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Entrevista ao deputado Serhiy Taruta e milionário ucraniano. A Rússia, a mando do seu presidente, Vladimir Putin, invadiu a Ucrânia no passado dia 24 de fevereiro de 2022. Kiev, Ucrânia, 18 de março de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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O ex-bilionário da Forbes que se reúne duas vezes por dia com os comandantes militares: "Putin vê que o Ocidente é medricas"

Serhiy Taruta chegou a ser o 488.º mais rico do mundo. Usa guarda-costas desde que em 2014 foi governador de Donetsk. Tem 50 familiares em Mariupol, mas não sabe se estão vivos. O Observador em Kiev.

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Um artigo do Guardian de 2014 tinha comparado fisicamente Serhiy Taruta a Woody Allen. Oito anos depois, as parecenças mantêm-se, tirando talvez o corte de cabelo, mais rígido. Aos 66 anos, casado e com duas filhas, já foi um dos homens mais ricos do mundo, depois de ter ficado com uma parte das empresas que dirigia no setor do aço, quando foram privatizadas. Já foi governador de Donetsk, a região mais tensa da Ucrânia, com mais pró-russos, e enfrentou grupos separatistas violentos que invadiram e tomaram posse do seu gabinete e o obrigaram a andar em permanência protegido por guarda-costas, que mantém até hoje, e que acompanharam todos os seus movimentos enquanto posava para o Observador, numa rua de Kiev, vestido com o casaco militar que usava nos tempos em que foi governador de Donetsk (tem patente militar equivalente à de capitão). Já foi presidente de um clube de futebol, que foi à falência. Já foi candidato presidencial, mas desistiu a favor de Yulia Tymoshenko, nas eleições de 2019 vencidas por Zelensky.

Ex-sócio e amigo de Rinat Akhmetov, o homem mais rico da Ucrânia (e dono do clube de futebol Shaktar Donetsk), Serhiy Taruta é agora deputado do Parlamento e um dos dois únicos civis que participam nas duas reuniões diárias que juntam os altos comandos militares para ajustar a estratégia de defesa de Kiev e resistir ao cerco russo.

Recebeu o Observador no escritório de um amigo, para uma entrevista que durou uma hora e 20 minutos. Preferiu falar em russo, apesar de se exprimir razoavelmente bem em inglês, o que acabou por fazer em alguns momentos em que ficou mais impaciente e quis atalhar o tempo da tradução.

Onde estava quando começou a guerra na manhã de 24 de Fevereiro?
Encontrava-me em Kiev, porque estávamos num período parlamentar e todos os deputados realizavam as suas funções, de acordo com os comités que cada um integra.

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Como é que percebeu que a guerra tinha começado?
Estava naquele momento a acompanhar alguns amigos no aeroporto, que começou a ser sobrevoado por um drone — e nesse momento evacuaram o aeroporto. Vi isso com os meus próprios olhos.

Qual foi a sua primeira reação? O que era necessário fazer? Pensou em pôr a sua família a salvo?
A minha família está em Kiev. Eu já tinha passado por este pesadelo em 2014 em Donetsk, na altura em que era o governador no Donbass. Fui governador durante o período mais perigoso. Portanto eu já sabia perfeitamente o que é a “guerra” e o que é a “Rússia”. Mas a 24 de fevereiro ainda não conseguíamos avaliar em que fase se encontrava esta guerra, pois toda a gente suspeitava que o ataque seria apenas na zona de confronto no Donbass e que não se iria expandir, muito menos que a Bielorrússia também participaria nesta guerra.

Como era o ambiente entre os deputados no dia 24 de Fevereiro no Parlamento?
A guerra é sempre assustadora. É o inesperado. São as vítimas. Obviamente que ninguém consegue encarar isso com calma. E nem todos possuem “nervos de aço”. Naquele momento ninguém compreendia a dimensão da guerra, porque em Donbass nós conseguíamos facilmente aguentar qualquer força inimiga.

Dirigiu um grande grupo empresarial. Quantos funcionários tinha nas suas  empresas na Ucrânia e que informação tem sobre quantos ficaram feridos ou morreram por causa da guerra?
Quando me tornei deputado, deixei de trabalhar na empresa. Antes existiam uns 70 mil funcionários a trabalhar para o grupo. No entanto, em 2014 ficaram apenas metade deles e, obviamente, o destino destas pessoas, principalmente as que estavam em Mariupol, é trágico. Nós tínhamos diferentes empresas em diferentes setores e cerca de 100 projetos, não apenas na Ucrânia, mas também na Polónia, Bulgária, Macedónia, África… Infelizmente, é difícil saber informações sobre os funcionários, porque muitos deles encontram-se em Mariupol.

