794kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Legislativas. A última chamada dos candidatos antes de o dia acabar

Os candidatos às Legislativas foram desafiados a fazer a última chamada do dia para o jornalista do Observador que acompanha a comitiva. Houve, sem surpresa, telefonemas já de madrugada.

    Índice

    Índice

No fim do dia, literalmente,  os candidatos às Legislativas fazem balanços do que fizeram bem e mal e desabafam sobre estratégias ou pequenos problemas que enfrentam na campanha. João Oliveira conta que passou a perceber melhor quão grande é a resistência física de Jerónimo e confessou que, mesmo no humor, tem cuidado para não pôr o pé em ramo verde. Francisco Rodrigues dos Santos confessou que dormiu no carro para descansar durante uma viagem longa, que até gosta de tofu e que não se importa de ser chamado Chiquinho ou Chicão das Feiras, desde que isso signifique ser do povo. Mas há mais.

Sousa Real confessa que liga para casa e que tem saudades das Micas e da Luna, os seus animais de companhia, e mete um tom mais grave para lembrar que foi vítima de ameaças de morte. E o jantar? Rissol de tofu com arroz basmati. Já Cotrim Figueiredo admitiu que o viagra que exibiu no programa de Ricardo Araújo Pereira foi um número criado para se tornar viral (não confundir com viril). Já André Ventura confessou que pede a Deus para não sonhar com António Costa. E Rui Tavares conta, horas depois de levar a terceira dose da vacina, que espera que não vá tão abaixo como na segunda dose, que o deixou de rastos. Porque há uma campanha para fazer.

Tudo isto faz parte das confissões de seis dos nove principais candidatos na última chamada do dia (os restantes não aceitaram ou não responderam ao convite). Todos os líderes foram desafiados a atender um telefonema tardio a fechar o dia para o jornalista do Observador que está no terreno. A maioria dos candidatos concedeu esta última chamada em dois dias consecutivos. É o resultado dessas chamadas que pode aqui ler e ouvir.

João Oliveira. Perceber melhor o camarada Jerónimo e o humor em ramo verde

[Ouça aqui a última chamada durante dois dias consecutivos com João Oliveira:]

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Perante as adversidades tivemos de dar mais”

Sábado, 22 de janeiro de 2022. João Oliveira esteve na estrada entre quarta-feira, dia 19, e a segunda-feira-feira seguinte, o tempo equivalente ao período de isolamento de João Ferreira a quem tinha sido entregue a tarefa de fazer a rota em substituição do secretário-geral enquanto este recuperava da cirurgia. Habituado à campanha eleitoral, mas no distrito de Évora pelo qual tem sido eleito nos últimos sufrágios, João Oliveira falou ao final do dia com o Observador, aproveitando sempre a viagem de regresso depois das últimas ações de campanha de sábado e de segunda-feira (o último dia antes de regressar a Évora).

A primeira última chamada começou com uma desafinação. Acertada a hora para a conversa, João Oliveira não atendeu à primeira tentativa. No sábado a caravana dos comunistas esteve a sul e depois de ter pontuado a passagem com duas sessões de microfone aberto para quem quisesse intervir, a noite foi dedicada a um comício na Universidade do Algarve com auditório cheio.

— Estou?
— Olá, boa noite. Como está?
— Viva, tudo bem?
— Tudo.
— Estava a achar que me ia ligar de um telemóvel por isso é que não estava a atender.
— Não, precisamos de fazer a gravação [realizada através de um número fixo]. A esta hora também não haveria muitas hipóteses de o estarem a chatear. O dia vai longo, não?
— Estamos em viagem, isso é tudo ainda parte da mesma jornada.
— Ainda está a voltar a Évora? Está em viagem, terminou agora o comício em Faro…
— Terminou agora mesmo o comício de Faro, vou ficar em Azeitão, só amanhã é que vou a Évora.
— Amanhã também começa cedo.
— Sim, exatamente.
— A primeira ação é na Amora.
— Sim.

À entrada do fim de semana e já com milhares de quilómetros percorridos, o Observador quis saber se o papel de substituir o secretário-geral era exigente. Parece que não é assim uma coisa tão fácil como até aqui Jerónimo de Sousa tem feito crer.

— Então e diga-me uma coisa, como é que foi o dia? Está muito cansado ou ainda está com energia para o resto da jornada?
— Vou-me aguentando, vou-me aguentando (risos). Já vão sendo algumas horas acumuladas, mas vou-me aguentando.
— É mais difícil fazer esta ronda nacional? Está mais habituado ao seu distrito, pesa mais este esforço?
— Sim. Os horários não são propriamente muito diferentes daqueles que faria se estivesse por Évora, eventualmente à noite não seriam tão estendidos à noite, mas digamos que do ponto de vista das horas do dia consumidas pela campanha não seria muito diferente. A diferença das deslocações e todo o desgaste que envolve as deslocações faz alguma diferença, tenho agora uma redobrada compreensão pela capacidade de resistência do Jerónimo.
— Está mais solidário e consegue perceber agora todas as vezes que lhe perguntaram se ele estava cansado? Agora consegue perceber um pouco melhor?
— Exatamente, exatamente.
— É que quem acompanha a volta com ele também se cansa.
— Pois. Agora a compreensão redobrada pela capacidade de resistência dele. (risos)

E com uma cara diferente daquela a que os portugueses conhecem há muitos anos à frente, ainda que apenas em consequência das contingências de saúde que trocaram as voltas à CDU, a pergunta era inevitável. Como está a ser recebido por onde a caravana tem passado?

— Como é que têm corrido os contactos, não que seja um desconhecido, mas como tem sido a aceitação desta troca forçada devido às contingências de Jerónimo de Sousa e João Ferreira?
— Acho que tem havido um ambiente de unidade e mobilização acrescida em função disso. Esse sentimento de que é preciso todos darem um contributo na medida das suas possibilidades e acho que isso tem ajudado. Isso vai-se fazendo sentir no ambiente da campanha. É um elemento que ajuda ao bom ambiente que encontramos em termos gerais nos contactos que vamos fazendo.

Os clichés com as coisas que se descobrem — ou entendem melhor — em altura de dificuldades são vários. Também se aplicarão à vida política? A isso, João Oliveira responde com a mobilização do coletivo.

— A dificuldade acabou por unir mais?
— É uma ideia de que perante as adversidades temos todos que dar um bocadinho mais para que possam ser ultrapassadas. Acho que isso se sente na mobilização tanto dos nossos ativistas como da nossa volta.

Com a clara perceção que o lugar de deputado em Évora pode fugir das mãos do PCP, só no dia 30 será esclarecida a dúvida sobre se a falta de João Oliveira no terreno, mas em contrapartida a maior projeção nacional terá ou não impacto no resultado no círculo eleitoral. Enquanto João Ferreira ainda cumpre o isolamento, João Oliveira confia nos camaradas em Évora. Ainda assim, admite que quando recebeu a chamada a convocá-lo para entrar em campo “foi um sobressalto que teve algum impacto”.

— Em Évora acha que já têm saudades suas? Já toda a gente anseia pelo seu regresso ou ainda aguentavam mais um bocadinho?
(risos)
— Os meus camaradas e amigos candidatos têm-se desdobrado para conseguirem colmatar a minha ausência. Das notas que tenho isso tem sido conseguido e têm sido encontrados alguns elementos de apoios, alguns deles até inesperados de quem assumiu dar o seu apoio à CDU também considerando as dificuldades. Vai tudo um bocado em cascata e acho que isso é um elemento importante.
— Está mais otimista esta sexta-feira do que estava na segunda ou na terça quando lhe ligaram a dizer que teria de entrar em ação noutra pele que não só a dos debates e idas à televisão?
— Esse primeiro sobressalto teve algum impacto. Estava a chegar ao local onde tinha a iniciativa de campanha prevista em Évora e tive que voltar para trás. Esse primeiro sobressalto foi de facto grande que me deixou a pensar como é que íamos resolver todas as implicações que isso tinha. Ultrapassadas essas dificuldades e com a noção de que a circunstância em que eu estou a cumprir a agenda em que estaria presente o Jerónimo e que em Évora está a ser cumprida a minha agenda com outros candidatos dá também alguma confiança relativamente ao andamento do trabalho e à mobilização. A atualização que vou fazendo da forma como as coisas estão a correr no distrito de Évora é boa.

E com o registo mais descontraído que o caracteriza — e contrasta quer com Jerónimo de Sousa quer com João Ferreira — João Oliveira aproveitou a passagem pelo programa de humor e o élan aí criado para animar o comício pouco tempo antes da chamada com o Observador.

— Há pouco no comício aproveitou um momento que teve grande impacto nas redes sociais, da brincadeira que fez com Ricardo Araújo Pereira, e acabou para mobilizar também ali um auditório bem composto. Não é a primeira vez que participa no programa, mas aparentemente teve mais projeção. Isso prende-se com o facto de estar a fazer as vezes do secretário-geral?
— Eventualmente isso traz algum elemento de curiosidade ou interesse, sobretudo curiosidade para ver se quem substitui nesses compromissos o secretário-geral verdadeiramente corresponde às exigências que foram colocadas.
— Acha que foi um teste?
É sobretudo um elemento de curiosidade, para perceber. Era para estar o Jerónimo, deixa ver quem vem e como. E acho que é natural.
— E vem bem? Tendo em conta a projeção e o feedback sente que não defraudou expectativas
Deixe-me dizer-lhe que aquele momento de ontem no programa do Ricardo Araújo Pereira não pode ser barómetro para muita coisa. Aquele ambiente descontraído facilita um pouco a abordagem também nas questões sérias. É possível tratar das questões sérias de outra forma, mas julgo que o que resulta daquele momento com ele acaba por ir muito além daquilo que verdadeiramente pode ser o alcance da mensagem do ponto de vista da mobilização para o voto. De qualquer forma também é uma circunstância arriscada, apesar de ser um espaço de descontração e brincadeira há sempre o risco de pôr o pé em ramo verde e há sempre um misto de cautela, descontração que tem que se ir equilibrando. Naturalmente o feedback que tenho tido desse momento é sobretudo de boa disposição. Como o espaço é um espaço de boa disposição acho que o objetivo ficou cumprido.
— Não lhe vou ocupar mais tempo, ainda está em viagem. Desejo-lhe um resto de boa viagem e bom descanso. Amanhã cedo nos encontraremos para mais um dia!
— Obrigado, bom trabalho.

Segunda-feira, 24 de janeiro de 2022. João Oliveira acaba de sair de um comício em Beja, deixa a caravana para João Ferreira, mas é apenas uma pausa já que na quarta-feira tal como planeado há vários meses a caravana da CDU passa por Évora para o tradicional comício do Teatro Garcia Resende. O ritmo até podia abrandar, mas a primeira ação da campanha em Évora será de manhã cedo.

— Estou?
— Olá, boa noite.
— Viva!
— Como está? Tudo bem desde há pouco?
— Tudo bem, sim senhor.
— Como é o último dia será que me consegue fazer um balanço? Ou ainda não é tempo disso e teremos de aguardar pela continuidade da caravana?
— Acho que é preciso esperar até ao fim para se fazer um balanço com algum rigor porque estas circunstâncias em que tivemos de encontrar soluções para os obstáculos que fomos encontrando a partir daquele problema identificado e que exigiu a intervenção cirúrgica do meu camarada Jerónimo de Sousa colocou-nos perante desafios inesperados e a necessidade de encontrar soluções para manter a campanha da CDU com a projeção e dinâmica que estava prevista.
— Foi um resistente, conseguiu aguentar mais tempo na estrada.
(risos)
— As circunstâncias de já levar três doses da vacina se calhar também ajudaram a isso, mas acho que o balanço só pode ser feito efetivamente no final da campanha. Conseguimos assegurar que a agenda fosse mantida e que se realizassem as ações que estavam inicialmente previstas. Desse ponto de vista há objetivos cumpridos, não com o secretário-geral, mas com quem pôde ser. Julgo que verdadeiramente o balanço só mesmo na sexta-feira, olhando para trás e vendo como tudo correu.
— Amanhã [terça-feira] volta a Évora, onde é cabeça de lista. Já votou, esteve lá a exercer o direito de voto. Já está ansioso por voltar?
— Já tenho uma intensa agenda pela frente. Começo amanhã às 7h30 num contacto com trabalhadores.
— Às 7h30? É uma noite pouco dormida.
– -Vai ser, vai ser.
— Há que compensar a ausência desta semana ou a agenda já era intensa a esse ponto?
– É o ritmo normal.
— O ritmo da última semana?
— Nem sequer é da última semana. É o ritmo normal que fazemos nas nossas ações de contacto que têm de começar cedo para apanharmos alguns trabalhadores nos locais de trabalho ainda na altura em que é possível falar com eles anda antes de começarem os turnos, por exemplo, às 8 horas. Temos que estar lá antes para conseguir falar com eles, normalmente os dias de campanha começam cedo e vão até tarde em função desses vários contactos que vamos realizando. O dia de amanhã é, digamos, a entrada da normalidade da campanha no distrito de Évora.

E agora que já acrescentou ao curriculum vitae uma espécie de volta nacional em legislativas, João Oliveira já pode também comprar a dificuldade de ser cabeça de lista pelo círculo de Évora ou secretário-geral em funções.

— E o que é que é mais exigente? A campanha no distrito de Évora ou a caravana nacional que na última chamada confidenciava que deixava já algum cansaço?
— São exigências de natureza diferente. Uma coisa é o contacto direto que fazemos na campanha no distrito onde temos condições para ter tempo e cada sítio para falar com as pessoas e fazer esse contacto com alguma profundidade. Outra coisa são as iniciativas centrais que têm outro tipo de enquadramento e projeção. Procuram tratar temas específicos para os quais é preciso dar outra projeção do ponto de vista das nossas propostas. Diria que são exigências diferentes, não são nem maiores nem menores. A responsabilidade pela intervenção coloca muito maior responsabilidade naquilo que se diz e da forma como as coisas são tratadas. Desse ponto de vista há uma exigência de responsabilidade que é inegável com a qual me confrontei pela primeira vez.
— Prefere o contacto mais aprofundado e o tempo e um registo com essa carga de responsabilidade menor? Fica mais confortável?
— Tudo faz falta. Em diferentes circunstâncias temos que assumir diferentes expressões da campanha eleitoral que fazemos. Uma das coisas que marca a nossa campanha no distrito de Évora, de há muitos anos a esta parte, são aquela espécie de mini comícios que fazemos onde há, por exemplo, esplanadas com pessoas e falamos para toda a gente. Isso tem uma determinada configuração, se vamos à procura do contacto com comerciantes, trabalhadores ou estudantes à porta o contacto é feito de outra forma. Tudo tem que ter lugar. Esta circunstância dos últimos tem uma especificidade que é ainda assim significativa.

