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ANA MOREIRA/OBSERVADOR

ANA MOREIRA/OBSERVADOR

O novo ciclo, a direção escondida e o irritante madeirense. O guião para seguir um Congresso "esvaziado"

A "galvanização", a exaltação do Governo e a preparação das autárquicas são a tónica do Congresso do PSD. PS será criticado e Chega ignorado. Albuquerque será o rebelde e Mendes o rosto presidencial.

Resolvido o impasse orçamental, o PSD vai agora centrar o Congresso na “galvanização do partido”, na promoção do Governo e na preparação do próximo ciclo eleitoral: as autárquicas. Apesar de o PS ter anunciado a viabilização do Orçamento, os dirigentes do PSD não vão deixar de dirigir críticas aos socialistas, em particular aos oito anos de “estagnação” na governação de António Costa. Já o Chega vai continuar a ser totalmente ignorado, pelo menos pela linha oficial. Montenegro prepara também mudanças nos órgãos nacionais, com uma direção mais voltada para o aparelho, à semelhança do que fez Passos no poder.

A Madeira promete ser um irritante, o que pode culminar na substituição do mestre de cerimónias (o presidente do Congresso, Miguel Albuquerque). Vão soprar também os primeiros ventos de presidenciais, com a aprovação do perfil de candidato a ser aprovado.  Luís Marques Mendes — que segundo o líder do PSD é dos que “melhor encaixa” nesse perfil —, vai marcar presença na reunião magna, mas, como escreveu o Observador, não vai discursar.

O antigo líder do PSD, Luís Filipe Menezes, disse que Pedro Nuno Santos — ao revelar o sentido de voto e ao prometer viabilizar o Orçamento do Estado — “esvaziou o Congresso de interesse”. Mas há muitos pontos de interesse a considerar, desde logo perceber que recados vai deixar Luís Montenegro para o debate orçamental na especialidade que agora se inicia — e que pode ser uma verdadeira dor de cabeça para o Governo. O Observador deixa-lhe, no entanto, um guião para o ajudar a seguir a reunião magna que decorre este fim de semana em Braga.

Resolvida (para já) a estabilidade parlamentar, o primeiro-ministro quer reforçar a legitimidade do PSD para governar. E vai reafirmar objetivos ambiciosos, que espelhou na moção de estratégia global: "Vencer as autárquicas para recuperar a liderança da ANMP [Associação Nacional de Municípios Portugueses]"

A mensagem: o partido mais bem sucedido e o foco em ganhar as autárquicas

Depois de semanas de desgaste público com o Orçamento do Estado, fonte da direção do PSD explica ao Observador que o Congresso vai ser de “galvanização do partido” e para demonstrar que “nos últimos seis meses o Governo resolveu muitas coisas que o PS não resolveu em oito anos”. A mesma fonte diz que “não é por o PS ter viabilizado o orçamento” e o líder ter elogiado o “sentido de responsabilidade” que o PSD vai deixar de criticar os socialistas. “Até porque agora temos mesmo de firmar as diferenças para o PS”, destaca um outro dirigente.

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Questionado se a direção do partido vai fazer do Chega e de André Ventura uma piñata política, um destacado dirigente limita-se a responder ao Observador com uma pergunta: “Quem?” Ou seja: a postura de Luís Montenegro vai ser de continuar a ignorar todas as acusações do líder do Chega.

O processo orçamental deixou de ser uma prioridade das mensagens da direção, que está confiante para a especialidade. No discurso de sábado, mais virado para dentro, Luís Montenegro fará questão de destacar que o partido ganhou quatro das últimas cinco eleições— ganhou o Governo (por ser “o partido mais votado”), os dois governos regionais que tem, a presidência da Assembleia da República e lidera a maior câmara do país.

Resolvida (para já) a estabilidade parlamentar, o primeiro-ministro quer reforçar a legitimidade do PSD para governar. E vai reafirmar objetivos ambiciosos, que espelhou na moção de estratégia global: “Vencer as autárquicas para recuperar a liderança da ANMP [Associação Nacional de Municípios Portugueses]”.