Entrevista ao deputado Serhiy Taruta e milionário ucraniano. A Rússia, a mando do seu presidente, Vladimir Putin, invadiu a Ucrânia no passado dia 24 de fevereiro de 2022. Kiev, Ucrânia, 18 de março de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Taruta impacienta-se um pouco. Diz que preferia falar sobre a relação entre Putin e o Ocidente antes de ir a Mariupol, cidade a que tem uma grande ligação afetiva, como já se irá perceber. Na véspera tinha partilhado um post nas redes sociais a transmitir a informação de que ainda havia gente viva no meio dos escombros do teatro bombardeado na cidade.

“O meu irmão saiu de Mariupol ao quarto dia da guerra, mas ainda tenho lá 50 familiares”

Estando Mariupol sem internet, consegue receber informações sobre o que se passa na cidade?
Eu vivi em Mariupol durante 45 anos. Nasci, estudei e trabalhei lá. Fui administrador de uma das maiores empresas, portanto tenho ali mil conhecidos e parentes. Obviamente que tenho orgulho de quando conseguimos libertar e defender a cidade e da sua reconstrução e redesenvolvimento. É uma tragédia o que aconteceu agora no teatro e deve obrigar os líderes políticos a pensar nas pessoas e não nas suas carreiras. Encontravam-se cerca de 1300 mulheres com crianças no teatro que os russos bombardearam.

Ainda tem alguma casa em Mariupol?
Tenho lá a casa onde nasci e ela já foi ocupada pelos inimigos, porque fica na periferia de Mariupol, na zona de Navozovk. Ainda tenho lá muitos parentes, muitas outras pessoas próximas que considero família. Mas volta a acontecer-me o mesmo que em 2014, quando a minha casa em Donetsk foi ocupada pelos inimigos.

"Putin é muito mais assustador do que Hitler. Faz as coisas propositadamente. Por exemplo, em Mariupol, de acordo com as minhas contas, já morreram 30 a 50 mil civis, no mínimo. E todos os dias, enquanto os políticos pensam em como irão ajudar, milhares de corações ainda batem e gritam por ajuda. São pessoas que estão debaixo dos escombros ou escondidas nas caves e bunkers sem meios de sobrevivência. Anteriormente existiam aproximadamente 450 mil pessoas em Mariupol e agora, após o cerco, deve haver aproximadamente 300 mil."

Sabe se a casa está destruída?
Ninguém sabe. Temos de ter em conta que Mariupol está isolada do mundo há quase 18 dias. Mas as casas nós conseguimos reconstruir, as vidas é que não conseguimos recuperar. Eu tenho um ponto de vista não materialista e preocupo-me mais com a vida das pessoas.

Já lhe morreu algum amigo desde o dia 24 de fevereiro?
Obviamente que tenho muitos. E não sabemos quantos mais terei até ao final, porque lá não existe rede. São parentes, pessoas próximas. Primos, tios, sobrinhas, primas. São pessoas muito próximas. Parte da nossa família. Parte dos nossos amigos. Uma parte sabemos que morreu. Quanto à outra parte dessas pessoas não sabemos de nada, porque não as conseguimos contactar. Sabemos que algumas estão debaixo de destroços de habitações. De outros não sabemos nada, porque não temos rede e os russos estão a fazer tudo para que seja impossível alguém ligar e contar a verdade. Mas além de não terem rede de internet, também não têm eletricidade, nem comida, não têm nada. Esta era a estratégia dos russos, eles fizeram isto de forma propositada. É uma cidade simbólica para a Ucrânia. Tenho aproximadamente 50 pessoas da família em Mariupol. O meu irmão, no quarto dia de guerra, saiu de lá. Mas ainda tenho lá os meus primos, os meus tios e os meus sobrinhos.

“Todos os dias me reúno com os comandantes militares de manhã e à noite”

Como fizeram milhares de outros ucranianos, incluindo deputados, Serhiy Taruta também se juntou aos militares passando a ajudar na defesa territorial de Kiev, tendo acesso a um nível de decisão muito restrito.

