Trippie Redd

Trippie Redd foi considerado pela Noisey como o Frank Sinatra do “soundcloud rap”, uma geração de jovens músicos que encontrou asilo estético na plataforma Soundcloud e fez disso rampa de lançamento para um dos maiores, mais repentinos e fulgurantes fenómenos musicais dos últimos anos. É composto por gente sub-20 que cruza emo, pop punk, hip hop, trap e sabe deus mais o quê, gente poliglota a navegar por mares desconhecidos sem grande pretensão que não a de criar MALHAS.

O resultado é uma caldeirada de coisas que nunca ouvimos exactamente assim e, se é verdade que em alguns casos nunca mais as queremos ouvir, outros há em que a força bruta do talento desarma qualquer céptico sem cera nos ouvidos. Trippie Redd vai buscar referências a Future, Drake e outros nomes consagrados nos últimos anos. Juntamente com Lil Uzi Vert, é a força maior desta novíssima geração: se não em views de Youtube, pelo menos em talento. Um miúdo de apenas 18 anos que se distingue tanto pelos dentes de ouro e charro na mão quanto pela voz hipnotizante e versos vividos/condoídos que usa para deambular pelas muitas produções de base trap que lhe têm caído no colo.

Tudo somado, lançou duas mixtapes e somou dezenas de milhões de audições em pouco mais de 6 meses. Porque é que pode explodir em 2018? É que o rapaz ainda mal começou mas já faz estragos. Lançou um novo tema com Travis Scott há pouco mais de um mês, está prestes a lançar outro com Lil Wayne e reúne condições invejáveis para se tornar um nome incontornável em 2018. Ouçam “Love Scars”. É só o começo:

Holly

O irmão de DJ Ride é já um segredo mal guardado da manufactura de beats em Portugal e o futuro está pronto para o receber de braços abertos. Depois de ter corrido o mundo em 2017, Holly não perdeu gás e começou 2018 sem pestanejar. Quem quiser vê-lo ao vivo este mês terá de atravessar o Atlântico a tempo de apanhar uma das datas da sua tour norte-americana. Se tal não for possível, acalmem-se que o miúdo das Caldas da Rainha lança um novo EP já este mês pela Alpha Pup. Se mesmo assim não conseguirem esperar até dia 26, atirem-se ao Soundcloud dele e pasmem-se com o portfolio. Holly é muito mais do que uma pedrada no charco do hip hop nacional. Parece destinado a vencer no campeonato ultra-competitivo de beatmakers ligados à net. Por cá continuará a espalhar magia tal como fez em “Fome”, o mais recente single de Slow J.

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Vado Mas Ki Ás

Um dos MCs mais pesados que já ouvi em Portugal. A sua escrita começou no crioulo mas singles recentes em português como “O Comboio” ou “Rijo” tornam a coisa manifestamente óbvia. Vou fazer como aquela malta que comenta no YouTube e perguntar: como é que estas malhas só têm 500, 600 ou 700 mil hits num país em que o rap domina as tabelas de virais com dezenas de milhões de visualizações? Prestem atenção a Vado.

Brockhampton

Todos os anos a publicação especializada XXL anuncia a sua lista anual de Freshman — “caloiro” em inglês. A presença nesta lista continua a ser um dos maiores feitos para qualquer jovem rapper sedento de hype. Quem revisitar as listas de anos anteriores encontrará um pouco de tudo, desde o Cristiano Ronaldo ao Fábio Paim do rap. Porquê a referência a esta lista? Para vos dizer que 2018 é uma das melhores oportunidades que a XXL já teve de escolher um só projeto musical para a capa da sua edição Freshman.

Seria injusto para os rappers que ficassem de fora, mas inteiramente justo para os catorze indivíduos que compõem actualmente o colectivo Brockhampton. É uma espécie de boy band composta por rappers que, após uma mixtape promissora em 2016, passou o ano de 2017 a lançar discos. É toda uma obra fulgurante dividida em três capítulos, Saturation I, II e III. Foram os Odd Future de 2017 — a sério, a sua carreira é gerida pelas mesmas pessoas. São muito parecidos na fúria adolescente, no talento prodigioso, na forma descomplexada como abordam géneros nas suas produções. Depois são melhores em tudo o resto, designadamente na capacidade de criar uma exército de groupies incansáveis.

Não é uma verdade exclusiva dos Brockhampton, mas no seu caso vem ao de cima como o azeite: é o povo quem mais ordena nesta nova era da música digital. Em Dezembro disseram que o terceiro capítulo de Saturation seria o último do colectivo, mas a verdade é que 2018 é todo deles, em grupo, a solo, como eles bem entenderem. Preparem-se.

