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Há mais de dez anos que, de tempos a tempos, vão aparecendo na imprensa, com descrições faustosas de banquetes invariavelmente regados a champanhe Moët & Chandon e servidos em luxuosos palácios ou casas com piscina, a que supostamente se seguem noites de muito sexo, sempre de máscara veneziana a cobrir o rosto. Conhecidas como festas Purilia, organizadas por uma pretensa empresa com o mesmo nome, têm sido apresentadas como uma experiência exclusiva, apenas ao alcance de um grupo muito seleto de membros de uma comunidade a que só é possível aceder mediante o pagamento de uma joia de cerca de dois mil euros por casal — sendo que, depois disso, ainda é preciso passar por um processo de seleção (não é garantida a entrada, apesar do pagamento da inscrição) — e gastar ainda mais dinheiro. Por casal, cada festa pode custar em média 1.500 euros, explicou em julho ao Observador o fundador da empresa, durante uma conversa mantida ao longo de vários dias, sempre através do WhatsApp, apenas por mensagens escritas.
Problema: não há notícia de que alguém, tirando aqueles que dizem chamar-se Ricardo Champalimaud e Eva Lee, o casal que há dez anos tem dado nome — mas não rosto nem voz — à Purilia, alguma vez tenha mesmo marcado presença em alguma destas festas, inspiradas em “Eyes Wide Shut”, o clássico de Stanley Kubrick que em 1999 deixou Tom Cruise e Nicole Kidman prontos para o divórcio.
Apesar de o organizador ter garantido ao Observador que estas “festas orgias” já decorreram em “casas de época, palácios, iates e suites”, também não há registo de qualquer localização concreta associada aos eventos — sendo que, antes de acontecerem, os interessados só sabem em que zona eles vão ter lugar no país (ou fora dele, já que de acordo com o responsável, a Purilia ter-se-á expandido entretanto para outras cidades, como Dubai, Monte Carlo, São Paulo, Paris ou Milão). “O local exato será enviado no próprio dia através de SMS entre as 12h e as 14 horas. O evento terá início por volta das 22h”, pode ler-se num dos e-mails enviados a um dos membros da suposta comunidade a que o Observador teve acesso.
“O secretismo é normal mas para fora do grupo, não dentro da comunidade. Eu e a minha mulher fazemos parte da comunidade [swinger] há uns 20 anos, já fomos a muitas festas, inclusivamente em Londres e em Barcelona, e nunca tínhamos visto nada assim”, revela ao Observador um empresário de Cascais, casado e com filhos, na casa dos 40 anos, que não quis ser identificado.
“Antes das festas, o normal até é que se criem grupos com as pessoas que vão participar. Começamos logo a falar e a trocar fotografias. Ali não, é demasiado secretismo. Acho que estas festas não existem. É muito estranho conhecermos tanta gente da comunidade e nunca ninguém ter ido. Ou as festas não existem, ou só são frequentadas por pessoas de fora do meio — o que também não faz muito sentido”, argumenta o empresário, em tom de voz baixo, no canto mais discreto de uma esplanada virada para o mar, no concelho onde vive.
Membros ativos da comunidade SDC (Swingers Date Club, uma espécie de rede social online para troca de casais), foi através da Internet que este empresário e a mulher descobriram a Purilia, no início de 2014. Na altura, a leitura de várias reportagens publicadas na imprensa nacional e replicadas no site da empresa — a que nunca chegou a juntar-se o trabalho que o Observador fez durante o verão passado, sobre uma festa de sexo em plena pandemia que supostamente iria decorrer na zona da Comporta, com testes Covid a juntarem-se às ostras e ao champanhe do costume —, deu-lhes o empurrão que faltava.
A meio de fevereiro desse ano, através do e-mail que costumam usar para os contactos com os membros da comunidade SDC, escreveram para a Purilia e explicaram que queriam ir a uma festa. No próprio dia, receberam resposta: para poderem inscrever-se na comunidade só tinham de fazer o pagamento de um “feed” (sic) de 995 euros por casal, descontáveis em parcelas de 25% nas festas em que viessem a participar, e de enviar algumas fotografias. “Podemos avançar que o ambiente criado e os membros selecionados e acreditados para estarem presentes nos nossos eventos e ou atividades pertencem a uma classe social média-alta, acabando em um ambiente de glamour, luxúria e muito sexo”, detalhava o email.