Quais são exatamente as suas funções no âmbito da resposta militar ucraniana?
As minhas funções são ajudar a criar uma defesa que seja intransponível pela Rússia, aproveitando a experiência que ganhei na organização de Mariupol em 2014. Logo, a minha função não é andar a correr com a arma, a minha função é ajudar a organização militar a criar um sistema de defesa do território mais adequado do ponto de vista estratégico.

Reúne-se regularmente com os militares?
Sim, todos os dias me reúno com os comandantes militares responsáveis pela defesa de manhã e à noite, para resolver questões relativamente à criação de um sistema que o inimigo não consiga vencer. O facto de na guerra de 2014 já ter lidado com praticamente todos estes comandantes faz com que o contacto pessoal ajude a resolver questões operacionais.

Quantas pessoas aproximadamente se encontram envolvidas nesse círculo restrito?
A responsabilidade pela defesa de Kiev é do Comandante-Chefe das Forças Armadas Terrestres, ele é o responsável pela organização militar. Toda a estrutura terrestre, incluindo até os próprios polícias, se encontra sob a sua alçada.

Essas duas reuniões diárias são online?
Não, realizam-se pessoalmente, e juntam-se cerca de 20 generais, responsáveis pela organização de todas as estruturas militares terrestres. De manhã, também se junta o Supervisor da Administração Militar de Kiev.

Existem pessoas que não são militares nesse círculo restrito?
Além de mim, apenas mais um deputado. É do Comité de Defesa, mas não o posso nomear sem a permissão dele.

"O que vê Putin? Putin vê que o Ocidente é medricas. Os líderes do Ocidente são medricas. Ele está continuamente a assustá-los com a guerra nuclear. E eles continuam a ser cúmplices do crime que ele está a cometer."

Foi convidado para essas reuniões pelos comandantes militares?
Eu voluntariei-me desde o primeiro dia de guerra. Encontro-me lá a tentar ajudar ao máximo, baseando-me na minha experiência de 2014, para ajudar a criar rapidamente uma defesa eficaz de Kiev e, em geral, a criação de novas estruturas que irão ajudar-nos a ser muito mais fortes que o exército russo.

Acha que em Kiev não se irá repetir a mesma situação que em Mariupol?
Acho. Se não tivessem cercado Mariupol, os russos nunca teriam conseguido dominar a cidade. Se os líderes dos países ocidentais não fossem medricas, podendo dizer-se que estavam a ajudar silenciosamente Putin, Mariupol nunca teria sido conquistada pelo exército russo. O que Putin está a fazer não é apenas culpa dele, mas também do Ocidente que o autoriza a fazer isto. Eles são testemunhas silenciosas da destruição do povo civil ucraniano.

Entrevista ao deputado Serhiy Taruta e milionário ucraniano. A Rússia, a mando do seu presidente, Vladimir Putin, invadiu a Ucrânia no passado dia 24 de fevereiro de 2022. Kiev, Ucrânia, 18 de março de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR Entrevista ao deputado Serhiy Taruta e milionário ucraniano. A Rússia, a mando do seu presidente, Vladimir Putin, invadiu a Ucrânia no passado dia 24 de fevereiro de 2022. Kiev, Ucrânia, 18 de março de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O casaco militar dos tempos em que foi governador de Donetsk, com o seu nome e o posto de capitão

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“O sinal que o presidente americano e a NATO deram a Putin foi este: ‘Tu podes fazer o que quiseres’”

Serhiy Taruta entra finalmente na parte da entrevista que mais aguardava: a tentativa de levar os países ocidentais a adoptar medidas mais firmes contra Putin, endurecendo as sanções contra os maiores bancos russos e alargando-as a grandes parceiros económicos russos, como a Arménia e o Cazaquistão.

O ex-bilionário também pede ao Ocidente medidas mais eficazes na defesa da Ucrânia: acha que deviam ser muito mais generosos na disponibilização do material de proteção dos ucranianos, como coletes e capacetes. E insiste na necessidade de fornecerem meios que permitam controlar melhor o espaço aéreo ucraniano e ajudar a travar os bombardeamentos aéreos russos, que continuam a ser uma das maiores ameaças nesta guerra.

Insiste que Putin não declarou apenas guerra à Ucrânia, mas a toda a Europa. E lança críticas a todos os principais líderes que, apesar da anexação da Crimeia em 2014, “continuaram a procurar agradar a Putin e a tentar fazer negócios com ele na Rússia”.

