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José Fernandes

José Fernandes

Moedas cumpriu o seu último grande ato. A outra campanha começa dentro de momentos

No seu último comício, Moedas juntou algumas das figuras mais influentes da direita, fez e ouviu o derradeiro apelo ao voto. Depois das autárquicas, contados os votos, a disputa eleitoral será outra.

Em cima do palco do Centro de Congressos de Lisboa, depois de um discurso de levantar comícios, Paulo Rangel faz uma pausa no discurso para cumprimentar Carlos Moedas. “Para concluir, deixem-me só deixar aqui uma palavra pessoal: queria agradecer ao Carlos Moedas a disponibilidade, o espírito de serviço e a coragem que demonstrou nesta candidatura”, diz. Seria um dos momentos da tarde: Moedas aceitou ser o ticket de Rio em Lisboa e arriscou tudo, a carreira e o percurso político, numas eleições autárquicas altamente desfavoráveis; Rangel recusou ser a cara de Rio no Porto e prepara-se para arriscar tudo, a carreira e o percurso político, numas eleições internas de desfecho imprevisível.

Carlos Moedas entrou numa corrida onde tinha contra si quase todos os obstáculos possíveis: o natural favoritismo de Fernando Medina, os ventos favoráveis de um país que começa agora a reabrir e a receber dinheiro europeu, o desinteresse generalizado dos eleitores, a ascensão de dois partidos à direita, a desmobilização dos aparelhos partidários, as guerras internas do CDS, as disputas fratricidas no PSD, a contestação interna a Francisco Rodrigues dos Santos e, sobretudo, a contestação interna a Rui Rio.

Mesmo assim, Carlos Moedas aceitou entrar na corrida, reconhecido e elogiado como um dos melhores candidatos que a família de direita poderia apresentar para derrotar Fernando Medina. Hoje, e apesar das palavras de incentivo e confiança que se foram ouvindo ao longo dos últimos dias, todos os indícios apontam noutro sentido: o socialista pode repetir a vitória de 2017 e com uma distância considerável para o segundo lugar.

A confirmarem-se as piores expectativas — Moedas ficar aquém dos 31%, soma dos resultados de PSD e de CDS de há quatro anos, um mínimo olímpico para a candidatura — o resultado em Lisboa poderá ser usado para que os críticos de Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos alimentem a narrativa de que os dois partidos precisam de mudar.

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Tendo um resultado positivo ou mesmo vencendo as eleições, Moedas sairá reforçado e pode baralhar todas as contas dos que querem derrubar Rio e Rodrigues dos Santos. Aconteça o que acontecer, a direita voltará a entrar em convulsão.

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Na sexta-feira, dia de encerramento da campanha eleitoral, Moedas ainda terá três ações de campanha, incluindo a grande descida do Chiado, que servirá mais para efeitos cénicos do que para transmitir uma mensagem política substantiva. Esta quinta-feira, no entanto, Moedas cumpriu o seu último grande ato político como candidato à Câmara Municipal de Lisboa, juntando na mesma sala algumas das figuras mais influentes dos dois maiores partidos da direita.

Paulo Portas, Paulo Rangel, Nuno Morais Sarmento, Luís Marques Mendes, Paulo Mota Pinto, Marco António Costa ou Miguel Poiares Maduro, por exemplo, todos fizeram questão de estar ao lado de Carlos Moedas para a última demonstração de força e de grande união da direita, seguindo os exemplos anteriores de Manuela Ferreira Leite, Paula Teixeira da Cruz, Telmo Correia e Assunção Cristas.

Houve ausências, claro. Faltaram à fotografia de família os líderes de PSD e CDS. Rui Rio por estar nos Açores, território que lhe deu a única conquista eleitoral que tem no currículo enquanto líder do PSD e onde vai encerrar a campanha; e Francisco Rodrigues dos Santos por estar no Porto, onde a aliança com Rui Moreira continua a dar frutos a um partido em crise de resultados e com parca implantação local.

E faltou Pedro Passos Coelho, cujas notícias sobre o facto de não ter sido auscultado no processo de decisão de Carlos Moedas acabaram por marcar o arranque da candidatura do social-democrata. Desse episódio, contava aqui o Observador, não sobraram desconfortos, antipatias ou tensões. Antes pelo contrário: o antigo líder do PSD ficou satisfeito com a candidatura até porque entendia que se Carlos Moedas tinha ambições futuras dentro do partido, enfrentar Fernando Medina nesta corrida eleitoral poderia ser um bom teste e uma forma de desmistificar o rótulo de eterna esperança.

Os que estiveram ao lado de Moedas cumpriram o papel que lhes estava reservado. Paulo Rangel, um dos mais aplaudidos da noite, atirou-se com tudo ao “burocrata”, “prepotente”, “arrogante”, “sobranceiro”, “frio”, “distante” e “medroso” Medina, um “diretor-geral” que não serve para presidente de Câmara, desconhecido fora da Área Metropolitana, conivente com as redes de “clientelismo, promiscuidade e falta de transparência” que dominam a Câmara Municipal de Lisboa e com uma “gestão feita de controlo, de ameaça, de pressão, de intimidação e de aliciamento”.

Luís Marques Mendes, mais contido embora igualmente crítico, cumpriu igualmente o papel que lhe estava reservado. Moedas, um “homem de coragem e convicção”, é o único capaz de substituir a “arrogância” e “sobranceria” de uma gestão que nunca se soube nem quis impor ao Governo de António Costa. “Alternativa a Fernando Medina só há uma: Carlos Moedas e mais nenhuma.”

E Paulo Portas. Abrindo uma exceção na regra que auto-impôs de não falar sobre política nacional, o antigo líder democrata-cristão fez questão de falar aos jornalistas para formalizar um simbólico enterrar do machado de guerra e relativizar o papel secundário do CDS numa coligação que, por tradição, deveria ter sido o partido a liderar.

Mais importante, juntou-se ao coro de vozes que fazem por estes dias o apelo ao voto útil em Medina: “Ao fim de 14 anos de governação do mesmo partido a inovação e a disponibilidade para a mudança são coisas importantes. Carlos Moedas é a opção porque é o único que pode desalojar Fernando Medina”, disse Portas.

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Por fim, Carlos Moedas, que se despediu dos seus apoiantes com um longo discurso de 30 minutos, em que passou em revista todas as suas grandes propostas, revisitou as principais críticas à substância e ao estilo de Fernando Medina, desde a falta de credibilidade e ao uso da política baixa para atingir todos os fins, e onde se centrou no único discurso que o pode manter à tona — o discurso da vitória.

“Demos tudo por tudo, alma e coração, dei a minha vida por este projeto, e por isso vamos ganhar. Esta é a nossa oportunidade e não a podemos deixar passar. Se não mudarmos já, vamos ficar com este sistema instalado durante muitos anos. Vou lutar até ao fim da minha vida para que os políticos sejam diferentes. Tenho a certeza que vamos ganhar.”

Moedas cumpriu a sua parte e foi a votos. A partir de sexta-feira, pouco ou nada dependerá dele, sabendo que um mau resultado em Lisboa pode atrasar o seu percurso político e hipotecar as hipóteses de Rio de continuar à frente do PSD e também as de Francisco Rodrigues dos Santos, que impôs esta solução contra a vontade das estruturas.

Por ironia, o slogan de Carlos Moedas era “Novos Tempos”. Assim que se contarem os votos nas urnas, abrir-se-ão novos tempos à direita. A dúvida é saber se com os mesmos protagonistas ou outros.

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