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“A Google é um gorila de 360 quilos na pesquisa. Quero que as pessoas saibam que os fizemos dançar.” Foi desta forma que Satya Nadella, presidente da Microsoft, desafiou a rival. E assim as titãs voltam ao duelo.
As declarações foram feitas por Nadella em entrevista ao The Verge, após o evento na última semana no qual a Microsoft revelou como quer morder os calcanhares à Google com um motor de pesquisa fortalecido por inteligência artificial (IA) e um navegador com um “copiloto web”. Tudo com a ajuda da investigação da OpenAI, uma pequena empresa nascida em São Francisco, que está agora no centro das atenções, e na qual a Microsoft fez um investimento de peso. “No final do dia, eles [a Google] são o gorila de 360 quilos e espero que com a nossa inovação se cheguem à frente e mostrem que estão disponíveis para dançar”, desafiou o líder da tecnológica de Redmond.
Há uma razão para a Microsoft dizer que a Google é “um gorila”: a quota de mercado no mundo dos motores de pesquisa. A empresa domina este negócio com 84% do mercado, enquanto a concorrente Microsoft tem no seu Bing uns meros 9% (dados Statista). Ainda assim, apesar da distância, consegue ser o segundo motor de pesquisa mais usado a nível mundial.
Se os choques de frente entre as duas empresas estavam algo adormecidos, não há dúvidas agora que vão voltar à luta na inteligência artificial, num duelo que tem a pesquisa como ponto central. “A corrida começa hoje. É um novo dia na pesquisa”, declarou Satya Nadella.
A Microsoft sublinhou que quer aumentar a sua fatia no mercado da pesquisa e que está empenhada em usar IA para lá chegar. A Google respondeu, na passada segunda-feira, 6 de fevereiro, com o anúncio de um serviço conversacional, chamado Bard, para concorrer com o ChatGPT. O Bard é baseado num modelo de IA desenvolvido pela empresa, o LaMDA. Na terça, a Microsoft revelou o novo Bing e o navegador Edge com a inteligência artificial da OpenAI. Na quarta, a partir de Paris, a Google contra-atacou com um apanhado das áreas onde já está a usar IA para robustecer a pesquisa, seja por texto seja por imagem.
Se ambas as empresas já têm, há alguns anos, investimentos e investigações na área da inteligência artificial, o que as leva agora a fazerem aquecer os motores nesta corrida? O incentivo é um fator relativamente recente chamado de ChatGPT.
Microsoft financia a OpenAI, Google responde com tecnologia desenvolvida em casa
Em novembro de 2022, a OpenAI agitou as águas com a disponibilização ao público do ChatGPT. Apenas à distância de um registo, era possível interagir com um serviço baseado no GPT-3.5, um modelo LLM (large language model). Com a aparência de um chatbot, era possível pedir que gerasse textos, peças de teatro, ideias para festas de aniversário e muito mais. Ao contrário de outros produtos de investigação da OpenAI, mais complexos de usar, foi a simplicidade de utilização e a disponibilidade geral que conquistou fãs e ajudou a popularizar o serviço. Em dois meses, estima-se que tenha conseguido pelo menos 100 milhões de utilizadores únicos, segundo uma análise da consultora Similarweb.
“Há vinte anos que seguimos a área da internet, não nos conseguimos lembrar de um crescimento tão rápido numa aplicação de consumo”, disse um analista do UBS, citado pela Reuters. A Google precisou de um ano e dois meses para alcançar esta popularidade e o Facebook ainda de mais tempo — 4,5 anos.
Atenta à expansão e à atenção dada ao ChatGPT, a Microsoft viu a sua oportunidade na relação que mantém com a OpenAI. A tecnológica de Redmond não é a dona da startup de São Francisco, que foi co-fundada por Sam Altman e Elon Musk (que se afastou há alguns anos argumentando um possível conflito de interesses devido à Tesla), mas tem feito vários anúncios associando-se à empresa. A relação entre as duas companhias começou a chamar à atenção em julho de 2019, quando a dona do Windows investiu mil milhões de dólares na OpenAI, altura em que apresentaram uma parceria entre “duas empresas que pensam profundamente no papel da IA no mundo e em como construir uma IA segura, de confiança e ética para servir o público”. Na altura, era também explicado que em conjunto iam desenvolver novas tecnologias de supercomputação para a plataforma Azure e que a Microsoft se tornava na fornecedora da OpenAI para a comercialização de novas tecnologias baseadas em IA.