E antes mesmo de sair de cena aproveitou para deixar um recado a Marcelo Rebelo de Sousa.

— Nessa circunstância esta segunda-feira deixou um aviso ao Presidente da República, dizendo que terá sempre que respeitar o que os portugueses deixem expresso nas urnas no próximo domingo. Este aviso vem porque Marcelo pode ter a tentação de forçar um bloco central?
– As decisões que foram tomadas para trás foram tomadas e colocadas as eleições agora, é essa a questão que está colocada. Diria que a questão que está verdadeiramente em cima da mesa é, em função do resultado eleitoral encontrar solução para os problemas e, a partir da composição da Assembleia da República, as forças que são necessárias para construir essas soluções. O papel e competência do PR diria que tem pouco que ver com isso, o que está em causa neste momento é o poder que os portugueses têm na mão no dia 30 e em função disso e da composição da Assembleia da República encontrar-se solução institucional que dê tradução a essa escolha e, naturalmente, levar por diante o conjunto de medidas e políticas que correspondem àquilo que os portugueses disserem nas urnas. O papel do Presidente da República foi um naquele quadro em que decidiu a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições antecipadas. Para a frente é outro e não é propriamente o mesmo tipo de exigência, intervenção e até responsabilidade que se coloca. Acho que são elementos diferentes, o Presidente da República fará o balanço que tiver que fazer relativamente às decisões que tomou. Tem obrigação de respeitar o resultado eleitoral e a partir deste agir em conformidade em respeito que o resultado merece.

— Vou deixá-lo então descansar, amanhã começa cedo em Évora.
– Exatamente.
— Continuação de boa viagem e bom descanso quando for tempo disso.
– Obrigado, bom trabalho e bom descanso também.

FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/OBSERVA

CDS. O “Francisco, Chiquinho ou Chicão” das feiras que gosta de tofu

[Ouça aqui a última chamada durante dois dias consecutivos com Francisco Rodrigues dos Santos:]

Francisco Rodrigues dos Santos: “Gosto de tofu”

Noite de 23 para 24 de janeiro. O dia tinha sido dos mais curtos da campanha: apenas com duas ações públicas, espaçadas no tempo, quando o normal são três ou quarto. Ainda assim, a viagem entre Matosinhos e a Guarda tinha sido longa, mais de duas horas. Para “repor baterias”, e como não é ele quem tem de conduzir, aproveitou para dormir no trajeto. O sono iria continuar logo a seguir à chamada do Observador, feita já no hotel, depois da meia-noite de domingo (23) para segunda-feira (24). Todas as horas de descanso são preciosas: o dia seguinte já seria mais atarefado e passaria por três distritos — um mercado da Guarda que esteve vazio, uma arruada em Mirandela que acabou com vista para o rio Tua, e um jantar comício em Viseu, onde os avós lhe viriam a fazer uma surpresa.

— Beatriz?
— Estou, Francisco? Então, já chegou ao hotel?
— Já, já, acabei agora mesmo de chegar.
— Veio a dormir na viagem de carro desde Matosinhos até à Guarda, foi isso?
— Dormi para repor as energias porque foi um dia longo e terminou hoje [domingo] a primeira semana de campanha, deu para aproveitar.
— Foi um dia mais tranquilo relativamente aos restantes. Tem tido dias muito preenchidos que só acabam à noite, mas hoje até terminou as ações de campanha relativamente cedo. Como é que se sente, cansado?
— Sinto-me cansado, mas com um sentimento de dever cumprido. Nós temos realizado uma média de quatro ações de campanha por dia, hoje [domingo] conseguimos distender no tempo as duas ações de campanha que tivemos, portanto, não foi tão concentrado o dia, mas é sempre uma altura em que gostamos de estar concentrados, no contacto com as pessoas, a ouvir os portugueses, conversar com eles, apresentar as nossas soluções. Convém estarmos de corpo inteiro e colocarmos tudo aquilo que somos no que fazemos e vivo estas campanhas com muita intensidade e muita alegria.
— Ouvi dizer que ontem à noite ficou muito tarde em Ponte de Lima, no jantar-comício. Ainda tem energia para uma noitada após tantos quilómetros?
— Energia tenho. E eu tenho uma particularidade no relacionamento com as pessoas. Não gosto de ter visitas de médico nem passagens relâmpago por cada uma das terras e ontem tínhamos cerca de 400 pessoas, talvez. E no final gosto sempre de estar um bocadinho com elas, conhecê-las, perceber quem são, porque é que apoiam o partido, em que é que posso ser útil, quais são as suas expectativas e essa confraternização e o convívio deu-se entre a meia-noite e a uma da manhã. Então, prefiro que assim seja e dou-me também a conhecer e permite-me saber as pessoas que estão connosco.
— E o que é que vai fazer agora, vai já dormir ou ainda vai preparar alguma coisa para amanhã?
— Agora vou já dormir. O plano para amanhã já está definido, tivemos tempo para o gizar e planear atempadamente e agora é tempo de descansar para amanhã acordar com todas as forças e energias para levar por diante mais uma jornada de campanha que, como sabe, é muito exigente.

Foi com ataques ao PAN que Francisco Rodrigues dos Santos arrancou a campanha. As críticas têm sido frequentes: orgulhando-se de ser a favor das touradas e dos caçadores, acusa o partido de Inês de Sousa Real de ser “animalista radical”, contra o mundo rural e com uma “agenda ditatorial que quer destruir o modo de vida de quem vive do campo”. Essa tem sido uma das promessas recorrentes: o que diz ser a “proteção do mundo rural”. Na feira do Fumeiro de Montalegre (Vila Real) tinha ouvido, nessa manhã, uma criança, incitada pela avó, dizer com orgulho que o pai “também caça”. “E nós defendemos os caçadores, são 250 mil no nosso país”, respondeu-lhe Rodrigues dos Santos.

— Por curiosidade o que é que jantou hoje?
— Hoje jantei sushi, é verdade, no Porto.
— Aqui em tom provatório, por curiosidade — e porque tem criticado muito o PAN —, nunca provou tofu, seitan ou soja? Tem alguma coisa contra?
— Já provei.
— Ah já? E gostou?
— Já e gosto, gosto de tofu. Agora, defendo é uma base alimentar diversificada para não haver carências de proteína animal, nem deficiências alimentares que compromete a saúde das pessoas. Portanto, não condeno quem gosta de uma dieta vegetariana, mas eu gosto de ter uma alimentação mais diversificada. Há dias que sim, outros que não, mas já provei tofu e gosto, devo dizer.
— E costuma comer com regularidade?
— Não, não com muita regularidade. Já não como há alguns meses.
— Às vezes o Francisco passa mais tempo nas viagens do que nas ações de campanha em si, faz muitos quilómetros por dia. O que aproveita para fazer nessas viagens, uma vez que não é o Francisco a conduzir? Escreve discursos, liga à sua família, dorme, o que é que faz?
— D
e tudo um pouco. Todas essas coisas que referiu acabo por fazer. Sou sempre eu que escrevo os meus discursos e tento estruturar e organizar os pontos que quero falar. Há dias em que, como sabe, dedico mais aos idosos, temos o vale-farmácia para pagar medicamentos ou o complemento de pensão no inverno para permitir aquecer as suas casas. Tento estruturar boas formas de comunicar estas ideias. No outro dia foi o cheque-ensino para dar liberdade de escolha às famílias e tive aquela ideia de criar mesmo um cheque fictício para entregar aos jovens estudantes. Ou a questão da diminuição dos impostos e da carga fiscal: procuramos sempre ir ao encontro de empresários. Hoje foi, por exemplo, a restauração, em que nós defendemos a redução do IVA para 6%. Enfim, procuro também engendrar as ações de campanha por forma a adequar a mensagem e o conteúdo aos destinatários para quem nos queremos dirigir e para tornar apelativa a mensagem para a comunicação social poder transmiti-la. Mas também falo com a minha família, sobretudo com a minha mulher, porque passo pouco tempo com ela.
— Sim, ia perguntar-lhe isso. A sua esposa, Inês, apareceu numa ou noutra ação de campanha no início. Ela costuma dar-lhe conselhos sobre o que dizer ou fazer?
— Ela é a minha maior confidente e conselheira. E acontece que estamos casados há seis meses e durante este período nós já vamos na segunda campanha. Portanto, o tempo útil de convivência em comum tem sido pouco. Ela é uma companheira que conheci na política e que não se inibe de me dar os seus conselhos, contributos, sugestões. Ainda hoje falámos acerca da proposta que amanhã gostaríamos de falar, que é o vale-farmácia para pagar todas as despesas com medicamentos aos idosos mais pobres, e ela disse-me que era um tema urgente porque também é candidata pelo círculo eleitoral de Santarém. É dirigente do partido, está num lugar não elegível e disse-me que hoje foi um dos pontos que foi mais tocado, durante a ação de campanha que tivemos. Há muitos idosos que não têm dinheiro para comprar os seus medicamentos, e esse é um ponto-chave. Até a propósito da restauração: ela sabia hoje que eu ia reunir com uma associação de empresários da área da restauração e disse que fazia todo o sentido atender às suas reclamações de baixar o IVA para 6% e criar linhas de crédito de apoio a estes empresários porque almoçou num restaurante onde vai há muitos anos e as pessoas estão com dificuldades em manter as suas casas abertas. Ela é, sem dúvida nenhuma, a pessoa que eu mais oiço antes de tomar as decisões mais importantes.

Além das arruadas, as ações de campanha de Francisco Rodrigues dos Santos têm-se focado em mercados e em feiras, talvez por influência de Paulo Portas — numa tentativa de reeditar o “Paulinho das Feiras” — e de Assunção Cristas. O título de “Francisco, Chiquinho ou Chicão” das feiras, garante, assenta-lhe bem.

— O Francisco tem ido a muitos mercado e a algumas feiras. Queria perguntar-lhe se se sente o Chiquinho ou Chicão das feiras — ou neste caso dos mercados?
— (Risos) É uma boa pergunta. Aqui há uns tempos, na campanha das autárquicas, houve um semanário que me chamou o Chiquinho das feiras. Isto é por analogia ao Paulinho das Feiras. Eu gosto de estar no meio do povo. Eu sou povo, eu venho do interior do nosso país, sinto-me bem nesse ambiente. Há quem diga que filho de peixe sabe nadar, eu gosto de estar junto das pessoas e tenho-me divertido bastante. E esse epíteto, se for o Francisco das feiras, o Chicão das feiras, o Chiquinho das feiras, qualquer coisa que seja junto do povo e ao lado das pessoas, eu gosto.

Naquela tarde, antes da conversa com o Observador, Francisco Rodrigues dos Santos tinha recorrido ao Facebook para criticar André Ventura por usar um casaco de camuflado (que lhe foi oferecido por um grupo de ex-combatentes). Numa publicação feita pouco depois de ver as imagens de Ventura, escreveu: “O uniforme e os restantes símbolos militares são para quem os mereceu, os percebe e os respeita. Se há quem não o entenda, isso são outros carnavais.” Mas ficou sem resposta do líder do Chega: “Para mim os ex-combatentes são mais importantes do que isso, não respondo a disparates.”

— Também já vi que não gostou de ver André Ventura com um casaco camuflado. Sentiu-se insultado?
— Tenho muito respeito pelas nossas forças armadas e o uniforme é um elemento sagrado da simbologia militar e é preciso respeitá-lo, compreendê-lo, dignificá-lo. Não gostei da forma carnavalesca como André Ventura decidiu envergar o uniforme militar. Acho que não vale tudo e é preciso respeitar as instituições.
— Francisco, muito obrigada. Bom descanso e até amanhã.
— Até amanhã, um beijinho.

Sem pesadelos e com um sono “tranquilo”, Francisco Rodrigues dos Santos acredita que vai ser governo

25 de janeiro, terça-feira. Nesta noite, pelas 23h00, Francisco Rodrigues dos Santos ainda participava no evento que marcou os 47 anos do cerco ao primeiro congresso do CDS. A cerimónia contou com a presença do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, que justificou a presença com o facto de o partido de Rodrigues dos Santos ter sido o único que o apoiou nas três candidaturas à autarquia. Também o histórico centrista António Lobo Xavier participou, mas através de um vídeo, onde defendeu que o CDS continua hoje cercado, só que em vez de ser à esquerda, é à direita. E, de facto, muitos nomes de peso têm estado ausentes da campanha — por exemplo, os ex-presidentes Paulo Portas e Assunção Cristas, ou Nuno Melo (que esteve em isolamento profilático) e Telmo Correia. Francisco Rodrigues dos Santos rejeita, no entanto, que haja uma debandada em curso e diz que há mais gente a entrar do que a sair. E teve de descalçar uma pedra no sapato chamada Adolfo Mesquita Nunes, que declarou apoio à Iniciativa Liberal.

