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Manchester e Portugal estão ligados há já muitos anos. Desde os tempos de Carlos Queiroz no início do milénio, passando pela odisseia gloriosa de Cristiano Ronaldo e Nani no Manchester United, uma nova geração foi construída desde que os petrodólares chegaram ao outro lado da cidade. Tal como os red devils, também o City passou a ter uma ponte aérea para Portugal aberta por Bernardo Silva em 2017. A partir daí, para o lado azul da cidade seguiram Rúben Dias, Matheus Nunes e João Cancelo – este já noutras paragens –, enquanto que para o lado vermelho apareceram Joel Pereira, Bruno Fernandes e Diogo Dalot. No total, atualmente, jogam na Premier League e na cidade de Manchester cinco portugueses: Bruno, Diogo, Bernardo, Matheus e Rúben. A este último, junta-se agora um homónimo – mas sem acento no nome – e que ficará no banco do United a reforçar a armada portuguesa em Manchester. Mas… haverá só mesmo seis lusitanos nesta caravela? Não, são mais. Muitos mais.
O Observador pegou no mapa do futebol da Grande Manchester e da primeira à 9.ª Divisão inglesa encontrámos pelo menos outros nove jogadores portugueses ou com ligações a Portugal. A lista começa no terceiro escalão, já que no segundo não há clubes da cidade. Ricardo Santos é o primeiro protagonista: nasceu em Portugal, tem 29 anos e é defesa central do Bolton, clube que em tempos era de Premier League (com outro jogador nacional, Ricardo Vaz Tê) mas que agora milita na League Two. A partir daqui, só nas ligas semi profissionais. Porque sim, até à 4.ª Divisão é tudo profissional – e como já vamos perceber, dá para viver só do futebol. Do quinto ao nono escalão, encontrámos pelo menos outros oito atletas portugueses ou com ligação a Portugal em Manchester: Benny Couto, do Ashton United e que já jogou na quarta divisão; João Soares, do Ramsbottom United; Alex Santos, do Ashton Town; Erike Sousa, do Prestwich Heys, e que terá passado pela formação do Sporting; Joel Amado, do Hyde United; Bebeto Gomes, do Bury; Maria Figueiredo, do Stockport County Ladies; e Sandro da Costa, dos Warrington Rylands.
Foram estes últimos três, Bebeto, Maria e Sandro, que abriram a porta ao Observador em Manchester e contaram a sua história: são os três adeptos do Manchester United, sonham com a Seleção portuguesa – um deles até é primo de um internacional A – e davam tudo para poder ser treinados por Ruben Amorim em Old Trafford. Estas são as histórias da armada nacional fantasma em Manchester.
Bebeto Gomes. “Encontrei o meu caminho e agora não paro. Vou fazer acontecer!”
Do estádio do Manchester United, Old Trafford, até ao Gigg Lane, estádio do Bury, vão 23 quilómetros e uma viagem de 25 minutos de carro. E vão também muitos sonhos, da primeira para a nona divisão do futebol inglês. Em tempos, essa distância – pelo menos a dos sonhos – não era tão grande para os The Shakers: o Bury foi um dos primeiros históricos do jogo em Inglaterra. Foi fundado em 1885 e até à Segunda Guerra Mundial foi intercalando entre a primeira e a segunda divisão inglesas, tendo até levantado por duas vezes o caneco da FA Cup – a Taça de Inglaterra –, em 1899/1900 e em 1902/1903. Em 2020 estava prestes a voltar à terceira divisão, até que faliu. A partir daí e até ao ano passado, as grandes lutas foram travadas fora dos relvados, com falências e fusões até à recuperação do clube original. É um renascimento de um histórico, na 9.ª Divisão… mas é um histórico. E foi isso que pesou na vontade Bebeto Gomes, de 26 anos, em seguir para Bury: “Eles já tinham tentado trazer-me para cá duas vezes, mas eu recusei sempre. À terceira tive de vir, até pelos adeptos. São sempre três ou quatro mil na bancada, é a parte melhor”, diz.
Quem é Bebeto Gomes?