Cautious Clay

Tem um dos melhores nomes artísticos dos últimos tempos e lançou uma das melhores canções de 2017 — “Cold War”. Nem todos ouviram falar dele, poucos se considerarmos o talento, mas vai ser enorme. Está escrito. Onde? Essencialmente em pautas e no software que Cautious Clay utiliza para produzir canções que fazem lembrar o melhor de Frank Ocean. Continua a apresentar-se a conta-gotas, mas com três singles e algumas remixes já não engana. Vem aí um grande disco.

IAMDDB

IAMDDB é acrónimo de I Am Diana DeBrito, cantora/rapper com raízes portuguesas (viveu cá até aos 5 anos) e domícilio fiscal em Manchester, cidade a partir da qual tem vindo a criar um cruzamento inspirado entre o jazz e o trap. Há uns anos chamar-lhe-íamos nu soul mas tornámo-nos melhores seres humanos entretanto. Além disso, o rótulo não faria justiça ao ADN de banger que percorre Hoodrich Vol. 3, trabalho mais recente que esta jovem versão de Erykah Badu em 2018 apresentou recentemente no Vodafone Mexefest. Poucos lhe ficaram indiferentes nessa noite e a tendência deverá acentuar-se em 2018, especialmente depois de um honroso 3º lugar na lista BBC Sound of 2018. Promete.

João Tamura

O jovem de 24 anos mais intrigante do hip hop português. Fotógrafo, rapper, escritor. Apresenta um universo de referências inusitado, quase único no rap nacional. A sua última canção, “Os Paraísos Segundo a Sara”, foi produzida por Holly, o mesmo que incluímos nesta lista, e é mais uma de muitas colaborações entre os dois (vale a pena visitar o Youtube ele para descobrir o que já fez). Não é exactamente uma novidade para os mais atentos e não há nenhum trabalho em nome próprio anunciado para 2018, mas às vezes o hype é isto mesmo: o ouvinte a pedir de forma pouco subtil ao artista que se chegue à frente e dê mais mundos ao mundo. Avança, João.

Here’s Johnny

Depois de em 2017 a sociedade portuguesa ter sido apresentada ao fenómeno das “diss tracks” através de uma novela envolvendo Piruka, 9 Miller e Holly Hood, espera-se que 2018 seja um ano de amadurecimento em que todos perdemos tempo a descobrir as muitas camadas de talento que são o verdadeiro combustível disto tudo. À cabeça está Here’s Johnny, produtor extraordinaire e progenitor de êxitos na Superbad, editora de referência no panorama português. As deambulações deste senhor pelo trap têm feito as delícias do ouvinte português e arrisco dizer que são responsáveis por algumas carreiras. É assim tão importante. Deverá lançar em 2018 o seu primeiro disco em registo próprio. Sem pressão.

A-F-R-O

O melhor novo MC de old school foi adiando o disco de estreia. Tudo indica que será finalmente lançado em 2018. Se for tão bom como outras coisas que já ouvimos dele — o EP Marco Polo, os freestyles ou o verso num single recente de Gift of Gab — vai ser incontornável e repetível, mas só porque o o ouviremos em repeat. Aliás, recuemos ao registo com que tudo começou e que continua a fazer cair o queixo a muita gente:

EarthGang

Qualquer dupla de rappers nascida em Atlanta carregará sempre um fardo pesado (vide Outkast). Isso é ainda mais verdade se a referida dupla estiver a preparar o lançamento do seu primeiro álbum na Dreamville, editora de J. Cole, um dos maiores nomes do rap consciente nos EUA e um dos maiores no geral. Ao contrário de muitos dos seus conterrâneos, os EarthGang têm coisas para dizer e parecem estar em fase de afinações, como demonstram os EPs “Rags” e “Robots”, onde não só nos enchem as medidas como lhe juntam alguns correligionários de alto calibre (JID, Mick Jenkins, Childish Major). Parecem capazes de somar coisas bonitas à discografia que interessa em ATL, que é como quem diz, correndo tudo bem o futuro do hip hop passará por estes rapazes.

Flohio

Aos vinte e cinco anos, esta jovem do sul de Londres parece pronta para destruir todo e qualquer beat que lhe ponham à frente. Não sei muito sobre ela, só que todas as coisas no Soundcloud me dão vontade de resumir a sua música com emojis sucessivos de fogo, o que soa mal — ao contrário de Flohio. Há por ali — em especial no Soundcloud — a sensação de que a sua música em 2018 se pode tornar um acontecimento. É que se depreende de uma das suas últimas aparições em estúdio apadrinhada pelo influente produtor e mestre de cerimónias L-Vis 1990.

