Numa mensagem ao país ao início da noite (20h de Madrid, 19h de Lisboa), o chefe do governo de Espanha, Pedro Sánchez, fez o anúncio que muitos espanhóis querem ouvir. “A partir de 2 de maio” Espanha vai começar a abrir “gradualmente” para uma “nova normalidade”. Contudo, a mensagem foi sempre de “prudência”, ressalvando que tudo pode ser cancelado. “Custou-nos demasiado chegar aqui”, diz o chefe espanhol.

Devemos ser muito prudentes, não dispomos de um manual infalível. Não há nenhum país do mundo que tenha conseguido voltar a esta nova normalidade. (…) Existem experiências, sim, mas de países com sistemas políticos e sociais diferentes”, afirmou também Sanchéz.

Para já, o que é certo é que na terça-feira o executivo espanhol aprovará esta estratégia que, “gradualmente”, vai dar maior mobilidade aos espanhóis. “Este [abertura] será seguida por uma nova uma semana depois (…) se a pandemia continuar numa direção positiva, a partir de 2 de maio poderão praticar desportos individualmente ou passear com a pessoa com quem vivem.”

No entanto, houve uma ideia que o governante foi repetindo sempre: a reabertura vai acontecer “se evolução da epidemia for favorável como está a ser até agora”. “A prudência e a unidade vão ser os nossos guias”, declarou. “Vamos fazer isso por etapas”, explicou também. Estas etapas referem-se à “abertura [gradual] de lojas, restaurantes, desportos, atividades religiosas”, entre outros negócios.

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Será o Ministério da Saúde que, nos próximos dias, e com base na avaliação que fizermos dos especialistas que estão a aconselhar-nos, que decidirá definitivamente se se adotará esta medida para praticar desporto e sair com a pessoa com quem se mora”, explicou Sanchéz.

De acordo com o político, os cidadãos vão ter “regras específicas” para saber o que poderão ou não fazer. Contudo, só na terça-feira, e depois de na próxima segunda se reunir com o responsáveis de saúde, é que será divulgado quais serão, juntamente com o plano. Para já, ficou confirmado que este vai prever esta abertura “gradual” e “cautelosa”, que decorrerá durante o mês de maio e que pode estender-se até junho.

Se, até agora, o principal indicador que o governo espanhol tenta controlar é o número de casos positivos diários, a partir de maio, com este plano para uma “nova normalidade”, haverá outro: a capacidade das unidades de saúde de cada região. Isto, porque, prevendo-se já a possibilidade de novos surtos, é preciso estar capacitado, afirmou Sánchez.

Não pode ser só esse critério [número de contágios diários]. A avaliação que temos de fazer é mais complexa. É preciso definir uma série de parâmetros objetivos para chegarmos à normalidade — uma normalidade que não vai ser como a que tínhamos antes.”

Entre os “critérios objetivos” estão as unidades de saúde, designadamente com cuidados intensivos. “Não arrisquemos o que alcançámos até agora e garantamos as capacidades necessárias para cada território em caso de possível surto”, salientou. Isto porque, ficam questões que Sanchéz assume não saber resolver: “Uma das questões fundamentais que teremos que incorporar nesta redução [de medidas de confinamento] é o controle das fronteiras internacionais. Este é um dos debates que estamos a ter”.

Ainda, assim, alertou: “Vamos ter de manter o distanciamento social e as medidas de higiene que temos aprendido”. E continuou: “Há países que optaram por dar uma resposta linear. Não vamos fazer isso. Vamos definir uma série de indicadores objetivos indiscutíveis à base dos quais os distintos territórios regressam à nova normalidade”.

Sánchez pede “um plano Marshall” europeu de reconstrução

Questionado sobre as previsões, nomeadamente do Fundo Monetário Internacional (FMI), sobre os impactos económicos do vírus em Espanha, Sánchez frisou que, nesta altura, é muito difícil fazer previsões precisas. “O que é evidente é que as consequências [económicas e sociais] são terríveis, são tremendas, na Europa e no mundo”.

Além disso, afirmou também: “A UE deve contribuir para um grande ‘plano Marshall’ de reconstrução (…) O importante é evitar o erro do confronto. (…) A nossa união é a força que pode nos fazer vencer o vírus (…) O único inimigo é o vírus, que tem ódio, fraudes e divisão como aliados”, salientou também.

Na terça feira [dia da aprovação do plano de reabertura], o que vamos fazer é melhorar este plano de escalada e vamos avaliar as necessidade estratégicas que é preciso e decidir que territórios e localidades vão passar a ter uma menor exigência de confinamento. É fundamental sermos conscientes de que não há nenhum território que está à margem do vírus”, afirmou.

“Temos de ser inteligentes como assumimos no quotidiano esta nova realidade”, disse, explicando que os cuidados terão de ser reforçados “até que encontremos uma cura”. E garantiu: “Não vamos deixar ninguém para trás. Temos estado a pôr em marcha medidas sociais e económicas para tratar de manter o tecido produtivo, o emprego criado nas empresas”.

Mesmo assim, não se vai olhar a despesas para combater o vírus: “Estamos a endividar-nos porque queremos salvar vidas. Estamos em guerra [contra o vírus] e tem de haver solidariedade”, referiu em resposta a uma crítica que o primeiro-ministro holandês fez às contas espanholas.