776kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

ILUSTRAÇÃO: Ana Martingo/OBSERVADOR
i

ILUSTRAÇÃO: Ana Martingo/OBSERVADOR

ANA MARTINGO/OBSERVADOR

ILUSTRAÇÃO: Ana Martingo/OBSERVADOR

ANA MARTINGO/OBSERVADOR

Juros ameaçam bolso dos portugueses. Euribor pode subir acima de zero já em junho

Taxas de mercado atuais apontam para a possibilidade de a taxa Euribor a 12 meses chegar a "terreno" positivo já entre junho e julho. Antes do final do ano, podem saltar até aos 0,5%.

As taxas Euribor podem deixar de estar em “terreno” negativo já no próximo mês de junho, no caso do indexante a 12 meses. No prazo a seis meses o mesmo pode acontecer em setembro e a três meses em novembro, segundo as cotações dos derivados de taxas de juro que são negociados diariamente e que subiram em flecha nas últimas semanas, perante a escalada da inflação na Europa e a possibilidade de o BCE acelerar a retirada dos estímulos monetários. Os efeitos nas prestações de crédito não serão imediatos, mas são significativos.

A subida destes indicadores acelerou de forma acentuada nestes primeiros meses de 2022, a julgar pela evolução dos contratos futuros da Euribor (transacionados na London International Financial Futures and Options Exchange, ou LIFFE) e num tipo de instrumento complexo designado forward rate agreements. Basta recuar algumas semanas na análise desses dados, até ao final do ano passado, e os mercados financeiros apostavam que estaria bem mais distante no tempo esse momento em que as taxas Euribor regressavam a níveis não-negativos.

A 31 de dezembro de 2021, quando a Euribor a 12 meses rondava os -0,50%, a expectativa dos mercados era que o indexante atingiria a “linha de água” só em fevereiro de 2023 – agora passou a ser junho de 2022, ou seja, a data em que os investidores preveem essa evolução foi antecipada no tempo em oito meses. Para quem tem créditos indexados a seis meses, previa-se Euribor zero em junho de 2023 (agora setembro de 2022) e relativamente aos casos menos frequentes em que se usa a Euribor a três meses a data prevista pelos mercados passou a ser novembro de 2022 (era dezembro de 2023).

Ainda mais preocupante para quem tem empréstimos, designadamente créditos à habitação com taxa variável, é que, passando esse momento simbólico de as Euribor voltarem a zero (depois de mais de cinco anos em que estiveram negativas), as taxas podem continuar a escalar. O mercado está a indicar que o indexante a três meses pode chegar a 0,5% em março ou abril de 2023; no prazo a seis meses pode atingir o mesmo patamar dos 0,5% logo nos primeiros meses de 2023; e na Euribor a 12 meses pode ser ainda mais cedo – entre novembro e dezembro de 2022.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Euribor dá “salto” e volta ao pré-Covid em poucos dias

A evolução da taxa Euribor a 12 meses nos últimos dois anos. Fonte: Euribor-Rates.eu

O que é que isso pode significar, na prática? Num cálculo simples, uma família que tem um spread de 1% para um crédito de 150 mil euros a 30 anos – indexado a três meses – está a pagar uma prestação de 447,27 euros. Se a Euribor chegar a 0,5% a prestação subirá para 517,68 euros, ou seja, um aumento de mais de 70 euros por mês. O que se torna mais preocupante se tivermos em conta a subida da inflação que já tem vindo a pressionar os orçamentos familiares.

Filipe Garcia, economista do IMF – Informação de Mercados Financeiros, acautela que nem sempre estas taxas de juro conseguem traduzir aquilo que, depois, acaba por acontecer na realidade, porque são instrumentos caracterizados por alguma volatilidade. Basta lembrar que na primavera/verão de 2021, recorda o especialista, a indicação dada por estes derivados era que as taxas Euribor continuariam negativas durante vários anos, possivelmente até 2026. Algo que, hoje em dia, parece ser muito pouco provável que venha a acontecer.

