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Encerrados há mais de um mês, cabeleireiros, barbearias e salões de estética têm reabertura marcada para dia 4 de maio, a primeira fase de retoma das atividades económicas após um decreto e duas prorrogações sucessivas do estado de emergência em Portugal.
Em concreto, as regulamentações de higiene e segurança para os primeiros setores a abrir só deverão ser conhecidas nos próximos dias, contudo e com a menos de uma semana da prometida reabertura, empresas e associações preparam antecipam manuais de boas práticas, que podem sofrer alterações de acordo com as deliberações da Direção-Geral de Saúde, mas que, no essencial, deverão ser mantidos.
No último domingo, a Associação de Cabeleireiros partilhou um documento com orientações para a reabertura de cabeleireiros, barbearias e estabelecimentos de profissionais de beleza e estética. De uma gestão apertada dos espaços, limitados a metade da lotação, à desinfeção permanente de superfícies e ao uso de materiais de proteção, as regras visam garantir a maior segurança possível para funcionários e clientes.
Às normas genéricas, os salões podem somar outras medidas. Tal como noutros países, alguns admitem impor o uso de máscaras não só aos funcionários e condicionar a entrada dos clientes a uma medição da temperatura.
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Espaço, desinfeção e materiais de proteção. As propostas setor
As orientações da Associação de Cabeleireiros definem que a capacidade de atendimento deve ser reduzida para metade (recomenda-se que seja deixado um posto vago entre clientes) e sujeita a marcação. Não são permitidas pessoas em espera, pelo que é aconselhado que as áreas destinadas ao efeito sejam reaproveitadas ou mesmo eliminadas.
Cabe ainda aos profissionais, segundo este documento, sensibilizar os clientes para trazerem máscara de proteção ou viseira. Caso não tragam, cabe ao estabelecimento fornecer a primeira. Devem ser removidos do espaço todos os objetos passíveis de serem tocados pelos clientes, como é o caso de revistas e jornais, preçários, panfletos, tablets e amostras de produtos. Pelo contrário, a solução alcoólica desinfetante deve permanecer visível e disponível e o seu uso deve ser promovido.
Por parte dos trabalhadores, o uso de máscara e viseira (preferível em relação aos óculos de proteção) é obrigatório. Quanto à roupa usada deve ser de manga comprida, vestida apenas dentro do espaço e lavada diariamente. Em alternativa, pode também ser descartável, num material que não tecido e com atilhos nas costas. O calçado deverá ser para uso exclusivo dentro das instalações.
A limpeza e desinfeção de equipamentos como cadeiras, mesas de manicure e aparelhos de multibanco deve ser intensificada. Deve ser dada prioridade a material descartável de utilização única, caso contrário este deve ser lavado e desinfetado com produtos viricidas ou com álcool a 70% após cada utilização e, de preferência, esterilizados em seguida, a uma temperatura acima dos 60 graus. Os espaços deverão ter pelo menos um caixote de lixo de pedal exclusivamente destinado aos equipamentos de proteção individual descartáveis já utilizados. Roupa de trabalho não descartável, toalhas e penteadores devem ser lavados na máquina de lavar com lixívia e acima dos 60 graus.
Contactada pelo Observador, a Associação de Cabeleireiros escusou-se a prestar declarações sobre tema. Tal como todo o setor, a organização aguarda os desenvolvimentos dos próximos dias.
Com a reabertura iminente, empresas preparam-se
Nos últimos dias, o Governo tem estudado a melhor forma de pequeno comércio e cabeleireiros começarem a abrir de forma escalonada a partir da próxima segunda-feira. Embora as decisões só sejam comunicadas no dia 30 de abril, as empresas, cabeleireiros em particular, preparam normas para o momento da reabertura.
É o caso da cadeia Jean Louis David, que também se antecipou às medidas a serem decretadas pela DGS e já elaborou um guia de novas práticas para receber os clientes em plena pandemia. Sendo uma rede internacional, a empresa explica ao Observador que a base das orientações foram os procedimentos já adotados pela marca noutros mercados.
O acesso aos salões estará, desde logo, dependente de duas medidas. Adicionalmente às normas indicadas pela Associação de Cabeleireiros, a empresa vai implementar a medição de temperatura dos clientes à entrada. Pede-se ainda aos clientes que tragam máscara, já que o seu uso será obrigatório dentro das instalações.
Máscaras, bem como óculos de proteção ou viseiras serão usadas pelos funcionários. Apenas metade da lotação de cada salão será usada, em consonância com o intervalo recomendado pela Associação de Cabeleireiros. Toalhas, luvas e penteadores descartáveis serão utilizados durante o atendimento. Equipamentos reutilizáveis serão desinfetados à frente do cliente. A lavagem de mãos e desinfeção de cadeiras e tocadores entre cada cliente também estão previstos pela cadeia. No bengaleiro, os casacos serão arrumados dentro de capas de plástico.
