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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

José Eduardo Martins. "Não se atraem pessoas para jogadas de aparelho"

Esteve nos cartazes e nas ruas em Lisboa mas acabou "descartado". José Eduardo Martins fala em "golpezito" da distrital para manter os seus. Diz que vota Rio, mas não se entusiasma. Leia a entrevista.

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Era quinta-feira à noite, numa reunião dos deputados municipais eleitos pelo PSD, quando José Eduardo Martins — cabeça de lista à Assembleia Municipal — se preparava para ser votado como líder da bancada. Ninguém se tinha oposto até que, “uma hora antes”, o presidente da junta de freguesia da Estrela, Luís Newton, entrou na sala com uma outra lista e com o carimbo da direção distrital. “Se o presidente da distrital não tem a noção do ridículo, eu tenho”, diz José Eduardo Martins, explicando as razões pelas quais decidiu suspender o mandato.

Em entrevista ao Observador no dia seguinte a ter rompido com o PSD em Lisboa, diz que “descartá-lo” foi a prova dos interesses instalados e da “manutenção do status quo” que reina no aparelho do PSD. “Uma Assembleia Municipal liderada por um jovem presidente de junta não tem verdadeiramente condições de se credibilizar como oposição ao PS e ao presidente da câmara municipal”, diz. Por ser um jovem presidente de junta ou por ser Luís Newton, que está envolvido em casos de viagens pagas pela Huawei ou de ajustes diretos avultados feitos a empresas ligadas a militantes do PSD? “Mais a segunda”.

Nas eleições internas no PSD, o voto de José Eduardo Martins vai para Rui Rio, mas sem entusiasmo. Espera que se debatam ideias e não estilos: “Leio tudo o que me mandam e até agora ainda não me entusiasmei com nada”. Lançou um manifesto para debater o PSD no dia em que Rio se lançou na corrida, mas não avança com uma candidatura própria porque não se acha “capaz”. Foi abordado por algumas pessoas mas não tem apoios — também diz que não os procurou. Não descarta uma futura candidatura à câmara de Lisboa, mas põe a bola do lado do PSD, que tem de tomar essas decisões com tempo: “Não há nenhuma candidatura com sucesso preparada a seis meses das eleições”. Elogia a coragem de Teresa Leal Coelho, que foi alvo de “muitas injustiças”, até por parte de membros da direção do partido, mas lamenta que não tenha “conseguido vencer o estigma de ser a candidata que estava a ajudar o PSD”.

E elogia Passos Coelho, de quem foi sempre crítico, mas que agora diz ter dado ao país vários exemplos de dignidade. De Marcelo também não se consegue ouvir um único reparo. Antes pelo contrário: devia ter sido ele o primeiro-ministro de Portugal nos dez anos da era Cavaco Silva.

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A saída da Assembleia Municipal. “Golpezitos de aparelho caucionam a miséria que trouxe o PSD a este ponto de irrelevância”

O que é que aconteceu na quinta-feira à noite na votação para a liderança da bancada do PSD na Assembleia Municipal? Foi traído?
Não, isso é uma palavra que se pode aplicar a outro tipo de sentimentos, não a estes. O que aconteceu foi uma coisa relativamente comum nos partidos: depois de ter feito a campanha eleitoral toda em Lisboa e de me ter disponibilizado para ser líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal, a uma hora da reunião para votarmos, apareceu uma lista promovida pela comissão política distrital e encabeçada por um presidente de junta [Luís Newton]. A isto juntou-se o facto de, da comissão política distrital [liderada por Pedro Pinto], eu não ter tido até ontem qualquer contacto, qualquer orientação política, ou qualquer interação que justificasse o que quer que seja. Por isso limitei-me a explicar aos membros da lista que somos demasiado poucos para não termos a noção do ridículo. Se o presidente da distrital não tem a noção do ridículo, eu tenho.

Tinha falado com Pedro Pinto antes de ir para essa reunião onde iria ser votado o líder da bancada do PSD?
Procurei telefonar-lhe para lhe dizer que tinha tomado essa decisão de avançar, e para perguntar se havia alguma orientação da distrital para a condução política da bancada. O Pedro [Pinto] respondeu-me que andava numa loucura de vida, o que eu compreendo porque sei bem que é uma pessoa trabalhadora e empreendedora, e portanto fiquei à espera de que me telefonasse. Insisti mais uma vez ou duas, nada. Mas entendamo-nos: nunca houve da parte da comissão política distrital nenhuma orientação política aos eleitos da bancada. Nunca se discutiu, por exemplo, qual era a posição que o PSD devia ter sobre a política de alianças em Lisboa, uma vez que o presidente da câmara perdeu a maioria. Nunca tive nenhum contacto de ninguém que quisesse discutir isso. Não houve nenhum tema sério em cima da mesa que não se tenha discutido porque, pura e simplesmente, não houve nenhum tema em cima da mesa.