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Nome: Bebeto Gomes
Idade: 26 anos
Clube: Bury (9.ª Divisão inglesa)
Jogos esta época: 18
Golos esta época: 5
Assistências esta época: 10
Maior sonho: viver do futebol
Clube favorito: Manchester United e FC Porto
Sim, leu bem: três ou quatro mil adeptos num jogo da nona divisão de futebol. E até podiam ser mais, já que o estádio, o Gigg Lane, tem capacidade para 12 mil pessoas (!). Com números desses, a expetativa para assistirmos ao jogo de Bebeto Gomes numa fria – mesmo muito fria – noite de terça-feira aumentou exponencialmente. No cartaz estava o Bury-Charnock Richard, que colocava frente a frente o segundo e o 16º. classificados da North West Counties Football League. No fundo, a Liga dos Condados do Noroeste.
Percebemos logo que o espetáculo ia ser bom: muito movimento, muitos cânticos e… Bebeto Gomes na capa do programa de jogo. Sim, na nona divisão inglesa há o mítico programa de jogo, um livrinho impresso com informações sobre a partida. E wifi na bancada de imprensa. E roulottes para os adeptos comerem. Houve de tudo, exceto golos para o Bury na primeira parte. O Charnock foi para o intervalo a vencer e o Bury só empataria perto do fim, com a reviravolta a passar perto nos instantes finais. Bebeto Gomes não marcou nem assistiu mas a época tem corrido bem. Aliás, os adeptos que o digam: “Entre Diogo Dalot e Bebeto Gomes? Sem dúvida o Bebeto, até porque joga numa equipa vencedora. Eu até acho que o Amorim vai vê-lo e leva-o antes da época acabar”, diz-nos um adepto do Bury, de sorriso na cara.
Mas Bebeto tem mesmo motivos para sorrir: à 20.ª jornada, com o Bury em segundo lugar, tem cinco golos marcados e dez assistências. E logo numa época em que mudou de posição, de extremo para lateral direito. “Estou a gostar, até está a ser tranquilo, sinceramente. Porque como a equipa joga para o meu lado, tenho liberdade ofensiva para subir, subir, subir e criar. Basicamente continuo a extremo direito. Eu defendo uns dez minutos por jogo, nos outros oitenta é sempre a atacar. Mas eu sei que vai haver jogos que vou ter de defender mais do que ataco. Estou pronto para o challenge [desafio]”, explica o jogador português, num discurso de grande ambição. E essa, durante a entrevista, esteve sempre presente. “Eu sou um jogador que dá sempre 110% de si em cada jogo. No que eu puder ajudar, eu vou ajudar. Vou jogar na posição que for preciso. E vou fazer acontecer, não tem como. E no final do dia vai ter de dar certo. E vai dar certo”, diz Bebeto, que já tem objetivos para o futuro: “Se eu melhorar os meus pontos fracos, que são mais defensivos, posso subir para divisões bem mais altas do que esta”.
E se não subir? Será que a falta de condições pode condenar Bebeto à desistência, como tantos portugueses por cá, nos distritais e semi profissionais? Nem por isso. Porque ser jogador do Bury, na 9.ª Divisão inglesa, não deixa ninguém rico… mas também não faz passar fome. “Depende do jogador. Eu estou cá já há uns quatro anos e o começo foi fraco, era só uma buchinha, um extra. Quatro anos depois, já posso dizer que, se quiser, posso não trabalhar e jogar só futebol. Só que eu tenho objetivos, tenho coisas para fazer, tenho coisas para pagar. É por isso que tenho um part time. Mas é possível. Se tu quiseres, só jogas futebol”, explica o futebolista português, que passou pelo Estoril Praia na formação.
Bebeto foi para Portugal aos sete anos, precisamente para a vila de Cascais, mas nasceu na Guiné-Bissau. E foi lá que viu pela primeira vez um jogo de futebol. Foi esse jogo que lhe mudou a vida. “Há cinco anos, tinha eu 20, decidi vim para Inglaterra. Eu podia ter ido para Londres, lá tenho família. Mas escolhi Manchester, por causa do Manchester United. Foi o primeiro clube que eu vi jogar, ainda estava eu na Guiné. Via-os na televisão antes de ver os portugueses”, lembra Bebeto, que, entre os clubes portugueses, torce pelo FC Porto. Mas nenhum ocupa o coração como o Manchester United, o que lhe tem dado alguns dissabores nos últimos anos.