— Boa noite, Beatriz
— Olá, Francisco, boa noite, como está?
— Estou bem, muito obrigado.
— Francisco, esta terça-feira está a ser um dia puxado para si. Começou em Braga, agora estamos no Porto, ainda está numa ação de campanha, já são 11 da noite. Já percebi que não gosta de se deitar muito cedo.
— Eu sou um notívago e, como já lhe tinha dito, nas ações de campanha sou sempre a última pessoa a abandonar o terreno porque gosto de estar a conversar com os simpatizantes e eleitores do CDS.
— Na segunda-feira esteve com os seus avós em Viseu. Tem falado muito deles ao longo da campanha. Queria perceber porque é que os quis ter consigo?
— Eles fizeram-me uma surpresa. Não estava planeado aparecerem e fui surpreendido com o facto de terem ido ao meu encontro, em Viseu. Eles são de Oliveira do Hospital e foram pela calada da noite dirigir-se até ao nosso jantar-comício e fizeram-me aquela agradável surpresa. Eu gosto muito dos meus avós porque cresci com eles, tiveram uma componente muito importante na minha formação enquanto cidadão, enquanto homem e devo-lhes muito daquilo que sou. Até por isso, sempre nos compromissos eleitorais do partido e no meu discurso público, procuro sempre imprimir este cunho de restaurar o elo de ligação entre os mais velhos e os mais jovens, gerações que respeitam gerações, cuidar de quem cuidou de nós, fruto também do amor que eu sinto pelos meus avós. E não me importo — muitas vezes dizem que sou o líder do partido dos avós. Eu não me importo, mas acho que é muito importante.
— Que ensinamentos é que lhe transmitiram e que tenta aplicar na sua campanha e na sua vida política?
— Há duas coisas que tenho certas sempre no meu dia. É uma oração protetora da minha avó, que todos os dias reza por mim, pelo meu sucesso, e o sábio conselho do meu avô que me está constantemente a dar as suas opiniões e sugestões sobre a minha vida. O que é que eu aprendi com eles? A ser verdadeiro, a ser sempre uma pessoa preocupada com os mais pobres, a nunca esquecer aqueles que mais precisam, nunca trair os valores que me ensinaram. A frontalidade, a honestidade, humildade, o serviço a Portugal. São pessoas do interior do nosso país, sempre me pediram para não esquecer a nossa terra, as minhas origens, de onde vim. Sou de um meio mais humilde e os meus avós com o seu amor e carinho foram transmitindo estes ensinamentos que eu procuro nunca trair na minha vida. E acredito que todos os dias sinto uma enorme responsabilidade de os deixar orgulhosos com o que faça na minha vida pública.

Na noite anterior, Adolfo Mesquita Nunes, antigo vice-presidente do CDS, que se desfiliou do partido com Rodrigues dos Santos na presidência, declarou apoio à Iniciativa Liberal. Ao início da tarde daquela terça-feira, o Observador tinha questionado, após uma ação de campanha, o líder dos centristas sobre essa declaração. Mas Rodrigues dos Santos mostrou algum desconforto. Após a pergunta, e porque alguns jornalistas lhe pediam que se virasse para as câmaras, o presidente do CDS atirou, entre risos: “Pois, esta já querem”. E pediu ao Observador que repetisse: “Como é que disse, desculpe?”

Quando ouviu a resposta, atirou que viu “sem surpresa” a decisão de Mesquita Nunes. “Não me manifesto por apoios políticos de pessoas que não são militantes do partido”, acrescentou apenas. Na conversa telefónica com o Observador, horas depois, o chip não mudou. Disse que encarou a declaração de apoio aos liberais “com naturalidade” e recusa a ideia de que haja uma debandada em curso no CDS.

— Notei que esta terça-feira não reagiu muito bem à pergunta que lhe fiz sobre o apoio de Adolfo Mesquita Nunes à Iniciativa Liberal. Ficou incomodado com essa declaração de apoio?
— Não, eu recebi sem surpresa. O Adolfo Mesquita Nunes entendeu declarar o apoio à Iniciativa Liberal, mas foi o que lhe disse a si: eu não tenho por hábito pronunciar-me sobre o apoio político que pessoas não militantes do CDS fazem a outros partidos. É com naturalidade que encaro essa declaração.
— Mas porque é que acha que há tantos nomes de relevo a sair do partido, o que pode estar a falhar?
— Mas eu não percebo porque é que os jornalistas insistem sempre nessa parte de que há muitos nomes de relevo a sair. Repare numa coisa: para cada saída, o rácio nos últimos meses é para quatro entradas no partido. Depois, ainda hoje [terça-feira] aqui no Porto tivemos o Manuel Queiró, o Adalberta Neiva de Oliveira, o António Lobo Xavier que fez um vídeo, o Eugénio Anacoreta Correia. Fundadores do partido que estão presentes, fundadores da juventude centrista. Quer dizer… eu não noto que haja figuras importantes do partido em grande quantidade a sair. Olho é que, de facto, acho que há muitas gerações que estão novamente unidas para o CDS ter um bom resultado e eu prefiro focar-me nos que estão do que aqueles que não estão.
— Na última conversa que tivemos disse que foi a dormir na viagem desde Matosinhos até à Guarda. Queria perguntar-lhe como está o seu sono: se tem dormido bem e sonhado com um acordo parlamentar entre PSD e CDS, se tem sonhado que se torna primeiro-ministro ou se, por outro lado, tem tido pesadelos com o dia 30.
— Eu tenho estado otimista, tenho tido um sono tranquilo, descansado, estou confiante que temos realizado um bom trabalho. Temos apresentado boas propostas para os portugueses, acho que isso pelo menos é reconhecido, que temos boas soluções para Portugal — menos impostos, mais liberdade de escolha, apoios para os nosso idosos, para os nosso jovens, ex-combatentes, aumentar a sua pensão, forças armadas para dignificar o seu papel, forças de segurança, aumentar o subsídio de risco e contratar mais efetivos. Tudo isto senti que tem tido o reconhecimento dos portugueses e sinto o seu apoio nas ruas. Eu durmo e acredito, quando acordo, que no dia 30 o CDS vai fazer parte de uma nova maioria de direita no parlamento e estará no próximo governo.
— Sei que o Francisco não gosta muito de falar em sondagens, nem de antecipar resultados. Queria perguntar-lhe qual será a primeira coisa que fará depois das eleições — e se será dormir?
— (Risos) Sim, a primeira coisa que vou fazer a seguir às eleições é estar com a minha família, porque têm sido os principais privados da minha companhia, com as minhas ausências pelo país e vou dedicar-lhes um tempo generoso para matarmos saudades e para estarmos todos juntos. E depois, claro, vou recarregar baterias porque acredito que depois das eleições vou ter um trabalho importante na formação de um próximo governo e isso terá de requerer de mim muita concentração, muito esforço e trabalho.
— Na última conversa falámos sobre a sua esposa. Pelo que percebi adiaram a vossa lua de mel, correto?
— Nós tivemos uma mini lua de mel em agosto. Uma semana. Fomos às Maldivas.
— Ia perguntar se acha que a partir de dia 30 vai ter mais tempo para fazer uma lua de mel em grande, mas pelos vistos já foi às Maldivas.
Sim, nós tivemos uma mini lua de mel nas Maldivas, e temos agora alguns projetos pessoais que queremos concretizar. Nós comprámos casa, temos de fazer umas obras, temos de pensar até em ter filhos, era uma prioridade que nós temos e espero que agora, acalmando o ambiente político a seguir às legislativas, possamos também dedicar-nos aos nossos projetos pessoais, que são muito importantes nas nossas vidas.
— Acha que terá tempo depois de dia 30 para esses projetos?
— Vou ter tempo para conciliar, como sempre fiz até aqui. Na altura das campanhas é que, de facto, é incompatível uma vida familiar ativa com uma agenda partidária. Acabando as campanhas, vou voltar a conciliar de forma equilibrada a minha vida familiar com a vida profissional, mas se a pergunta era tentar perceber se continuarei como líder do partido e se o CDS terá um bom resultado, eu posso dizer-lhe aqui que tenho a certeza absoluta que depois do dia 30 irei a congresso como candidato e vou ganhar o próximo congresso no partido e continuar como líder do CDS.

A troca de galhardetes com recurso aos animais de estimação começou com Rui Rio — e o seu gato, Zé Albino, que “anda desolado com esta aproximação do PAN ao PS” (com fotografia a acompanhar, no Twitter). Depois, foi Rui Tavares (do Livre) e o seu gato Camões, que “anda eriçado com as hesitações do PSD com a extrema-direita”. E João Cotrim Figueiredo, que assegura que a cadela Bala “anda muito entusiasmada com o crescimento da IL e com a hipótese de reformarmos o país a sério nos próximos 4 anos”. André Ventura também não se ficou e foi à carga com a coelha Acácia: “Nem o gato Zé Albino, nem a cadela liberal Bala, a Acácia está na luta pelo primeiro lugar destas eleições! E não se vai deixar ficar para trás”. Mas de Francisco Rodrigues dos Santos nada se ouviu. Porquê? Porque prefere deixar o “fungagá da bicharada” para outros líderes.

— O Francisco não aderiu às publicações que os líderes partidários fizeram com os animais de estimação. Tem animais?
— Eu não percebi porque é que os partidos políticos, nesta altura, e os principais líderes dedicaram à política o período a que chamo o fungagá da bicharada, quando há tantos assuntos importantes para tratar na vida do país: a carga fiscal, a pobreza, as nossas forças armadas, forças de segurança, acesso a habitação, educação, a saúde. Pelos vistos o que é importante é estar a discutir quem são os animais de estimação dos líderes partidários. Eu tenho — aliás, devo dizer-lhe que tenho dois gatos com a minha mulher, o Tico e o Piqui foram dois gatos que tirámos da rua. E no início desta campanha eleitoral, logo na primeira ação de campanha, na Feira de Santana, encontrámos um outro gato que estava perdido debaixo de um carro e também já o adotámos. Agora temos um terceiro elemento da família, a que chamámos Floki, portanto, neste momento eu e a minha mulher temos três gatos. Mas, enfim, acho que não seja de grande relevância política e pública estar a fazer como os outros líderes partidários, a enunciar os nomes dos meus gatos, e a dizer que também tenho animais de estimação.
— Francisco, muito obrigada pela disponibilidade e bom descanso, até amanhã.
— Obrigado, beijinho.

(Rui Oliveira/Observador)

Inês Sousa Real. O Micas e a Luna, o despertador de manhã e os insultos em Beja

[Ouça aqui a última chamada durante dois dias consecutivos com Inês Sousa Real:]

“Ameaças de morte sempre por causa da tauromaquia”

22 de janeiro, sábado. O dia foi cheio, com sete ações de campanha no distrito de Lisboa. São nove e meia da noite e Inês Sousa Real acaba de chegar a casa. No dia seguinte vai madrugar para viajar até à Covilhã, por isso aproveita para descansar e fazer a mala.

— Estou?
— Boa noite, Inês. Daqui Inês Ameixa, da Rádio Observador. Tudo bem?
— Tudo bem, obrigada.
— Inês, já tem uma semana de campanha oficial nos pés. Está a ser cansativo?
— Esta é a minha primeira grande campanha enquanto porta-voz do partido. Sinto aquele cansaço bom de termos o privilégio de andar pelo país. Tendo estado ontem também fora de casa, hoje aproveitei para matar saudades não apenas da família, mas também dos meus animais de companhia.
— Quantos animais é que tem? E como é que se chamam?
— Tenho um cão e uma cadela, o Micas e a Luna. O Micas tem 11 anos e a Luna tem 16 anos, está muito velhota e bastante doente. Por isso, acaba sempre por ser também uma preocupação minha quando esotu na estrada. E acima de tudo aproveitar o mais possível quando estou em casa com eles.
— Mas o que é que a cansa mais nesta altura? É andar de um lado para o outro, é os dias em si estarem sempre muito cheios…
— Tirando o cansaço físico que podemos por vezes sentir, e de andarmos de um lado para o outro na estrada, é animador podermos estar em contacto com as pessoas. E esta campanha, ao contrário das outras, está a decorrer no inverno e é um bocadinho mais fria do que o habitual. (Risos)
— Ainda vamos a meio… Sabendo o que sabe agora, faria uma campanha destas novamente?
— Faria, sim. Gosto muito do contacto com a população. Gosto de poder ouvir as pessoas, as suas preocupações e as ideias que têm.
— O que é que a Inês tem feito antes de se deitar?
— Nesta altura, temos sempre de andar um bocadinho com a mala às costas e quando chego a casa acabo por ter de fazer e desfazer a mala. Mas procuro também não só ouvir um bocadinho de música ou ver um pouco de televisão para ver as notícias. E aproveitar também para ver se falta alguma coisa em casa, muitas vezes temos de aproveitar também para dar um saltinho às compras para garantir que está tudo em funcionamento. No meu caso, também tendo animais de companhia, e trabalhando também o meu marido, acabo por vezes de ter de assegurar o pet-sitting dos meus animais e ter de gerir também essa parte.
— E tem dormido poucas horas…
— Muito pouco. Eu cheguei há coisa de cinco minutos a casa porque ainda andámos a pôr alguns cartazes que estavam em falta e amanhã vamos levantar-nos muito cedo. Normalmente às 6h da manhã já estamos acordados para nos fazermos à estrada. Às vezes chegamos à 1h da manhã a Lisboa. E acabamos por nos deitar à 1h30/2h. Mas apesar de ser muito intensa, numa campanha é sempre muito gratificante podermos estar próximo das pessoas.
— E quando tem de acordar? Coloca despertador ou tem a ajuda das suas assessoras que lhe ligam?
— Não, não! Coloco o despertador, é minha total responsabilidade. (Risos) O único cuidado que eu tenho é colocar várias vezes o despertador para se o primeiro falhar, o segundo acordar-me de certeza. Mas sim, sou eu própria que coloco o despertador e apesar de evidentemente custar dar o salto da cama, tem de ser e fazermo-nos à estrada.
— Falando agora mais da campanha, desta semana que passou. Aquele episódio em Beja, em que foi vaiada junto ao Aeroporto, acabou por também marcar esta primeira semana. Agora com algum distanciamento, assusta-a este tipo de episódios?
— É sempre lamentável este tipo de episódios. Não me assustam, na medida em que sabemos que estamos a defender aquilo em que acreditamos. E que acima de tudo estamos a pedir uma sociedade mais empática e de maior respeito para com os animais. Mas acho que é um profundo desrespeito que alguém que tem uma visão diferente da nossa se sinta no direito de ofender ou de ameaçar uma mulher. Aquilo que eu noto pelo menos quando temos estes episódios, e não é a primeira vez, já o tinha tido também em Alcochete, e alguns meses atrás quando me tornei porta-voz do PAN, das ameaças de morte que recebi, e precisamente sempre por causa da tauromaquia. E não deixa de ser curioso que nos chamam de fundamentalistas e extremistas, mas as ameaças e as ofensas à integridade física vêm sempre do outro lado. 

