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"Regressar à liderança do CDS? É um capítulo encerrado"
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"Regressar à liderança do CDS? É um capítulo encerrado"

(Rui Oliveira/Observador)

"Regressar à liderança do CDS? É um capítulo encerrado"

(Rui Oliveira/Observador)

Manuel Monteiro: "Luís Montenegro não se tem afirmado"

Antigo líder do CDS lamenta incapacidade do PSD de se afirmar como grande líder do bloco alternativa e sugere que Montenegro já deveria ter ensaiado uma grande plataforma de entendimento à direita.

Voltou ao CDS quase 20 anos depois de se ter desfiliado. Regressou aos congressos do CDS apenas em 2022. Mais recentemente, já depois de ter sido escolhido por Nuno Melo para presidir ao Instituto Adelino Amaro da Costa, enterrou o machado de guerra com Paulo Portas, encerrando um dos capítulos mais dramáticos da história do partido. Ao dia de hoje, ainda assim, não se compromete com um apoio à eventual candidatura presidencial de Portas. “Primeiro, as pessoas têm de dizer se querem ser candidatas. Depois falaremos”, remata.

Em entrevista ao Observador, no programa “Vichyssoise”, Manuel Monteiro fala sobre o futuro do CDS, mas também da dificuldade de afirmação da direita como alternativa ao poder socialista. “Luís Montenegro não se tem afirmado. Já deveria ter dado um sinal, até porque vêm aí eleições europeias, de querer construir uma ampla plataforma que não se baseasse apenas no PSD. Deveria chamar o CDS. E há quem diga: “Mas o CDS não conta para o baralho, não leva votos”. Recordo o seguinte: em 1979, Francisco Sá Carneiro, quando liderou a AD, incluiu o PPM, que tinha 0,52% nas eleições de 1976. Qual é a diferença? Os partidos precisam de líderes e não de chefes”, lamenta.

Nessa capítulo, de resto, iliba Marcelo Rebelo de Sousa de qualquer responsabilidade. “Não posso responsabilizar o Presidente da República pela falta de capacidade que o principal partido da oposição tem tido de demonstrar uma alternativa. Não posso responsabilizar Marcelo Rebelo de Sousa por esses erros”, sublinha o antigo líder do CDS, deixando um prognóstico: “Estou francamente convicto de que, a não ser que o Governo continue a dar tiros em si próprio, o Presidente da República nada fará para dissolver a Assembleia da República.”

Sobre a difícil relação entre Chega e CDS, naturais competidores, Manuel Monteiro deixa um recado que deve servir de lição para futuro: “O Chega tem uma coisa que não posso negar: tem muitos eleitores que eram do CDS. Nós é que abandonámos um terreno e um discurso. A determinada altura, a grande preocupação dos partidos conservadores era serem bem vistos pela esquerda. Isso foi fatal”.

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[Ouça aqui a Vichyssoise com Manuel Monteiro]

Costa passeia, Montenegro tropeça e Marcelo refreia

“O grande desafio político do CDS são as legislativas”

É inevitável começarmos pelo CDS, que assinalou esta semana o seu 49.º aniversário. As europeias são o maior desafio eleitoral a curto-médio prazo. Se o partido falhar a eleição, assinará a sua sentença?
Penso que não. É evidente que qualquer ato eleitoral é sempre um ato eleitoral relevante — caso contrário, os partidos não se apresentariam –, mas creio que não é o fim da linha. O grande desafio político do CDS são as eleições legislativas. É o grande teste para a reafirmação do CDS.

Nuno Melo dizia aqui no Observador não ter qualquer dúvida de que, se as eleições fossem hoje, o CDS voltaria à Assembleia da República – ainda que não exista qualquer sondagem que dê como garantido esse cenário. O que tem faltado ao partido para se voltar a afirmar?
Tem faltado uma certa oportunidade de visibilidade. As coisas são as que são, não vale a pena chorar sobre o leite derramado. Aqueles que, em determinado momento, abraçam a vida política têm de estar preparados para os bons e maus momentos. Mário Soares, que foi fundador da democracia, teve imensos êxitos e também conheceu os inêxitos. Nem por isso deixa de ser referenciado como uma figura da democracia.

Elegeu as próximas eleições legislativas como um teste decisivo para o CDS. Se o CDS falhar o regresso ao Parlamento, então será o fim de linha?
Aí, estarei cá para responder a essa pergunta. Terei de cá vir outra vez.

