José Manuel Badalo não visita os Estados Unidos da América há mais de 14 anos, mas isto não o impediu de ter registado o melhor desempenho como gestor de fundos investindo em ações norte-americanas. O BPI América D, que o gestor conduz a partir dos escritórios da BPI Gestão de Activos em Lisboa, ganhou 23,2% em 2014. Ficou à frente na lista de 200 fundos portugueses com mais de um ano. A rentabilidade média destes fundos foi de 1,6%.
“Estamos aqui do outro lado do mundo e, por isso, não temos nenhuma vantagem em fazer uma análise tradicional”, explica José Manuel Badalo. Na indústria dos fundos de investimento, é normal os gestores visitarem as empresas que avaliam e nas quais, eventualmente, investem. No BPI América não é assim. “Optámos pela abordagem quantitativa.”
A equipa da BPI Gestão de Activos converteu em filtros algumas regras que os seus analistas costumavam seguir para escolher as melhores ações. “Temos agora cerca de 50 filtros que acompanhamos diariamente”, revela o gestor. Através de carteiras virtuais, os gestores testam os filtros que melhor funcionam e, posteriormente, aplicam as melhores fórmulas à carteira de ações do BPI América.
“O que tem funcionado melhor são os filtros dos dividendos: empresas que têm dividendos altos, que não falham pagamentos de dividendos, empresas que não se têm endividado para pagar dividendos e com crescimento de resultados sustentável, por exemplo”, conta José Manuel Badalo.
Sem se afastar do índice de referência
Quando selecionam novas ações para a carteira, o que acontece normalmente uma vez por trimestre, José Manuel Badalo tem uma limitação autoimposta: não se pode afastar muito da composição do Standard & Poor’s 500, o índice de ações norte-americanas mais popular. E, quando se distancia do índice, é porque os filtros apontam nesse sentido.
Em 2014, investiu menos do que o índice no setor da energia e das finanças, o que se revelou positivo, em particular devido à queda do petróleo. No final do ano, a maior aposta do BPI América era a Staples, a cadeia retalhista de material de escritório também presente em Portugal.
“A Staples, que possui um peso de cerca de 3% na carteira e representa uma das grandes apostas ativas do fundo, foi o título que mais subiu no mês [de dezembro], após registar ganhos de 33,7%. Para além dos bons resultados do terceiro trimestre apresentados no final de novembro, as grandes expectativas de uma fusão entre as duas maiores cadeias americanas em fornecimento de material de escritório, Staples e Office Depot, impulsionaram a subida da sua cotação, tendo em conta as potenciais sinergias e redução de custos resultantes da fusão”, lê-se no relatório mensal do BPI América dirigido aos subscritores do fundo.
América também em euros
O BPI América D é o fundo principal de ações norte-americanas gerido por José Manuel Badalo, mas os investidores que não querem correr risco cambial podem selecionar o BPI América E. Este segundo fundo replica o primeiro e aplica-lhe uma cobertura cambial. Em 2014, como o dólar teve um movimento favorável, o BPI América E teve um desempenho inferior, de 7,6%.
José Manuel Badalo prefere a versão em dólares. “A exposição ao dólar faz sentido a médio e longo prazo. É mais um fator de diversificação para o investidor europeu”, justifica. A BPI Gestão de Activos gere outro fundo de ações norte-americanas, o BPI America R, mas está registado no Luxemburgo. Rendeu 28,3% em 2014, o que se reduz para 20,4% depois de aplicar uma tributação de 28%.
Os investidores também preferem a versão D à E. O dinheiro aplicado no fundo com cobertura cambial não chega aos seis milhões de euros, enquanto a classe D ultrapassa 28 milhões de euros.
Além do Banco BPI, o BPI América D é comercializado pelo ActivoBank, Banco Best, Banco Big e Banco Invest. O BPI América E é exclusivo do Banco BPI. O BPI America R é distribuído pelo Banco Best.
Concorrência próxima
O Millennium Acções América, o Santander Acções América e o Caixagest Ações EUA tiveram desempenhos próximos do BPI América D em 2014: 21,9%, 21,1% e 20,1%, respetivamente. O Espírito Santo Acções América, que também pode fazer cobertura cambial, rendeu 15,2% no ano passado.
Quando se alarga o período de análise, não é o BPI América D que lidera os ganhos dos fundos portugueses que investem nos EUA. O Caixagest Ações EUA aparece frequentemente no topo. Nos últimos cinco anos, por exemplo, o fundo gerido no seio da Caixa Geral de Depósitos ganhou 14,4% por ano, enquanto o BPI América D rendeu 11,9%. No entanto, José Manuel Badalo lidera a gestão do BPI América há apenas dois anos.
A concorrência não se resume aos fundos geridos em Portugal. Muitos bancos portugueses comercializam fundos estrangeiros que também investem na América do norte e que, por isso, são alternativas ao BPI América.
Entre os 177 fundos de ações norte-americanas distribuídos no retalho em Portugal, incluindo produtos portugueses e estrangeiros, o BPI América fica na terceira posição dos fundos mais rentáveis em 2014. À frente colocam-se o Fidelity America (na classe A em dólares e em euros e na classe E em euros) e o Franklin US Focus (versão A em dólares). Renderam entre 23,3% e 24,2%, mesmo depois de descontar 28% por conta de imposto sobre o rendimento. ActivoBank, Banco Best, Banco Big, Banco Invest, Barclays e Deutsche Bank são as entidades que os comercializam.