Inês Sousa Real foi vaiada pela primeira vez nesta campanha eleitoral em Beja. Numa ida ao Aeroporto de Beja, para defender essa solução para a construção do novo aeroporto, a porta-voz do PAN foi recebida com assobios e insultos por parte de um grupo de aficionados da tauromaquia, uma das atividades que o partido quer abolir. Entre aficionados, e o Grupo de Forcados Amadores de Beja, estavam também presentes três elementos com ligações ao Chega. Nessa noite, o PAN afirmou ao Observador que acreditava ter-se tratado de um “ataque concertado”, já André Ventura comentou apenas que condenava esse episódio.

—  No outro dia foi desafiada a coligar-se com o Partido Socialista na visita a Évora. Hoje de manhã foi a vez de um eleitor social-democrata deixar esse repto para um acordo entre PSD e PAN. A Inês Sousa Real tem sempre fugido à resposta de quem é que prefere. Sei que não me vai desvendar esse mistério, mas na sua cabeça sabe quem é que preferia? Na sua cabeça tem isso bem resolvido?
— Eu sei aquilo que preferia. Preferia ter um PAN que tivesse muito mais força no Parlamento para que possamos fazer avançar mais as nossas causas. Porque sabemos que somos um partido que tem uma mensagem de futuro, preocupada com aquilo que é o combate à crise climática, com a proteção animal, os direitos humanos. E aquilo que é a nossa forma de fazer política pela positiva e que fazemos falta na Assembleia da República.
— Inês, não lhe tiro mais tempo, obrigada. Espero que descanse para amanhã, para a viagem grande que vão fazer [de Lisboa para a Covilhã].
Obrigada eu, Inês, bom descanso. Até amanhã, boa noite.

Do esturricado vegano ao endurecer do discurso contra os partidos da esquerda 

23 de janeiro, domingo. No arranque da segunda semana de campanha, Inês Sousa Real conversa com o Observador já às onze da noite, em Braga, onde começaria a campanha no dia seguinte. Fez a viagem a partir da Covilhã e jantou ao mesmo tempo que marcou presença na última ação do dia – uma Digital Talk -, não tendo conseguido sequer terminar o jantar. Estava a caminho do hotel.

— Estou?
— Boa noite. É a Inês Ameixa.
— Boa noite, como está?
— Inês, já está em Braga, suponho.
— Já estamos em Braga. Ainda estamos aqui a chegar ao hotel. Já terminámos o dia de campanha.
— Ainda vai trabalhar hoje ou vai aproveitar para descansar um bocadinho?
— Acabei agora mesmo uma conversa digital com os nossos candidatos dos Açores e da Madeira. Agora vou ligar para casa, saber como estão as coisas, aproveitar também para descansar um pouco, ver ainda algumas notícias que não tive oportunidade ainda de ver. E acima de tudo também descansar um pouco, porque esta segunda-feira começamos cedo aqui no distrito de Braga. E portanto aproveitar para recuperar a bateria.
— Quando diz que consulta as notícias, procura também por notícias suas, do PAN, ou todo o tipo de notícias para também saber o que se vai passando na atualidade?
— Acima de tudo a atualidade. Para ter a perceção do que é que se está passar em Portugal e no mundo. Gosto sempre de passar os olhos naquilo que foi sendo falando.
— E jantaram em Braga ou ainda ficaram na Covilhã?
— Jantámos aqui em Braga, fomos a um restaurante vegetariano da zona. Aliás, foi um jantar um bocadinho mais inusitado porque foi jantar e fazer a conversa digital. Mas de qualquer das formas deu para conjugar as duas ações.
— E o que é que escolheu para jantar?
— Olhe, foi um rissol de tofu com não só um arroz basmati, mas também legumes salteados com caril. Estava maravilhoso. Ainda não consegui comer a sobremesa porque também tinha um crumble de maçã vegetariano, mas trago-a aqui comigo nem que seja para ficar para o pequeno-almoço para não desperdiçar a sobremesa.
— Ao longo destes dias, tem sido fácil encontrar restaurantes vegan pelo país? Pergunto isto porque ouvi-a ontem no comboio dizer por exemplo que tinha de se marcar restaurante para Santarém, falou até num esturricado vegan. Hoje também tiveram de almoçar na Guarda porque não havia restaurantes vegan na Covilhã. Tem sido difícil também fazer essa gestão?
— Atualmente já é mais fácil do que era há uns anos. Há sempre pelo menos uma opção vegana na maior parte dos restaurantes. Por isso, conseguimos sempre assegurar isso. Aquilo que às vezes tentamos fazer é também procurar locais que tenham comida típica das regiões, daí o exemplo de Santarém com os esturricados veganos, porque achamos mais engraçado procurar provar aquilo que é típico da região adaptado à nossa opção alimentar. Amanhã por exemplo vamos estar no Porto e por isso não vamos deixar de passar as francesinhas veganas. (Risos)
— E como é que correu hoje o dia? Senti que esteve mais incisiva com um ou outro ataque a João Oliveira do PCP, depois ao Bloco de Esquerda. Houve um endurecer do discurso… Vai ser a estratégia que vai adotar nesta última semana?
— Fomos confrontados com declarações que supostamente o PCP terá dito. Já vimos alguns excertos do texto, já vimos algumas notícias. Irei ver agora com calma também as declarações, porque por vezes pode até nem corresponder àquilo que exatamente foi dito. É evidente que o que não queremos é que haja um retrocesso nas políticas ambientais ou menos ainda negacionismo. Portanto também vou ver com calma aquilo que efetivamente foi comentado ou não. Agora, não podemos passar em branco aquilo que possa de alguma forma estar a desvalorizar aquilo que é o combate à crise climática.

Ao longo da primeira semana de campanha, a líder do PAN procurou entrar pouco em conflitos e ataques aos adversários políticos. Mas no arranque da segunda semana, endureceu o discurso apontado baterias aos partidos da esquerda. Sobre João Oliveira, que teria falado em partidos com “criações artificiais ambientalistas”, supostamente em referência ao PAN, Inês Sousa Real acusou o PCP de ser “negacionista das alterações climáticas”, afirmando no entanto que não iria entrar “em tricas políticas”, que os portugueses “não querem isso, mas sim soluções”. Horas depois, as críticas foram viradas ao partido de Catarina Martins, que desafiou o secretário-geral socialista para uma reunião no dia a seguir às eleições. Inês Sousa Real deixou bicadas ao Bloco de Esquerda, que acusou de estar a “tentar lavar as mãos” depois do chumbo do Orçamento do Estado.

— E sobre o Bloco de Esquerda? Criticou bastante Catarina Martins por ter desafiado António Costa para uma reunião. O que é que pensa que quer Catarina Martins com este convite?
— Só a própria poderá falar sobre isso e dizer qual é que é a sua intenção. Aquilo que nós temos criticado é de facto o atirar da toalha ao chão por parte das forças políticas que não chamaram à Assembleia da República a possibilidade de termos um Orçamento do Estado.
— Inês, e se António Costa a chamasse para uma reunião nesse dia, ia ou não?
— O PAN nunca se furtou a sentar-se à mesa do diálogo seja com que partido for e também com o próprio Governo. Sempre estivemos disponíveis para conversar para mostrar aquilo que é o nosso projeto do país. É com naturalidade que sempre reunimos com o Governo e com as demais forças políticas.
— E se fosse Rui Rio a convidar o PAN?
— Iriamos igualmente. Seja qual for o partido que esteja em condições de viabilizar um governo, o PAN está disponível para fazer avançar as suas causas. O nosso compromisso é com o país e com o nosso ideário. E é isso que iremos fazer no dia 31 de janeiro.

Inês Sousa Real tem mantido o mistério ao longo da campanha. Tem sublinhado sempre que está disponível para eventuais acordos pós-eleitorais, tanto com PS como com PSD. Mas tem-se escusado a revelar com clareza qual a sua preferência. Tem sido muito questionada pelos jornalistas, mas procura desconversar e assumir que tem a porta aberta a qualquer partido, sublinhando que a coligação que o PAN quer “é com os portugueses”.

— Inês, muito obrigada por este tempo. Bom descanso.
— Ora essa, obrigada. Boa noite.

Inês Sousa Real, porta-voz do Partido Animais e Natureza, PAN, visita a Escola Secundária D. Maria II, durante uma ação de campanha para as legislativas de 2022 em Braga,  24 de janeiro de 2022. A 30 de janeiro mais de 10 milhões de eleitores residentes em Portugal e no estrangeiro constam dos cadernos eleitorais para a escolha dos 230 deputados à Assembleia da República.   FERNANDO  VELUDO/LUSA.

FERNANDO VELUDO/LUSA

Cotrim: o 3º lugar e o “votocarro” que um dia ainda pode ir para o museu

[Ouça aqui a última chamada durante dois dias consecutivos com João Cotrim Figueiredo:]

“Temos o tal Viagra que o PSD já não tem”

Domingo, 23 de janeiro. A primeira semana de campanha terminava, a segunda arrancava e João Cotrim Figueiredo ia apostando no início de uma mudança de estratégia que se reforçaria nos dias seguintes: deixar de ter o PS como alvo quase exclusivo para começar a marcar as diferenças para o PSD, que devem — deseja — impedir eleitores liberais de votar num “mal menor” (Rio) para derrotar um “mal maior” (Costa). Em sua casa em Lisboa, distrito onde o partido aposta forte e quer eleger pelo menos três deputados (em 2019 elegeu um), Cotrim atendia o Observador e comentava os últimos desenvolvimentos da campanha, que o tinham levado até a falar pela primeira vez na hipótese de ser a terceira força política mais votada nestas legislativas.

— Boa noite, João Cotrim Figueiredo. Como está?
— Bem, muito obrigado.
— Queria fazer-lhe algumas perguntas. Já vamos a meio da campanha eleitoral. Como está de energia? Está muito cansado?
— Ao fim do dia?
— Ao fim do dia.
Hmmm… não, não excessivamente. Começámos a campanha logo a seguir à convenção, ainda a meio de dezembro. Portanto o acumular já vem de trás. Mas não, o cansaço físico está bastante bem gerido. Não há nenhuma exaustão extrema.
— Tem feito campanha com uma quantidade maior de ações durante a manhã e a tarde. Tem conseguido desligar de noite ou a equipa de campanha não o deixa dormir?
— [Risos] Há a parte da equipa de campanha não me deixar dormir e depois há sempre coisas para planear para o dia seguinte. Agora apanhou-me, por exemplo, já estamos aqui a pensar no que é que vai acontecer na terça-feira em que já estamos outra vez em Leiria, em Sangalhos, Oliveira do Bairro, Anadia… portanto há muita coisa para terça-feira que tem de ficar planeada já hoje para podermos estar no terreno. Em altura de campanha, como todas as pessoas imaginam, há tanta coisa para preparar e planear com algum pormenor que não sobra muito tempo para relaxar, não.

Numa campanha que começava a parecer cada vez mais um funaná da bicharada, Rui Rio deu o mote partilhando uma fotografia do gato Zé Albino e dizendo que este estava infeliz pela aproximação do PAN ao PS. De repente voltava ao espaço mediático a coelha Acácia, de André Ventura, e entravam Camões, o gato de Rui Tavares, e a cadela Bala, de João Cotrim Figueiredo. O líder liberal partilhou uma fotografia com a cadela no Twitter, notando que anda “muito entusiasmada com o crescimento da IL e com a hipótese de reformarmos o país a sério nos próximos quatro anos”.

— A Bala não tem inveja dos eleitores neste momento?
— [Risos] Não é só a Bala, toda a minha família só me vê quase em ações de campanha. Têm-me visto mais na televisão do que em casa, sim.
— Mas ela teve de se adaptar à fama e ao estatuto de figura pública, não?
— Pois, é assim, mas talvez seja daqueles seres que menos se apercebe das desvantagens de ser figura pública.
— Uma outra curiosidade: há uns meses parecia muito improvável termos eleições antecipados. Para um partido pequeno — em termos de estrutura, de anos de existência, de suporte de financiamento — preparar uma campanha eleitoral inesperada é um desafio especialmente grande? Foi uma dificuldade adicional?
— Foi, tenho de confessar que sim, que é difícil. Tínhamos vindo de eleições autárquicas no final de setembro, que são sempre exigentes do ponto de vista de organização e dos cofres do partido. Quatro meses depois estamos no meio de outra campanha. Pelo meio ainda tivemos uma convenção eletiva, em bom rigor a comissão executiva que sai dessa convenção não sabia se ia continuar, democraticamente tínhamos de admitir a hipótese de haver concorrentes e de haver alterações. Portanto também foi um momento político importante e que consumiu tempo. E tínhamos todo um planeamento para 2023 se a legislatura tivesse durado até ao fim. Entre outras coisas havia uma revisão programática e das próprias bases que se exibiam para o programa eleitoral que tivemos de comprimir em dois meses e meio. Sim, foi exigente quer do ponto de vista organizativo quer do ponto de vista programático quer do ponto de vista financeiro. Agora se já demos provas de alguma coisa foi de saber fazer muito com pouco e sabemos organizar-nos rapidamente — e acho que também é um bom exemplo para outros partidos que têm mais estrutura e que acabam por não conseguir campanhas tão focadas como a nossa.

Dois dias antes, 21 de janeiro, Cotrim Figueiredo tinha usado pela primeira vez nesta campanha a expressão “terceiro lugar”. Uma sondagem da Católica para a RTP, Antena 1 e Público projetava então um resultado de 5% para os liberais, a apenas um ponto percentual de distância do Chega, e a tracking poll da CNN colocava os liberais na luta pelo terceiro lugar. Cotrim dizia aos jornalistas que o “divertia um pouco” ver que “afinal há um conjunto de partidos a lutar pelo terceiro lugar bastante maior do que o que se achava” e que “seria muito boa notícia para Portugal que fosse um partido reformista e moderno como a IL que acabasse por ocupar o terceiro lugar — e não extremistas das várias cores e dos vários quadrantes que têm estado todos contentes a disputar esse lugar [Chega, BE e PCP]. Seria uma surpresa boa”.