Quando avançou para as eleições autárquicas como candidato à Assembleia Municipal sentiu-se de alguma forma condicionado pela comissão política distrital?
No dia em que entregámos as listas ao Tribunal Constitucional, disse a Teresa Leal Coelho — com quem tive o prazer de ter feito a campanha eleitoral, que foi seguramente um dos lados positivos deste ano de participação — que previa que esta situação viesse a acontecer. Aceitei ser candidato à Assembleia Municipal para dar seguimento ao convite que me tinham feito para escrever o programa eleitoral. Nunca apoiei esta direção do PSD, de Pedro Passos Coelho e Teresa Leal Coelho, mas achei que esta era uma altura em que ninguém podia ficar de fora. Fiz o programa com a melhor boa fé e empenhei-me na campanha. Mas quando a Teresa Leal Coelho me convidou, propus um conjunto de pessoas para a Assembleia Municipal que nunca chegaram a aparecer na lista. A dra. Teresa Leal Coelho informou-me que não podiam ser aquelas pessoas porque a comissão política distrital tinha decidido fazer uma lista diferente.

"No dia em que entregamos a lista da candidatura à Assembleia Municipal no Tribunal Constitucional, que não tinha os nomes que eu tinha escolhido, mas sim os nomes escolhidos pela distrital, eu disse à Teresa Leal Coelho que assumia a candidatura mas que previa que pudesse não vir a assumir o cargo -- se acontecesse o que veio a acontecer"

Ora, no dia da entrega das listas ao TC, na última meia hora (porque estas coisas do aparelho acontecem normalmente na última hora para que as pessoas tenham de enquadrar a dignidade da sua reação), aparece uma lista diferente. O que eu disse à Teresa Leal Coelho foi que não me sentia nada confortável com aquilo, e que antecipava um desfecho menos bom. Mas pior do que esse desfecho posterior seria o partido apresentar um candidato à Assembleia Municipal que desistia no dia da entrega das listas no Tribunal Constitucional. Portanto, achei que, nessa altura, a posição mais digna era assumir a candidatura. Foi o que fiz até ao último dia. Mas a questão agora nem é essa. Quando o PSD é reduzido à sua mais pequena expressão eleitoral na cidade de Lisboa, e alguém, numa equipa de apenas 12 pessoas, se presta a participar num golpezito de aparelho, está a caucionar a miséria que nos trouxe a este ponto de irrelevância que os eleitores do PSD não merecem.

Então já tinha assumido desde o início que podia não vir a tomar posse em virtude de um “golpe” deste género?
Tinha assumido isso com Teresa Leal Coelho em função das circunstâncias que se passaram nessa altura na elaboração das listas.

Portanto, não ficou surpreendido com o desfecho da reunião desta quinta-feira?
Olhe que ainda fiquei. Apesar de tudo, o que se passou aqui foi um bocadinho um teste cujo único valor é o exemplo. A verdade é que o que se passou não é assim tão importante como isso, mas é um teste que o PSD precisava de fazer. Quando alguém como eu está sete anos sem se envolver, e ao fim de sete anos se dispõe a fazer uma campanha do princípio ao fim, para depois o aparelho decidir descartar essa pessoa, isso dá uma noção da mudança que o PSD precisava de fazer para ter outra credibilidade junto dos eleitores. Perante isto, afastar-me de tudo isso é provavelmente a coisa mais útil que posso fazer para o PSD, que é o meu partido e a quem desejo todo o sucesso.

Mas o que é que esta tomada de poder que diz que aconteceu na Assembleia Municipal diz exatamente do PSD Lisboa? É uma luta pelo quê? Por lugares? Por jobs for the boys?
Há três maneiras de ver a coisa. A primeira é que o PSD de Lisboa acha mesmo que o presidente de junta que foi eleito líder da bancada fará melhor oposição a Fernando Medina do que eu. A segunda é que há uma eleição interna do PSD daqui a dois meses e eu digo que apoio um candidato [Rui Rio] e o Pedro Pinto apoia outro [Santana Lopes].

Acha que foi por isso? Por apoiar Rui Rio e o líder da distrital ser próximo de Santana Lopes?
Não, com franqueza não senti que fosse por isso. Senti que as razões não são as primeiras nem as segundas. E sobre as terceiras não me apetece elaborar.

A terceira razão é a manutenção dos interesses e da mercearia do aparelho.
A terceira razão é apenas a manutenção do status quo que nos trouxe a esta desgraça que tivemos em Lisboa.

"Quando alguém está sete anos sem se envolver, e, ao fim de sete anos, se dispõe a fazer uma campanha do princípio ao fim, para depois o aparelho decidir descartar essa pessoa, isso dá uma noção da mudança que o PSD precisava de fazer para ter outra credibilidade junto dos eleitores"

Quer dizer que faria diferente se assumisse o mandato, que ia tentar acabar com os interesses e os lugares instalados no aparelho?
Tinha muita vontade de fazer oposição a Fernando Medina. Depois de um ano a fazer um programa para Lisboa em que tanta gente fez o favor de me ensinar coisas, acho mesmo que a câmara de Lisboa merece muita oposição e o PSD deve ganhá-la.