Quais são os principais erros que aponta aos países ocidentais na reação a esta guerra?
Quando o Presidente americano e a NATO afirmaram que não iriam combater, qual foi o sinal que deram a Putin? Foi este: “Tu podes fazer o que quiseres”. Mais valia não terem dito nada. O silêncio teria sido mais adequado. O segundo erro trágico foi quando eles decidiram, de acordo com os seus próprios interesses, fazer “meias” sanções.

Quais são as sanções que acha que faltam?
Elas deveriam ter sido feitas logo imediatamente, não gradualmente. Colocaram-se na posição confortável de ir aplicando as sanções progressivamente, só para mostrar que estão a reagir a uma guerra na Europa, sendo que a Ucrânia é geograficamente o centro da Europa, que pode dar origem a uma guerra mundial. 99% dos ucranianos acham que foram traídos pelo Ocidente. Nós estamos a lutar pela independência, pela liberdade, pela nossa escolha. E estes são os valores de que o Ocidente está sempre a falar.

O que acha que devia ter sido feito?
No segundo dia teria sido necessário bloquear completamente todas as relações económico-financeiras com a Rússia. E ainda por cima elas continuam bloqueadas apenas parcialmente. O que vê Putin? Putin vê que o Ocidente é medricas. Os líderes do Ocidente são medricas. Ele está continuamente a assustá-los com a guerra nuclear. E eles continuam a ser cúmplices do crime que ele está a cometer.

Reconhece que os líderes dos três países que vieram até Kiev reunir-se com Zelensky mostraram coragem? E que tem havido medidas excecionais em vários países para o acolhimento de refugiados ucranianos…
Obviamente que é importante, temos mais de 1 milhão de pessoas refugiadas. Porém, se eles [líderes dos países ocidentais] nos primeiros dias de guerra tivessem ajudado de forma mais eficaz, não estariam lá agora esses milhões de refugiados. Portanto, este número tão grande também é da responsabilidade deles. Nos primeiros dias de guerra nós mostrámos que efetivamente conseguimos lutar, apesar de eles terem muitas vezes superioridade no armamento. Contra isso nós conseguimos lutar, o nosso único problema é o céu.

Não tem receio que se os países ocidentais entrarem na guerra, Putin possa de facto utilizar as armas nucleares?
Se Putin quiser utilizar armas nucleares, ele irá utilizá-las. Quando em 1939 os países ocidentais pensavam que conseguiriam lidar com Hitler e cada um pensava apenas em si próprio, todo o mundo acabou por ser envolvido na guerra, morrendo 40 milhões de pessoas. Agora a situação é idêntica. Oiçam o discurso dos líderes russos, que dizem que não irão parar na Ucrânia. E se, de facto, a Rússia utilizar armas nucleares, a Europa irá sofrer também. A tomada da central nuclear de Chernobyl é uma chantagem não apenas para a Ucrânia, mas também para toda a Europa e para todo o mundo.

Como ex-governador de Donetsk, com a sua experiência a lidar com os russos em 2014, como é que avalia a estratégia de Putin nesta guerra?
Putin é muito mais assustador do que Hitler. Faz as coisas propositadamente. Por exemplo, em Mariupol, de acordo com as minhas contas, já morreram 30 a 50 mil civis. E todos os dias, enquanto os políticos pensam em como irão ajudar, milhares de corações ainda batem e gritam por ajuda. São pessoas que estão debaixo dos escombros ou escondidas nas caves e bunkers sem meios de sobrevivência. Anteriormente existiam aproximadamente 450 mil pessoas em Mariupol e agora, após o cerco, deve haver aproximadamente 300 mil. Isto são as minhas contas, poderão não ser rigorosas, mas calculo que restem umas 300 mil pessoas. 90% das habitações estão destruídas e já estão há 20 dias sem acesso a condições básicas de vida. Ainda por cima, nos primeiros dias de guerra, os russos bombardearam os maiores supermercados. Também destruíram os serviços sociais que poderiam ajudar as pessoas.  E pelos vistos isso ainda era pouco para eles, portanto, começaram a bombardear hospitais. Hoje não existe em Mariupol um único hospital, que ainda poderia ajudar as pessoas. E eles fizeram isto propositadamente, porque o céu está aberto e diariamente 25 a 30 aviões sobrevoam e bombardeiam Mariupol, com bombas de 500 kg. E continuam a fazer isto porque o mundo está calado e nós não temos meios para derrubar os aviões.