— Tem dito também nestes dias de campanha que não comenta sondagens, por as variações estarem dentro da margem de erro. Mas também disse há dias que o divertia o facto de aparentemente haver mais partidos a lutar pelo terceiro lugar do que muita gente achava. A Iniciativa Liberal pode ficar em terceiro lugar no dia 30?
— Sim, do ponto de vista estatístico pode.
— Acredita?
— Acredito que é possível. Não estou a fazer uma candidatura, não estou a entrar no mesmo jogo de me pôr em bicos dos pés. O que é que acho que é importante assegurar durante uma campanha? Para já, uma consistência estratégica na abordagem. Definimos objetivos e eles não vão variando conforme os números do dia ou a incidência do dia.
— É os 4,5% e os 5 deputados, certo?
Sim. Se foram objetivos definidos com cuidados e com a perspetiva de uma análise bem feita, não é por questão conjuntural que devem ser revistos. Segundo porque acreditamos que pelo menos no nosso caso são as ideias e a qualidade das propostas que acabam por fazer o seu caminho. E isso exige tempo e persistência, e uma certa coerência na forma como são transmitidos. Acho que os dias e as semanas mais recentes têm provado que isso é verdade: conseguimos ir conquistando algum respeito, credibilidade e recetividade porque falamos das mesmas coisas de uma forma consistente. Isso acaba por convencer o eleitorado que há aqui de facto uma alternativa, que até aqui não existia e que faz falta no contexto político português. A nossa forma de fazer campanha é essa: ser muito coerente, ser muito consistente e não nos desviarmos do que são os objetivos estratégicos que achamos que foram bem fixados.
— Nesses objetivos estão os cinco deputados. Algumas projeções indicam que até poderão ser mais, eventualmente. Para ser um “partido do táxi” já não dará — um táxi já não chegará…
— Já há táxis mini-vans.

Para andar pelo país nestas semanas de campanha eleitoral, a comitiva liberal alugou um autocarro que pintou com as cores e o slogan do partido (“Portugal a crescer”). Era ali que Cotrim Figueiredo trabalhava com o seu núcleo mais próximo, que inclui o consultor de comunicação Rodrigo Saraiva, o assessor Nuno Roby Amorim, o empresário Paulo Carmona, a jovem estrela da IL no Twitter Bernardo Blanco e o secretário-geral da Iniciativa Liberal, Miguel Rangel. O autocarro foi batizado com o nome “votocarro”.

— Já há. Mas já tem pelo menos um autocarro de campanha para levar os deputados todos para o Parlamento.
— O nosso famoso votocarro. Se um dia houver um museu do liberalismo estará certamente lá esse votocarro. Esse em princípio será suficiente para o grupo parlamentar que se vai seguir. Agora também digo, e digo já com esta perspetiva estratégica, de longo prazo e histórica que o partido tem tido desde o princípio, que aconteça o que acontecer no dia 30, com um resultado dentro dos nossos objetivos ou até superior aos nossos objetivos, é apenas um passo num processo muito mais longo para tornar Portugal um país mais liberal. Será sempre um passo, não nos verá triunfalistas ou eufóricos nessa noite porque sabemos que é apenas um passo. Falta ainda muito.
— Para terminar: tem falado muito do chamado “voto útil” nos últimos dias, também tem sido muito questionado sobre isso. Mas isto também acontece por haver algum receio que sinta que possa acontecer um fenómeno semelhante ao que aconteceu em Lisboa, em que os liberais — como já disse — “deram a vitória a Carlos Moedas”? Ou parece-lhe que os liberais não veem Rui Rio da mesma maneira como viam Carlos Moedas nessa eleição em Lisboa?
— Acho que os casos de uma eleição autárquica e de uma eleição legislativa nacional não são comparáveis. Para começar, numas autárquicas há três boletins e portanto dá para perceber quem teria votado de outra maneira se não houvesse esse fenómeno de bipolarização. Neste nunca saberemos exatamente. Na convenção de 12 de dezembro já sabíamos que nos últimos dez dias de campanha este era o principal problema estratégico, não só da Iniciativa Liberal mas de qualquer partido que não são os partidos de alternância do costume. Esse problema estratégico íamos ter sempre. Portanto foi por isso também que fizemos questão de tentar cedo marcar a diferença, quer na abordagem que tivemos nos debates quer na própria forma de apresentarmos o programa e do detalhe com que o fizemos. Para as pessoas perceberem que independentemente da solução governativa que saia de 30 de janeiro, é fundamental ter ideias como as da Iniciativa Liberal a influenciar a governação e a gestão do país — seja enquanto suporte de um Governo, seja enquanto alguém que viabiliza o Governo no parlamento, seja mesmo enquanto oposição.

Nessa medida, dizemos que o voto útil é na IL porque ninguém mais traz ideias como as da Iniciativa Liberal trouxe, boa parte da agenda que tem estado na discussão fomos nós que a trouxemos nos últimos dois anos e ninguém depois tem a vontade, o gosto pela mudança. É preciso virar a página de duas décadas desgraçadas — no nosso ponto de vista — para a economia e para o país como um todo. Isso torna o nosso papel num futuro parlamento difícil de substituir, seja na oposição ou na viabilização. É isso que gostava que as pessoas percebessem, que nestas eleições votar naquilo que se quer é muito mais importante do que votar contra aquilo que não se quer.

— Vou deixá-lo descansar que amanhã tem uma arruada, tem de estar fresco para caminhar. Estamos combinados para amanhã?
— Estamos combinados para amanhã.

Segunda-feira, 24 de janeiro. O dia fora mais calmo do que o habitual: depois de uma arruada por uma Avenida da Igreja (em Lisboa) quase deserta ao final da manhã, Cotrim Figueiredo reservou as horas seguintes — durante a tarde — para se preparar para ir ao programa de Ricardo Araújo Pereira. Em canal aberto, o “Isto É Gozar Com Quem Trabalha” é uma oportunidade de ouro para os políticos se mostrarem e para os líderes dos pequenos partidos com representação parlamentar (exceto Ventura, com quem RAP prefere não conversar) se darem a conhecer, procurando a dose mais equilibrada de seriedade, humor e poder de encaixe humorístico. Na manhã seguinte o “votocarro” ia sair de Lisboa para só regressar quatro dias depois, com ações previstas sobretudo em Aveiro, Braga e Porto, três distritos onde a IL aposta forte nestas eleições (a par de Lisboa e Setúbal, onde a comitiva estivera nos dias anteriores).

— Estou?
— Estou. João Cotrim Figueiredo?
— Olá, olá Gonçalo.
— Tudo bem? Como está?
— Bem, muito obrigado.

Uns minutos antes João Cotrim Figueiredo estivera no “Isto É Gozar Com Quem Trabalha”, programa humorístico de Ricardo Araújo Pereira na SIC. fora munido de um medicamento para “arrebitar” (piada de RAP) o PSD: uma caixa de Viagra. Retirando um comprimido azul da embalagem e mostrando-o às câmaras, Cotrim ensaiou um momento humorístico que sabia que tinha tudo para ser popular no Twitter: dizia que queria ser o “Viagra do PSD”, já que o Partido Social-Democrata anda “murcho”.

— Estamos a conversar depois de ter ido ao programa de Ricardo Araújo Pereira na SIC. Divertiu-se a conversar com um estatista esta noite?
— Diverti-me um bocadinho. Acho que o Ricardo Araújo Pereira uma ou duas costelas liberais e é sempre bom discutir com alguém inteligente.
— Aquele momento do comprimido azul já está no viral no Twitter. Era mais ou menos esperado.
— Pois e era mais ou menos intencionado [risos].

Nesta noite, Cotrim Figueiredo tinha recebido um apoio especial. No seu programa de debate na SIC Notícias, nesse dia com Miguel Morgado (PSD), o antigo vicepresidente do CDS Adolfo Mesquita Nunes — que se desfiliara dos centristas poucos meses antes, após 25 anos de militância — declarava o apoio à IL nestas eleições. Dissera que a IL ocupara no sistema político português o espaço do “reformismo sensato”, que percebera o quão importante era colocar o tema do crescimento económico como central na campanha e que merecia o seu “voto de confiança”.

— O Adolfo Mesquita Nunes anunciou esta noite que o apoia nestas legislativas. Já sabia que ele o ia fazer?
— Sim, tivemos uma conversa à tarde, disse-me que ia fazer esse endorsement. Disse-lhe na altura o que posso dizer aqui: que fico satisfeito por alguém com quem trabalhei e que me habituei a respeitar profissional e politicamente percebeu que aquilo que estávamos a tentar trazer, de renovação para as escolhas políticas, pôr o crescimento como prioridade e ter uma agenda claramente liberal é aquilo que faz falta nesta altura  em Portugal. E acho que muita gente deve perceber bem o alcance das conclusões a que vão chegando pessoas que estão habituadas a pensar o fenómeno político, que é o de que se não tivermos ideias novas com possibilidade de influenciar a governação não sairemos deste ciclo de estagnação em que temos estado. De algum modo é possível dizer que um Governo do PSD sem a IL não se vai distinguir de um Governo do PS, porque temos esta energia reformista — este tal Viagra —  que o PSD já não tem.
— De que precisa?
— Precisa bastante. Sem nós, sem alguém que os picasse, é difícil perceber como é que vamos ter menos Estado e mais pessoas em Portugal.

Não é a primeira vez que militantes e antigas figuras do CDS dão a mão à Iniciativa Liberal. Nas últimas eleições presidenciais, os centristas apoiaram Marcelo Rebelo de Sousa — tal como o PSD — e a IL apresentou candidato próprio, Tiago Mayan Gonçalves, que acabaria com 3,2% dos votos. Parte da “ala liberal” do CDS deixou-se convencer por Mayan, tanto que o mandatário da candidatura era o antigo deputado centrista (também já desfiliado) Michael Seufert.

— Os antigos eleitores e até militantes do CDS estão a perceber que um voto na Iniciativa Liberal é mais condizente com aquilo que pensam?
— Espero que sim. Tem sido também um dos nossos objetivos. Não nos dirigimos especificamente a eleitores do CDS, dirigimo-nos a todos os eleitores que não se reveem no estado a que estas coisas chegaram e na visão coletivista e estatista que tem predominado em Portugal. Ficamos é particularmente satisfeitos que pessoas que têm a natureza intelectual de Adolfo Mesquita Nunes possam também fazer eco dessa vontade. E esperamos mesmo que os portugueses percebam que é importante votarem naquilo que querem, não só contra aquilo que não querem. Isso neste caso concreto destas eleições representa votar na Iniciativa Liberal.
— O ano passado nas legislativas a Iniciativa Liberal teve 1,29% dos votos. Em 2021 nas presidenciais teve 3,23%. Hoje discute-se a hipótese de poder vir a sonhar com o terceiro lugar. Até onde é que acha que a Iniciativa Liberal pode crescer? Que dimensão é que pode vir a ter futuramente no sistema político português?
— Não é uma pergunta muito fácil de responder porque normalmente quando os sistemas democráticos estão mais consolidados e as ideias liberais fizeram o caminho que em Portugal ainda não fizeram, muito por culpa de não ter havido um partido como nós que é liberal de facto em toda a linha, nesses países acontece até muitas vezes haver mais do que um [partido liberal], às vezes mais do que dois — há até um país que tem quatro partidos de inspiração liberal. Não se trata de saber até onde é que um partido em concreto pode chegar. O nosso grande objetivo é que as ideias liberais estejam no centro da agenda, que informem o debate político tanto quanto possível — e se isso representar 20%, 30% ou 40% um dia, pode estar na Iniciativa Liberal, pode haver mais do que um partido de inspiração liberal.

Não é tanto a percentagem da IL que neste momento me preocupa. É olhando para a frente — e temos esse hábito de fazer as coisas com um horizonte largo, dissemos sempre que estamos num marotona —, tentar crescer o mais possível com coerência, não usar atalhos, não trocar as convicções por cargos, fazer aquilo que temos estado a fazer, convencendo as pessoas que as ideias são suficientemente boas e estão suficientemente testadas para merecer a confiança. Um dia mais tarde, logo se verá se isso conduz a um partido que nunca será catch-all, penso eu, mas que poderá ter uma expressão suficiente para acabar até por ser o líder da governação em Portugal. Gostava muito que isso pudesse acontecer, mas não faço nem profecias nem previsões nesse sentido.
–Ia-lhe mesmo perguntar se, numa fase adiantada dessa maratona, se imaginava um cenário em que a Iniciativa Liberal pudesse estar a discutir uma vitória numas eleições em Portugal, pudesse vir a ter um primeiro-ministro? Ou num sistema político com dois partidos tão antigos e históricos como o PS e o PSD, isso é utópico, é impossível?
— Não, não é nada utópico. Basta olhar para a história partidária de vários países europeus que mudaram radicalmente o seu xadrez e partidos históricos que na prática desapareceram, desapareceram mesmo nalguns casos. Gostaria muito e acho que é possível, que não é nada utópico, pensar que um partido liberal — a Iniciativa Liberal neste caso que parte à frente e tem feito este trabalho de desbravar caminho — venha um dia a liderar um Governo em Portugal. Gostava muito que acontecesse.

Foi no sábado de 22 de janeiro — dois dias antes desta conversa telefónica — que João Cotrim Figueiredo ensaiou pela primeira vez o argumento de que um voto em Rui Rio e no PSD “pode ir dar ao Costa”. Fê-lo num comício do partido em Lisboa, em que discursou e onde intensificou o combate ao voto útil, notório especialmente desde a véspera. Daí em diante a campanha liberal ia esforçar-se por marcar as diferenças para o PSD de Rui Rio, numa tentativa de convencer os eleitores que simpatizam com as suas ideias a não caírem na tentação do voto útil.