E com um presidente de junta a liderar a oposição ao presidente da câmara, o PSD não vai fazer boa oposição.
Quando nos propomos a fazer alguma coisa, mesmo que estejamos errados ou a confundir autoestima com soberba, achamos sempre que faríamos melhor. Eu acho que faria melhor. E disse isso ao candidato [Luís Newton]. Não é ofensivo para ninguém.

Que avaliação faz dos casos judiciais em que Luís Newton está envolvido? As viagens pagas pela Huawei, os ajustes diretos feitos pela junta que preside a militantes e empresas do PSD…
Esses casos estão a ser avaliados pela justiça, não vou fazer grandes comentários sobre o tema. Digo uma coisa simples que Teresa Leal Coelho já disse: acho que não devemos aceitar viagens de empresas enquanto somos titulares de cargos políticos, nunca aceitei.

Por questões éticas e morais?
Sim, as pessoas precisam de sentir nos políticos alguma coisa de, já não digo exemplar, mas pelo menos de normal. E isso não é normal.

Também acha que é preciso um banho de ética na classe política como diz Rui Rio?
Era preciso que tudo isto melhorasse bastante, claro que era.

O quê concretamente?
Olhe, ontem cheguei a casa e estava tão cansado que fiquei a ver televisão. Estava a fazer zapping e os três governantes que me apareceram na televisão eram três governantes que fizeram parte do governo de um primeiro-ministro que saiu há seis anos e que está acusado de 31 crimes. Portanto, é como a música do Sérgio Godinho: isto anda tudo ligado.

As injustiças a Teresa Leal Coelho. “Estava à espera de mais apoio do partido”

Foi candidato à Assembleia Municipal de Lisboa depois de sete anos de ausência. Admite vir a ser candidato à câmara daqui a quatro anos?
Falta tanto tempo.

Mas gostava? Não descarta?
São decisões que o PSD vai ter de tomar daqui a quatro anos. Mas que convinha que tomasse a tempo. Como se viu, não há nenhuma candidatura com sucesso preparada a seis meses das eleições.

Quanto tempo é que era preciso?
No mínimo, para lançar uma candidatura credível acho que é preciso estar no terreno dois anos antes das eleições. A dois anos das eleições as pessoas têm de ir percebendo qual é a proposta e qual é o protagonista do PSD. Isso foi uma das coisas que faltou muito aqui. Apesar da coragem e da capacidade de Teresa Leal Coelho, não conseguiu vencer o estigma de ser a candidata que estava a ajudar o PSD. Aliás, várias coisas que aconteceram a Teresa Leal Coelho foram muito injustas.

Que coisas?
Várias. Um exemplo: na noite das eleições havia membros da direção nacional do PSD a aconselhar a Teresa Leal Coelho para que não continuasse o seu mandato. E eu fui o primeiro a dizer que não podia dizer isso. No dia a seguir à nossa declaração de derrota, várias pessoas criticaram o facto de ela não ter assumido a derrota pessoalmente, quando quem lhe pediu que dissesse que havia uma equipa a dar a cara pelo resultado fui eu. Teresa Leal Coelho teria naturalmente assumido sozinha a derrota, e eu disse “não faça isso, porque não é verdade”. Eu e o vereador João Pedro Costa, pelo menos, estivemos lá com ela todos os dias da campanha, que foi o que foi, mas assumimos o resultado.

"Pedro Passos Coelho foi à campanha as vezes que lhe pedimos. E pessoas próximas de Pedro Passos Coelho é um conceito que não existe"

Quem é que na direção do partido lhe sugeria que não assumisse o mandato?
Os próprios dirão isso na altura que entenderem. Há um conjunto de coisas que ainda quero guardar para mim nesta altura. Mas tenho a certeza duma coisa: saio disto orgulhoso porque, desde o dia em que o presidente da concelhia de Lisboa me convidou, até ontem, não houve um único dia em que tenha torcido os princípios com que procuro guiar a minha vida, ou que tenha cedido um milímetro em coisas que acho que não são importantes para o PSD. Na minha perspetiva, claro.

Disse que suspendia o mandato na Assembleia Municipal, mas não disse até quando. Se Rui Rio ganhar, volta?
Não é nada disso, e essa é uma leitura que não queria que as pessoas fizessem. Não fui agora suspender o mandato à espera que outro ganhe e venha castigar os meninos. Isso não é sério, e não é isso que devemos esperar do PSD.

Então é o quê?
O PSD está numa altura em que não tem concelhia em Lisboa. Tem uma comissão política distrital onde não vejo nenhum rasgo de política, nenhum lampejo de esperança para nada. E não tem presidente. Portanto, quem se dispôs, ao fim de sete anos, a pôr a cara nos cartazes, acho que tem obrigação de dizer — como ontem [na quinta-feira] muitas pessoas me pediram para o fazer –, que isto pode não ser uma decisão definitiva porque é um mandato de quatro anos para o qual fui eleito.

