909kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

Eurokinissi

Eurokinissi

Evangelos Venizelos. "Os mercados não estão a comprar esta história"

O ex-vice-primeiro-ministro da Grécia diz que Tsipras aceitou tudo o que os credores ditaram para vender a narrativa da saída limpa, mas que a história não está a pegar. "Há um memorando permanente".

Quando foi entrevistado pelo Observador no verão de 2016, Evangelos Venizelos já dizia que o terceiro resgate era um memorando sem fim à vista e uma autêntica derrota nacional. Dois anos depois, diz que o governo de Alexis Tsipras aceitou tudo o que a Europa ditou e o resultado é um “memorando permanente para a dívida”.

Evangelos Venizelos, foi ministro de oito pastas diferentes ao longo de duas décadas, mas foi como ministro da Defesa que a fase mais difícil começou, quando, depois de perder a eleição interna no PASOK para George Papandreou, aceitou integrar o seu Governo em 2009. Fez parte dos governos que pediram os dois primeiros resgates, foi o ministro das Finanças que negociou a reestruturação da dívida pública grega em 2012 e, mais tarde, foi vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros no governo de coligação de 2013, quando a Nova Democracia ganhou as eleições.

Agora na oposição, numa entrevista por email com o Observador, o antigo governante mantém as críticas ao Syriza e a Alexis Tsipras, acusando o atual governo de completa inaptidão para negociar e de ter arrastado o país para uma saída do programa sem qualquer rede de segurança — a chamada saída limpa — para criar a ideia de sucesso, uma narrativa que nenhum analista sério acredita, diz. “Esta não é uma história de sucesso”, diz.

A Europa diz que a Grécia recuperou a liberdade para tomar as suas próprias decisões, mas com todas as restrições em curso que impôs será mesmo assim?
O que os responsáveis europeus dizem publicamente é que a Grécia tem de respeitar os compromissos que assumiu em termos orçamentais, de mudanças estruturais, para aumentar a sua competitividade, e nas privatizações. É uma forma de relembrar a Grécia que a 10 de setembro os representantes da Comissão Europeia estarão novamente em Atenas. Há instrumentos de pressão fortes para que a Grécia cumpra o que acordou com os parceiros, com as medidas para a dívida uma importante alavanca nesse sentido. O que há é um memorando permanente para a dívida. Esta é a maior falha do atual governo grego, que não fez quaisquer reais negociações, apenas aceitou o acordo tal como ditado pelos parceiros europeus.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

"O que há é um 'memorando permanente para a dívida'. Esta é a maior falha do atual governo grego, que não fez quaisquer reais negociações, apenas aceitou o acordo tal como ditado pelos parceiros europeus."
Evangelos Venizelos, ex-vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças da Grécia

É de certa forma a continuação do programa, mas sem um memorando?
É um ‘programa depois do programa’, com condições rígidas, isto é, com um memorando, mas sem um empréstimo. Este é um programa de longo prazo, em que a primeira data chave é 2022, que é quando terminam as medidas orçamentais já detalhadas — um novo corte de pensões e a redução do mínimo de existência no IRS –, e o saldo primário anual de 3,5% do PIB. A segunda data fulcral é 2032, que é quando serão revistas as medidas necessárias para assegurar a sustentabilidade da dívida. A terceira data é 2060, quando se prevê que o pagamento dos empréstimos europeus deve terminar. No entanto, o compromisso de longo prazo de ter um saldo primário anual de 2,2% do PIB entre 2022 e 2060 já foi assumido. O mais complicado é que este esquema baseia-se na aceitação da previsão que a economia grega vai crescer cerca de 1% ao longo deste período.

Evangelos Venizelos com Christine Lagarde, diretora-geral do FMI; numa reunião do Eurogrupo em 2012, em Bruxelas.

AFP/Getty Images

Porquê uma ‘saída limpa’ em vez de um programa cautelar?
O nosso governo conseguiu um acordo para ter um programa cautelar em novembro de 2014 e foi decidido pelo Eurogrupo que essa seria a forma de a adotar depois do segundo programa. Mas entretanto aconteceu o seguinte: os parceiros europeus não quiseram negociar formalmente um programa cautelar porque não queriam voltar a pedir autorização aos seus parlamentos. Ficaram-se por criar uma almofada financeira que eles próprios controlam e que serve para cobrir as necessidades de financiamento até 2020. O governo grego não apresentou objeções porque queria usar a narrativa da ‘saída limpa’. Mas os mercados não estão a comprar esta história, nenhum analista que seja sério a aceita. Na prática, a ausência de um programa cautelar significa que os bancos gregos não têm financiamento direto do Banco Central Europeu e que a Grécia não pode beneficiar da última fase dos estímulos do BCE. Por isso, chegámos a um ponto em que a Grécia está fora do programa, mas na prática também está fora dos mercados.