Porém, a tendência é inquestionável. “As taxas de juro já bateram no fundo? Sem dúvida que já. As prestações já não vão voltar a baixar”, afirma Filipe Garcia, antecipando que a trajetória deve preocupar-nos porque “muitas pessoas estão mal acostumadas, após tantos anos com taxas de juro baixas ou negativas já tomaram estes níveis de prestações como garantidos e agora pode ser complicado”. É claro que “se as pessoas também tiverem aumentos salariais, ou se tiveram juízo e pouparam nos últimos anos, vão conseguir absorver – caso contrário, vão pagar mais ao banco e isso significa que vai sobrar menos para gastar noutras coisas”, remata.

"As taxas de juro já bateram no fundo? Sem dúvida que já. As prestações já não vão voltar a baixar. E muitas pessoas estão mal acostumadas, após tantos anos com taxas de juro baixas ou negativas já tomaram estes níveis de prestações como garantidos e agora pode ser vir a ser complicado."
Filipe Garcia, economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros

Menos voláteis do que estes dados de mercado, as projeções dos bancos também já refletem a iminência de subidas nas taxas de juro. Os economistas do BPI, por exemplo, ainda previam taxas Euribor negativas tanto para 2022 como para 2023 no seu relatório de janeiro sobre mercados financeiros. Mesmo a taxa Euribor a 12 meses rondaria, em média no ano de 2023, os -0,15%. Os outros indexantes, a seis e três meses, estariam em 2023 na região dos -0,28% e os -0,40%, respetivamente.

Mas, na última edição deste relatório, de fevereiro, o guião mudou de forma clara. A Euribor a 12 meses já aparece positiva em 2023, nos 0,14%, e o indexante a seis meses prevê-se ainda negativo mas muito ligeiramente (-0,01%). Essa é uma previsão que “reflete a visão fundamental” dos economistas, ou seja, “não é influenciada pelas taxas implícitas no mercado ou, pelo menos, não diretamente”, explica ao Observador Paula Carvalho, economista do BPI, acrescentando que “é uma previsão muito mais estável, ao contrário do mercado, porque reflete os fundamentos” que influenciam este debate.

E quais são esses fundamentos? Com o Banco de Inglaterra a subir as taxas de juro já por duas vezes e a toda-poderosa Reserva Federal dos EUA a seguir o mesmo caminho, “no que respeita ao BCE, a retoma da inflação nos últimos meses e, principalmente, o possível risco de persistir por mais tempo do que o esperado, começam a incomodar” outros membros da cúpula do BCE que não apenas aqueles países tradicionalmente mais temerosos em relação à inflação, diz o BPI.

No Conselho do BCE, cada cabeça sua sentença

Mostrar Esconder

A presidente do BCE, Christine Lagarde, lidera um conselho de governadores que está cada vez mais fraturado. Depois de os representantes dos Países Baixos e da Alemanha terem defendido o fim da intervenção nos mercados de dívida, o governador da Letónia (Mārtiņš Kazāks) veio nesta quarta-feira afirmar que “é bastante provável” que haja um aumento das taxas de juro ainda neste ano.

Mas outros membros do Conselho do BCE vieram defender, publicamente, o contrário. O mais recente a fazê-lo foi o governador irlandês, Gabriel Makhlouf, que salientou que “é irrealista” pensar que o banco central pode aumentar as taxas de juro já em junho, como estão a apontar alguns segmentos dos mercados financeiros. O responsável salientou, também, que a autoridade monetária europeia deve prosseguir com cuidado dado o perigo de “matar a retoma”.

Quanto ao Banco de Portugal, o governador Mário Centeno disse há poucos dias que “vamos entrar num novo ciclo para a política monetária”. “Ao período de taxas de juro generalizadamente baixas, algumas mesmo negativas, deverá seguir-se uma normalização”, afirmou, sublinhando que esse é um “processo desejado”.

Porém, Centeno reiterou que o BCE deve manter “toda a flexibilidade” e que “seria um erro, comparável aos do passado recente, atribuir à política monetária a função de ir no encalce do Sr. Putin“, numa alusão à influência do conflito na Ucrânia sobre os preços da energia.

Na última conferência de imprensa em Frankfurt, a presidente do BCE surpreendeu os mercados financeiros pela forma como abriu a porta – mais do que se previa – a que as taxas de juro possam subir ainda este ano na zona euro. Desde esse momento, Christine Lagarde tem-se desdobrado em entrevistas e aparições públicas onde garante reiteradamente que qualquer ajuste na política monetária será “gradual” e questionando, novamente, se apertar a política monetária teria alguma influência no combate aos fatores que, defende, estão na origem da inflação mais intensa.