Entrevista ao deputado Serhiy Taruta e milionário ucraniano. A Rússia, a mando do seu presidente, Vladimir Putin, invadiu a Ucrânia no passado dia 24 de fevereiro de 2022. Kiev, Ucrânia, 18 de março de 2022. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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“Tinha muitas divergências em relação a Zelensky, mas essas questões devem ficar no passado”

Taruta não votou em Zelensky nas presidenciais de 2019. Aliás, chegou a ser candidato presidencial e o seu nome ficou no boletim de voto, mas antes das eleições apelou ao voto na candidata Yulia Tymoshenko, antiga primeira-ministra em 2005 e também entre 2007 e 2010, que obteve apenas 13% dos votos na primeira volta, contra os 30% de Zelensky. Mas o deputado acha que agora não é tempo de tratar de política e que a avaliação deve ser feita no fim da guerra.

Já se encontrou com o Presidente Zelensky?
O presidente tem as suas funções e eu tenho as minhas. A função dele agora é convencer o mundo que eles não devem ser desumanos, nós não precisamos de pena, precisamos de ajuda real. E a minha função é ajudar de forma a que Kiev seja intocável. Porque todas aquelas pessoas que passaram por isto em 2014 sabem a estratégia de Putin e como ajudar a reagir. Cada um de nós agora é muito importante para a criação de uma defesa coletiva.

Como avalia a prestação de Zelensky até agora?
Eu não votei nele. Antes tinha muitas divergências em relação a ele. No entanto, todas essas questões devem agora ficar no passado. Deve existir uma união generalizada de todos os ucranianos, incluindo no meio político. Após a guerra, tiraremos as conclusões, não durante. Agora não devemos pensar na próxima campanha eleitoral. Devemos concentrar-nos na vitória e na expulsão de todos os militares russos que se encontram em território ucraniano. Porque, se pensarmos nas eleições, iremos perder.

Quais são as suas previsões para a evolução da guerra nos próximos dias? Teme bombardeamentos mais intensos em Kiev?
No que toca à intensidade dos ataques, depende do Ocidente, e do tempo que ficar a pensar se nos fornece o equipamento necessário para conseguirmos lutar contra os mísseis, que não são lançados do território ucraniano, mas sim da Rússia, da Bielorrússia e da Crimeia. A diferença entre Mariupol e Kiev é que aqui [na capital] temos um sistema para lutar contra os ataques aéreos e conseguimos derrubar praticamente todos. E os russos têm medo. Conseguimos neutralizar 80% dos rockets que são disparados contra Kiev. O importante é não deixar que eles fechem o cerco a Kiev, ao ponto de começarem a atacar-nos com mísseis grad.

“Tudo o que tenho gasto nisto. E arrisco a minha própria vida”

A fortuna pessoal de Taruta é uma questão mais sensível e em relação à qual se mostra mais relutante a responder. O agora deputado deixou de aparecer na lista dos mais ricos da Forbes em 2008.

Ainda se considera um empresário?
Obviamente que as skills que obtive e que foram fundamentais para conseguir criar uma empresa desde o zero com 70 mil pessoas em todo o mundo também são importantes agora para ajudar na defesa contra o inimigo.

É rigoroso dizer que é um bilionário?
Isso já está muito no passado. Tudo aquilo que eu e o meu irmão tínhamos investimos na defesa de Mariupol, na defesa do Donbass em 2014. Naquela altura as fábricas foram ocupadas e além disso eu possuía sócios russos, nomeadamente um banco russo, que confiscou todas as minhas contas bancárias. A Forbes contabilizava a capitalização do negócio, a partir dos valores que se encontravam nas contas, mas eu reinvestia sempre no desenvolvimento do país.

Gasta dinheiro da sua fortuna a investir no financiamento das necessidades da guerra?
Sim, tudo o que tenho gasto nisto. E arrisco a minha própria vida para fazer o que estou a fazer. Tal como fiz em 2014, quando todos os dias dois carros com elementos das Forças Especiais russas tentavam raptar-me ou matar-me. Agora todos aqueles que se encontram em Kiev estão em risco: não sabemos o que nos espera. Aqui ninguém se sente seguro. Ninguém. Nunca se sabe quando e de onde vem a próxima bomba.

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