta-feira para assistir ao Conselho Europeu Extraordinário com os líderes dos 27 Estados-membros, mas o que seria uma simples visita converteu-se num pequeno périplo pela Europa. Antes de se deslocar à capital belga, Volodymyr Zelensky aproveitou para passar em Londres, onde se reuniu com o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, e com o Rei Carlos III, e acabou o dia em Paris, num encontro com o Presidente francês, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholz.

Na manhã desta quarta-feira, Volodymyr Zelensky aterrou no aeroporto de Stansted, em Londres, tendo chegado no avião da força aérea britânica C-17 Globemaster III, que partiu da Polónia. À chegada, foi recebido por Rishi Sunak, pelo ministro da Defesa, Ben Wallace, e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, James Cleverly. Daí, o Presidente ucraniano partiu para Downing Street.

Na residência oficial do primeiro-ministro britânico, Volodymyr Zelensky foi recebido com pompa e circunstância. “É um privilégio ter-te aqui, Volodymyr”, disse Rishi Sunak ao líder ucraniano perante os jornalistas, confidenciando que os dois já tinham tido uma “boa conversa”. “Temos muito para discutir ao longo deste dia sobre como continuamos a apoiar a Ucrânia na sua luta contra a Rússia.”

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Do outro lado, o Presidente ucraniano agradecia ao anfitrião. “Muito obrigado ao Rishi por me ter convidado e é uma grande honra estar no Reino Unido. Obrigado pelo vosso grande apoio nos primeiros dias da invasão”, assinalou Volodymyr Zelensky, que destacou as boas relações com o primeiro-ministro britânico. Os dois líderes iam discutir como é que a Ucrânia podia sair “vitoriosa” da guerra — e um dos tópicos em cima da mesa foram os caças. 

Zelensky e Sunak em Downing Street

EPA

Após os tanques ocidentais, a Ucrânia tem apelado ao Ocidente para que envie caças. Ainda assim, os países aliados temem que isso leve a uma inevitável escalada e argumentam que não serão “práticos”, já que é necessário treinar os pilotos — e isso poderá demorar meses. Volodymyr Zelensky não cede, porém, neste objetivo e até decidiu entregar um presente ao Reino Unido: um capacete de um militar ucraniano. “Temos a liberdade, deem-nos as asas para a proteger”, apelou.

O Reino Unido nunca descartou por completo o envio dos caças e esta visita revelou-se uma oportunidade para repensar o pedido ucraniano. Embora a visita de Zelensky tenha inevitavelmente girado em torno deste tópico, este tema não foi o único a ser discutido — até porque houve uma reunião com o Rei Carlos III, um abraço inesperado no meio de uma conferência de imprensa e até uma ida a Paris.

O discurso no Palácio de Westminster

Tal como aconteceu nos Estados Unidos em dezembro, Volodymyr Zelensky aproveitou a visita oficial para falar perante o parlamento britânico. O Presidente da Ucrânia foi recebido no Palácio de Westminster e discursou na principal divisão do edifício. A ouvi-lo na plateia estavam os membros da Câmara dos Comuns e da Câmara dos Lordes. Entre estes estavam ex-governantes britânicos, como Theresa May, Liz Truss e Boris Johnson.

Ora, Boris Johnson, que desempenhava o cargo de primeiro-ministro nos primeiros meses da invasão, foi um dos maiores apoiantes da Ucrânia na comunidade internacional — tanto assim é que defendeu que o Reino Unido deveria já ter enviado caças para território ucraniano. Pouco após o discurso do Presidente ucraniano diante dos parlamentares, o ex-governante recorreu às redes sociais para vincar o seu posicionamento: “Não há nada a perder e muito a ser ganho com o envio de aeronaves agora”.

No início do discurso, o Presidente da Ucrânia lembrou a sua visita a Londres há três anos. E evocou o nome daquele com quem tem sido comparado desde o início do conflito: Winston Churchill. Lembrando que se sentou numa poltrona utilizada pelo ex-primeiro-ministro britânico, Volodymyr Zelensky reconheceu que sentiu “alguma coisa”, mas só agora é que decifrou “qual é o sentimento real”: “O sentimento de como a coragem nos faz ultrapassar as maiores dificuldades”. 

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A plateia que ouviu Zelensky em Westminister

Getty Images

Adicionalmente, Volodymyr Zelensky agradeceu ao Reino Unido por ter estado “desde os primeiros segundos” do conflito ao lado da Ucrânia, sublinhando que Londres não “comprometeu os seus ideais” de liberdade nem o “espírito” da aliança que une os dois países.

