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A deputada do Bloco de Esquerda (BE) Isabel Pires durante a sua intervenção na sessão plenária dedicada à crise no serviço postal e a recuperação do controlo público dos CTT, a pedido do BE, na Assembleia da República, em Lisboa, 12 de março de 2020. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
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JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Isabel Pires, deputada do BE: "PSD nunca viu Habitação como um direito"

A coordenadora do Bloco na comissão de Habitação critica a direita por debater o setor "sem falar no preço das casas" e acusa PSD, CDS, Chega e IL de "competirem" pela reversão do Mais Habitação.

Isabel Pires, deputada do Bloco de Esquerda, considera que as medidas que estão em vigor, aprovadas ainda pelo governo de António Costa, são um mal menor perante o caminho que a direita quer traçar para a habitação. Para a coordenadora do partido na Economia, Obras Públicas e Habitação, PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal querem competir por um “caminho liberal” para o setor que só produzirá maus resultados.

O Bloco de Esquerda diz que “nesse campeonato não entra” e insiste por isso noutro caminho. Desde logo, medidas como a proibição de venda de casas a não residentes, que Isabel Pires acredita ser um passo na direção certa para combater a especulação imobiliária. “Não estão a fazer nenhum investimento no país, estão a fazer um investimento para eles próprios”.

A deputada bloquista critica ainda a escolha de Luís Montenegro para a pasta da Habitação. Para o partido, Miguel Pinto Luz levanta reservas pelo passado enquanto autarca na Câmara Municipal de Cascais, mas também pelas declarações públicas que tem tido desde que tutela a pasta.

[Ouça aqui o Sofá do Parlamento com Isabel Pires]

Isabel Pires, do BE: “Preocupa-nos o historial de Pinto Luz na habitação”

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Para o Bloco de Esquerda este pacote Mais Habitação traz mais vantagens ou desvantagens? Colocando tudo na balança, o país está melhor com ou sem estas leis aprovadas pelo anterior governo?
O pacote Mais Habitação não está a mexer onde era preciso, que tem a ver com a regulação de preços. Ou seja, supostamente deveria estar a responder ao facto de as famílias com rendimentos médios ou baixos não conseguirem aceder, seja por via do arrendamento ou da compra, a uma habitação condigna e a preços que correspondem ao que as pessoas ganham. Por outro lado, continua a não existir nenhum mecanismo para combater a especulação imobiliária. Apesar de terem sido colocados no alojamento local e do anterior governo até ter colocado em cima da mesa o fim dos vistos gold, colocou com um prazo tão estendido que continua a existir essa pressão.

Mas reverter também não vai melhorar essa situação?
Esse é que é, neste momento, o problema. O que é que parece que está em cima da mesa? É um bocadinho uma competição entre a direita para ver quem é que consegue reverter primeiro este pacote ou algumas partes dele. Qual é que é o grande problema? Quando olhamos para as propostas que a Iniciativa Liberal quer aprovar, percebemos que querem, por exemplo, retirar as regulações que foram incluídas ao alojamento local, permitindo que voltemos outra vez a uma situação em que freguesias têm uma percentagem de alojamentos acima dos 50%, ou perto disso, o que cria problemas muito grandes de oferta mas também de subida de preços.

A Iniciativa Liberal quer atuar do lado da oferta.
O que a IL diz é que o grande problema é da oferta e que se construirmos mais vamos resolver o problema da habitação. Isto já foi desmentido várias vezes. Essa ideia tenta esconder os reais motivos do aumento de preços e serve para esconder o facto de estar ainda por resolver o fracasso da falta de políticas de regulamentação de preços no arrendamento. Isto vale para a Iniciativa Liberal e para toda a direita que tanto tem falado políticas para a juventude mas não consegue ter uma palavra sobre o facto de, no Porto, por exemplo, um T1 custar para arrendamento entre 1.000 e 2.000 euros e 70% dos jovens em Portugal ganharem menos de 1.000 euros. Como é que se compagina as duas coisas, então? Porque é que não se olha para as formas de baixar o preço? Isso é que seria importante mas não é o que a Iniciativa Liberal e a direita fazem.