Foi o que fizeram: primeiro enviaram as fotografias — ele de óculos de sol e copo de vinho em brinde; ela apanhada desprevenida num momento do dia a dia; os dois bem-dispostos e sentados num muro, a meio de uma visita àquilo que parece ser um parque de diversões. A seguir, no dia 6 de março, fizeram a transferência do valor combinado para o número de conta, na altura ainda do Banco Espírito Santo, indicado no e-mail assinado por Eva Lee.
Depois, passaram à fase seguinte: era preciso marcar uma reunião presencial com o staff da Purilia e fazer uma sessão fotográfica, obrigatória para novos membros. Disseram que sim a tudo. Ao final da tarde do dia 15 de março encontraram-se no bar do Hotel Fonte Cruz, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, com uma mulher jovem e bonita, que se apresentou apenas como “Liliana”, e lhes explicou como funcionava a comunidade e o que podiam esperar das festas — e da sessão a que teriam de se submeter em breve.
Quando, no dia 5 de junho, entraram finalmente no Hotel DoubleTree by Hilton, na zona de Picoas, para tirarem as fotografias, já tinham feito outra transferência, de 1.536,25 euros, para garantirem a entrada na festa “VipRoom Eyes Wide Shut Summer Edition” que ia acontecer daí a apenas dois dias algures na zona da Comporta. Como combinado no primeiro email de todos, tiveram um desconto sobre o preço tabelado por casal — 1.785 euros — mas, em vez de 25%, apenas de 14%. “Em Barcelona chegámos a pagar 2.400 por um evento, mas foram três dias em grandes hotéis, e era muita gente. Isto teoricamente era muito superior, pelo menos em termos de organização, da comida e da bebida”, recorda o empresário, seis anos depois, ao Observador.
“Encontrámo-nos com um fotógrafo e um assistente, no bar do hotel, e fomos para um quarto que tinham reservado. Acho que havia vários casais com sessões marcadas para aquele dia, mas nós não vimos ninguém. Demorou uma hora e meia talvez… estávamos vestidos para a festa e levámos as máscaras, como tinham pedido. Fizemos algumas posições, estivemos envolvidos os dois como casal, e eles fotografaram. Não sei se foram feitos vídeos ou não, já não me recordo. Claro que há sempre algum receio, mas teoricamente aquilo era uma coisa… confiei na imprensa. Fiz tudo o que nos pediram”, revela o empresário, que nunca chegou a ver o resultado da ousada sessão fotográfica. Nem a ir à festa da Comporta: “Como supostamente ia estar mau tempo, cancelaram. E acho que até choveu mesmo, mas não sei se isso será sequer justificação; nós já estivemos em festas em que esteve mau tempo as coisas mudaram-se, não foram canceladas”.
Apesar de terem continuado a tentar durante os quatro meses seguintes, o empresário e a mulher acabaram por nunca conseguir ir a uma festa da Purilia. Apesar de o terem exigido, também nunca receberam o dinheiro de volta.
Quase 3 mil euros gastos para ir a zero festas
Primeiro houve várias datas possíveis, que por azar calharam sempre em alturas em que um dos membros do casal estava fora do país, em viagem de trabalho. Depois, quando finalmente conseguiram conciliar agendas e enviaram um email a dizer que tinham disponibilidade para irem à “Purilia Private Intimiss” marcada para o 25 de outubro seguinte, foram surpreendidos por mais um pedido de dinheiro: o custo da festa era de 1.998,95 euros por casal. Assim que o valor fosse liquidado teriam presença assegurada.
Depois de várias trocas de emails, em que a Purilia reconheceu o erro mas recusou fazer o desconto previamente acordado de 25%, o casal fez as contas ao que já tinha pago e ainda transferiu mais 313,45 euros para a conta da empresa. Quando Eva Lee respondeu a dizer que a matemática não estava certa e que faltava acrescentar uma taxa extra de mais 50%, por se terem inscrito na festa já fora de prazo, foi o fim: “Foi quando nos desentendemos, eu disse que não lhes punha mais dinheiro nas mãos e exigi a devolução do dinheiro e das fotografias. Nunca mais me responderam. Mas continuamos a receber os emails a avisar sempre que há uma nova festa”, revela, com um sorriso.
Não foi de ânimo leve que, depois de conversarem com outras pessoas da comunidade swinger, que lhes contaram histórias de outros casais a quem tinha acontecido o mesmo, o empresário e a mulher decidiram apresentar queixa contra a Purilia. Do processo, que deu entrada na Polícia Judiciária de Setúbal a 1 de dezembro desse mesmo ano, 2014, consta essa informação — “O queixoso acrescentou que conhece pelo menos mais três casais na sua situação, mas que pelo melindre da questão optaram por não denunciar os factos às autoridades”.