“Neste momento, o Man United é fraco. É um clube fraco, above the average [abaixo da média]. É reconhecido como fraco por todos, qualquer clube que vá a Old Trafford neste momento pode ganhar. É um clube destruído por dentro”, afirma, mas sem afetar a confiança em Ruben Amorim: “Estou aliviado, porque ele é português e eu sei que tem vindo a ganhar. Ganhou com o Sporting e ninguém estava à espera. Ele chegou e faz acontecer”. Porém, Bebeto Gomes tem uma recomendação para o jovem treinador: “Acho que a coisa mais urgente a mudar é o espírito. Porque ali só tens players [jogadores] que jogam por eles. São individualistas. Tens jogadores como o Garnacho ou o Rashford, que estão ali, sabem o que vão receber, fazem o que têm a fazer e vão para casa. Não! Tens de morrer pela camisola. E é isto que ele tem de trazer para aqui, aquela garra, a vontade de vencer e de dar 100% toda hora”.
E Bebeto sabe do que fala, mais não seja pelo exemplo do primo, internacional A. O apelido não engana: é da família de Toti Gomes, central do Wolverhampton e que já foi convocado várias vezes por Roberto Martínez. A vez de Bebeto, essa, ainda não chegou. Mas o lateral direito do Bury não tem medo do futuro e mesmo que esse não chegue, tem o presente: é um dos jogadores preferidos dos adeptos shakers.
Maria Figueiredo. “Cheguei a ser convocada para a Seleção Inglesa, mas não pude jogar: não tinha os documentos”
Quando falámos com Maria Figueiredo, quase que víamos o seu maior sonho da janela do café. Old Trafford, o Teatro dos Sonhos, ficava a apenas 500 metros da cafetaria onde nos sentámos com a jogadora de 24 anos. Só alguns edifícios nos impediam de ver o estádio do Manchester United, casa que também já foi dela. Maria Figueiredo joga atualmente no Stockport County Ladies, da quarta divisão inglesa, mas já passou pelo Manchester City e pelo Manchester United. Aliás, foi mesmo o primeiro clube da futebolista portuguesa… que podia ter sido antes saltadora. “Em Portugal, eu fazia atletismo, fazia heptatlo. A minha inspiração era a Naide Gomes e o Nelson Évora, queria ser como eles. Mas quando cheguei cá a Manchester, era impossível fazer provas e por isso virei-me antes para o futebol. Entrei em contacto com um treinador do United, que estava na Man United Foundation, e entrei”. E nunca mais largou o desporto-rei, durante os 14 anos que já leva na cidade de Manchester.
Quem é Maria Figueiredo?
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Nome: Maria Figueiredo
Idade: 24 anos
Clube: Stockport County (4.ª Divisão inglesa)
Jogos esta época: 9
Golos esta época: 4
Assistências esta época: 2
Maior sonho: chegar à Superliga Inglesa
Clube favorito: Manchester United e Benfica
Maria é filha de mãe angolana e pai congolês. Conheceram-se em Portugal nos anos 90 e desse amor nasceu Maria, na Amadora, em Casal de São Brás. Cresceu na Trafaria, na margem sul do Tejo, e Inglaterra surgiu no horizonte como uma oportunidade de trabalho para os pais mas também de educação para as filhas: “As oportunidades que a Inglaterra oferece na educação, comparando com Portugal, são muito diferentes. É bem mais acessível em termos de financiamento, mas também em termos de progresso em várias áreas”, explica Maria, que acabou esse percurso há bem pouco tempo. É licenciada em fisioterapia desde 2022 e trabalha na área da administração em saúde, seguindo a área da mãe. O futebol fica nas sobras, até porque… lembram-se que Bebeto conseguia sobreviver com o “salário” de 9ª. Divisão? No feminino não é bem assim, mesmo sendo quarta divisão. “Infelizmente, quem joga da quarta divisão para baixo precisa mesmo de um trabalho. No meu caso, eu não tinha mesmo forma de me dedicar só ao futebol. Preciso de um meio transporte para ir treinar, para ir aos jogos, e tudo isso depende das finanças e infelizmente o clube não consegue pagar isso”, conta ao Observador.
Só o trabalho conseguiu manter vivo o sonho de Maria, que, esta época, vai correndo bem: em nove jogos pelo Stockport County marcou quatros golos e fez duas assistências. Números de uma autêntica “faz-tudo” no ataque das hatters. “Eu sou avançada e tanto posso jogar na ala esquerda, como direita, como no meio. Tanto sou ponta de lança, como às vezes sou extrema. Jogo em qualquer posição do ataque”, descreve Maria, que se classifica como “feroz e rápida”, completando com um “dificilmente desisto da bola até entrar na baliza”. Atributos que adorava que um dia a levassem a outros palcos. O principal é, sem dúvida, o clube do coração – que já acompanhava em Portugal –, o Manchester United, ainda que divida o amor pelo Benfica. Ainda assim, diz, nunca rejeitaria outras oportunidades nacionais: “Mesmo que não fosse o Benfica, não recusava um Sporting ou um Sp. Braga, que já são clubes mais fortes a nível nacional”.