"O governo grego não apresentou objeções porque queria usar a narrativa da 'saída limpa'. Mas os mercados não estão a comprar esta história, nenhum analista que seja sério a aceita."
Evangelos Venizelos, ex-vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças da Grécia

O governo grego tem liberdade suficiente para decidir a sua política e decidir que medidas aplica, como alterar os cortes de pensões já aprovados para o próximo ano e que tinham sido matéria de acordo no Eurogrupo?
Qualquer mudança desse género exige o acordo dos parceiros no Eurogrupo.

Acha que Tsipras tem hipóteses de vencer as próximas eleições com o acordo que aceitou para o fim do programa?
Nas sondagens, o maior partido da oposição, a Nova Democracia, tem uma vantagem estável de mais de 10 pontos. Esta situação é o maior desafio para a área política do centro-esquerda e do centro progressista, isto é, a área do PASOK no espetro político, para que possa desempenhar um papel decisivo na derrota estratégica do Syriza e na implementação de um plano de reconstrução nacional.

Acha que a meta para o saldo estrutural é realista?
Esse objetivo é tecnicamente alcançável, mas não por um período de tempo tão longo e não com uma previsão de crescimento tão baixa. Tudo começa com o denominador da fração ‘dívida pública/PIB’.

Evangelos Venizelos, já vice-primeiro-ministro da Grécia, com Wolfgang Schäuble, na altura ministro das Finanças da Alemanha, durante uma visita a Berlim em outubro de 2014.

AFP/Getty Images

Acha que é preciso reestruturar a dívida novamente ou é possível gerir uma dívida de 180% do PIB?
Em fevereiro de 2012, quando eu era ministro das Finanças, teve lugar a reestruturação radical da dívida pública grega com uma redução drástica do seu valor, em acordo com os parceiros europeus. Esta foi a maior intervenção numa dívida pública na história económica internacional. 80% cento da dívida pública grega está fora do mercado, detida pelos parceiros da zona euro e pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira/Mecanismo Europeu de Estabilidade [os fundos de resgate do euro]. Os encargos anuais com a dívida desceram para 60% em 2012. O país está a avançar devido à intervenção de 2012, que, no entanto, ainda acautelava mais intervenção no final do segundo programa em 2015.
A eleição do governo Tsipras-Kammenos e a crise secundária que foi criada em 2015 levou o país à beira do desastre e ao terceiro programa. Este novo enquadramento permitiu aos parceiros europeus adiar o novo pacote de medidas para a dívida, com condições muito severas. Este não foi um programa concentrado na fase inicial e radical como o de 2012, foi principalmente resultado da desconfiança criada pelo atual governo que chegou ao poder em 2015, com toda a conversa irresponsável e perigosa sobre a dívida. Em segundo lugar, deveu-se à completa inaptidão do governo para negociar. O atual governo atacou a reestruturação de 2012, mas agora depende dela.

"A eleição do governo Tsipras-Kammenos e a crise secundária que foi criada em 2015 levou o país à beira do desastre e ao terceiro programa."
Evangelos Venizelos, ex-vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças da Grécia

Na sua experiência, o que falhou na Grécia para que o resgate demorasse oito anos a terminar e o que podia ter sido diferente?
A diferença entre a Grécia e os outros países que tiveram programas é que na Grécia houve uma crise secundária que aconteceu devido às perceções políticas e às práticas do governo nacionalista-populista do Syriza e do ANEL [Gregos Independentes, o parceiro minoritário da coligação governamental]. Nos outros países houve uma continuação das práticas do Estado. Não houve soluções anti-sistémicas que levaram a regressões dramáticas. O Governo de António Costa em Portugal não tem nada em comum com a experiência grega com o Syriza e o ANEL.

Considera que o caso grego é uma história de sucesso como alguns responsáveis têm vindo a afirmar?
Muito aconteceu. Houve um ajustamento orçamental impressionante graças aos grandes sacrifícios feitos pelo povo grego. Foram feitas várias mudanças estruturais. O país continua na zona euro e na União Europeia. No entanto, nos últimos três anos e meio, foram dados muitos passos atrás e poucos em frente, compensado apenas uma pequena parte dos sérios danos causados. Esta não é uma história de sucesso.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.