Ouvido uma única vez, mais de meio ano depois, no dia 14 de julho 2015, já depois de o caso ter sido passado para a PJ de Lisboa, o empresário de Cascais, que pagou quase 3 mil euros por festas a que nunca conseguiu ir, soube no final do ano seguinte que o processo tinha sido arquivado. De acordo com o despacho, assinado a 27 de setembro de 2016 pela procuradora-adjunta Joana César de Campos, o caso foi encerrado por não terem sido “reunidos indícios suficientes da prática do crime de burla”, apenas de incumprimento de contrato, situação que, por não configurar crime, deve ser resolvida em foro cível.
De acordo com a procuradora, apesar de o empresário ter pago por um serviço de que nunca conseguiu usufruir e por muito que todas as tentativas que fez para que o dinheiro lhe fosse devolvido tenham sido infrutíferas, não tendo chegado a receber sequer resposta, os representantes da Purilia não terão agido de forma “astuciosa ou enganosa” com o objetivo primordial de o prejudicarem e de obterem para si mesmos “um enriquecimento ilegítimo”.
O Observador consultou o processo e percebeu que, para além do empresário, mais ninguém chegou a ser ouvido. Às sugestões do inspetor da PJ responsável pelo caso à autoridade judicial competente para que fossem solicitados ao banco todos os elementos relativos à identificação do titular da conta para onde foram feitas as transferências de dinheiro, bem como os respetivos extratos entre os dias 15 de fevereiro de 2014 e 30 de novembro de 2014, também não foi dado qualquer seguimento. O mesmo aconteceu com o pedido que a PJ tentou que fosse feito à operadora a que pertence o número de telemóvel pré-pago associado à Purilia, para que revelasse todos os códigos de carregamento e a conta através da qual são feitos, bem como o nome do seu titular.
Apesar de um outro casal ter espontaneamente escrito ao Observador — durante este verão e depois da publicação da reportagem sobre a festa de sexo que iria ter local na Comporta — festa essa que a GNR local tentou interromper mas não conseguiu sequer localizar —, também a garantir ter sido lesado pela Purilia; e de vários outros membros da comunidade swinger assegurarem que há outras pessoas com relatos idênticos, não há registo de qualquer outra queixa formal apresentada contra a empresa.
“Para entrar tínhamos de enviar umas fotografias sensuais e pagar a joia, que depois seria deduzida nas futuras festas, penso que foram 2.500 euros. Ansiosos pela primeira festa que tão bem vendeu o Ricardo, mas nada, nunca conseguimos ir a festa nenhuma, pediam-nos sempre mais dinheiro para ir a uma festa privada para a qual a joia não servia, passaram mais de dois anos e não tivemos nenhuma festa”, denunciou, através de um e-mail assinado sob pseudónimo, este segundo casal que, apesar da insistência do Observador, não se disponibilizou para prestar mais esclarecimentos. “Não conhecemos ninguém na comunidade que tenha ido a uma festa da Purilia e muitas pessoas dizem que é um esquema, pois ninguém se vai queixar de uma burla numa comunidade que preza o anonimato”, foi tudo quanto adiantaram.
“Claro que, dado o tema, as pessoas têm receio de se expor. E claro que o facto de eles terem fotografias nossas pode ser usado como meio de chantagem, é lógico que se pensa duas vezes. Mas, no nosso caso, nunca aconteceu”, concede o empresário de Cascais que tentou, sem sucesso, literalmente desmascarar e responsabilizar criminalmente as pessoas por trás da Purilia.
Lisboa, Champalimaud ou nenhum dos dois? Quem é o fundador da Purilia?
Quando as primeiras reportagens sobre a Purilia começaram a aparecer na imprensa portuguesa, há cerca de uma década, os seus fundadores eram apresentados como Paula e Ricardo Lisboa, um casal viajado que tinha resolvido colmatar em Lisboa uma lacuna que só conseguia preencher lá fora e criara a exclusiva comunidade a que pertenceriam figuras da mais alta sociedade — inclusivamente públicas.