E por falar em nacional… então e a Seleção? Com sangue angolano, congolês, português e agora uma costela inglesa, que hino é que Maria cantaria num relvado de futebol? A Portuguesa, claro. Mas podia muito bem ter sido mais um God Save The Queen: “Em 2017 ou 2018, quando estava quase a fazer 18 anos, fui convocada para a Seleção Inglesa de Sub-17. Era um torneio na Hungria, mas como não tinha a nacionalidade inglesa não pude ir”.
Agora, anos passados, já avançou com o processo de pedido de nacionalidade britânica, sem nunca esquecer a portuguesa. Até porque não recusa regressar a Portugal no futuro, um mais longínquo. “Daqui a alguns anos, talvez. Agora não, agora quero é continuar a estabelecer a minha vida aqui em Inglaterra, mas futuramente não diria que não. O clima é péssimo, tenho saudades da culinária portuguesa, que é uma maravilha. E, obviamente, tenho também saudades da família”, prevê Maria. Até lá, há sonhos para concretizar, não fosse esta a terra do teatro deles. E a paixão que tem pelo clube que joga nesse palco também ajuda a manter-se em Manchester. “O United, para mim, é o clube dos sonhos. Acho que é uma grande família, unida, e que está, principalmente, sempre envolvida com a comunidade. Representa mesmo o coração da família de Manchester”.
Ora agora a família tem um novo “pai”, e ainda por cima é da mesma nacionalidade de Maria. Um motivo de orgulho e que gera muitas expectativas. “Estamos ansiosas para ver o trabalho que o Ruben vai fazer. Não vai ser um trabalho fácil, mas é uma grande oportunidade. Eu gosto dele e acho que é a escolha certa, porque o United está mesmo a precisar de uma mudança. E para mim é um grande orgulho, claro. Acho que é um orgulho para qualquer português”, afirma Maria, que começou a sentir o impacto da Amorimmania bem cedo, ainda estava o jovem treinador a acabar o percurso no Sporting: “Em casa, eu sou a única benfiquista. De resto, é tudo sportinguista, o que é muito complicado. Posso dizer que desde a minha infância que sofro com o meu pai [risos]. Então quando eles ganharam contra o Manchester City, olha… a casa foi abaixo”.
É isso que Maria espera que Ruben Amorim faça agora no Manchester United. Uma casa que já foi dela, bem antes de ser do novo treinador, e a que um dia espera regressar: “O meu sonho era jogar na Superliga feminina e pelo United. É o sonho de qualquer menina que jogue futebol aqui”.
Sandro da Costa. “Surgiu uma oportunidade aqui e viemos logo. Graças a Deus pelo pai que tenho”
Sandro da Costa nem precisou de abrir a boca para aprendermos algo sobre ele. Bastou olhar para o jovem de 20 anos para perceber que a altura que encontrámos na internet já estaria desatualizada: 1,69m só se fosse em cada perna. Alto, magrinho e com um penteado a fazer lembrar os tempos de Ruud Gullit no Chelsea, Sandro tem pinta de craque da cabeça aos pés. E não é só a pinta, ou por algum motivo não estaria ligado contratualmente a um clube da 4ª. Divisão inglesa, a EFL League Two, a última completamente profissional. Sandro é jogador do Salford City, clube de uma das maiores zonas de Manchester e que faz precisamente fronteira com o bairro de Old Trafford. Ainda assim, esta época está emprestado a um clube da sétima divisão. O Warrington Rylands é a sua casa durante este ano e o jogador português não viu o empréstimo como uma despromoção. Aliás, antes pelo contrário: “Era uma coisa que eu queria, fui mesmo eu que pedi o empréstimo. Eu queria jogar mais, sou uma pessoa que só quer jogar. Não me importa onde, só quero é jogar à bola”, afirma confiante.
Quem é Sandro da Costa?