Mas o CDS já está fora da Assembleia da República.
Resta saber se é uma coisa conjuntural ou estrutural. Mas tenho a ideia de que os partidos são sempre instrumentos — não alinho na ideia de que os partidos são sempre o princípio e o fim de tudo. Para mim, os partidos são meros instrumentos ao serviço de um ideal, de um ideal que se põe ao serviço de uma comunidade. Já houve casos, na Europa, em que os partidos desapareceram. As coisas são o que são. O que para mim seria preocupante é que o ideal do humanismo-cristão e do conservadorismo democrático desaparecesse. Vou procurar fazer tudo ao meu alcance para relançar esse ideal. Há espaço, caminho e utilidade para que esses valores se possam afirmar

“Esta ideia de ‘vamos todos para dentro do PSD’ não faz sentido”

Dizia que as ideias existem para lá dos partidos. Diogo Feio, seu antecessor no Instituto Adelino Amaro da Costa, chegou a defender aqui mesmo neste espaço que o CDS deveria pensar em começar a fazer um caminho de fusão formal com o PSD. Concorda com essa posição?
Não, não concordo. Sabe que isso não é inédito. No passado, o CDS também passou por esses momentos de reflexão. Houve gente que vinha da “Direita Coimbrã”, nomeadamente José Miguel Júdice, que andaram ali como independentes entre o CDS e PSD e que, em dado momento, entenderam que a única forma de uma determinada direita se afirmar era entrarem no PSD e criarem músculo. Noutras circunstâncias, o próprio Francisco Lucas Pires chegou a ser candidato a deputado do PSD no Parlamento Europeu.

Hoje tal não faria sentido?
Não, até por uma razão: o PSD tarda em encontrar-se do ponto de vista ideológico e é hoje um partido totalmente diferente. Esta ideia de “vamos todos para dentro do PSD” não faz sentido, a não ser que a lógica seja de sobrevivência política individual.

Voltando às europeias. Nuno Melo tem mantido o tabu sobre se será ou não cabeça de lista nas próximas europeias. Entende que o líder do partido deveria assumir esse desafio?
É uma questão que tem de lhe colocar.

Mas seria a pessoa certa?
Eu fui presidente do CDS e cabeça de lista ao Parlamento Europeu em 1994. Penso que Paulo Portas também. Não vejo porque motivo… Não tenho dúvidas de que é uma pessoa com o perfil certo e, se for, continuará a tradição que sempre existiu no CDS.

Exclui, de todo em todo, voltar um dia à liderança do partido?
Isso é um não assunto. Mal andaria o CDS se tivesse que regressar a esse passado para se poder reafirmar. Recordo que Sá Carneiro dizia que “a política tinha de ter um lado lúdico e uma paixão” e um fui apaixonado pela política; a política sem paixão é uma maçada. Como nunca a entendi como uma profissão, entreguei-me apaixonadamente à vida política. E vivi de uma forma intensa, uma vezes bem e umas vezes mal — quem faz as coisas com paixão também dá cabeçadas na parede –, os tempos em que fui presidente do CDS, Partido Popular.

E é um capítulo encerrado?
Isso é um capítulo encerrado.

"É evidente que qualquer ato eleitoral é sempre um ato eleitoral relevante - caso contrário, os partidos não se apresentariam. Mas creio que as europeias não são o fim da linha para o CDS. O grande desafio político do partido são as eleições legislativas. É o grande teste para a reafirmação do CDS"

“Os partidos precisam de líderes e não de chefes”

Apesar da queda abrupta do PS nas sondagens, da insatisfação grande com o Governo, mas o bloco da direita continua sem se apresentar como uma alternativa clara. Começando pelo PSD: Luís Montenegro tem falhado em afirmar-se como líder desse bloco?
Não se tem afirmado. Não há leis na política, mas a atividade política tem sempre coisas que nos surpreendem. Temos um Governo maioria absoluta que é oposição de si próprio. Todos os casos de instabilidade são criados pelo próprio Governo. É fascinante.

Isso também é um sinal da oposição.
A oposição em Portugal critica o PS por querer ser socialista. O que é que ele há-de ser? Não podemos criticar um partido que é socialista por ser socialista.

Mas o que é que deveria fazer?
A oposição tem a necessidade e obrigação de dizer “o socialismo não é o caminho, nós temos aqui outro caminho”.