Pouco tempo depois, pelo menos nas revistas e nos jornais, os interlocutores da Purilia passaram a ser outros: Eva Lee e Ricardo Champalimaud. Ou terão mudado apenas de nome: num dos e-mails enviados ao casal de Cascais que acabou a apresentar queixa por burla contra a Purilia, Eva Lee explicava que a pessoa responsável pela sua entrada na comunidade, o “mentor” que lhes tinha sido “atribuído”, era “o Ricardo Lisboa, 38 anos, 1,70, 65 Kg”. Porém, uns e-mails à frente, o seu interlocutor já tinha passado a ser outro: Ricardo Champalimaud — o mesmo nome próprio, o mesmo número de telemóvel, um apelido bem mais condizente com os adjetivos que utilizavam para publicitar os eventos que alegadamente organizavam.
Seguido no Facebook por quase seis mil pessoas, Ricardo Champalimaud, da Purilia — “figura pública” é o que aparece naquela rede social sob o seu nome —, tem também uma conta pessoal, com fotografias provocantes tiradas de bancos de imagem, e inúmeros amigos que não fazem ideia de quem ele realmente é. Contactadas pelo Observador, várias pessoas explicaram que, ou estavam enganadas relativamente à identidade da pessoa em causa, ou achavam que era amigo de amigos, ou tinham aceite pedidos de amizade sem conhecer sequer o nome ou quem estaria do outro lado — nenhuma disse efetiva e pessoalmente conhecer Ricardo Champalimaud.
Mais: o Observador sabe que na família Champalimaud, aliás “incomodada” pela utilização do nome, que considera abusiva, também ninguém faz ideia de quem seja o organizador destas festas de sexo. No site Geneall, na página dedicada à família, a que cada novo membro é adicionado assim que nasce, há 171 Champalimaud — e nenhum Ricardo.
Durante os três dias de julho em que respondeu às perguntas do Observador, a pessoa por trás do número de telemóvel desde há dez anos associado à Purilia — que se apresentou como Ricardo Champalimaud — nunca aceitou falar ao telefone. Também recusou partilhar os contactos de membros da comunidade, para que pudessem ser entrevistados — “Isso é uma situação que nos cria alguma fragilidade. Porque estamos a pedir a membros que se exponham, quando a essência da sociedade é contrária. O que temos feito até aqui é enviar a comunicação em que se coloca a hipótese de alguém de forma completamente anónima responder a algumas questões, sendo que enviamos essas mesmas questões para serem respondidas por e-mail. Tem funcionado desta forma”, explicou na altura. Em algumas reportagens publicadas sobre a Purilia na imprensa portuguesa há efetivamente testemunhos de alegados frequentadores das festas, concedidos dessa forma, por interposta pessoa. Por não ter forma de apurar a sua veracidade e por o método ser contrário a todas as regras do jornalismo, o Observador declinou a solução.
Meses mais tarde, em setembro e em outubro, apesar dos pedidos reiterados de uma entrevista presencial, para abordar as denúncias e os relatos a que entretanto o Observador teve acesso, Ricardo Champalimaud nunca respondeu às mensagens, nem acusou sequer a sua leitura.
Ao Observador, o proprietário de um dos maiores clubes de swing da zona de Lisboa revelou que “há cerca de três ou quatro anos” recebeu, por duas vezes, a visita de um homem que se apresentou como Ricardo Champalimaud. “Teria uns quarenta anos, era alto, bem vestido, blazer e camisa de marca, com o distintivo no peito. Veio sempre acompanhado de uma mulher, mas acho que não era a mesma. Via-se que eram mulheres de porcelana, soavam a acompanhantes de luxo. Apresentou-se e disse-me que era o proprietário da Purilia, perguntou-me se eu queria fazer uma parceria, disse-me que o nosso conceito era interessante”, recorda o empresário e também membro da comunidade swinger, que organiza festas de forma periódica, numa vivenda na zona de Sintra.
“Agradeci e disse que não: ‘O vosso conceito não cola muito bem com o nosso, são coisas completamente diferentes, temos uma forma de estar mais intimista, de amigos que nos visitam’. Na altura ainda não desconfiava, cruzava-me com a publicidade nas redes sociais e questionava-me por causa dos valores, mas não passava disso, afinal, há malucos para tudo”, explica o empresário, cujas festas oscilam entre os 40 e os 120 euros de preço por casal, e que aceitou conversar presencialmente com o Observador, com a condição de manter o anonimato. “Só depois é que várias pessoas me começaram a confidenciar que se registaram e fizeram pagamentos e não foram a festa nenhuma. Foi aí que comecei a achar que aquilo não existia e que era uma burla. Conheço milhares de pessoas e ainda está por vir aquela que me disse ‘Estive na Purilia’.”