O Governo tem duas medidas para os jovens: a isenção de IMT na compra de primeira habitação e a garantia pública para empréstimo a 100%. Isto não são medidas positivas?
Têm insistido muito nessas medidas mas a minha questão continua a ser a mesma: quem é que tem rendimentos para pensar sequer em ter o valor suficiente para dar entrada para uma casa, mesmo que exista essa garantia, mesmo que existam essas isenções? Os valores continuam a ser absurdamente altos. Como é que um jovem que ganha até 1.000 euros como é que tem dinheiro para pensar em dar uma entrada para uma casa e, a partir daí, fazer a sua vida? É muito difícil com os preços que são praticados atualmente. Essas propostas sabem muito a pouco e sabem mais a propaganda do que a política efetiva de habitação.

Isenção de IMT? "Quem é que tem rendimentos sequer para pensar em ter o valor suficiente para dar entrada para uma casa, mesmo que exista essa garantia, mesmo que existam essas isenções. Os valores continuam a ser absurdamente altos"

“Um não residente vem comprar uma casa e fica vazia”

O Bloco de Esquerda insiste na proposta de proibição de venda de casas a não-residentes e garante que a iniciativa não viola o direito comunitário. Não é, ainda assim, uma proposta do domínio do simbólico que tem um efeito prático curto?
Consideramos que não. As propostas que apresentámos estão a ser implementadas em governos liberais, por exemplo, o do Canadá. Os governos, apercebendo-se da crise que está em cima da mesa com a especulação imobiliária, tentam responder a isso com os mecanismos que têm à disposição. Mais do que uma medida simbólica, a verdade é que a proibição desta venda a não residentes é um dos mecanismos possíveis e imediatos para travar a especulação imobiliária. São essas vendas, além dos vistos gold, que fazem aumentar muito o valor das casas, nomeadamente nas grandes cidades, e que retiram também oferta que poderia estar a ser utilizada de outra forma, a preços acessíveis, para arrendamento ou até para venda, a preços que fossem mais condizentes com os rendimentos que existem no nosso país.

Esta proposta de venda de casa a não residentes não afasta, por exemplo, investidores que queiram contribuir para pôr mais casas no mercado?
Um não residente, à partida, não está a fazer nenhum investimento no país, está a fazer um investimento para ele próprio e, portanto, sendo não residente, vem comprar uma casa e a casa fica vazia. Isto não é investimento no país, nem é investimento em nova Habitação. Não consigo sequer compreender como é que se continua a achar que isto faz parte de um investimento estrangeiro que vem ajudar o mercado de habitação, porque não é isso que acontece nestes casos.

Outro dos projetos que já referiu é a afetação do imobiliário público. Neste caso não há um problema de execução, ou seja, o país e as autarquias não estão já preocupadas em pôr imobiliário ao serviço de habitação? 
Acho que há um bocadinho das duas. Desde a aprovação da lei de bases da Habitação, essa preocupação passou aparentemente a existir um pouco mais no discurso político, até das próprias autarquias, mas na prática continua a não ser concretizado. É que temos outro problema. Temos organismos públicos, como por exemplo o ministério da Defesa mas também outros, que ao invés de estarem a mobilizar este património público para habitação a preços acessíveis, o estão a vender ou a ser mobilizado para outras matérias. Parece-nos importante do ponto de vista legislativo assegurar que pelo menos o património público que pertence a estes ministérios é canalizado para este meio, até para tentarmos de forma mais rápida e mais expedita termos uma injeção de fogos no mercado da habitação a preços acessíveis.