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Nome: Sandro da Costa
Idade: 20 anos
Clube: Salford City (4.ª Divisão inglesa) mas emprestado ao Warrington Rylands (7ª. Divisão inglesa)
Jogos esta época: 4
Golos esta época: 0
Assistências esta época: 0
Maior sonho: Ganhar a Liga dos Campeões
Clube favorito: Manchester United e Benfica
E tem conseguido, apesar de tudo. Nesta época já leva quatro jogos realizados, ainda sem golos e assistências, mas na temporada passada conseguiu fazer um passe para golo e escolheu bem o jogo para o fazer. Muito bem. Na edição de 2023/2024 do EFL Trophy – competição a eliminar que envolve todas as equipas da Premier League à 4.ª Divisão –, quis o destino que o Salford City calhasse com o Manchester United. Era a equipa Sub-21 dos red devils, é verdade – as equipas da Premier League e Championship estão autorizadas a usar as equipas jovens no torneio –, mas era sempre um palco maior. Ora Sandro da Costa jogou e assistiu para o primeiro golo do jogo, na vitória por 4-3 no dérbi, que tinha do outro lado nomes como Kobbie Mainoo, Omari Forson ou Shola Shoretire. Um momento especial para a carreira do português de 20 anos, até porque – adivinhem – também é fã, mais uma vez, do Manchester United. E isso, diz Sandro… às vezes não é saudável. “Ser adepto do United é muito stressante. E aquilo que eu mais quero é que o Amorim não me traga mais stress, mas sim me o alivie”, diz entre risos.
Ainda assim, apesar de ser sempre um atrativo, no caso de Sandro não foi o Man United o gatilho principal para seguir de malas e bagagens para a cidade de Manchester. Neste caso foi mesmo o sonho de poder jogar futebol. Em 2019, surgiu-lhe a oportunidade de começar a jogar, no United of Manchester – clube fundado por dissidentes do Manchester United – e Sandro não hesitou. Nem Sandro nem o seu pai, que deu a maior prova de amor possível ao filho: “Apareceu-me uma oportunidade de vir jogar para cá e com o pai que tenho, ele nem pensou duas vezes. Viemos logo. Foi só por causa disso, mesmo. Ele apoia-me muito, antes de ser o meu sonho, era o sonho dele. Graças a Deus por me ter dado um pai assim. Já viste o pai que tenho?”, conta Sandro com um sorriso emocionado.
“E o que é que isso significa para ti?”, perguntámos. “Tudo”, foi a resposta. E é esse amor que leva no coração, com pedaços de Portugal. “Faz parte de mim, vou lá sempre de férias. Os meus avós, da parte da minha mãe, são do Alentejo, da vila de Bencatel”. Agora, num dilema para escolher entre a Seleção portuguesa ou irlandesa, fica mais difícil. “Os dois, estão os dois no coração”, foge Sandro a rir.
Ainda no coração, em termos futebolísticos, estão dois reds. Aliás, um red e um vermelho. “Eu sou fã do Manchester United mas também sou benfiquista. Costumo ver os jogos. Agora com a saída do Ruben Amorim do Sporting, se calhar subimos [risos]. Pode ser mesmo uma situação win-win para o coração futebolístico de Sandro, que de resto, quanto aos red devils, antecipa coisas boas com Ruben Amorim: “O problema do United tem só que ver com a pressão que advém de estar no clube. Eu acho que se ele mantiver a postura e conseguir lidar com a pressão, vai ter sucesso. É só mesmo a pressão”, prevê Sandro. E um bocadinho de sorte, a mesma que o jovem de 20 anos também precisa para contornar alguns problemas que não controla, como as lesões. Com apenas quatro épocas de sénior, Sandro já esteve seis meses parado devido a uma lesão grave na coxa. Estando o problema ultrapassado é espalhar magia, e sobre isso, Ruben Amorim até o pode beneficiar: “O estilo português é diferente e pode levar à criação de mais oportunidades para os jogadores como eu, criativos. Porque esse é o estilo do futebol português”.
E bem criativos. Basta saber que a grande referência de Sandro é Mesut Özil, logo com Eden Hazard, João Félix e Nani atrás. E este último sabe bem o que é conquistar Manchester. Tinha apenas mais um ano do que Sandro da Cruz quando chegou ao United e por isso, ainda há tempo para todos os sonhos do mundo. E o maior de todos, Nani, Ronaldo, Bernardo Silva e Rúben Dias conquistaram nesta cidade: “O meu maior sonho é conquistar a Champions League. Sempre foi o meu maior sonho”. Por enquanto está distante, mas se há coisa que estes três portugueses “fantasma” já mostraram é que o futebol, esse sim, é o maior sonho do mundo. E está cumprido.