Grupo de pessoas do PSD que acompanhavam Teresa Leal Coelho na campanha em Lisboa era (muito) reduzido

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Então o seu regresso fica dependente do quê?
Fica dependente de o PSD querer ou não querer fazer oposição a Fernando Medina. Uma Assembleia Municipal liderada por um jovem presidente de junta não tem verdadeiramente condições de se credibilizar como oposição a Fernando de Medina ou ao Partido Socialista.

Por ser um jovem presidente de junta ou por ser Luís Newton?
Mais a segunda.

Passando à questão da campanha que fez em Lisboa e aos resultados autárquicos. Quando começou a campanha já sabia que não ia ser fácil, mas imaginava que seria tão mau assim?
Não quero responder a essa pergunta.

Estava à espera de mais apoio do partido?
Estava.

De Pedro Passos Coelho, ou de pessoas próximas de Passos Coelho?
Pedro Passos Coelho foi à campanha as vezes que lhe pedimos. E pessoas próximas de Pedro Passos Coelho é um conceito que não existe. As pessoas que estão próximas de Pedro Passos Coelho estão por interesse, ele esteve sempre sozinho.

Vou reformular: estava à espera que Pedro Passos Coelho mobilizasse mais gente para estar com Teresa Leal Coelho na campanha, já que foi uma escolha dele?
Isso não é o papel do presidente do partido. Para isso é que há estruturas e concelhias e distritais.

Atribui à distrital do PSD grande parte do fracasso dos resultados em Lisboa.
Os resultados em Lisboa são culpa de todos porque deixámos que o PSD somasse este conjunto de handicaps que nos trouxe até aqui.

José Eduardo Martins foi candidato do PSD à Assembleia Municipal de Lisboa, ao lado de Teresa Leal Coelho, candidata à câmara

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Houve gente do PSD a votar no CDS em Lisboa?
O CDS mais do que duplicou a votação, os votos não podem ter vindo do espaço.

O PSD devia ter apoiado a candidatura do CDS, de Assunção Cristas?
Não.

Nem quando o PSD estava sem candidato há tempo demais?
Não, porque o apoio do PSD não era o propósito de Assunção Cristas. O propósito era fazer esta afirmação que fez, não era ganhar. E o PSD não quis participar disso. Faria sentido apoiar se o propósito de Assunção Cristas não fosse só o da afirmação. De tudo o que me dizem das conversas que existiram na altura do lançamento da candidatura de Assunção Cristas, de cada vez que se falou — porque se falou — dessa possibilidade, as condições de Assunção Cristas eram tão leoninas que se percebeu obviamente que ela não desejava esse apoio. O CDS nunca quis ser apoiado.

Mas o PSD prejudicou-se com essa escolha, e deixou que a líder do CDS se afirmasse. Não foi, no fim do dia, uma opção errada?
Fizemos muitas opções erradas, mas não deviam ser nada condicionadas pelo que o CDS fez ou deixou de fazer.

"Assunção Cristas nunca quis o apoio do PSD em Lisboa. Quis apenas afirmação, e conseguiu"

Porque é que aceitou em primeiro lugar ser candidato a estas eleições? Teresa Leal Coelho era uma escolha de Passos Coelho, e o José Eduardo Martins nunca foi um passista.
Foi um processo que começou com um presidente de concelhia muito motivado, a dizer que tínhamos de preencher de oposição o tempo em que estávamos à espera de um candidato…

Acreditou que Pedro Santana Lopes ainda ia avançar?
Não, nunca acreditei e disse isso ao presidente da concelhia na altura [Mauro Xavier].

E o PSD não devia ter esperado tanto tempo?
Acho que fez muito mal em esperar. Mas eu era só a pessoa convidada para escrever o programa e preencher o vazio de oposição que o líder da concelhia sentia existir. A partir daí aconteceram uma série de coisas: o líder da concelhia infelizmente saiu, em rutura por não haver candidato, e eu fiquei numa espécie de no man’s land, com uma coisa escrita mas numa situação em que não fazia sentido que quem não era candidato fizesse mais do que eu estava a fazer. Depois chegou Teresa Leal Coelho e eu tinha o repositório do que tinha sido estudado sobre Lisboa. Convidou-me para ser candidato à Assembleia Municipal e aceitei porque a política não me é indiferente: e as pessoas não fazem política fora dos partidos. Sou e vou continuar a ser do PSD. Ainda não me pediram o cartão [de militante]. Ainda não foi desta, já andou perto, mas ainda não foi desta.