Em novembro de 2021, a parceria deu frutos, com o lançamento do serviço Azure OpenAI, com alguns dos clientes da gigante a usar modelos de IA desenvolvidos pela OpenAI. Passado um ano, a empresa de São Francisco lançou o ChatGPT e, à medida que a base de utilizadores começou a crescer, o olhar recaiu na Microsoft que não perdeu tempo. A 17 de janeiro, anunciou a disponibilidade geral de alguns modelos de IA aos clientes Azure, prometendo para breve a inclusão do ChatGPT. Mais tarde, a dona do Windows reforçou o investimento, canalizando “vários milhares de milhões de dólares” numa parceria a longo prazo. Embora nunca tenha concretizado um valor, a Bloomberg avançou rondará os 10 mil milhões de dólares.
Esta semana, foi a vez de a empresa tentar robustecer o Bing e o navegador Edge com a ajuda da IA da OpenAI, recorrendo a um modelo ainda “mais poderoso” do que o ChatGPT. Ficou lançado o desafio à Google e o convite “à dança”, como referiu Satya Nadella. Numa chamada com analistas ficou clara a ambição da empresa neste desafio. Amy Hood, diretora financeira da Microsoft, avançou que cada ponto percentual conquistado em quota de mercado na pesquisa pode gerar cerca de dois mil milhões de dólares em receitas adicionais de publicidade.
Microsoft quer acelerar pesquisa do Bing com ajuda de modelo “mais poderoso” que o ChatGPT
Numa indústria em que as empresas estão habituadas a ir às compras, nas quais desembolsam bom dinheiro, Satya Nadella explicou ao The Verge o que leva uma gigante como a Microsoft a depender de uma empresa terceira para fazer estes esforços na IA: “A relação e cooperação com a OpenAI tem várias facetas”, “mas o mais importante a salientar é que temos trabalhado para construir a infraestrutura que faz estes modelos funcionar.” A Microsoft acrescenta que teve de desenvolver a plataforma de cloud Azure para estas evoluções e por isso, com esta parceria, consegue fornecê-la a outras empresas que trabalhem em IA. “Conseguimos ter um retorno do investimento [na OpenAI] e também um retorno comercial”, defende. “As grandes parcerias podem dar retorno aos clientes, acionistas e à Microsoft.”
O cenário é outro na Google, que tem preferido desenvolver os seus esforços na área da investigação em IA dentro de portas. Em 2017 criou uma unidade de negócio de investigação nesta área chamada Google AI. Antes, já tinha comprado uma empresa rival da OpenAI, a britânica DeepMind, que incorporou na Google.
Aos analistas, Sundar Pichai, CEO da Google, lembrou, este mês, que “há mais de seis anos” já tinha descrito a empresa “como uma companhia centrada em IA”. “Desde então temos sido líderes no desenvolvimento de IA”, frisou. Ao longo dos anos, tem divulgado os progressos nos modelos de IA de grande escala como o LaMDA (modelo de linguagem para aplicações de diálogo) ou o PaLM (modelo de linguagem pathways), desenvolvido pela DeepMind. Ambos inserem-se na categoria de inteligência artificial geradora, já que conseguem compor texto e sumarizar informação. Mas também se tem focado no uso de modelos de linguagem como o BERT e o MUM (um modelo multimodal para compreensão de informação) como recursos para melhorar a apresentação de resultados de pesquisa, algo que argumenta já “usar há quatro anos”. São estes desenvolvimentos que têm permitido impulsionar a pesquisa visual através do Google Lens.
Enquanto o ChatGPT ganhava fãs, havia quem visse no potencial do serviço uma alternativa à pesquisa da Google, sugerindo até uma ameaça. Começaram a surgir questões, de analistas e, de acordo com a imprensa internacional, até de empregados da Google, sobre a razão da empresa estar a demorar a responder à “ameaça”.