— Queria clarificar a ideia que expressou, que um voto em Rui Rio pode eventualmente ir parar ao PS. Já perguntou a António Costa se viabilizaria um Governo minoritário à direita que não tivesse o Chega. Não teve resposta. Acha que Rui Rio devia fazer o contrário disso se lhe aparecer à frente um Governo minoritário do PS que não tenha o Bloco de Esquerda e o PCP?
— Penso que o próprio Rui Rio já respondeu a isso, por isso é que digo que o único voto que de certeza não irá permitir o Governo socialista é o voto na IL. E mais: as propostas políticas do programa do PSD e a própria estratégia de campanha têm-se baseado sobretudo na tentativa de não abanar muito o barco, não romper, não ser disruptivo, não ser verdadeiramente reformista. Já tive a ocasião de dizer isto, acho até que no comício que tivemos há poucos dias em Lisboa: é notável que um partido com a nossa dimensão e com a nossa idade inclua no seu programa nada mais nada menos do que cinco reformas estruturais: da saúde, da segurança social, da regulação, da educação.

É notável a vontade que temos de mudar a coisa na sua essência, na sua estrutura e não só a sua cosmética. E o PSD parece estar a gerir calendários com alguma timidez. Atente-se por exemplo no que se passa no IRS: somos claros relativamente à necessidade de desagravar e simplificar o imposto e fazê-lo já, a bem do aumento do salário líquido das pessoas, e o PSD remete essa opção para 2024 e 2025. E acho que as pessoas precisam de um sinal muito mais imediato e muito mais forte. E isso só com a força da Iniciativa Liberal é que se vai conseguir. Portanto, as pessoas têm de ter consciência que a força que derem à Iniciativa Liberal representará a força dada às necessidades das reformas em Portugal.

Em mais do que um debate e em mais do que uma ação de campanha, João Cotrim Figueiredo ia fazendo questão de vincar que havia uma pergunta que a comunicação social fazia a António Costa sem nunca lhe conseguir arrancar resposta: o que entende que o PS deve fazer se perder as eleições? Costa já disse que sai, mas e o partido que hoje comanda? E, se ficar em primeiro lugar, com quem se esforçará mais para se coligar? Tudo perguntas sem resposta que levavam o candidato liberal a usar o argumento de que a IL era o partido com mais clareza: no que propunha, naqueles com quem estava disposto a fazer alianças e nos objetivos que tinha para estas eleições.

— Já fez questões a António Costa que não tiveram resposta. Mas e a Rui Rio, já perguntou diretamente a Rui Rio o que tenciona fazer se vencer mas não tiver maioria à direita sem o Chega?
— Se a pergunta é se fiz essa pergunta diretamente, não, não fiz. Mas tenho ouvido as declarações públicas e parecem-me demasiado dúbias. Acho que os eleitores têm o direito de votar sabendo aquilo que os partidos querem fazer com o voto que lhes é confiado. E no caso do PSD não sabemos muito bem até que ponto o PSD vai de facto excluir o Chega das contas. Isso está claríssimo do lado da Iniciativa Liberal, já dissemos até que o PSD se a aritmética assim o ditar vai ter de escolher entre a Iniciativa Liberal e o Chega porque os dois não terá certamente. E gostaria que fossem igualmente claros relativamente a se fariam um Governo com o PS: em que circunstâncias o farão, qual a extensão desse acordo e desse apoio? Porque os votantes do PSD têm de saber se o seu voto vai de facto servir para mudar alguma coisa em Portugal ou se serve para ressuscitar este bloco central que parecia enterrado e que agora parece renascer e que não vai constituir nenhuma base para mudar verdadeiramente as coisas. Por isso digo, um Governo do PSD sem a IL é igual a um Governo do PS.
— Queria colocar-lhe um cenário pensando no modelo que a Iniciativa Liberal tem para a educação — mas podia ser para a saúde, podíamos usar o mesmo raciocínio para hospitais. Se pensarmos numa escola com capacidade para ter 100 alunos em cada aluno. Havendo a liberdade de escolha que a IL quer introduzir, imagine-se uma situação em que aparecem 200 pais a quererem matricular os filhos nessa escola. Como é que se escolhe os que podem entrar, os que têm vaga e os que não têm essa liberdade de escolha total, por não existirem vagas para todos?
— No nosso modelo as escolas que decidirem aderir àquilo que será a rede pública — entenda-se, a rede financiada pelo Estado mas prestada por quem faça parte dessa rede, seja público ou privado — terão de simultaneamente aceitar um conjunto de condições e critérios que passam por exemplo por não poderem recusar alunos e terem de aceitar um sistema de colocação, por um conjunto de aplicação de critérios, um algoritmo se quiserem, que não depende dessas escolas. Não são as escolas a decidirem os alunos que acabam por as frequentar, são os tais critérios que aplicados de forma uniforme e transparente acabam por constituir o conjunto de alunos que frequenta determinada escola.

Não será possível às escolas que integrem esta rede recusar alunos por exemplo. E não será possível que haja escolas que tenham mais candidatos do que lugares disponíveis porque isso é automaticamente parte do sistema de alocação. Na prática o que depois acontece é que dinamicamente ao longo do tempo, em função das escolhas dos alunos e da procura que determinadas escolas têm, elas podem eventualmente decidir aumentar capacidade, poderem participar na alocação seguinte com mais vagas. Mas isso é um processo que só ao longo do tempo e perante as escolhas dos pais e dos alunos é que se poderá justificar. Uma coisa é certa, a existência desta liberdade de escolha e as pessoas poderem escolher e com essa escolha determinarem que tipo de modelo de ensino ou que tipo de abordagem ou que tipo de instalações ou que tipo de corpo docente têm produz automaticamente uma melhoria em todo o sistema, porque as escolas vão ter de se adaptar àquilo que as pessoas estão de facto a escolher.

— Vou deixá-lo descansar até porque esta terça-feira tem muitas viagens pelo país. Vai ser um dia de papa-quilómetros, portanto bom descanso, João Cotrim Figueiredo.
— Muito obrigado, Gonçalo. Um abraço e boa noite para vocês, obrigado.

19 de Janeiro de 2022 - Portugal, Lisboa. Campanha Eleitoral Legislativas 2022. João Cotrim de Figueiredo (Iniciativa Liberal), em ação de campanha sobre saúde no Hospital Garcia da Horta. FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/OBSERVADOR

FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/OBSERVADOR

André Ventura reza e pede a Deus para não sonhar com António Costa

[Ouça aqui a última chamada durante dois dias consecutivos com André Ventura:]

“Não haverá maioria nenhuma sem o Chega”

Dia 23 de janeiro, às 02h00

— Estou. 
— Estou. Olá, boa noite, André Ventura. A campanha já vai a meio, passou por 11 distritos em sete dias, muitos quilómetros e carro e a pé. O cansaço já aperta?
— Já, já aperta e já se sente fisicamente. Mas o ânimo para chegar ao fim da corrida e não só mantermos os excelentes resultados que as sondagens indicam, mas aumentarmos são mais fortes do que isso. Já há cansaço, isso é normal, são milhares de quilómetros percorridos, ainda vamos percorrer uma outra parte do país, dentro de dois dias vamos estar de volta ao Algarve, mas vale a pena, estamos num momento crucial da nossa história e vale a pena. 

Já passava da 2h00 quando André Ventura atendeu a chamada ao Observador. Tinha saído de um comício no Porto, um dos que mobilizou mais gente durante toda a campanha — e ironicamente no distrito em que o partido tem tido mais dificuldade de implantação. O presidente do Chega costuma chegar aos jantares por volta das 21h30, ainda fala aos jornalistas — uma mudança de estratégia que aconteceu logo no início da campanha, deixou de falar nas arruadas e passou a falar antes da última ação do dia — , janta-se, quando a sobremesa está para chegar dá-se o momento musical, fala o líder da distrital, o cabeça de lista e André Ventura a fechar. Normalmente, começa a falar entre as 23h30 e a meia noite e não fica por aqui, quando chega ao hotel ainda reúne com a comitiva e foi o que aconteceu nessa noite, no Porto.

— Discursa muitas vezes já perto da meia-noite, às vezes até depois disso. Os comícios acabam tarde, por esta hora, quando chega ao hotel, já acabou o trabalho ou ainda há coisas para decidir para o dia seguinte?
— Ainda há coisas para fazer, sobretudo pegar no que aconteceu e ver o que correu mal, ouvir várias pessoas, sobretudo os que acompanham a campanha e também alguns que trabalham connosco mais à distância, o que correu mal, o que pode ser corrigido do ponto de vista da campanha, organizacional, logístico, das redes, da comunicação. Todos os dias é isto. As pessoas só veem uma parte da campanha, que é a imagem do candidato ou dos candidatos a falar, mas há toda uma parte de organização e preparação que os partidos têm de ter e que envolve uma logística muito grande e que começa logo nesta noite. Quando acaba o comício já estamos a pensar no que é que correu mal, no que é que tem de ser melhorado e na preparação para amanhã correr melhor. 
— Ao fim de uma semana, o que é que já correu mal?
— Houve alguns eventos que deviam ter sido mais antecipados em termos de organização. Talvez em algumas intervenções pudesse ter tido maior foco em temas, o que às vezes é um problema, temos três ou quatro temas que queremos abordar, mas perdemo-nos noutras coisas, fruto das notícias do dia ou das circunstâncias ou do ambiente. Já aconteceu e tento corrigir, estou a procurar cada vez mais ser mais focado até nos discursos, tento tocar mais nos temas de forma mais direta e evitar fugas para outros universos e contextos que em campanha eleitoral não interessam tanto. 

Normalmente, André Ventura costuma optar por falar de cabeça, não costuma levar papéis e os apontamentos são os que tem na cabeça. Mas naquela noite, no comício do Porto, tinha uma folha A4 à frente. O líder do Chega garante que não se trata de uma mudança de estratégia e que esse não foi um dos erros que procurou corrigir, mas distingue um “discurso normal” daqueles em que quer “apresentar alguns dados e números” para que a mensagem passe com “rigor”.

— Por falar em reuniões e em comitiva, o André Ventura tem um núcleo forte muito duro, que é visível durante toda a campanha, essas pessoas viajam sempre numa carrinha de nove lugares, mas o André Ventura aparece nas ações num carro com motorista, segurança… porquê, aproveita as viagens para fazer alguma coisa em específico?
— Para trabalhar, também. Há preocupações de segurança que são acrescidas, mas sobretudo para trabalhar. A equipa prefere viajar em conjunto para poder fazer o planeamento em conjunto e poder trabalhar com sinergia. Eu chego depois aos eventos, eles são uma das equipas avançadas, chegam aos eventos, planeiam as coisas, interagem com as estruturas locais e ajudam muito no trabalho. Quando eu chego já tenho uma série de inputs sobre o que se está a passar, informações importantes, sobre a forma como decorrerá o evento…

A segurança de André Ventura continua a ser uma das maiores preocupações para o Chega e isso é visível no terreno, com a grande operação de segurança montada em todos os eventos, desde arruadas (em que o trabalho dos seguranças é mais intenso) aos jantares-comício, em que André Ventura nunca fica sem estar sob o olhar de algum segurança e em que, sempre que o líder se move por alguma razão — houve dias em que dançou —, se sente de imediato as movimentações do corpo de segurança. Antes de cada evento, há sempre um elemento da segurança que vai mais cedo e toda a chegada é coordenada com a comitiva de Ventura.

— As sondagens têm apontado para uma possível maioria à direita, primeiro falou num “virar de página” após o debate a nove, logo nos primeiros dias da campanha, quase todos os dias tem falado dessa possível maioria, tem tentado aproximações, até apelado à responsabilidade. Sente-se a falar sozinho?
— Não, não sinto. Sinto que é o que vai acontecer e as sondagens dão-me razão. Ponto um, pode haver uma maioria de direita, isso não é claro, não estou a dizer que o PS está derrotado. Ponto dois, é evidente que o Chega é parte fundamental desta maioria…

— Quando digo falar sozinho refiro-me ao outro lado, de não ter respostas ao que diz, de muitas vezes não ter respostas aos desafios, ainda ontem falava da auditoria e ficou sem resposta por parte dos seus possíveis parceiros…
— Ainda hoje vi uma entrevista de Rui Rio a dizer que os debates mais importantes que teve foi com o Chega e com António Costa e que espera que uma parte importante do eleitorado do Chega tenha percebido se deve votar no PSD. O que eu tenho tentado denunciar é essa hipocrisia de para dentro estar a vender uma coisa, para o eleitorado, que Rui Rio sabe que não é possível. Vai ter de contar com o Chega e lidar com as exigências do Chega. Prefiro ser realista, mesmo que fique a falar sozinho, e ser sério e verdadeiro com o eleitorado do que andar o jogo que o PSD anda a fazer. 

Ao longo da campanha eleitoral muito mudou relativamente ao Chega. O Bloco de Esquerda entrou ao ataque e para dizer que uma “vitória no Bloco de Esquerda” seria uma “derrota da extrema-direita”, uma ideia que André Ventura acabou por corroborar. Nos dias seguintes a intensidade da presença do nome do Chega nas outras campanhas reduziu, mas na reta final houve uma inversão da estratégia e a utilização do partido liderado por André Ventura como arma de arremesso entre António Costa e Rui Rio. A preocupação do líder do partido nacionalista — por muito que tenha passado grande parte da campanha a criticar o PSD (do passado ao presente) — é a de se poder sentar com a direita no dia seguinte às eleições, no caso de haver uma maioria desse lado do espetro político, e de não ser deixado de parte das negociações. Para acautelar a possibilidade de ficar de fora (já todos os partidos excluíram a ideia de o Chega estar num governo), André Ventura tem apelado à responsabilidade e abanado a bandeira de terceira força política.