Os elogios ao líder deposto. “Passos Coelho deu ao país vários exemplos de dignidade”

Não foi, também, para depois não lhe apontarem o dedo, e poder dizer que esteve lá pelo partido, que deu a cara nos cartazes?
Mas quem é que me pode apontar o dedo? Não devo nada a ninguém. Fui porque achei que era o que devia fazer. É sobretudo nas alturas mais difíceis que ou estamos ou não estamos. Desculpe a imodéstia, mas achei mesmo que acrescentava. E vou dizer uma coisa: tive mais facilidade em concordar com Pedro Passos Coelho nos últimos dois anos do que em todos os outros para trás. Acho que Passos Coelho deu ao país vários exemplos de dignidade, sobretudo dignidade pessoal, que não estou a ver assim espetacularmente replicados.

Que exemplos?
Vários. A maneira como agora se afastou, como assumiu o resultado destas eleições autárquicas, a maneira como não foi mudando ao sabor dos ventos. A maneira como não se presta à mentira sem pudor que o PS pratica no dia a dia.

Afinal é fã de Pedro Passos Coelho. Para quem era crítico…
Conheço o Pedro Passos Coelho há 30 anos, ao contrário da maioria dos apoiantes dele. E muitas das qualidades pessoais que tem são absolutamente extraordinárias, sempre as admirei. Sucede que o método de trabalho e várias das posições políticas que teve não são partilháveis com o meu entendimento da vida, por isso é que não estive lá.

Mas voltou nesta reta final.
Porque estávamos mesmo bastante mal e porque é muito injusta a situação em que nos encontramos. Não deixa de me espantar que um homem com tão poucas qualidades como o nosso atual primeiro-ministro seja nosso primeiro-ministro. O PSD não se pode desunir nesta altura. Tenho sempre mais vontade de criticar o PSD quando estamos no Governo e estamos a fazer coisas erradas do que quando estamos na oposição e o adversário no Governo é o PS.

No último congresso do PSD, em abril de 2016, em Espinho, José Eduardo Martins foi uma das únicas vozes (a par de Pedro Duarte) que criticou levemente o rumo do PSD de Passos Coelho

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

Mas, no último congresso do PSD, o país já estava nesta situação pós-geringonça e foi lá fazer críticas à atuação de Passos Coelho na oposição.
Não acho que tenha ido lá dizer coisas assim tão extraordinárias, o resto é que era um deserto.

Rui Rio não apareceu no congresso porque não quis ofuscar o líder. Devia ter ido?
Disse-lhe que sim. Mas mais uma vez, por mais imodesto que possa parecer, só fui porque achei que acrescentava e que era minha obrigação.

Então as críticas que faz a Passos Coelho esgotam-se na atuação do Governo durante a troika?
Não, claro que não. Mas para falar sobre isso tínhamos de começar pelo princípio e não há tempo. Acho que ele é uma pessoa que, para não ter de conviver com coisas como a que me aconteceu ontem [na quinta-feira, na reunião da Assembleia Municipal], se isolou muito. Não teve a capacidade de atrair e de criar a equipa que o PSD precisava para tempos novos. E neste tempo em que esteve na oposição isso também não aconteceu. Havia ali uma liderança de um homem cheio de qualidades mas que não bastava sozinho, estava cada vez mais fechado numa torre na São Caetano. Precisávamos de uma pessoa que tivesse tido a força de envolver uma nova geração de protagonistas. Isso não aconteceu. O PSD de Passos Coelho continuou a ser o que são sempre as equipas de Passos Coelho: um homem só. Não acho que haja homens providenciais que, sozinhos, resolvam os problemas todos do país, que são imensos. Isso faz do Pedro Passos Coelho uma pessoa com menos qualidades do que as que tem? Não. Faz só do Pedro Passos Coelho uma pessoa com quem sempre percebi que era difícil encontrar um caminho de trabalho em conjunto.

"O PSD de Passos Coelho continuou a ser o que são sempre as equipas de Passos Coelho: um homem só. Não acho que haja homens providenciais que, sozinhos, resolvam os problemas todos do país. Mas tive mais facilidade em concordar com ele nos últimos dois anos do que em todos os outros para trás"

No dia em que Rui Rio apresentou a sua candidatura, José Eduardo Martins apresentou também um manifesto pelo PSD. Mas sem candidatura. Porque é que não avança? Tem medo de não ganhar? Não é hora?
Há uma pergunta que falta aí: acha-se capaz? É que estou farto de excessos de autoestima. Há várias razões: primeiro, ninguém se candidata sozinho.

Falta-lhe apoio.
A maior parte das pessoas acha que a falta de apoio é uma vergonha, mas eu convivo bem com ela, como ainda ontem se viu na Assembleia Municipal de Lisboa. Mas claro que as pessoas andam na política para ter apoio.

Procurou apoio para avançar?
Não. Não, isso não. O PSD tem neste momento uma eleição tão polarizada, com dois protagonistas tão fortes, que um terceiro elemento verdadeiramente não acrescentava.

Não pensou em avançar?
Não.

Falaram consigo para avançar?
Sim.