"Um não residente, à partida, não está a fazer nenhum investimento no país, está a fazer um investimento para ele próprio"

“Passado de Pinto Luz como autarca preocupa-nos”

Este Governo voltou a colocar a habitação na pasta das Infraestruturas. Isso tira importância política e capacidade de resposta ao setor?
Esperemos que não. Obviamente que foi uma alteração, essa sim do ponto de vista simbólico, mas prático também com a criação do ministério da Habitação, o que, do ponto de vista de funcionamento, até ajuda a canalizar um bocadinho mais as propostas legislativas e a própria execução. O problema é sempre como é que se executa e quais é que são as prioridades políticas. Podemos ter um ministério da Habitação como temos outros ministérios e depois a vontade política e o que é efetivamente feito acaba por não responder na mesma aos problemas que estão em cima da mesa.

E teve tempo o último ministério da Habitação para mostrar serviço?
Foi um Ministério que existiu durante pouco tempo e parece-nos que ficou muito aquém do que era necessário e muito aquém do que estava na lei de bases da habitação. Isso é uma responsabilidade desse Governo não ter conseguido ir tão além. Nesta nova orgânica do PSD e do CDS, preocupa-nos acima de tudo o historial no setor por parte do novo ministro das Infraestruturas e até de algumas declarações que tem dado nas últimas semanas sobre a visão para a habitação. Isto não é novo, o PSD nunca olhou para a habitação como um direito inscrito na Constituição, um pilar do estado social e preocupa-nos essa visão que pode eventualmente significar alguns retrocessos no pouco que fomos conseguindo nos últimos anos desse ponto de vista.

Acha que o PSD colocou um ministro demasiado liberal nessa pasta ou é mais pela competência técnica?
Creio que é um mix das duas. A experiência política autárquica demonstra que a visão é muito liberal e por isso é que  digo até que, desse ponto de vista, o debate que tivemos esta quarta-feira é uma competição entre as direitas para ver quem é que consegue, de uma forma liberal, despachar mais rapidamente os poucos mecanismos de proteção que existem neste momento. O Bloco de Esquerda não entra nesse campeonato. Entramos num campeonato de podermos aprovar propostas que no imediato e a curto, médio e longo prazo vão ao cerne da questão, que é mesmo o preço. Se há algo que não consigo compreender nestas iniciativas é como é que é possível fazer um debate sobre habitação em que a IL não consegue referir a questão do preço.

Este Governo comprometeu-se com planos de emergência na saúde, com negociações com várias carreiras da administração pública. A habitação está a ficar para trás nestas prioridades?
Até ao momento parece estar a ficar para trás. O que falta ainda a perceber é qual é que é a prioridade que este Governo quer dar à habitação. Obviamente que tememos, até porque das poucas declarações públicas que temos tido do ministro das Infraestruturas, não augura nada de muito bom. Esta ideia de continuar a olhar para a habitação como um ativo financeiro é problemática e é uma parte muito relevante dos problemas que têm sido provocados no nosso mercado de habitação e nos preços que são praticados, que são incomportáveis para quem cá vive e quem cá trabalha.

"O debate que tivemos é uma competição entre as direitas para ver quem é que consegue, de uma forma liberal, despachar mais rapidamente os poucos mecanismos de proteção que existem neste momento"

“‘Cheringonça’? Tem pouca relevância”

O Bloco promoveu encontros à esquerda para coordenar a oposição ao Governo. Quando vemos o PS beneficiar do voto favorável do Chega isto enfraquece a posição da esquerda?
O que tem acontecido com as votações no Parlamento é o funcionamento normal. Os partidos apresentam as suas propostas, as votações foram feitas e cada um decidirá a indicação de voto de acordo com achar que as propostas são boas ou não. Creio que isso tem pouca relevância para o facto de termos necessidade de ter uma oposição à esquerda que seja construtiva, como parece que tem sido, pelo menos da nossa parte com a apresentação de várias propostas. O  mais essencial é demonstrar que existe uma alternativa e que existem propostas muito concretas para responder às necessidades da população.

Conseguiram pelo menos o compromisso de que não haverá mexidas na Constituição nesta legislatura? Esse era um ponto muito importante para o Bloco
Até ao momento, não tenho acompanhado a discussão relativamente à revisão constitucional, mas creio que neste momento não está em cima da mesa.

 
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