Um olhar para o aparelho e a aproximação de ano de autárquicas poderia levar Montenegro a escolher Carlos Moedas como vice-presidente. Porém, o próprio autarca — na afirmação de um caminho que tem trilhado para uma futura liderança do PSD — antecipou-se a mostrar aparente indisponibilidade para uma opção desse género. Ainda não se sabe que papel pode desempenhar no novo ciclo

Uma direção à Passos: convites em cima da hora e a renovação sem privilegiar o Governo

À semelhança do que fazia Pedro Passos Coelho, Luís Montenegro manteve a sua direção em segredo até horas antes no último Congresso. E é isso que fará novamente. Os próprios membros da direção, incluindo ministros, não foram informados se continuam ou não até à publicação deste artigo. É provável que os convites sejam feitos apenas sábado durante o Congresso, tal como Passos fazia, naquelas que eram conhecidas como “conversas atrás da cortina”.

Pedro Passos Coelho, na primeira direção que fez após chegar ao Governo, optou por ter apenas dois governantes (Jorge Moreira da Silva e Marco António Costa) na direção do PSD. E na segunda direção que escolheu, estando no Governo, manteve apenas um governante na comissão permanente (Moreira da Silva), já que Marco António, embora tenha continuado na direção, deixou de ser secretário de Estado. É provável que Luís Montenegro — que conta com quatro ministros em seis vice-presidentes —, opte também por reduzir o peso do Governo no partido.

O Observador sabe que a conversa sobre a renovação ou não direção do partido já foi tida pelo núcleo de coordenação política de Montenegro. Na altura, ainda não se sabia o que iria a acontecer ao Orçamento do Estado e havia duas teses: se Pedro Nuno Santos provocasse uma crise política e eleições antecipadas, a direção não deveria sofrer grandes alterações; uma vez afastado esse cenário, então poderia fazer sentido voltar a direção do partido mais para a máquina social-democrata, no sentido de preparar as próximas autárquicas junto das estruturas.

A decisão de Pedro Nuno terá feito vingar, ao que tudo indica, esta última tese. Ministros mais setoriais (como Miguel Pinto Luz) ou com obrigações que se estendem além fronteiras (como Paulo Rangel) podem estar de saída da direção do partido. Não sendo ministro, Paulo Cunha, atualmente eurodeputado, segue uma nova vida em Bruxelas e também é apontado como uma saída provável.

Um olhar para o aparelho e a aproximação de ano de autárquicas poderia levar Montenegro a escolher Carlos Moedas como vice-presidente. Porém, o próprio autarca — na afirmação de um caminho que tem trilhado para uma futura liderança do PSD — antecipou-se a mostrar indisponibilidade para uma opção desse género.

Em entrevista ao Público e à Renascença, Moedas foi claro ao dizer que preferia repetir o modelo de 2022, em que liderou a chamada “lista oficial” ao Conselho Nacional: “Posso sempre estar disponível para ajudar no partido, como ser o número um do Conselho Nacional, mas estou muito focalizado no que é a ação executiva de ser presidente da câmara. Não tenho muito tempo disponível para estar na política ativa, exatamente por isso.”

Além disso, outra das mudanças que tem estado iminente desde que o Governo tomou posse é a saída da vice-presidente Inês Palma Ramalho, uma vez que a mãe é ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. A ideia é prevenir uma situação futura de incompatibilidade. Para já, Montenegro opta por não abrir o jogo, o que torna a composição da futura direção num dos pontos de maior atenção do Congresso.

