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Sónia Simões / Observador

Sónia Simões / Observador

La folle. A festa que Macron já queria em 2017 e que conseguiu agora junto à Tour Eiffel

Em 2017 Anne Hidalgo não deixou Macron festejar em Champs-de-Mars. Cinco anos depois, numa 2.ª volta contra a mesma adversária, conseguiu assinalar a vitória junto à Tour Eiffel. Mas com menos votos.

Sónia Simões é a enviada especial do Observador a França

Na multidão que espera Emmanuel Macron para o discurso de vitória em Champs-de-Mars, junto à Tour Eiffel, em Paris, Carine, 50 anos, salta à vista. Veste uma camisola amarela, sapatos da mesma cor, e dança mecanicamente ao som da batida da música como se estivesse numa pista de dança. As primeiras projeções, a partir de sondagens à boca das urnas, tinham sido conhecidas meia hora antes de Carine ocupar a pista — e davam uma vitória de Macron, com a possibilidade de recolher 58% dos votos e derrotar pela segunda vez Marine Le Pen na segunda volta de umas presidenciais. Nesse momento nos ecrãs gigantes instalados no recinto, onde na última hora passavam imagens da campanha do candidato pelo En Marche!, apareceu a imagem do DJ que lançava a primeira música da noite: “One more time (we’re gonna celebrate)”, dos Daft Punk.

“Estou feliz, mas exprimo-me a dançar”, começou por explicar ao Observador, sem parar. “Sei que o Macron é dinâmico e tem sempre boa música, mas a de 2017 era melhor”, diz. Também os resultados nesse ano foram melhores. Macron foi à segunda volta com a mesma adversária da extrema-direita, mas aí obteve 66,1% dos votos do total dos votos. Carine tem uma explicação para isso: faltam líderes políticos em França. “Penso que, no painel de personalidades da política francesa atual, é dele que precisamos para nos guiar. Não havia muita escolha. É um jovem que tem vontade, que soube gerir os grandes problemas dos últimos cinco anos e tem o seu lugar”, analisa.

Marine de Le Pen em Champs-de-Mars, mas na televisão

Minutos antes das palavras de Carine, Marine Le Pen, a partir do pavilhão de Armenonville, no 16.º bairro de Paris — onde, na quinta-feira, os lugares para jornalistas já estavam preenchidos —, reconhecia a derrota, mas sem mostrar fraqueza. Atirou ao adversário, avisando que Macron ia “destruir a França”, e apontou ao futuro, que se avizinha bem próximo, com as eleições legislativas já em junho. “No seguimento desta campanha, vemos que o grande palco político em que operámos está a passar por grandes mudanças, com a elite política de Macron a ter de enfrentar uma verdadeira oposição”, disse, anunciando que se iria candidatar e que esperava conseguir muitos lugares na assembleia. Na sala de imprensa preparada pela equipa do En Marche!, uma tenda gigante montada junto ao cruzamento da Avenida de Rapp, com a Avenida La Bourdonnais, havia quem estivesse a ouvir as palavras de Marine Le Pen, mesmo ao lado da mesa onde se servia café, água e refrigerantes.

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1300 jornalistas credenciaram-se para ouvir o discurso de Macron

Sónia Simões / Observador

Neste ponto sobre a mudança, Carine concorda. A profissional de comunicação diz que este não é o momento de falar entre a “esquerda e a direita, ou da ecologia, ou da extrema-esquerda e da extrema-direita”.  “Estamos perante uma viragem política”, disse ao Observador entre os passos de dança. E essa viragem, do seu ponto de vista, vai ter eco nos resultados das legislativas, “onde cada um vai finalmente poder votar em quem quer, trazendo pluralidade de opiniões”, disse, desvalorizando os resultados da primeira volta das presidenciais em que os partidos da esquerda saíram aniquilados, fazendo brilhar Jean-Luc Melénchon, líder do partido de extrema-esquerda da França Insubmissa.

epa09791484 French Minister for Economy Bruno Le Maire addresses the media following a Defense Council regarding Russia's attack on Ukraine, at the Elysee Palace in Paris, France, 28 February 2022. Russian troops entered Ukraine on 24 February prompting the country's president to declare martial law and triggering a series of severe economic sanctions imposed by Western countries on Russia.  EPA/YOAN VALAT

O ministro da Economia Bruno Le Maire estava entre os apoiantes

YOAN VALAT/EPA

Metros ao seu lado, e sem ela sequer dar por isso, está o ministro da Economia, Bruno Le Maire, que durante a campanha apoiou sempre Emmanuel Macron. Rodeado de jornalistas, o governante assume que esta escolha eleitoral foi sólida, mesmo que inferior a 2017. “Creio que a solidez da escolha dos franceses vai permitir-nos seguir a nossa ação nos próximos cinco anos”, afirmou.  Depois, Le Maire embarcou numa sessão de selfies com quem se aproximava.