A verdade é que a chamada geração de 70 ficou órfã de um candidato.
Vejo-os quase todos a apoiar alguém.

Acha que o PSD fica bem servido com estes dois candidatos?
[pausa] Acho.

Não foi muito convincente.
Acabei de explicar que admiro Pedro Passos Coelho mas não acredito em homens providenciais, que resolvam os problemas todos sozinhos…

E Rui Rio e Pedro Santana Lopes não são diferentes nisso?
…Apesar de tudo, há um homem extraordinário capaz de fazer coisas notáveis sozinho, mas esse já foi eleito: o Presidente da República. Mas acho que o que o errado é que estejamos a centrar esta eleição numa diferença de estilos pessoais, e tenho pena.

Ainda há tempo de se discutirem programas e ideias. Ou acha que não vai acontecer?
Faltam dois meses, tenho imensa esperança de que sim. Leio tudo o que me mandam, mas ainda não me entusiasmei com nada.

A verdade é que se assume como apoiante de Rui Rio mas ao mesmo tempo parece que não quer ser conotado com Rui Rio.
Apoiante?

Diz que o seu voto enquanto militante vai para Rui Rio.
E não vai ser um voto fácil, porque vou ter de ir votar a Paredes de Coura. Tenho estima pelos dois candidatos, tenho esperança de que tenham programas mobilizadores, mas acho obviamente que, neste tempo da internet e das redes sociais, temos de ter algum cuidado com a imagem que damos do PSD. Porque o que continua a acontecer de importante no país não é a eleição interna do PSD. É uma enorme responsabilidade eleger um líder da oposição, sim, mas o PSD continua a ser oposição e o que se está a passar no país é demasiado grave para distrairmos o país, beneficiando mais uma vez o infrator, que é o PS, e concentrando as atenções nas coisas menos boas do PSD. Olhe, se fizerem 20 debates que sejam todos na zona do Pinhal.

Mas não vão fazer porque Rui Rio não quis.
Acho muito bem.

Porquê?
Porque acho que 20 debates não beneficiam o PSD. Os militantes precisam de debates, mas de 20 debates seguramente não precisam. O que era importante era que os candidatos demonstrassem aos portugueses e ao país que aquelas centenas de milhares de pessoas que andam na rua como zombies depois do que lhes aconteceu há 15 dias [nos incêndios] soubessem que vai ser eleito alguém do PSD a quem eles não são indiferentes. Eu isso ainda não vi.

Não são essas pessoas que votam nas eleições do PSD.
Mas é para essas pessoas que nos candidatamos no PSD. Não fazemos política por causa das pessoas que se inscreveram no PSD. Fazemos política por causa dos que têm menos.

A verdade é que o PSD só volta ao poder com a maioria absoluta ou com a soma dos votos do PSD e do CDS. Acha que algum destes dois candidatos tem capacidade para conseguir essa maioria?
Acho, claro que sim.

Já em 2019?
Claro que sim. As circunstâncias mudam muito. Há três anos alguém imaginava a situação em que estamos? Há sete anos, tínhamos um menino d’oiro, estávamos a explodir pelo mundo fora, tínhamos a Venezuela aos pés. O menino d’oiro e sus muchachos. Tínhamos o dr. Dias Loureiro a apresentar as autobiografias hagiográficas do primeiro-ministro. E em dois anos estávamos na bancarrota. Infelizmente temos tantos pés de barro que tudo muda muito rápido. Portanto, mesmo que neste momento a economia empurre o PS, e não o contrário, e seja difícil ganhar eleições contra um ciclo económico favorável, não podemos dizer às pessoas que se isto se mantiver assim vamos todos para casa. Acho mesmo que as últimas semanas ajudaram a desconstruir a imagem de que o primeiro-ministro era um putativo estadista agregador da esquerda. Não é isso. O que ali está é uma pessoa que jogou a sua sobrevivência política despudoradamente. Aquilo não é sequer um bloco unido em nenhuma questão estrutural que diga respeito à vida dos portugueses. E como a economia puxa pelo PS andamos há dois anos a viver uma situação completamente irreal que merece ser criticada e combatida.

"Sou e vou continuar a ser do PSD. Ainda não me pediram o cartão [de militante]. Ainda não foi desta, já andou perto, mas ainda não foi desta."