No que diz respeito à Rússia, o Chefe de Estado ucraniano garantiu perante a audiência que Moscovo “vai perder” — e que a vitória “vai mudar o mundo”. O desfecho é claro para Volodymyr Zelensky: nenhum país agressor que tente “passar as fronteiras pela força”, provocando a “morte” de outros povos, se poderá atrever a fazê-lo. “Nenhum agressor saberá o que o espera.”

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre o périplo europeu do presidente da Ucrânia.

O que traz Zelensky de Londres, Paris e Bruxelas?

“Quem quer que invista no terror tem de ser responsabilizado”, apelou o Chefe de Estado da Ucrânia, aludindo a um eventual julgamento dos dirigentes russos pelos crimes de guerra que cometeram ao longo deste ano de conflito “Quem quer que invista na violência tem que compensar aqueles que sofrerem com este terror, agressão ou outras formas de violência de Estado.”

Enquanto esse momento não chega, os combates continuam: “Todos os dias continuamos a pagar com as nossas vidas, dor e lágrimas para conseguirmos estar cada vez mais próximos da vitória”. Para que a Ucrânia possa sair vitoriosa deste conflito, Volodymyr Zelensky reforçou a diferença que fariam os caças. E voltou a referir a viagem a Londres em 2020. “Quando saí do Parlamento britânico há dois anos agradeci-vos, na altura, por aquele delicioso chá inglês. Eu vou sair hoje do Parlamento agradecendo-vos desde já pelos aviões ingleses bem poderosos.”

“Quando saí do Parlamento britânico há dois anos agradeci-vos, na altura, por aquele delicioso chá inglês. Eu vou sair hoje do Parlamento agradecendo-vos desde já pelos aviões ingleses bem poderosos"
Volodymyr Zelensky

O encontro com o Rei Carlos III

Depois do discurso, Volodymyr Zelensky deslocou-se ao Palácio de Buckingham, onde esteve com o Rei Carlos III. Foi, aliás, a primeira vez que um Chefe de Estado ucraniano foi recebido numa audiência com um monarca britânico.

E o encontro não podia ter sido mais positivo, apesar de ter acontecido envolto em grande secretismo. O Rei Carlos III confidenciou que todos no Reino Unido têm estado “preocupados” não só com Volodymyr Zelensky, como também com a Ucrânia. O monarca também indicou ter ouvido o discurso perante o parlamento. Em resposta, o Chefe de Estado salientou o “grande apoio” concedido pelo governo britânico durante o conflito.

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Zelensky com Rei Carlos III

Anadolu Agency via Getty Images

A vistoria aos tanques e a conferência de imprensa

O encontro entre o Rei Carlos III e Volodymyr Zelensky foi mantido à porta fechada, assim como evento seguinte da agenda. O Presidente da Ucrânia visitou um centro de treinos que prepara os militares ucranianos para utilizarem os carros de combate Challanger 2, agradecendo o apoio do Reino Unido nesta questão dos tanques.

Depois desta visita, e com um tanque no fundo, o Chefe de Estado e o líder britânico deram juntos uma conferência de imprensa. Foi aqui que Rishi Sunak indicou que estava a ser discutido o envio de caças. “Nada está fora de questão”, sublinhou o chefe do Executivo, que realçou que a Ucrânia deve ser armada a “curto prazo”, mas também a “longo prazo”. “O país não pode ser tão vulnerável a ataques novamente.”

O primeiro-ministro do Reino Unido admitiu que o treino da Força Aérea ucraniana em aviões padrão da NATO é “um passo para poder fornecer aviões mais sofisticados”, mas que isso é “um processo” que “leva tempo”: “Estamos empenhados em apoiar o Presidente e o seu país na obtenção de uma vitória”, assegurou Rishi Sunak.

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Sunak com Zelensky na conferência de imprensa

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“Estaremos sempre ao vosso lado”, insistiu ainda o governante britânico, prometendo permanecer junto de Zelensky ao longo da batalha contra a Rússia como prova de uma “amizade duradoura”, “leal e inabalável”. Rishi Sunak garantiu também que o Reino Unido vai continuar a apoiar a Ucrânia para que conquiste uma “vitória decisiva” no terreno: “São essas as conversações que estamos a ter [Reino Unido, Ucrânia e comunidade internacional] e que os britânicos pretendem liderar”.

Por sua vez, Volodymyr Zelensky agradeceu os “350 dias de unidade” ao Reino Unido e reforçou o pedido para que Londres envie caças e mísseis de longo alcance. Segundo o Chefe de Estado, a falta deste equipamento poderá levar a uma estagnação da guerra e permitir aos russos continuar a viver no território ucraniano.

Foi nesse momento, sem nada fizesse prever, que uma jornalista ucraniana da BBC presente na conferência de imprensa, de nome Natalia, decidiu pedir um abraço ao Presidente da Ucrânia: “Senhor Presidente, gostava muito de abraçá-lo, mas não me é permitido”. Volodymyr Zelensky aceitou abraçá-la: “Porque não?”.