Questionado se a direção do partido vai fazer do Chega e de André Ventura uma piñata política, um destacado dirigente limita-se a responder ao Observador com uma pergunta: "Quem?" Ou seja: a postura de Luís Montenegro vai ser de continuar a ignorar todas as acusações do líder do Chega

Um cheirinho a Presidenciais

No Congresso ninguém pode dizer que é extemporâneo falar de presidenciais, já que o perfil do candidato a Belém vai ser discutido e aprovado por proposta do líder. Também ninguém pode ser que é extemporâneo falar em nomes, porque o próprio Luís Montenegro já disse que Marques Mendes é dos que “melhor encaixa no perfil”. É neste contexto que Marques Mendes vai ao Congresso do PSD, mas não vai usar da palavra — direito vitalício que tem à sua disposição por ser ex-líder.

Com esta presença em Braga, o antigo líder e comentador político fura a sua tradição pessoal de só ir ao primeiro Congresso de cada novo líder. Marques Mendes foi ao primeiro Congresso de Rui Rio, no início 2018, e ao primeiro de Luís Montenegro, em julho de 2022, numa última presença que justificou na altura com a prática que tem seguido nos últimos anos. Agora decidiu ir — o que é todo um programa político.

Ao contrário de Marcelo — que em 2014 roubou todas as atenções em cima do palco como resposta a Pedro Passos Coelho que se referira a ele como “catavento de opiniões erráticas” —, Mendes não necessita de expor-se com um discurso. Tem o apoio mais do que anunciado da liderança de Luís Montenegro e não se espera que haja já alguma margem para outras surpresas vindas do espaço do PSD e do CDS.

O antigo líder do PSD e antigo adversário de Marques Mendes, Luís Filipe Menezes, disse esta quinta-feira ao Observador que “face ao que tem sido o desenvolvimento das putativas candidaturas nos últimos meses, eu penso que a candidatura de Marques Mendes ganhou muita força. Muita força na área política a que o PSD pertence, mas também no país em geral.”

Na linha do que é habitual, outros antigos líderes do partido, como Pedro Passos Coelho e Rui Rio, não vão marcar presença no Congresso. Os dois, como também já escreveu o Observador, não estão neste momento disponíveis para entrar numa contenda presidencial.

Um olhar para o aparelho e a aproximação de ano de autárquicas poderia levar Montenegro a escolher Carlos Moedas como vice-presidente. Porém, o próprio autarca — na afirmação de um caminho que tem trilhado para uma futura liderança do PSD — antecipou-se a mostrar aparente indisponibilidade para uma opção desse género. Ainda não se sabe que papel pode desempenhar no novo ciclo

O irritante Madeira: a pressão de Albuquerque

Depois de o PSD ter garantido a viabilização do Orçamento do Estado para 2025, o presidente do PSD-Madeira veio ameaçar que os três deputados da região podiam votar contra o documento. Na véspera do Congresso, esta sexta-feira, o Público escreve, citando fontes do Governo regional da Madeira, que Albuquerque estaria disponível para elevar o nível de ameaça para outro nível: convencer os dois deputados do PSD-Açores a votarem também contra o OE, numa nova aritmética que significaria o chumbo do Orçamento do Estado.

O Observador sabe que José Manuel Bolieiro não aceitará entrar no jogo de Miguel Albuquerque. Fontes do PSD/Açores explicam ao Observador que alinhar no plano da Madeira não é viável por duas razões: o governo regional tem conseguido que as suas reivindicações sejam aceites pelo Governo da República e porque “esse que é o estilo de Albuquerque, está longe de ser o estilo de Bolieiro”.

A jogada orçamental é mais um processo que contribui para o afastamento de Miguel Albuquerque da presidência da Mesa do Congresso, embora a direção Montenegro até aprecie a forma “eficaz e limpa” com que gere os Congressos. A relação entre ambos esfriou com os casos judiciais na Madeira e quando Montenegro disse que, se fosse ele, não se recandidataria.

“Ele não precisa de ter dito aquilo. Foi desnecessário”, diz fonte do PSD/Madeira ao Observador. Um dos nomes falados para substituir Miguel Albuquerque é precisamente José Manuel Bolieiro, que até já faz parte daquele órgão. Assim, a liderança continuava a ser das regiões autónomas e Montenegro ficava menos exposto a processos judiciais em curso.

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