CDS a liderar oposição é uma “fantasia”. Marcelo devia ter sido primeiro-ministro em vez de Cavaco

Acha que Assunção Cristas tomou a liderança da oposição?
Não, isso é como o irmão mais velho que ficou de castigo e deixou a bola no recreio. A dr. Assunção Cristas fez inteligentemente o que tinha de fazer: preparou uma candidatura com tempo e assumiu uma dianteira que lhe deu vantagem em Lisboa. Mas o CDS não mudou em mais lado nenhum. Não valeu para mais nada porque o CDS não tem implantação nem voto para ser o partido líder da oposição. Não vale a pena criar essa fantasia. O CDS tem mais 10 ou 12 mil votos em Lisboa do que costumava ter porque tem uma líder muito mediática que beneficiou de uma campanha extraordinária em Lisboa, empurrada também pela comunicação social. Antes, quando os líderes dos partidos eram candidatos às autarquias, só podiam falar do Governo, do Orçamento do Estado, dos impostos, etc, quando saíam geograficamente do sítio onde eram candidatos. Mas a dra. Assunção Cristas, com a indiferença dos jornalistas, misturou os dois planos. Reconheço que fez o que devia, mas era desigual para Teresa Leal Coelho. Ou seja, ela aproveita a agenda, e bem, para marcar a agenda. Ainda ontem encontrei Assunção Cristas na tomada de posse, e a primeira coisa que lhe disse foi: “Obrigado Assunção pela moção de censura na semana passada”.

O PSD devia ter tomado a iniciativa de apresentar a moção de censura ao Governo?
Claro que sim, por amor de Deus. Morreram 109 pessoas em Portugal. Podemos falar de eucaliptos, de ordenamento do território, dos incêndios que ardem todos os anos mais ou menos, mas o que aqui está em causa são as vidas que se perderam. Que democracia queremos imitar em que os responsáveis da Proteção Civil são substituídos numa leva por uma caterva de boys do PS, em que a ministra vem dizer que está tudo preparado para o verão, e morrem 109 pessoas? Depois ficamos a saber que uma ministra esteve quatro meses demissionária e ninguém responsabiliza o primeiro-ministro e quer demitir este Governo? Se isto não é razão para demitir, independentemente do que acontece a seguir, então não sei. Houve moções de censura para renegociar a dívida, por tudo e mais um par de botas. Quer dizer que para fazer politiquice as moções são legítimas, mas para manifestar no órgão que nos representa a indignação pelas 109 mortes que podiam ter sido evitadas, já não. Eu se fosse deputado não hesitava, nem um segundo. Votava a moção que o CDS apresentou de olhos fechados.

Mas não se trata de votar, mas de tomar a iniciativa de apresentar, que foi o que o PSD não fez.
Numa altura em que o PSD está a substituir a liderança é natural que o CDS aproveite. É um partido concorrente do PSD, quer ter mais votos.

"Tenho pena, nestes trinta e tal anos de PSD, de que não tenha sido Marcelo Rebelo de Sousa o nosso primeiro-ministro duradouro. Não passou ainda em Portugal um político que me suscite mais admiração do que o meu antigo professor. Ninguém, até hoje"

O Governo ficou muito chocado com o discurso do Presidente da República. Acha que o facto de Marcelo estar a mudar a forma como lida com o Governo também tem a ver com o facto de o PSD estar a mudar de líder? Ou melhor, de Passos estar de saída?
Não, não acho nada isso. Apesar de já o ter criticado durante este mandato, não passou ainda em Portugal um político que me suscite mais admiração do que o meu antigo professor. Ninguém, até hoje. O que tenho pena nestes trinta e tal anos de PSD é de que não tenha sido ele [Marcelo] o nosso primeiro-ministro duradouro. Tenho imensa pena disso. Mas isso não interessa nada.

Tem pena que tenha sido Cavaco Silva primeiro-ministro durante dez anos e não Marcelo Rebelo de Sousa?
Sim, sim, sim. Sim. A pessoa que sou de certeza que olharia para o passado mais satisfeita se tivesse sido Marcelo Rebelo de Sousa e não Cavaco Silva. Tudo o que se construiu seria muito diferente. Tenho a maior admiração pelo professor Rebelo de Sousa.

Diz o “Professor Rebelo de Sousa” como Passos Coelho.
A minha primeira aula na faculdade de Direito foi com ele. E não me esqueci dela até hoje. Mas não acho nada que seja pela mudança da liderança do PSD. Acho que o Presidente da República que, durante dois anos, explicou ao país que vivia confortavelmente com esta solução de Governo e que a achava legítima, chegou a um ponto em que percebeu o que todos percebemos. Chocado está o país, como ele disse, com a falta de vergonha desta gente que nos governa. Um Presidente da República que quer estar ao lado do sentimento do país percebe que as pessoas ficaram em estado de choque com Pedrógão mas que esse estado de choque se transformou num estado de raiva quando se repetiu da forma mais canhestra quatro meses depois. O que acontece é que aquele homem que, não por acaso, foi eleito pela maioria que foi eleito, percebeu que o PS até pode continuar a fazer este spinezinho dos jornais aqui em Lisboa e a dar de comer aos seus trolls nas redes sociais, mas que felizmente ainda há muito país para lá disso.