Jornalista da BBC pediu abraço a Zelensky em conferência de imprensa. E recebeu-o: “Porque não?”

Em Paris, Zelensky voltou a pedir caças e armas de longo alcance

Nem 12 horas o Presidente da Ucrânia esteve em Londres. Ao final da tarde, Volodymyr Zelensky deslocou-se a Paris, onde o esperavam o Chefe de Estado francês e o chanceler alemão. De acordo com as declarações do líder do regime ucraniano, os três países passaram por “muito” juntos, mas Paris e Berlim “estiveram sempre” ao lado de Kiev, sendo que a aliança tornou-se mais “forte” ao longo do tempo.

Volodymyr Zelensky lembrou “alguns exemplos” no que diz respeito à atitude de apoio francesa e alemã. Relativamente a Paris, o Presidente da Ucrânia salientou que foi a primeira capital a entregar tanques feitos no Ocidente; já quanto a Berlim, o Chefe de Estado reforçou a entrega de defesas antiaéreas e a liderança na coligação de tanques. “Foram dois passos históricos.”

No entanto, isso não basta para fazer face à ofensiva russa. “Temos agora pouco tempo”, advertiu Volodymyr Zelensky, referindo que a Ucrânia deve ter o “armamento necessário para conseguir a paz e travar a guerra que a Rússia começou”. Para isso, o líder ucraniano apelou novamente ao envio de caças e armas de longo alcance “o mais cedo possível”. “Mais cedo parará a agressão russa e trará paz e segurança ao continente europeu”, frisou, indicando que isso será capaz de “inverter o jogo” para o lado de Kiev.

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Zelensky em Paris com Macron e Scholz

Getty Images

Numa mensagem endereçada ao chanceler alemão e ao Presidente francês, Volodymyr Zelensky sublinhou que a vitória de Kiev será “importante” para que a “Europa se torne mais forte” — um desejo de Emmanuel Macron. Para além disso, a derrota da Rússia está em consonância com a “política racional” que Olaf Scholz busca.

Por sua vez, Emmanuel Macron indicou que a agressão russa não pode ser tolerada em “nenhuma circunstância”. “A Ucrânia pode contar com a França, com os seus parceiros europeus, com os seus aliados para ganhar a guerra. A Rússia não pode nem deve ganhar”, vincou, acrescentando que Kiev pode contar com Paris no caminho para a paz. “Vamos fazer isto em conjunto, caro Volodymyr. Queremos juntos construir a paz, uma paz que faça justiça à Ucrânia, ao seu povo, à sua coragem.”

“A Ucrânia pode contar com a França, com os seus parceiros europeus, com os seus aliados para ganhar a guerra. A Rússia não pode nem deve ganhar”
Emmanuel Macron

O líder francês prometeu que França vai permanecer ao lado de Kiev e que mantém “a firmeza e determinação de a acompanhar até à vitória e ao restabelecimento dos seus direitos legítimos”. Emmanuel Macron frisou ainda que em jogo está não são a soberania da Ucrânia, mas o “futuro” da Europa: “Estamos conscientes disso”.

O chanceler alemão assinalou também que Moscovo “não pode ganhar a guerra” e que Berlim contribuirá para isso. “Estaremos sempre ao lado da Ucrânia para defender o país, os valores, a soberania a unidade territorial e tudo o que é importante neste momento”.

“Desde há onze meses, a Ucrânia e os seus cidadãos fazem prova de uma coragem, bravura, tenacidade, defendendo-se do agressor russo. Merecem respeito”, sublinhou Olaf Scholz, fazendo ainda uma antevisão para a reunião desta quinta-feira no Conselho Europeu: “Os atos de Putin na Ucrânia e a consequência dessa agressão serão discutidas”. E com uma garantia: “A Ucrânia faz parte da família europeia”.

“Estaremos sempre ao lado da Ucrânia para defender o país, os valores, a soberania a unidade territorial e tudo o que é importante neste momento”.
Olaf Scholz

Envio de caças? Rússia promete retaliar

O périplo de Volodymyr Zelensky ainda não motivou, para já, qualquer comentário do Kremlin. No entanto, a embaixada da Rússia no Reino Unido deixou um aviso sério ao Ocidente: se forem enviados caças para território ucraniano, haverá “consequências políticas e militares” não só no continente europeu, como também em “todo o mundo”.

A ação do Ocidente será assim interpretada como uma “escalada da guerra” para Moscovo. A embaixada russa enfatizou que encontrará algum meio para “responder aos passos hostis” tomados pelo Ocidente.

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