— No comício do Porto, por exemplo, dizia que toda a narrativa política é feita à volta do Chega, tanto à esquerda como à direita, mas depois parece que ninguém quer falar. Sente-se preocupado com um possível cenário pós-eleitoral em que não haja formas de entendimento, em que fique tudo sem saída?
— Isso preocupa-me, mas não é pelo Chega. Preocupa-me por Portugal que possamos ter um cenário de ingovernabilidade. Repare, até Luís Montenegro, que entrou na campanha eleitoral, a frase que fica é “o Chega vai ter de decidir se apoia um governo do PS ou do PSD”, como se isso estivesse em questão. O Bloco de Esquerda diz que temos de votar no BE para derrotar o Chega e o André Ventura. Tornou-se o ponto central e a direita parece preferir olhar para o lado e ignorar e fingir que não está ali. Só que a vida não é assim e a realidade não é essa, as pessoas existem, os votos existem, as sondagens existem e estar a olhar para o lado e dizer ‘vamos rezar para que isto não aconteça e fingir que só nós os três [PSD, CDS e IL] conseguimos fazer a festa’… eles sabem que não haverá festa nem maioria nenhuma sem o Chega. É trair o eleitorado e mentir ao eleitorado. Não me sinto nada a falar sozinho, sinto-me a falar para os portugueses, eles é que estão a falar sozinhos, só estão a falar entre eles.
— A IL continua também a subir nas sondagens, ao dia que falamos está muito perto do Chega. João Cotrim Figueiredo disse que seria bom ter como terceira força política um partido não-extremista, referindo-se ao BE, à CDU e ao Chega. Prefere lutar pelo terceiro lugar com a IL ou preferia continuar a travar esta batalha com o BE?
— É evidente que se tivesse de escolher prefiro mais força na IL do que no BE. Ponto seguinte: para nós é indiferente, queremos ficar em terceiro lugar independentemente de quem derrotarmos. O que parece estar a construir-se é que, com a IL a conseguir eventualmente mais votos que a CDU e com o Chega a conseguir mais votos que o BE, se o PSD conseguir encurtar a distância para o PS temos o caminho para uma maioria de direita. E isso significa todo um manancial de oportunidades, independentemente de ser a IL ou o BE, para nós o que é importante é ficar em terceiro para sermos decisivos na construção do próximo governo e da próxima maioria parlamentar. 

Desde o primeiro dia — e ainda antes do arranque da campanha — que o Chega elevou a ambição de se tornar a terceira força política nacional (até já o tinha feito nas autárquicas). A tática do partido prende-se com ter a força suficiente para não ser ignorado na hora das negociações e, caso ninguém queira sentar-se à mesa com o Chega, ter o poder de decisão. André Ventura sabe o quão importante é crescer em número de votos e de deputados para conseguiu impor-se e essa foi a grande batalha de toda a campanha: lutar contra o voto útil que o PSD apregoa à direita (criticando os sociais-democratas a toda a hora e pedindo força para o Chega) e mostrando-se disponível para conversar num cenário de maioria à direita.

— Suponho que queira ir descansar, já é tarde. Antes disso, só uma pergunta final: qual é a última coisa que faz antes de se deitar?
— Rezar, rezar.
— Voltamos a falar amanhã. Boa noite, André Ventura.
— Obrigada. 

Dia 25 de janeiro, às 01h00.

— Estou. 
— Boa noite, André Ventura.
— Boa noite.
— No domingo despiu duas vezes o blazer, uma vez para vestir um casaco camuflado, outra para vestir uma camisola poveira. Quando abriu aquele embrulho, no almoço com ex-combatentes e viu o que era, o que é que sentiu?
— Senti um grande orgulho porque sei que é um gesto que não fazem de ânimo leve, que para eles tem imenso simbolismo. Senti-me a carregar uma parte da história deles e que é também a História de Portugal. Fiquei muito sensibilizado.
— É confortável o casaco? Vamos poder vê-lo a usar mais vezes?
— Sim, muito confortável…
— Uma provocação a Francisco Rodrigues dos Santos, se calhar…
— (risos) Está muito confortável, cai-me que nem uma luva, é muito possível que me vejam a utilizá-lo mais vezes.
—Mas não vai usar o casaco como uma provocação a Francisco Rodrigues dos Santos?
— Não, não vou. Cada coisa tem a sua importância e um gesto de antigos combatentes tem demasiada importância para ser usado como arma de arremesso ou provocação.

A oferta aconteceu num almoço que juntou ex-combatentes na Confeitaria Império, no Porto, e teve repercussões na campanha do CDS.“O uniforme e os restantes símbolos militares são para quem os mereceu, os percebe e os respeita. Se há quem não o entenda, isso são outros carnavais”, escreveu Francisco Rodrigues dos Santos. O presente, naquele que considera “o momento mais alto da campanha eleitoral”, não mereceu resposta de André Ventura, que não quis comentar “disparates”.

— A segunda-feira marca uma viragem na campanha, o périplo pelo Norte está terminado e vai rumar a Sul, e mais a Norte do país há mais dificuldades de implantação do Chega, o próprio partido já o assumiu, mas o Alentejo também é uma zona difícil por eleger poucos deputados. Qual é a expectativa?
— A expectativa é que o Alentejo volte a ser, como sempre foi, desde a fundação do Chega, o local de percentagens mais elevadas a nível nacional. Nas Presidenciais, em algumas zonas, tive mais de 30% dos votos. A expectativa é uma votação muito elevada, sabemos que o sistema eleitoral prejudica fortemente o Alentejo e outras zonas, mas a expectativa é claramente ter votações acima dos 20%, se se elege deputados com isso ou não, vamos ver. 

A “expectativa é alta” mas André Ventura assume que tem de haver “realismo”, nomeadamente em zonas como Beja e Portalegre, que elegem dois e três deputados, respetivamente. Ainda assim, a caravana fez questão de passar em praticamente todos os distritos, com exceção de Portalegre e Santarém, por, segundo André Ventura, já ter estado nesses distritos há pouco tempo.

— Em algumas arruadas têm-se ouvido alguns insultos, normalmente pontuais, mas no balanço que fez a meio da campanha comparou esses momentos com as manifestações das Presidenciais, que eram muito mais notórias. Sente que nas ruas há uma receção diferente de há um ano para cá?
— Acho que há mais apoio, honestamente. Não é que em janeiro não houvesse, aliás, os resultados falaram por si, e sobretudo há mais entusiasmo. Não sei se há um maior número de pessoas, isso vamos ver nas eleições mas há mais entusiasmo, mais intensidade. Há também uma menor hostilidade por parte de grande parte da população, continua naturalmente a haver alguma hostilidade mais intensa por parte de algumas franjas, mas que são cada vez mais curtas e que se manifestam, às vezes de forma ruidosa. Por um lado isto é bom, significa que o Chega é hoje um partido que a população já perceciona como grande ou pelo menos como um player importante no jogo democrático, por outro lado é sinal que se há protestos de algumas franjas é porque estamos a incomodar alguns setores e alguns interesses instalados.
— Mas sente-se incomodado, por exemplo… houve um destes dias em que uma mulher de etnia cigana veio falar consigo, mostrar o que sentia até de uma forma serena e educada, não houve grande confusão. Sente-se incomodado com esse tipo de abordagens?

— Não me sinto incomodado, estou habituado a isso, respondi também, acho que, aliás, fomos educados os dois… é assim que deve ser em democracia. Eu disse aquilo que continuo a pensar, a senhora disse “todos os ciganos trabalham” e eu disse “desculpe, isso não é verdade” e a nossa perspetiva sobre isso mantém-se. A senhora tem a perspetiva de que nós somos racistas, mas manteve a educação e foi respeitada pela nossa comitiva e por toda a gente que estava ali à minha volta. Se fico surpreendido com a hostilidade da comunidade cigana a mim ou ao Chega, não fico, estaria a ser cínico se dissesse que fico surpreendido. Espero que o jogo democrático vá percebendo que há locais para várias perspetivas, inclusive sobre algumas minorias.

Durante uma arruada em Braga, André Ventura foi abordado por Fátima Romero, uma mulher orgulhosamente cigana que pediu ao líder do Chega que não seja “tão racista” e que seja “mais humano”. Ainda houve uma troca de palavras entre os dois, mas Ventura seguiu a arruada. Durante outras ações de contacto com a população houve momentos de maior aperto em termos de segurança, com algumas situações mais delicadas, mas tudo bastante controlado e com a maioria dos insultos a acontecerem à distância.

— Costuma haver muita confusão em várias arruadas, aconteceu na Póvoa de Varzim, aconteceu em Guimarães, e esta questão da segurança não é propriamente uma novidade para si. É visível que é sempre acompanhado por vários seguranças. O que é que sente nesses momentos de maior aperto?
— Tento manter a calma. É evidente que as pessoas têm muita intensidade, às vezes as pessoas só querem tocar, dizer que estão ali, que apoiam. É evidente que no meio disso temos de conter eventuais ameaças que sabemos que existem e que no momento têm de ser avaliadas. Este equilíbrio às vezes é muito difícil de manter. Tem de haver contacto com as pessoas e interação, mantendo sempre as questões de segurança.
— Mas disse que continua a ser alvo de ameaças, sente isso na rua? Como é que essas ameaças lhe chegam?
— De várias formas, desde redes sociais a e-mails, na rua também. Vamos monitorizando, passando à equipa de segurança e em casos mais graves passamos às autoridades. Há bocado, quando estávamos em viagem, numa rede social alguém dizia que “se der um tiro no André Ventura qual é o prémio?” Isto é dito assim como se fosse uma coisa normal…
— … Com leviandade?

— … A sociedade não se indigna com isto. Se fosse eu a dizer isso de outra pessoa cairia o Carmo e a Trindade. Parece passar-se aqui de forma normalizada. Portanto, nós recebemos ameaças de vários tipos, várias por dia, desvalorizo a maior parte, mas há uma outra parte que tem de ser relevadas e que têm de ser tidas em contas. 

Durante a campanha, numa das arruadas, em Braga, houve até uma situação em que se percebeu que a equipa de segurança parou para decidir sobre uma “ameaça”, quando se ouviam dois jovens, no topo de um prédio, a gritar “fascista, racista e xenófobo”. A comitiva acabou por seguir caminho, mas ficou a ideia de mobilização rápida sempre que necessário.

— Estamos mesmo a chegar ao fim, não lhe roubo muito mais tempo… na última chamada que fizemos perguntei-lhe qual era a última coisa que fazia à noite, disse-me que era rezar. A seguir a isso ainda sonha com o último minuto do debate de António Costa?
— (risos) Não, isso é mais quando estou acordado, tenho gosto em recordar aquele último minuto. Quando adormeço não penso em António Costa. Deus me livre de sonhar com António Costa. 

— E de manhã, quando se levanta, qual é a primeira tarefa do dia?
— De manhã, quando me levanto, a primeira tarefa do dia é tocar no crucifixo. 

— Muito obrigada, André Ventura. Boa noite.
— Obrigado, boa noite.

(Rui Oliveira/Observador)

Rui Tavares não desarma na convergência… nem ao telefone

[Ouça aqui a última chamada durante dois dias com Rui Tavares:]

Rui Tavares: “O Livre quer reuniu com todos”

Dia 25 de janeiro, às 22h40.

O dia da campanha tinha sido dedicado à saúde. De manhã uma conversa com o ex-diretor geral da Saúde, Francisco George. À tarde, Rui Tavares tinha o agendamento para a dose de reforço da vacina contra a Covid-19. À noite, o Observador fez a radiografia ao dia e à campanha.

— Estou Rui?
— Sim.
— É a Alexandra do Observador. Cá estamos para a última chamada do dia. Depois da vacina como é que se sente?
— Sinto-me bem. Praticamente nem me lembro que levei a vacina. Espero que amanhã também seja assim fácil, porque a segunda dose, na altura, deitou-me bastante abaixo, e não convinha nada nos últimos dias de campanha ficar como fiquei com a segunda dose. A certa altura fiquei, até, afónico. É mais ou menos a pior coisa que pode acontecer em fim de campanha eleitoral, mas mesmo assim valeu a pena levar a terceira dose da vacina. Mas agora nem me lembrava já que tinha sido vacinado.
— Mas foi por autoagendamento, portanto foi propositadamente durante a campanha. Qual é a mensagem?
— Até deveria ter sido mais cedo. Autoagendei quando pude, só que depois recebi a mensagem a confirmar numa noite à uma e meia da manhã e portanto já tinha adormecido, após um dia de campanha no Norte, em Braga, e depois era impossível estar no Cartaxo para onde me agendaram. Portanto, tive de adiar uns dias, mas na primeira oportunidade fui levar a vacina de reforço. Não passa nenhuma mensagem em particular que as pessoas em Portugal não saibam já que é a importância de nos vacinarmos. Na verdade esta vacina não é verdadeiramente um reforço. Cada vez mais se percebe que as três doses são as necessárias para estarmos mais protegidos, nomeadamente com uma variante como a Ómicron, mesmo não sendo perfeito faz uma enorme diferença em termos de consequências que a infeção pode ter. Mas felizmente esta é uma mensagem que a maior parte dos portugueses já conhece e portanto só podemos reforçar essa mensagem sobre o reforço.
— Hoje o dia foi dedicado à saúde. De manhã teve com o antigo diretor-geral de saúde, Francisco George. Foi um apoio importante para a campanha do Livre?
— Foi um apoio muito bem vindo, até porque chegou de uma forma muito espontânea. Nós no Livre não temos andado à procura de apoios da maneira tradicional. As pessoas que nos querem apoiar entram em contacto connosco e foi assim que aconteceu e, portanto, na verdade não sei, sequer, como é que o Dr. Francisco George obteve o meu número de telefone. Ligou-me depois dos debates. Escreveu-me primeiro, e depois ligou-me, falámos e ele manifestou vontade de termos uma conversa sobre saúde. Disse que tinha lido o programa do Livre sobre a saúde e que era globalmente coincidente com as suas próprias ideias para o sistema nacional de saúde, e para o serviço nacional de saúde em particular. A necessidade de deixar de suborçamentar o SNS mas também de gastar melhor no serviço nacional de saúde e em certos aspetos racionalizar até custos, optando por aquilo que chamamos a saúde em todas as políticas, o que permite antecipar e prevenir problemas de saúde pública. No Livre falamos muito da questão do frio que se passa nas casas em Portugal. Podemos fazer um plano de investimentos como outros países já fizeram que ajuda a viver de forma mais confortável e digna das nossas casas, baixar a fatura de eletridade e do gás e ajudar a salvar o planeta. Mas isto também tem um bom impacto sobre a saúde pública. Ou seja, naquelas fases do inverno, de pico da gripe, ou no verão em que há um excesso de mortalidade dado as altas temperaturas que se verificam em casa, casas bem isoladas, aquecidas, e refrigeradas, com painéis solares e bombas de calor, são casas onde se vive mais confortavelmente, protegemos o serviço nacional de saúde, e as pessoas vivem mais saudáveis. Isto faz parte da saúde em todas as políticas e esse foi um dos temas principais da nossa conversa não só com o Dr. Francisco George, hoje, mas também com a ex-bastonária da ordem dos enfermeiros, Maria Augusta de Sousa, que também nos apoiou.
— Estão neste momento, segundo as estimativas, um milhão de pessoas em isolamento. Que efeitos pode isto ter no dia da votação?
— Isso deveria ter sido previsto pela Assembleia da República antes de dissolvida, e não era difícil de o ter previsto. Não era preciso uma enorme capacidade de antecipação para sabermos que estávamos numa corrida entre as vacinas e as variantes, que poderiam aparecer variantes mais infecciosas e que isso seria até bastante plausível. Até quando a Assembleia foi dissolvida falava-se já da variante Ómicron, creio que não erro ao dizer isto, não erro certamente é ao dizer que a Assembleia da República, antes de dissolvida, poderia ter revisto a lei eleitoral cirurgicamente.
— Vai propor se chegar a deputado a alteração da Lei?
— Eu creio que podemos pensar em várias coisas. Uma delas é que o voto antecipado não careça de inscrição. Portanto quando abrimos o voto antecipado as pessoas possam apresentar-se à medida apenas da sua disponibilidade, o seu nome poder ser descarregado nos cadernos eleitorais para impedir o duplo de voto, e assim simplificar o acesso ao voto antecipado. E só isso já seria uma enorme diferença. E também vamos propor que para as pessoas que trabalham nas mesas de voto, e que fazem um trabalho que cada vez está a ficar mais complexo — não esqueçamos que no voto antecipado com mobilidade as pessoas têm de gerir boletins de voto para todos os círculos eleitorais e redirigi-los para as secções de voto correspondente –, sejam repostos os pagamentos que foram cortados no tempo de troika. A democracia custa dinheiro. É importante que tenhamos consciência disso. Não é muito dinheiro que ela custa. É das coisas mais baratas que fazemos no quadro dos gastos do Estado, mas tem de ser suficientemente valorizada pelos poderes públicos para que as pessoas a quem estamos a pedir um esforço suplementar sejam devidamente pagas.
— Hoje o dia voltou a ser marcado pela questão da governação e das coligações e das convergências. Viu o programa de Ricardo Araújo Pereira, já que estamos em fim de dia?
— Não vi, porque hoje tive a sorte de poder deitar os meus miúdos e portanto não vi televisão.