“Caso verifiquemos que existe a necessidade de alterar as medidas definidas por forma a garantir a segurança de todos os nossos clientes e colaboradores, naturalmente que o faremos”, esclarece a empresa, confiante numa reabertura dos salões de rua já na próxima segunda-feira, enquanto os espaços inseridos em centros comerciais “só deverão abrir a partir de 1 de junho”.
A Jean Louis David, que providencia também serviços de estética, fala numa procura elevada que fará com que, após a reabertura, os seus salões funcionem todos os dias, entre as 8h e as 22h. Com uma redução da lotação dos espaços, também o número de funcionários em cada salão será menor, segundo explica. No total, o estado de emergência afetou 40 espaços em todo o país, bem como 360 trabalhadores.
Lá fora, já se corta o cabelo
Portugal está longe de ser o primeiro país a incluir cabeleireiros e barbeiros na lista de setores a reativar numa primeira fase. Por todo o mundo, estes espaços estão a voltar a laborar e as medidas de higiene e segurança não variam muito, a começar pela vizinha Espanha, onde o setor também já tem data de abertura marcada para a próxima segunda-feira. Contudo, por muito ansiosos que estejam por voltar a abrir as portas, o sentimento geral é de dificuldade em responder a todas as exigências com tão pouca antecedência.
“Estamos a tentar decifrar as palavras do presidente. O texto é ambíguo e admite muitas interpretações. Não faz sentido começarmos a trabalhar sem termos regras claras”, afirmou Alejandro Fernández, porta-voz da Aliança de Empresários de Cabeleireiro de Espanha, ao El Mundo. Atendimento, só por marcação. Sempre que possível com “balcões ou divisórias” a salvaguardar os clientes.
Espanha. A partir de 2 de maio pode começar uma “nova normalidade”
Numa segunda fase, a partir de 11 de maio, poderão reabrir os espaços sem estes equipamentos de proteção e sem marcações, porém continuando a cumprir os dois metros de distância mínima entre clientes, bem como reduzindo para apenas 30% a lotação dos espaços. Depois de terem feito generosas doações a hospitais e forças de segurança, alguns estabelecimentos deparam-se agora com a dificuldade em encontrar luvas, máscaras e outros equipamentos de proteção individual indispensáveis para o reabrir de portas.
Salões com mais recursos estão a optar também por medir a temperatura dos clientes logo à entrada, disponibilizar proteções para as pernas (além de máscaras) e divisórias nos balcões de receção. No entanto, estas empresas não representam o setor, onde 94% dos negócios são bem mais pequenos e não vão além dos cinco trabalhadores.
Na Dinamarca, os salões reabriram a 20 de abril, juntamente com dentistas, estúdios de tatuagens e escola de condução. As medidas de precaução basearam-se nas diretrizes mais elementares, com o uso de máscaras e gel desinfetante. Na Suíça, cabeleireiros e barbearias têm estado a reabrir durante esta semana, com uma corrida ao álcool gel e às máscaras e viseiras por parte dos empresários, cenário que se repete também na Noruega.
Em Israel, à semelhança das lojas de rua, cabeleireiros, barbearias, salões de estética e clínicas de depilação foram autorizados a reabrir desde o último sábado. Além do uso obrigatório de máscara, os proprietários devem medir a temperatura dos clientes e questioná-los sobre eventuais sintomas recentes. A limpeza e desinfeção dos equipamentos é uma das regras sagradas, tal como a organização das equipas maiores em turnos.
Luvas, máscaras e viseiras são obrigatórias para funcionários, ao passo que a distância mínima de dois metros entre pessoas deve ser garantida sempre que possível. O número de pessoas dentro do salão não poderá ultrapassar o rácio de dois clientes por cabeleireiro. Em espaços até 75 metros quadrados, o limite máximo de clientes é quatro — seis em áreas superiores a este valor e oito em salões com mais de 100 metros quadrados.
Em França, os cerca de 85 mil salões têm reabertura prevista para 11 de maio, quase dois meses depois de terem sido encerrados pela ordem de confinamento do presidente Macron. Uma proposta de medidas de segurança e higiene foi submetida ao governo pelo sindicato do setor, contudo continua a aguardar retorno. As limitações na lotação, a obrigatoriedade de reserva, o reforço da higienização e a proibição de servir cafés e revistas são as principais propostas.
Nos Estados Unidos, o estado da Georgia continua a ser uma referência, já que foi um dos primeiros a reabrir as atividades económicas. Cabeleireiros e barbeiros abriram na semana passada, mas com regras apertadas que incluem máscara, luvas, viseiras e batas obrigatórias para funcionários e o controlo de temperatura de empregados (com a recomendação para clientes também) — qualquer pessoa que exceda os 37 graus deve ser mandada para casa. Recomenda-se que cadeiras sejam plastificadas de modo a facilitar a desinfeção. O documento inclui vários avisos que não passam por medidas sanitárias, incluindo este: “Os salões não vão servir para convívio social”.
No Reino Unido, o veredito das autoridades de saúde é dramático. Fechados há cerca de um mês, cabeleireiros, barbeiros e salões de estética poderão ter de permanecer encerrados durante seis meses.