Luís Montenegro não está a conseguir demonstrá-lo.
Não. Penso até que Luís Montenegro já deveria ter dado um sinal, até porque vêm aí eleições europeias, de querer construir uma ampla plataforma que não se baseasse apenas no PSD. Deveria chamar o CDS. E há quem diga: “Mas o CDS não conta para o baralho, não leva votos”. Recordo o seguinte: em 1979, Francisco Sá Carneiro, quando liderou a AD, incluiu o PPM, que tinha 0,52% nas eleições de 1976. Qual é a diferença? Os partidos precisam de líderes e não de chefes. Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa tinham a visão de que, em política, um mais um pode ser mais do que dois. Uma coisa é a soma aritmética, outra é a soma política. Sá Carneiro e Amaro da Costa não precisavam do PPM ou dos Renovadores para ganhar as eleições; mas perceberam o valor político dessa aliança.

Nessa linha, o PSD deveria coligar-se ao Chega?
Não sei.

Somariam politicamente.
Somar dentro de uma área política onde há proximidade. As coligações devem ser feitas entre pessoas próximas, o que não significa que sejam pessoas iguais. A IL é um partido próximo do CDS? Para mim, não é. Sou um conservador. É um partido que aposta no “eu” e eu aposto mais no “nós”.

E o Chega?
O Chega tem uma coisa que não posso negar: tem muitos eleitores que eram do CDS.

E foram ao engano?
Os eleitores têm sempre as suas razões para votar em que votam. Não posso ignorar essas razões. Quando maltrato essas razões, estou a dizer que não quero voltar a ter esses eleitores. É uma responsabilidade dos conservadores terem permitido afirmação de partidos à sua direita. Nós é que abandonámos um terreno e um discurso. A determinada altura, a grande preocupação dos partidos conservadores era serem bem vistos pela esquerda. Isso foi fatal. Tenho de ter consciência que muitos eleitores do CDS votam hoje Chega porque lhes apresenta um sinal de protesto. Estão fartos do sistema.

"Há quem diga: 'Mas o CDS não conta para o baralho, não leva votos'. Recordo o seguinte: em 1979, Francisco Sá Carneiro, quando liderou a AD, incluiu o PPM, que tinha 0,52% nas eleições de 1976. Qual é a diferença? Os partidos precisam de líderes e não de chefes. Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa tinham a visão de que, em política, um mais um pode ser mais do que dois"

“Não posso responsabilizar Marcelo pela falta de capacidade da oposição”

Olhando para a fotografia geral. Há quem recorde o governo de Pedro Santana Lopes e que argumente que, por muito menos, Jorge Sampaio dissolveu a Assembleia da República. Entende que Marcelo Rebelo de Sousa já deveria ter dado um murro na mesa?
Mas tem dado todos os murros na mesa que pode dar. Não há sinais evidentes para o Presidente da República de que, se dissolvesse a Assembleia da República, os portugueses não continuariam a dar a vitória ao PS ou a possibilidade de fazer um governo. Não posso responsabilizar o Presidente da República por coisas que devem ter como principais alvos de responsabilidade os partidos da oposição com representação parlamentar. Não posso responsabilizar o Presidente da República pela falta de capacidade que o principal partido da oposição tem tido de demonstrar uma alternativa. Não posso responsabilizar Marcelo Rebelo de Sousa por esses erros. Estou francamente convicto que, a não ser que o Governo continue a dar tiros em si próprio, o Presidente da República nada fará para dissolver a Assembleia da República.

Vamos avançar para o segundo segmento do nosso programa, o bloco “Carne ou Peixe”. Tem poder de ressuscitar uma destas pessoas para a vida política, quem traz: Paulo Portas ou Assunção Cristas? Enterrou recentemente o machado de guerra com Paulo Portas…
Paulo Portas.

Para uma candidatura presidencial?
Ainda estamos a três anos das eleições presidenciais. Primeiro, as pessoas têm de dizer se querem ser candidatas. Depois falaremos.

Quem convidava para levar numa viagem pela Europa: Rui Rocha ou André Ventura?
A minha mulher.

Está a fugir à pergunta.
Pois estou.

Quem levava a passar um fim de semana em Braga: Pedro Nuno Santos ou Francisco Assis?Francisco Assis, sem qualquer dúvida. Pessoa que respeito imenso e de quem sou amigo.

Tem apenas um lugar livre num táxi, a quem dá boleia: Pedro Passos Coelho ou Luís Marques Mendes?
Pedro Passos Coelho. É uma pessoa que admiro, que respeito e com quem tenho tido oportunidade, sempre que posso, de conversar.

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