No programa, na SIC, “Isto é Gozar com quem Trabalha”, dessa noite, Ricardo Araújo Pereira tinha simulado uma conversa num grupo de Whatsapp em que António Costa adicionou Jerónimo de Sousa e Catarina Martins para falarem. Mais tarde foi adicionada Inês Sousa Real, do PAN. Mas o Livre não entrou no grupo. Rui Tavares não viu o programa, mas fica a pergunta ao candidato que mais tem falado da necessidade de convergência à esquerda.

— Foi uma pena não ter visto uma simulação de um Whatsapp de António Costa com Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, no qual o PAN, no final, entrou para coligação, mas o Livre não entrou. Vê alguma leitura nisto?
— Eu creio que o Livre é o partido que desde sempre tem proposto estas convergências e portanto a partir de dia 31 estará lá. E aliás é o único partido que em vez de dizer que quer reunir com o PS, quer reunir com todos. Acho curioso que por exemplo Bloco de Esquerda e PS andaram de cadeias às avessas durante toda esta campanha, e até antes, e agora de repente uns dias antes das eleições diz o Bloco que quer reunir dia 31 apenas e só com o PS. Se a ideia é ter força negocial para trazer o PS para a esquerda o que faria sentido é que o Bloco, o PCP, o Livre, o PAN, todos os partidos que não sejam o maior partido de uma maioria à esquerda, reúnam previamente para encontrar os seus pontos de acordo em matéria por exemplo de proteção ambiental, proteção laboral e por aí fora, para terem mais força na altura de negociar com o partido maior à esquerda que, nesse caso, lideraria o Governo. Nós não nos podemos esquecer que chegámos a umas eleições também porque houve uma falta a um dever de responsabilidade perante os portugueses ao falhar-se nestas negociações orçamentais. Houve uma falta de visão de futuro, e agora chegados às eleições é muito importante que, com o nosso voto, não se esteja a premiar quem teve essa falta ao dever de responsabilidade e essa falta de visão de futuro. Isto não andamos a brincar com a vida das pessoas. Deixar colapsar uma negociação orçamental, ir para eleições e uns dias antes do voto lembrarem-se de novo que são convergentes… É ótimo que se lembrem de novo que são convergentes, mas para um eleitorado à esquerda o essencial é que o Livre, ao voltar para a Assembleia da República, passe a mensagem que o eleitorado valorize essa convergência porque, senão, nada nos garante que daqui a uma semana Bloco de Esquerda e PS não tenham decidido mudar de novo de ideias desiludindo e desmobilizando o eleitorado à esquerda… que eles agora perceberam que estava a ficar desmobilizado e tentaram recuperar voltando a uma atitude de diálogo para um diálogo que seja verdadeiramente coerente e consistente. Acho que só o Livre oferece essa opção, porque desde sempre não vogou ao sabor das sondagens, desde sempre teve o mesmo discurso sobre uma maneira diferente de fazer política. Uma coisa de diferente que trazemos é uma atitude de compromisso ideal perante a política.
— Muito bem. Rui, vamos esperar que não perca a voz desta vez. Obrigada pelo telefone de fim do dia e voltamos a falar amanhã.
— Amanhã veremos se a voz ainda cá está.

Rui Tavares não perdeu a voz desta vez. Mas a segunda chamada ficou, afinal, marcada para quinta-feira, 27 de janeiro, a seguir à Festa de Encerramento do Livro, em Lisboa. O único comício da campanha do Livre e depois de ter, no Twitter, mostrado o que tinha sido o seu jantar — uma tomatada com ovos escalfados, que, segundo disse à CNN Portugal, é a sua comida de conforto.

A Festa de Encerramento terminou com o seu discurso. E o Observador já falou com o cabeça de lista do Livre por Lisboa já perto da meia noite.

27 de janeiro. 23h54

— Estou sim?
— Estou Rui. Boa noite. É a Alexandra do Observador. Já saiu da Festa de Encerramento do Livre?
–Já. Já de regresso a casa. Foi bonito. Foi a única ocasião que fizemos um comício, porque estamos em pandemia. Parece que praticamente todos os partidos, mas acima de tudo os grandes, se esqueceram disso. Eu hoje vi imagens de arruadas do PS e do PSD que basicamente eram como se não estivéssemos em plena crise pandémica.
— Foi uma preocupação vossa sempre ao longo da campanha? 
— Foi uma preocupação nossa. Mesmo hoje toda a gente entrou com certificado, mantivemos o distanciamento social possível, a utilização de máscaras, e portanto, de facto, foi uma festa de encerramento muito bonita do ponto de vista cultural, musical e com discursos dos nossos candidatos de Aveiro, Setúbal, Porto — o Jorge Pinto, que uma sondagem hoje nos diz que está em jogo a eleição dele –, a Isabel Mendes Lopes [número dois por Lisboa] e eu encerrei.
— Quanto tempo é que levou a preparar o discurso? Prepara o discurso normalmente?
— Nenhum tempo a preparar o discurso porque no início desta campanha eu fiz uma série de fichas, pensando principalmente nos debates. Fichas que tinham argumentos, algumas tinham parágrafos escritos à mão e portanto ajudava a memorizar. Outras eram temáticas, sobre determinados assuntos que poderiam ir desde a agricultura de precisão, até àquilo que precisamos de fazer para dignificar a carreira de professor de escola secundária. Alguns foram utilizados nos debates, outros utilizados em outras intervenções minhas, outros nunca chegaram a ser utilizados e quando as pessoas às vezes me viam nos debates com umas fichinhas muito pequeninas que pareciam cartas de jogar, e que eu ia trocando, afastando umas porque já tinha usado determinados argumentos ou porque havia coisas de que ainda queria falar, eram essas ditas fichas.
— Hoje também se socorreu delas…
— Hoje foi muito fácil porque da minha coleção de algumas dezenas de coisas recolhi algumas que não tinham sido usadas ainda, e levei-as para o palco, mas mal olhei para elas porque quando se chega a este ponto as coisas estão bastante mecanizadas. E fiz uma estrutura que basicamente repegou em alguns temas nossos. Mas que tinha dois traços distintivos em relação ao que tenho dito: um, afirmar que com o regresso do Livre ao Parlamento para ficar é não só liberdade, mas também a esquerda, a Europa e a ecologia que entram no Parlamento para ficar; e outro que eu pensei enquanto caminhava para o auditório do Liceu Camões e que eu acho que é aquilo que está na cabeça de muitas pessoas hoje em dia, que é o que é que passou pela cabeça dos nossos políticos e da nossa política.
— Disse-o naquele discurso… 
— O que é que passou pela cabeça dos políticos no fundo quer dizer isto: eles e elas não veem que as pessoas estão cansadas? Estão cansadas dos trabalhos, dos horários, dos salários que não chegam e que as pessoas precisam que a política cuide delas. E às vezes em Portugal parece que temos as coisas viradas ao contrário e que aquilo que se pretende é que as pessoas cuidem das mudanças de humor e dos estados de alma dos políticos. Deveria ser ao contrário. As pessoas é que precisam de uma política que cuide delas.
— Hoje saíram várias sondagens. Uma dá 1,8% ao Livre. A ecogeringonça está mais perto ou acha que, pelo contrário, e por causa de outras sondagens que dão uma esquerda mais frágil, está mais longe?
— Essa dos 1,8 não vi, e há sondagens um bocadinho para todos os gostos. Até mais altas do que isso e mais baixas também. Aquilo que estamos a dizer a toda a gente nos últimos dias é que o Livre está numa situação em que meio ponto acima ou meio ponto abaixo faz toda a diferença. Meio ponto acima elegemos um grupo parlamentar; meio ponto abaixo corremos o risco de não entrar. Portanto não se pode desperdiçar votos de pessoas que gostam do Livre e que querem ver o Livre na AR e que tencionam não votar. Para responder à pergunta, eu creio que podemos e devemos conquistar uma maioria de esquerda no próximo dia 30, que isso é essencial porque a direita neste momento, fruto da ambiguidade dos líderes da direita tradicional, se deixou enquistar em boa medida pela extrema-direita e portanto teremos uma crise de regime democrático e uma crise do estado de direito e dos direitos fundamentais caso a direita governe encostada à extrema-direita. Teremos também uma grave crise de regime mais ao retardador, mas teremos, se houver um bloco central ou um acordo de cavalheiros entre o PS e o PSD. Vão ser os interesses dos dois maiores partidos a tomarem conta de tudo em plena execução do PRR e numa legislatura — ninguém falou disto durante esta campanha — que é de revisão constitucional, e os dois partidos terão, se estiverem entendidos, os votos suficientes para mudar a Constituição e até as leis eleitorais. Isto não é uma hipótese longínqua. Rui Rio quer, por exemplo, há muito tempo mudar a Constituição e porá isso em cima da mesa. A alternativa a estas duas encruzilhadas é haver uma maioria de esquerda, mas essa maioria de esquerda não pode ser na mesma como a lesma, para usar esta expressão coloquial. O voto na esquerda que não deixa tudo na mesma é o voto no Livre e portanto permite, apesar de tudo, introduzir uma maneira de fazer política diferente e temáticas novas no Parlamento.
— Vê-se nalguma pasta ministerial se a ecogeringonça for para a frente?
— Não. Não. Não vejo forçosamente em nenhuma pasta ministerial e certamente nós não vamos negociar com base em cargos. Isso não significa enjeitar responsabilidades mas significa que vamos por o programa à frente, e portanto vamos falar no frio nas casas e daquilo que é possível fazer. Vamos falar de salário mínimo. Vamos falar dos trabalhadores independentes e da como é possível ajudá-los a ter mais remunerações e sobretudo a trabalharem naquilo em que eles são bons, em vez de estarem o tempo todo afogados em custos administrativos e burocracia. Vamos falar de ensino. Vamos falar do novo pacto verde para combater a crise ecológica e a crise social ao mesmo tempo. 
— Uma última pergunta e para uma resposta muito rápida. Numa frase, que balanço faz da campanha do Livre? Embora amanha – que já é hoje – ainda tenham algumas ações, não é?
Até à última hora vamos continuar a tentar convencer gente. Numa frase eu creio que aquilo que mais dissemos mais vezes é que Portugal precisa de um novo modelo de desenvolvimento. E isso é um debate, é um caminho que se vai fazer ao longo do tempo, mas pelo menos houve um partido que em todos os debates, em todas as intervenções disse que Portugal precisa de um novo modelo de desenvolvimento e até respondeu à pergunta de qual ele deve ser, é a economia do conhecimento e da descarbonização, de alto valor acrescentado que permite subir salários, reforçar segurança social, alargar a coleta de impostos, diminuindo os impostos da família mediana, e financiar excelentes serviços públicos.
— 15 dias de campanha. Vou deixá-lo, agora, descansar. Muito obrigado por mais esta última chamada do dia. E domingo se verão os resultados.
— Bom descanso. Até domingo, todos os votos contam e a partir de segunda-feira é preciso construir uma política diferente no nosso país.
–Muito obrigada Rui, boa noite.
— Obrigada Alexandra. Bom descanso. Boa noite.

FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/OBSERVADOR

[Ouça aqui a primeira parte do episódio que junta as últimas chamadas aos vários candidatos]

A última chamada com os candidatos – 1ª parte

[Ouça aqui a primeira parte do episódio que junta as últimas chamadas aos vários candidatos]

A última chamada com os candidatos – 2ª parte

Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais o nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos