895kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (D), recebe em audiência o presidente do Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro (E), no Palácio de Belém, em Lisboa, 23 de dezembro de 2022. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
i

Atentos aos sinais de Marcelo, os homens de Montenegro têm ordens para não reagir, nem alimentar qualquer guerra (pública ou privada) com o Presidente

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Atentos aos sinais de Marcelo, os homens de Montenegro têm ordens para não reagir, nem alimentar qualquer guerra (pública ou privada) com o Presidente

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Montenegro não compra guerra com Marcelo

Direção do PSD regista ataque do Presidente da República, mas não entrará na política palaciana de Belém. Objetivo é centrar comunicação do partido nas propostas concretas e evitar o ruído de Marcelo.

Gelo nos pulsos e não reagir a marcelices. Depois de tantos choques frontais com Marcelo Rebelo de Sousa, esta ideia tornou-se uma espécie de mantra na direção do PSD: é preciso evitar a todo o custo alimentar o bate-boca entre a São Caetano e Belém. Não por qualquer receio de afrontar o Presidente da República, insiste-se no PSD, mas antes para evitar o ruído que isso traz à mensagem.

Atentos aos sinais de Marcelo, os homens de Montenegro têm ordens para não reagir, nem alimentar qualquer guerra (pública ou privada) com o Presidente da República, garante ao Observador fonte próxima de Luís Montenegro.

Esta semana foi mais um exemplo disso mesmo. Quando os sociais-democratas tentavam marcar a semana com o seu próprio pacote de medidas para Habitação, Marcelo apareceu em público para dar um puxão de orelhas a Luís Montenegro e a Carlos Moedas a propósito das declarações de ambos sobre a imigração.

Se este último não resistiu em dizer que não aceitava “lições de ninguém” em matéria de imigração, Montenegro tentou matar o assunto de vez. “Não ouvi as declarações do Presidente da República, mas posso ter a certeza absoluta de que não se dirigiam a mim”, cortou o líder social-democrata.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na verdade, a direção social-democrata sabe perfeitamente que Marcelo Rebelo de Sousa se dirigia a Luís Montenegro. De resto, as declarações do Presidente da República causaram particular perplexidade no núcleo duro do líder social-democrata, que não aceita de todo ser associada uma agenda populista ou radical em matéria de imigração .

E foi exatamente isso que Marcelo sugeriu, quando veio comentar as palavras de Montenegro sobre imigração. “Declarações muito emocionais – alguns dirão mais populistas – feitas em cima de casos correm o risco de ser irracionais e de irem a reboque de posições mais emocionais que essas terão sempre mais sucesso em termos de captar a opinião pública. A cópia perde sempre para o original”, advertiu Marcelo, colando de forma óbvia Luís Montenegro à agenda de André Ventura e do Chega.

O tema “Chega” já tem trazido muitos amargos de boca à atual direção do PSD, que se vai mantendo fiel à estratégia traçada desde o minuto zero: insistir até à exaustão que as possíveis e futuras alianças à direita são um não-assunto e espera que jornalistas, comentadores e adversários políticos desistam por cansaço. Desta vez, no entanto, foi Marcelo a trazer o tema para agenda, sugerindo que o PSD queria ser cópia do Chega e logo num tema sensível como a imigração.

De resto, esta nem sequer é a primeira vez que Belém dá recados ao PSD sobre Chega. No Expresso, na edição de 3 de fevereiro, escrevia-se o seguinte: “A ambiguidade alimentada pelo discurso do PSD em relação ao Chega preocupa Marcelo. Na opinião do Presidente, Luís Montenegro já devia ter deixado claro que não fará acordos com o partido de André Ventura. Em Belém receia-se que, com o prolongamento da ambivalência, o PSD acabe por sofrer uma dupla perda de votos. Por um lado para o Chega, por outro para a Iniciativa Liberal, que sempre disse não estar disponível para entendimentos com Ventura”.

O mesmo semanário acrescentava ainda: “‘O PSD já devia ter arrumado esta questão. Assim, arrisca-se a perder para o Chega e para a IL e a abrir divisões no partido’, confirma-se na Presidência, onde os rumores de um eventual regresso de Passos Coelho se o partido falhar nas europeias são monitorizados de perto”.

Entre os mais destacados dirigentes do PSD, a convicção é de que entrar no jogo do Chefe de Estado só servirá para desviar as atenções: além de alimentar o lado mais palaciano da política e de evitar que o Governo seja chamado a prestar contas, torna também muito mais difícil ao partido marcar a agenda mediática e política com propostas concretas.

As ordens no PSD são para refrear as críticas (mesmo que privadas ou sob anonimato) a Marcelo Rebelo de Sousa, sob pena de alimentar um folhetim que em nada ajuda à consolidação do partido. E mesmo com Miguel Relvas a dar fogo à peça, na cúpula do PSD regista-se apenas o ataque, lamenta-se o episódio, mas ninguém arrisca fazer juízos sobre as verdadeiras intenções do Presidente da República. É seguir em frente. 

Miguel Relvas atira-se a Marcelo

Posição diferente teve Miguel Relvas, figura próxima da atual liderança do PSD, ainda que nem sempre em linha com Luís Montenegro. No seu habitual espaço de comentário na CNN, o antigo ministro atirou-se à jugular de Marcelo Rebelo de Sousa. “[Marcelo] tirou o fato de Presidente da República e vestiu o fato de comentador e atacou diretamente o presidente do PSD de uma forma inaceitável, e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa”, disse Relvas.

Já depois de ter recordado que Marcelo era “filho de uma elite do antigo regime”, logo tinha poucos pergaminhos para dar lições a pessoas como Carlos Moedas, o antigo ministro deixou ainda um aviso ao líder do PSD: “Se Montenegro quer ser primeiro-ministro, conviva pouco com o Presidente da República. Siga o seu caminho e as suas políticas”.

Aliás, para Relvas, este “ataque” de Marcelo a Moedas e Montenegro teve um único propósito: desviar as atenções mediáticas as conclusões da comissão independente que investigou os abusos sexuais cometidos por elementos da Igreja Católica.

“O Presidente da República teve um dia difícil. Sai o relatório da situação trágica – e vergonhosa – dos crimes dentro da Igreja e houve um jovem que disse ‘decidi falar porque vi o Presidente da República a querer desvalorizar este processo’. E o Presidente arranjou um clima de [querer atacar] o presidente do PSD e o presidente da CML”, sugeriu Miguel Relvas.

No passado, quando estava sob muita pressão a propósito dos abusos na Igreja, o Presidente da República já tinha feito declarações sobre o PSD que irritaram (e muito) a direção social-democrata. Na altura, Marcelo aproveitou a presença de Pedro Passos Coelho nas comemorações do centenário de Agustina Bessa Luís para lançar, nas entrelinhas, a candidatura presidencial do antigo primeiro-ministro, o que foi visto como um gesto desesperado para sacudir as críticas e criar um facto político.

“Quando o país devia estar a discutir o Orçamento do Estado, está a falar da candidatura presidencial de Passos Coelho. Infelizmente, o PSD tem de perceber que não pode contar com Marcelo. Vai continuar a fazer estes números”, desabafava então com o Observador um destacado dirigente do PSD.

Depois veio a defesa pública de Marcelo a António Costa à boleia das revelações do livro “O Governador” sobre a relação do socialista com Isabel dos Santos e também com o Banif.  “Já se tornou ridículo. Roça o non sense total. Parece que já tem saudades de ser Presidente da República e tem esta necessidade permanente de dizer que existe”, queixava-se um outro dirigente social-democrata.

A partir daí, no entanto, as ordens foram para refrear as críticas (mesmo que privadas ou sob anonimato) a Marcelo Rebelo de Sousa, sob pena de alimentar um folhetim que em nada ajudava à consolidação do partido. E mesmo com Miguel Relvas a dar fogo à peça, na cúpula do PSD regista-se apenas o ataque, lamenta-se o episódio, mas ninguém arrisca fazer juízos sobre as verdadeiras intenções do Presidente da República. É seguir em frente.

O Observador sabe, ainda assim, que para muitos na família social-democrata, sobretudo entre a linha mais passista do partido, este caso foi mais uma prova de que Marcelo nem sequer pode ser visto como um não aliado, um árbitro neutro que ora decide a favor de um, ora decide a favor de outro – Marcelo é mesmo um adversário à afirmação do PSD.

Socialistas aplaudem defesa de Marcelo, PSD irrita-se: “Já roça o nonsense total”

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.