BCE vai “agir no momento certo” contra inflação, mas “não consegue pôr gás nos gasodutos nem formar mais camionistas”, diz Christine Lagarde

“A nossa política monetária não consegue encher os gasodutos com gás natural, não pode ajudar a desbloquear atrasos nos portos nem consegue formar mais camionistas”, afirmou a responsável na segunda-feira, argumentando que a explicação para a escalada da inflação está sobretudo nos preços da energia e nas dificuldades nas cadeias globais de abastecimento (que “estão a dar sinais de melhoria”, garantiu a francesa).

Contudo, Lagarde garantiu estar “perfeitamente consciente de que muitas pessoas em toda a zona euro estão preocupadas com o aumento do custo de vida neste momento”, um “fardo que é ainda mais pesado para aqueles que têm rendimentos mais baixos e que têm de enfrentar as dificuldades diárias de gerir as suas vidas com preços mais elevados”. Por isso, o BCE, que está “empenhado no cumprimento do mandato de estabilidade dos preços”, promete que vai honrar esse compromisso: “Vamos tomar medidas no momento certo“.

epa09644967 European Central Bank (ECB) President Christine Lagarde speaks during a press conference following the meeting of the Governing Council of the European Central Bank in Frankfurt am Main, Germany, 16 December 2021. The ECB Governing Council will hold a monetary policy meeting on 16 December.  EPA/RONALD WITTEK/POOL

Christine Lagarde, presidente do BCE, tinha dito em Lisboa que era muito improvável que se reunissem as condições para aumentar os juros em 2022.

RONALD WITTEK/POOL/EPA

O consenso entre os analistas e economistas dos principais bancos internacionais também está a mover-se no sentido de antecipar mexidas mais rapidamente do que antes se previa. Uma sondagem feita pela agência Reuters revelou que a maioria dos especialistas acredita que o BCE irá alterar a taxa de juro dos depósitos para -0,25% até ao final do ano.

Com a taxa diretora em zero há vários anos (em termos simples, a taxa que o BCE cobra aos bancos pela liquidez que lhes concede), a taxa de juro dos depósitos (aquilo que os bancos recebem ou pagam, neste caso, quando parqueiam excedentes no banco central) tornou-se nesta fase o principal barómetro da política de Frankfurt.

A taxa dos depósitos está em valores negativos desde que foi passada para -0,10% em meados de 2014, pela mão de Mario Draghi. Nos anos seguintes, houve outras reduções para níveis ainda mais negativos, passando-se para os atuais -0,50% em setembro de 2019. Ao prever que essa taxa suba para -0,25% nos próximos meses, os economistas consultados pela Reuters não estão a ir tão longe quanto o que está a ser descontado nos mercados de futuros. Mas já denotam, ainda assim, uma inversão na trajetória da política monetária seguida pelo BCE.

Bancos desvalorizam riscos (mas há quem aconselhe fugir às taxas variáveis)

Os principais bancos portugueses têm procurado desdramatizar. Na Caixa Geral de Depósitos, o presidente executivo Paulo Macedo desvalorizou o perigo de uma subida rápida dos juros, lembrando que o BCE tem em conta não apenas a evolução dos preços mas, também, uma análise sobre se a zona euro tem taxas de juro adequadas para garantir a retoma e a sustentabilidade da dívida de vários países (onde se incluem os “gigantes” Itália e França) – há um “balanceamento” que tem de ser feito, lembrou o banqueiro.

Ainda assim, baseando-se na orientação que está a ser dada pelo BCE e na comparação com aquilo que se está a fazer nos EUA (que está mais adiantado neste processo), Paulo Macedo argumenta que o cenário central que continua a ser previsto pelo BCE é não subir as taxas de juro em 2022. E se a autoridade monetária as subir duas vezes em 2023, o que o banqueiro considera plausível à luz da história, isso apenas significará que “as Euribor vão para zero em 2023”.