Quem também assegurou ao Observador não conhecer o fundador da Purilia foi o chef Olivier, proprietário de alguns dos restaurantes mais badalados — e invariavelmente frequentados por inúmeras figuras públicas — de Lisboa, Cascais, Porto e Algarve.
Questionado sobre as festas de sexo, o dono de Guilty, Seen e Yakuza, respondeu assim: “O que eu acho é que isso é um mito urbano: nunca foi feito, não existe e é tudo história. Estou nesta sociedade há 25 anos, conheço toda a gente e nunca ouvi falar em ninguém que tenha ido. Se essas festas existissem eu, que estou no meio da loucura e das festas e da noite, já tinha ouvido falar. Conheço milhares de pessoas, conheço muita gente, vários tipos de pessoas, miúdas giras, isto, aquilo e aqueloutro, nunca ouvi ninguém que me tivesse dito que foi a uma festa Purilia”.
Pretensos patrocinadores nunca foram contactados
“Comporta Private Cocktail Moët & Chandon” — podia ser apenas para compor o nome do evento, mas em entrevista ao Observador, em julho, o fundador das festas revelou que aquela que é uma das marcas de champanhe mais conhecidas do mundo, a Moët & Chandon, teria uma parceria com a Purilia. “O cocktail é sempre servido com champanhe, por norma através de um patrocinador nosso que se associa a nós para alguns eventos, e desde que a qualidade esteja ao nível da excelência dos nossos eventos não temos qualquer problema nessa mesma associação, trazendo mais valias para todos”, explicou, numa de várias centenas de mensagens trocadas via WhatsApp.
O Observador sabe que não é verdade e que, entre a Purilia e a holding francesa LVMH, que a detém, não existe qualquer contrato para utilização da marca Moët & Chandon.
O mesmo acontece com os vinhos do estremocense Tiago Cabaço que em agosto de 2019 estiveram à venda na página da Purilia. A oferta seria limitada a 60 garrafas do vinho tinto Blog, de 2015 — “O Blog 2013 foi considerado o melhor vinho tinto de lote do mundo, e este 2015 para lá caminha!!!”, dizia o post entusiasta assinado por Eva Lee onde se explicava também que cada garrafa custava 45 euros.
Contactado pelo Observador, o produtor garantiu não ter registo de qualquer venda desse vinho, nessa dimensão, a qualquer empresa ou particular nos dois meses anteriores. E questionou toda a situação, a que até então era alheio: “Em primeiro lugar, tentam passar aquele vinho como sendo o melhor do mundo, mas o prémio foi para o vinho de 2013. Depois, o preço de mercado do Blog de 2015 era 50 euros, portanto até estavam a vendê-lo mais barato, abaixo do preço. É estranho, é tudo muito estranho”.
Peculiares também são os endereços que a Purilia usa para alojar as várias páginas de Internet que utiliza. Quando investigou o caso aberto após a queixa apresentada pelo empresário que o Observador entrevistou, a Polícia Judiciária conseguiu apurar que os domínios allsevensin.wordpress.com e purilia.com eram geridos por duas empresas diferentes, com sede nos Estados Unidos — Markmonitor e Godaddy.com LCC, respetivamente. Já a gestão dos sites www.purilia.co.pt e www.viproom.co.pt era feita pela Eurotux Informática SA, com sede em Braga. Apesar de constar do processo a instrução para que se apurasse, junto da empresa portuguesa, quem tinha contratado os seus serviços, essa diligência também não terá chegado a ser efetuada.
Para além de utilizar estes quatro endereços, a Purilia recorre ainda às redes sociais para publicitar as festas que diz organizar — também em várias páginas diferentes. Só no Facebook, existe a “Purilia Private Members’ Society” e a “Purilia Clubbing”, uma página com mais de 1.700 seguidores que se apresenta como um “prémio de música” — e onde podem ser ouvidos DJ sets de vários DJ’s convidados, que à primeira vista poderá parecer que foram responsáveis pelas bandas sonoras das tão propaladas festas de sexo. O Observador contactou dois deles — Sofia Gião e Gionni DJ — e percebeu que não: ambos garantiram não conhecer pessoalmente Ricardo Champalimaud e nunca ter atuado em qualquer evento organizado pela Purilia. Terão apenas sido convidados a gravar um set de uma hora de música para a página, através de e-mail, e terão aceitado, aproveitando a montra virtual que lhes foi disponibilizada.
GNR montou operação, mas não localizou festa de sexo com mais de 40 pessoas na Comporta