A resposta chegou por uma notícia da CNBC: o receio de questões “reputacionais” que pudessem manchar a posição da empresa ao lançar algo na área da IA antes do tempo. Até que um artigo do New York Times (NYT), publicado no final de dezembro de 2022, revelou o “código vermelho”: a concorrência podia ameaçar o domínio na pesquisa. O que levou a ir buscar reforços. Os fundadores Larry Page e Sergey Brin, afastados da companhia desde 2019, foram, segundo o NYT, convocados para ajudarem nos planos para responder às novidades de IA.
A resposta da Google ao ChatGPT foi anunciada no início da semana. “Temos estado a trabalhar num serviço de conversação experimental de IA, alimentado pelo LaMDA [modelo de linguagem para aplicações de diálogo desenvolvido pela Google], que chamamos Bard”, explicou Sundar Pichai. Nas palavras do CEO da empresa, trata-se de um serviço que “procura combinar a amplitude do conhecimento mundial com o poder, a inteligência e a criatividade dos nossos grandes modelos de linguagem.”
A resposta da tecnológica não ficou por aqui. No dia a seguir ao evento da Microsoft, a Google mostrou, a partir de Paris, onde tem um centro dedicado à inteligência artificial, como é que está a integrar esta tecnologia na pesquisa. As demonstrações focaram-se em formas de pesquisar nas proximidades através de imagem ou com indicações em realidade aumentada. Nas entrelinhas, ficou a resposta ao comentário da Microsoft, de que o paradigma da pesquisa “não evoluiu muito em 20 anos”. Prabhakar Raghavan, vice-presidente da Google que tem em mãos a área de pesquisa, lembrou que em breve se vão assinalar 25 anos de pesquisa. “Somos pioneiros há muito nesta área”, apontando as “contribuições relevantes para a indústria”, como o desenvolvimento do Transformer, a arquitetura que serve de base a estes modelos, inclusive o GPT da OpenAI.
Miguel Bessa, professor associado na área de engenharia na Universidade de Brown, nos Estados Unidos, dedica-se à investigação na área computacional e tem também acompanhado estes desenvolvimentos na área da inteligência artificial. Ao Observador, descreve como algo “natural” que haja empresas multimilionárias interessadas nesta corrida. “Quem seria o/a CEO de uma destas empresas que se daria ao luxo de ignorar uma tecnologia destas?” Para o português, que também já deu aulas na Universidade de Tecnologia de Delft, nos Países Baixos, a participação nesta batalha resume-se a uma questão simples: “A própria sobrevivência da empresa depende da sua agilidade e adoção de ferramentas disruptivas.”
Quais os pontos comuns e as diferenças entre o ChatGPT e o Bard?
Ainda não é possível fazer um frente a frente entre os dois serviços baseados em modelos de linguagem para gerar texto. Até porque, enquanto o ChatGPT está disponível ao público – algo que ajudou no aumento da base de utilizadores –, o Bard da Google está a ser testado por um grupo limitado de utilizadores “de confiança”. A empresa prometeu uma disponibilidade mais alargada em breve, mas sem dar mais indicações.
Ora, se o serviço da Google só está ao alcance de um grupo restrito, as comparações têm de ser feitas a partir das declarações da empresa. A tecnológica explicou que, recorrendo a uma versão mais limitada do LaMDA, conseguirá ter uma escalabilidade maior, alcançando mais utilizadores. Nos últimos dias a versão gratuita do ChatGPT tem estado indisponível devido à grande procura, o que pode ser uma porta aberta para o Bard ganhar alguns pontos, já que tem mais capacidade disponível.
Ambos os serviços têm a particularidade de conseguirem compreender linguagem natural – ou seja, é possível fazer uma pergunta concreta e colocar questões adicionais. Essa é uma diferença em relação à forma de pesquisar na internet, onde normalmente se procura por termos ou palavras-chave. O ChatGPT consegue perceber questões mais complexas ou abstratas, algo que a Google diz que o Bard também vai fazer: a tecnológica fala em dar respostas a questões que não têm uma conclusão definitiva, como por exemplo responder à pergunta se uma guitarra é mais fácil de tocar do que um piano.
Em termos de utilização, a interface do Bard promete ser semelhante à do ChatGPT – uma caixa de perguntas, onde será possível introduzir o termo a pesquisar e uma área onde surgirá o texto gerado. A ferramenta da Google vai ter uma área de “check it”, para se saber as fontes de informação. Como acontece com o serviço desenvolvido pela OpenAI, o Bard da Google, quando for usado na área de pesquisa, vai apresentar pequenos resumos de informação, em vez de elencar um conjunto de ligações que acedem a dados, como acontece na maior parte das pesquisas atuais.
Tanto o ChatGPT como o Bard aproveitam, por outro lado, os comentários dos utilizadores. O serviço da OpenAI guarda as interações e perguntas e, segundo a Google, também no caso do Bard vão ser combinadas “as reações e comentários externos” com os “próprios testes internos para garantir que as respostas do Bard respondem aos elevados padrões de qualidade, segurança e fundamentação em informações do mundo real”, explicou Sundar Pichai no anúncio do Bard.
Há, para já, uma diferença conhecida: a ligação à internet. A Google diz que o Bard vai basear-se em “informações da web para oferecer respostas novas e de alta qualidade”. O ChatGPT não está ligado à rede e foi desenvolvido com informação que vai apenas até 2021. Por isso, a uma pergunta sobre algo mais recente, o modelo da OpenAI não consegue dar resposta.
A Google não concretiza uma data, mas sinalizou que quer mesmo usar o Bard para adicionar mais ferramentas à pesquisa. A Microsoft vai fazer o mesmo – aliás, está a fazer isso mesmo: o “novo Bing” com inteligência artificial já foi revelado. A tecnológica não especificou que versão do IA que faz o motor de pesquisa mexer, mas garantiu que era “mais poderoso” do que o ChatGPT. Satya Nadella fechou-se em copas sobre se estava presente uma nova versão do modelo da OpenAI, apontada como GPT-4, deixando eventuais anúncios para Sam Altman, o CEO da empresa de São Francisco. Altman esteve na apresentação do novo Bing, mas no seu rápido discurso não fez qualquer referência ao “secreto” GPT-4.
Os erros e as alucinações destes serviços podem sair caro
Nesta fase, falar de inteligência artificial é também falar em erros. São já vários os artigos que escrutinam os episódios em que os modelos da OpenAI reproduzem estereótipos e preconceitos.
Assim que começou o frenesim à volta do ChatGPT foi o próprio CEO da OpenAI a deixar os avisos: “O ChatGPT é incrivelmente limitado, mas bom o suficiente em algumas coisas para criar uma impressão de grandeza que induz em erro.” E deixava o resumo – “inspiração criativa e divertimento: ótimo”; “dependência para questões factuais: não é uma boa ideia”.
fun creative inspiration; great! reliance for factual queries; not such a good idea.
we will work hard to improve!
— Sam Altman (@sama) December 11, 2022
“É inegável que a IA traz riscos para a humanidade”, reconhece o professor Miguel Bessa. “ Tal como a energia nuclear, as consequências negativas existem e não devem ser ignoradas”, exemplifica, recordando que “pessoas dedicadas ao tema já alertaram várias vezes para os riscos.” Do ponto de vista deste especialista, “o problema é que a partir do momento em que se descobrem estas ou outras ferramentas, é muito difícil parar ou reverter o progresso.”
A inteligência artificial aprendeu a ser preconceituosa. Ainda vai a tempo de ser ética?
Mas, “sem querer entrar em especulação”, frisa que “independentemente de conseguirmos ou não atingir um estado de inteligência artificial superior à inteligência humana, é muito importante tentar criar os próximos agentes artificiais da forma mais ética e responsável que conseguirmos.” Com os incentivos económicos que estão em jogo para quem conseguir ter vantagem na IA, defende a importância de que o progresso na área “seja acompanhado por especialistas em ética em IA, por legislação adequada e pelo máximo de transparência em termos de desenvolvimento.”
Miguel Bessa diz que a corrida entre Google e Microsoft na IA “parece estar muito em aberto”, mas lembra as universidades neste campeonato, acreditando que “o maior salto fundamental” surgirá do mundo académico. “Mas acho que estou em clara minoria nesta opinião”, reconhece.
Há pelo menos uma questão em que as duas gigantes estão com o marcador em pé de igualdade: ambas já enfrentaram consequências de contratempos da IA. A primeira foi a Microsoft, quando em 2016 lançou um chatbot chamado Tay. Foi uma das primeiras experiências da tecnológica na área da IA virada para o consumo, respondendo a interações dos utilizadores do Twitter. Bastaram 24 horas para aprender a responder de forma considerada racista e odiosa às questões dos utilizadores e a Microsoft rapidamente encerrou a experiência. Tornou-se um caso emblemático de como é que a IA conseguia aprender demasiado depressa comportamentos errados.
O incidente da Google passou-se já este ano, justamente com o vídeo de exemplo onde mostrou o que o Bard consegue fazer. Uma das perguntas era “quais são as descobertas feitas pelo telescópio James Webb que posso contar ao meu filho de nove anos?” É visível uma lista de respostas, incluindo uma que sugere que o James Webb foi usado para fotografar pela primeira vez um planeta fora do sistema solar. Mas a afirmação não está correta, como apontaram vários especialistas nas redes sociais: as primeiras imagens foram captadas em 2004. O James Webb só foi lançado em 2021.
Bard is an experimental conversational AI service, powered by LaMDA. Built using our large language models and drawing on information from the web, it’s a launchpad for curiosity and can help simplify complex topics → https://t.co/fSp531xKy3 pic.twitter.com/JecHXVmt8l
— Google (@Google) February 6, 2023
Um porta-voz da Google justificou que este caso só demonstrou a importância dos testes feitos por um grupo de pessoas de confiança, mas o erro já estava feito e saiu caro. Na quarta-feira, 8 de fevereiro, as ações da Google caírem 7,44%, até aos 100 dólares, perdendo 100 mil milhões de dólares de valor de mercado numa única sessão.
O que é que se passou com o Bard para dar esta resposta? Algo que também acontece com o ChatGPT: uma “alucinação”. As respostas “conseguem ser muito convincentes, mesmo quando estão erradas”, nota Miguel Bessa.
Os concorrentes que chegam do outro lado do mundo
Com milhares de milhões de dólares em jogo de receitas possíveis para quem avançar mais depressa, há empresas de outra potência tecnológica, a China, a quererem entrar na competição. Só na última semana, já houve pelo menos duas companhias a sinalizá-lo: a Baidu e a Alibaba. A Baidu, que até é conhecida como a resposta da China à Google (que está parcialmente bloqueado neste mercado), revelou que em março quer ter finalizado um projeto chamado “Ernie Bot”, para rivalizar com o ChatGPT.
O Baidu, o motor de pesquisa da empresa, domina o mercado chinês, mas a nível global representa apenas 0,65%. Foi o suficiente para as ações da empresa, que é cotada em Hong Kong e também nos Estados Unidos, dispararem. Em Hong Kong, os títulos avançaram cerca de 15% na terça-feira, dia do anúncio, fechando nos 162,5 dólares de Hong Kong, enquanto nos EUA ganhou 12,8% (160,22 dólares).
Já a Alibaba, um peso-pesado do comércio online na China, confirmou à CNBC que também está a trabalhar num serviço conversacional. No entanto, a empresa não deu detalhes ou possíveis datas para desvendar esta IA ao público. Ainda assim, transmitiu que está a trabalhar em IA fundacional, capaz de gerar informação, já desde 2017.
Fora das grandes empresas, também há startups a mexer – um dos exemplos é a Anthropic, fundada por uma equipa que saiu da OpenAI, que já arrecadou um investimento de 400 milhões de dólares vindo da Google. A Anthropic está a trabalhar num “chatbot” chamado ‘Claude’.
Google investe 400 milhões na Anthropic, a startup que rivaliza com a criadora do ChatGPT
Miguel Bessa, professor português na Universidade de Brown, acredita que a atenção dada à área da IA pode vir a canalizar investimentos para a investigação. “Esta aceleração de investimento em IA não só existe nas empresas gigantes de tecnologia que já perceberam há algum tempo que esta é uma das tecnologias mais disruptivas da nossa História, mas também está a levar financiamento a startups.” Mas, embora as grandes empresas tenham recursos humanos e financeiros à disposição para trabalhar, “também têm limitações que as startups não têm, como o enorme escrutínio a que estão sujeitas e alguma inércia ou falta de flexibilidade típicos de instituições muito grandes.” Neste caso, “os sucessos da OpenAI”, a pequena empresa de São Francisco que está agora nas bocas do mundo, são disso exemplo.