Aparentemente, segundo diz o Governo, estava tudo combinado com o Presidente sobre a demissão da ministra. Daí o “choque”.
Nem vale a pena fazer-me essa pergunta porque acho que eles são mentirosos. Não acredito nada nessa história. O Governo tenta fazer umas habilidadezinhas, uns truquezitos da política palaciana lisboeta, plantando noticiazinhas cobardes nas quais ninguém dá a cara. Põe um deputado de segunda linha a fazer umas lérias no Facebook, e não há ali um homenzinho ou uma mulherzinha que se chegue à frente e diga: eu acho isto. Portanto, há um momento em que as pessoas se fartam desse registozinho da cobardia e do diz que disse. E o PS não percebeu que as pessoas se fartaram disso. Mas é problema do PS.

Fartaram-se mesmo?
Acho que sim, fartaram-se mesmo. Nestas últimas semanas acho que os portugueses ficaram com a noção de que estas pessoas não são de confiança. A reação do Governo foi muito desapiedada. Foi demasiado ostensivo perceber que isto era um problema para eles e não para as pessoas a quem isto aconteceu. Isso notou-se demasiado. E quero acreditar que as pessoas neste país ainda têm olhos na cara para ver isso. Acho que foi tão evidente que as pessoas perceberam.

Então acha que depois disto vai haver um novo ciclo? Ou o Governo dura tranquilamente até 2019?
Isso não depende da Presidência da República. Aguentar ou não até 2019 depende da coligação na qual já percebemos que o PCP está muito desconfortável. Espero que não aconteça nada com dimensão de tal gravidade que leve o Presidente a dissolver a Assembleia. Porque o exemplo de Jorge Sampaio para pôr o [José] Sócrates no poder não pode voltar a acontecer. Por isso, depende tudo da estabilidade da maioria, e sobretudo do que o PCP pensa. O Bloco de Esquerda é um partido burguês, adapta-se ao que o PS precisar. O PCP não. O PCP vai ter de avaliar nestes dois anos com que cara quer aparecer às eleições legislativas: se quer ser o protagonista da esquerda contra aquilo a que sempre chamaram de política de direita do PS, ou se quer ser só uma muleta dessa política de direita. Esta é uma escolha muito difícil do PCP, admito que sim. Mas é isso que vai determinar a estabilidade do Governo. O BE não conta, diz que sim a tudo.

Não convive com Santana. Com Rio só falou “uma vez” desde que lançou candidatura

Foi secretário de Estado do Governo de Santana Lopes, ficava satisfeito com Santana Lopes na liderança do PSD?
Ficarei satisfeito com o resultado da eleição democrática do PSD, qualquer que seja o líder. No dia em que achasse que um líder eleito pelos militantes do PSD não servia, tinha muito bom remédio. Ninguém me aponta uma pistola para estar no PSD há 32 anos.

Acha que Santana Lopes está diferente e merece mais uma oportunidade, depois de ter sido presidente do PSD e ex-primeiro-ministro?
Eu não convivo com ele.

Santana Lopes apareceu num dia da campanha de Teresa Leal Coelho. José Eduardo Martins foi secretário de Estado do Desenvolvimento Regional no seu Governo, em 2004

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

E com Rui Rio fala regularmente?
Não muito. Desde que apresentou a sua candidatura falámos uma vez.

Avisou-o de que ia tornar público o manifesto pouco tempo antes de ele apresentar oficialmente a candidatura?
Não, mas não peço autorização a ninguém.

Não é uma questão de autorização. Rui Rio ia apresentar a candidatura a uma hora marcada, e meia hora antes o José Eduardo Martins decide divulgar um manifesto que criou a ideia de que podia haver ali uma terceira via.
Não tinha esse propósito. Estamos muito felizes com o resultado do manifesto, temos muita gente a escrever-nos, a criticar-nos, a dizer coisas interessantes. Mobilizamos pessoas interessantes que não estão atualmente a servir o partido.

"As pessoas que menos contribuem para a política são as que têm a vida mais organizada e que são mais felizes. Não se atraem essas pessoas para jogadas de aparelho"

E em que é que isso se vai traduzir no Congresso?
No que queremos dizer. No que queremos influenciar no que vai ser a política do PSD no futuro. As pessoas não têm só de existir para serem candidatas. O melhor contributo que podemos dar está ao alcance de todos. O que acho é que há muita gente capaz, que se identifica com o PSD, e que não está envolvida no quotidiano. A política vive de ideias e de protagonistas. Gostava de envolver imensas pessoas no quotidiano do PSD que só aparecem de vez em quando para dizer umas coisas. Essas pessoas têm todas emprego, vida, carreira, filhos. As pessoas que menos contribuem para a política são as que têm a vida mais organizada e que são mais felizes. Não se atraem essas pessoas com jogadas de aparelho. Não se apanham moscas com vinagre. As pessoas veem estes golpes de aparelho e saem horrorizadas no próprio dia.

Continua a ter esperança de que os partidos, neste caso o PSD, deixem de ser palcos de jobs for the boys?
Sim. [Eduardo] Galeano dizia uma coisa muito interessante: a utopia está sempre dois passos à minha frente. Eu dou dois passos e ela afasta-se. Então serve para quê? Para eu continuar a andar.

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