Anne Hidalgo recusou festa em 2017 por causa dos Olímpicos

A batida da música continua e estima-se que estejam à volta do palco, onde Emmanuel Macron é esperado, cerca de 3 mil apoiantes. Há quem traga t’shirts de apoio, bandeiras e cartazes. Os coros são os mesmos que soaram durante as últimas duas semanas de campanha em que Macron optou por se mostrar mais em acções na rua e desdobrar-se em entrevistas. Nos últimos dias, esteve em Marselha, antes do grande debate com a sua adversária que lhe daria mais dois pontos nas sondagens. Esteve depois em Saint Denis, a norte de Paris, onde a maioria votou na extrema-esquerda, para depois terminar num bastião socialista no sul de França, na pequena cidade de Figeac, no departamento de Lot — onde há 40 anos o socialista François Mitérrand fez um discurso sobre economia.

epa09907427 French President Emmanuel Macron and his wife Brigitte Macron celebrate on the stage after winning the second round of the French presidential elections at the Champs-de-Mars after Emmanuel Macron won the second round of the French presidential elections in Paris, France, 24 April 2022. Emmanuel Macron defeated Marine Le Pen in the final round of France's presidential election, with exit polls indicating that Macron is leading with approximately 58 percent of the vote.  EPA/YOAN VALAT

Emannuel Macron ao lado de Brigitte Macron a comemorar a vitória

YOAN VALAT/EPA

Era em Champ-de-Mars que, em 2017, Macron queria fazer o seu discurso após o resultado eleitoral. Mas, na altura, Anne Hidalgo, a presidente da Câmara de Paris, recusou porque dias depois viria à capital um comité para avaliar o espaço por causa da candidatura aos Olímpicos. A autarca temia que o terreno não ficasse em condições depois da festa e a equipa de Macron acabou por planear aquela que foi a festa da vitória junto ao Louvre. O evento deste domingo estava já a ser preparado há dias. Na quinta-feira, a equipa da campanha do candidato abriu as inscrições aos jornalistas e credenciou 1300 profissionais para cobrirem o vento. A entrada começou às 17h, com a habitual revista policial a todas as malas, e só terminou as 19h, meia hora depois de noutro acesso ao recinto abrirem a entrada ao público. Televisões, jornais, rádios de todo o mundo tinham os olhos postos nas eleições onde em que se avaliava a força eleitoral de Marine Le Pen e da extrema-direita, com vários líderes europeus, incluindo o primeiro-ministro António Costa, a apelarem para um voto que barrasse a União Nacional. Ainda assim, esta foi a eleição com a maior taxa de abstenção (30,3%) registada desde 1969.

De Daft Punk, passando por Beethoven e acabando na Marseillaise

Já a Tour Eiffel estava iluminada quando Emmanuel Macron chegou. A música mudou. Depois das batidas, passou a ouvir-se o Hino da Alegria, de Beethoven, que é também o hino da União Europeia, outra bandeira desta campanha que coloca Macron e Le Pen em extremos opostos. Le Pen defendeu em 2017 a saída da União Europeia, agora aliviou o discurso para uma Europa com menos poderes. Macron atravessou de passo lento Champs-de-Mars a pé, de mão dada com a mulher, Brigitte Macron, e com um grupo de crianças e jovens deixando uma mensagem de futuro. Aliás, os Jovens com Macron (Jeunes Avec Macron), que têm marcado presença em toda a campanha, também estiveram esta noite em festa, entre os milhares de apoiantes. Havia mesmo casais com filhos ainda pequenos a tentarem furar a multidão para chegar mais próximo do palco. “C’est la foule”, ouvia-se para descrever este momento de euforia.

Macron foi cumprimentando quem o esperava num corredor a alguns metros da sala de imprensa rodeado de apoiantes, entre eles alguns membros do governo. Distribuiu sorrisos, abraços, beijinhos até subir ao palco. Ouviu-se mais uma vez o coro de apoio: “Et un, et deux et cinq ans de plus”. E a primeira palavra do Presidente, que irá renovar o mandato no Eliseu, foi precisamente “Merci”. Num discurso curto e aplaudido por uma plateia eufórica, assumiu a responsabilidade perante os que votaram nele para bloquear a ascensão da extrema-direita.”Tenho consciência daquilo a que o vosso voto me obriga nos próximos anos”, disse, garantindo respeitar as diferenças. Depois das suas palavras, a sua mulher juntou-se ao Presidente reeleito. Na sala de imprensa houve um impasse. Todos olharam para a televisão e houve mesmo quem pensasse (e verbalizasse) que Macron iria cantar. Mas não. Ao seu lado, de vestido vermelho, Farrah El-Dibany, uma meio-soperano da Ópera de Paris, desconhecida do grande público, cantou o hino nacional. Seria a última música da noite. E o fim da festa.

https://twitter.com/franceinfoplus/status/1518322213472063490

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