Na mesma conferência de imprensa de apresentação dos resultados anuais, na semana passada, Paulo Macedo reconheceu também que “as taxas de juro são algo que temos de ter em atenção” porque “têm de estar em níveis que não comprometam a retoma”. Mas passou uma mensagem de tranquilidade: “se a subida for feita como no passado, estamos a falar de uma Euribor a zero em 2023 e positiva em 2024. E, em 2024, positiva em quê? Meio ponto percentual?”. “O nosso entendimento é que as taxas vão manter-se em níveis historicamente baixos, ainda em 2022“, rematou.

"O nosso entendimento é que as taxas vão manter-se em níveis historicamente baixos, ainda em 2022", defendeu Paulo Macedo, da CGD.

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Porém, numa altura em que já terminaram as moratórias bancárias, a subida dos juros é um fator que cria um maior risco de alguns créditos poderem entrar em dificuldades e acabarem por ser classificados como créditos não-performantes (non performing loans, ou NPL, na designação mais usada). O MillenniumBCP, que ainda não apresentou resultados anuais, diz ao Observador que “o banco está sempre atento aos fatores de risco que possam levar ao aumento dos NPL, pelo que, na análise de solvabilidade efetuada para a avaliação do risco, efetuada em momento prévio à concessão do crédito, o banco leva sempre em linha de conta cenários de agravamento da taxa de juro”.

Por outro lado, acrescenta fonte oficial da instituição, “o banco assegura uma monitorização permanente e sistemática sobre a sua carteira de crédito, que permite identificar antecipadamente os sinais de alerta e iniciar interações com clientes sempre que se identifique probabilidade de incumprimento”, designadamente no âmbito do PARI, isto é, o plano de ação para o risco de incumprimento.

Juros negativos. Caixa já devolveu mais de 8 milhões de euros a alguns clientes

Mostrar Esconder

A subida das taxas de juro vai afetar todos aqueles que têm créditos indexados a taxas variáveis. Mas há um conjunto de clientes que, com essa subida, vai deixar de estar na situação paradoxal que é receber juros pelos créditos que pediram – algo que acontece (apenas nos casos de crédito à habitação) desde que foi aprovada legislação nesse sentido, em julho de 2018.

A maioria dos bancos está a refletir os juros negativos aumentando a amortização de capital em cada prestação, embora a lei também admita que o banco constitua uma espécie de crédito para compensar o cliente mais tarde, quando os juros subirem.

Questionados pelo Observador, os principais bancos portugueses não se disponibilizaram nesta altura para dizer quantos clientes estão nessa situação, mas o maior banco do sistema – a Caixa Geral de Depósitos – indicou que até ao momento já devolveu mais de oito milhões de euros a clientes cuja taxa de juro, mesmo quando incluído o spread, fica abaixo de zero.

Apesar de revelar o valor total aproximado deste impacto, que é um custo para o banco, o banco público prefere não tornar pública a informação sobre quantos clientes estão nessa situação. Porém, segundo notícia do jornal Eco, em julho de 2021 estavam em causa cerca de 45 mil contratos de crédito na Caixa.

Noutro banco, o BPI, o presidente João Pedro Oliveira e Costa comentou, na apresentação dos resultados anuais, que “não temos nenhuma previsão de subida forte das taxas de juro”.

Porém, o banqueiro decidiu deixar “um conselho” para quem tem ou quer fazer crédito à habitação. “No caso do BPI, hoje em dia já contratamos perto de 30% em taxa fixa”, afirmou João Pedro Oliveira e Costa. Na opinião do gestor, essa “é uma boa forma para quem tem um orçamento relativamente estável, de também estabilizar a prestação”.

“Temos aconselhado bastante a que as pessoas estudem bem os seus orçamentos para não terem surpresas”, notou o banqueiro, rematando: “Num crédito à habitação por um período como 30 anos é muito difícil prever se é melhor uma coisa ou outra, mas nas condições atuais eu aconselharia a ponderar vivamente fazer um crédito à habitação com taxa fixa”.

“Num crédito à habitação por um período como 30 anos é muito difícil prever se é melhor uma coisa ou outra, mas nas condições atuais eu aconselharia ponderar vivamente fazer um crédito à habitação com taxa fixa.”
João Pedro Oliveira e Costa, presidente executivo do BPI
Assine a partir de 0,10€/ dia

Nesta Páscoa, torne-se assinante e poupe 42€.

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver oferta

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine a partir
de 0,10€ /dia

Nesta Páscoa, torne-se
assinante e poupe 42€.

Assinar agora