SAWEETIE

Se 2017 foi o ano de Cardi B, então 2018 poderá muito bem ser o de SAWEETIE, jovem rapper californiana que sentiu um chamamento quando descobriu Nicki Minaj há alguns anos. Desde então, meia dúzia de freestyles inspirados e o poder mágico da internet fizeram de SAWEETIE uma legítima aspirante ao trono em 2018. Se continuar a soar tão bem como em ICY GRL ou High Maintenance, vai pulverizar rapidamente os quinze milhões de audições e visualizações que acumulou nas plataformas de streaming.

No Money

Este utente da Linha da Azambuja e membro da tripulação Superbad já conta com dois singles em ascensão no Youtube — “Veneno” e “Se Eu Não For Rico” — e reúne condições invejáveis para ser um dos novos cabecilhas da editora que continua a estabelecer o seu cartel.

Estraca

O rap consciente pede mais discípulos em Portugal e Estraca parece ter consciência disso. Tudo indica que 2018 trará mais versos afiados deste rapper de 20 anos para quem o encantamento do povo com o trap é uma trapaça e o resto explica ele que ja é crescidinho.

Kodie Shane

Só por lapso civilizacional é que esta protegida de Lil Yachty ainda não se tornou dona disto tudo. Por isso e talvez porque a sua primeira mixtape em 2017 ficou uns furos abaixo da expectativa, mas o hype persiste — compreensivelmente. Tentem não sentir nada quando ouvirem a sua voz sedosa em “Sad” — em que repete euforicamente o verso “I just wanna be sad” — ou “Hold Up”, singles que a apresentaram ao mundo no final de 2016. Se a dúvida persistir, finjam que não se divertem a dançar ao som de “Drip on my walk”. Boa sorte a viver essa vida triste enquanto tentam esquecer estes refrões e os que hão-de chegar em 2018.

Rich Brian TAFKA Rich Chigga

Rich Brian é internet sob o efeito de esteróides. Eu explico: trata-se de um miúdo indonésio inventado pelo projecto 88rising, uma agência de talentos/plataforma cultural criada nos EUA que apanhou a onda surfada pela K-Pop e tem colocado alguns projectos musicais asiáticos na ribalta. Até ao início do ano, Rich Brian dava pelo nome de Rich Chigga. Aprendeu inglês na internet e lançou alguns singles, com a orelhuda “Dat $tick” à cabeça. A mudança de nome aconteceu porque a brincadeira se tornou séria — Dat $tick soma mais de 100 milhões de audições entre Spotify e YouTube. Isso e Rich Chigga nunca foi exactamente um nome artístico, mas sim uma punchline. Ora isso é justamente aquilo que a cultura afro-americana considera ser a apropriação de um género musical/movimento cultural que nada tem de humorístico ou irónico. Rich Brian percebeu a mensagem: vê lá se atinas, miúdo. Foi o melhor para todos: é que o tal rapper da bolsa de cintura que toda a gente achou tratar-se de uma piada — e era, e é — não é desprovido de talento. Bem pelo contrário. Veremos se o mundo consegue levá-lo mais a sério em 2018.

Cole Bennett

Hoje é inegável que o YouTube pode ajudar qualquer rapper a chegar ao topo, nomeadamente ao topo da tabela Billboard. A partir daí, o céu é o limite. As regras da Recording Industry Association of America esclarecem que cada 250 visualizações de Youtube equivalem a um download pago. Ora foram estas contas de merceeiro, entre outros factores, que ajudaram Post Malone a chegar ao nº 1. O resto da história já se conhece e não é para aqui chamada. Serve o intróito para explicar que já ninguém sobrevive nesta era digital sem uma visão multimédia do conteúdo – o que faz de Cole Bennett, o realizador de vídeo clipes favorito da geração conhecida como Soundcloud rap, um dos nomes a seguir mais atentamente em 2018. Espreitem o seu reel de 2017 ou o site da Lyrical Lemonade, empresa por ele criada, e perceberão porquê.

Outros nomes a acompanhar (quando 17 não chegam):

  • Ski Mask The Slump God
  • Ms Banks
  • Amaral
  • Jorja Smith
  • Joyner Lucas
  • Token

Vasco Mendonça é publicitário e co-CEO da associação recreativa Um Azar do Kralj