789kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Mahsa Amini protest in Istanbul, Türkiye
i

dia images via Getty Images

dia images via Getty Images

O que já se sabe sobre os suspeitos? E que substâncias foram usadas? 9 respostas sobre o envenenamento de milhares de raparigas no Irão

Mais de 100 pessoas foram detidas por suspeitas de ligação aos envenenamentos que já afetaram mais de 5.000 raparigas estudantes no Irão. Pais desesperam por informação sobre substâncias usadas.

    Índice

    Índice

Os primeiros relatos de suspeitas de envenenamento surgiram em novembro, na cidade iraniana de Qom, mas rapidamente se espalharam a outras regiões do Irão, com ativistas a relacionar os alegados crimes com uma retaliação contra as raparigas que se têm manifestado pelos direitos das mulheres no país — no rescaldo da morte de Mahsa Amini às mãos das autoridades. Os líderes iranianos demoraram meses a assumir que os envenenamentos eram ataques dirigidos a estudantes com o objetivo de as privar do acesso à educação, mas têm atribuído a autoria a grupos rebeldes, isentando-se, assim, de responsabilidades.

De casos detetados em Qom, a questão já se tornou num problema de saúde pública com escala nacional. As autoridades asseguram que estão a investigar e que mais de 100 pessoas foram detidas, mas, entre protestos e novos casos de envenenamentos, os pais e encarregados de educação desesperam por respostas sobre que substâncias são estas que causam náuseas, dores e dormência no corpo. Em nove respostas, o que já se sabe e quais as linhas de investigação futura.

Afinal, quantas raparigas já foram envenenadas?

Desde novembro, mês em que foram detetados os primeiros casos de alegado envenenamento, mais de cinco mil raparigas estudantes em 230 escolas e 25 (em 31) províncias no Irão foram envenenadas, segundo dados divulgados por Mohammad-Hassan Asafari, que faz parte de uma comissão que está a investigar os casos. O número carece, porém, ainda de uma confirmação final. Já grupos de direitos humanos falam em pelo menos 7.063 alunas afetadas, escreve o The Guardian.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Só na semana passada, foram pelo menos 15 as raparigas hospitalizadas em Qom após queixas de dificuldades respiratórias. Num comunicado citado pela CNN Internacional este sábado, o ministério do Interior diz que os casos de alegado envenenamento têm diminuído nos últimos dias. Mas, à Deutsche Welle, a ativista Fariba Balouch, que acompanha a situação no Irão a partir de Londres, diz que surgem relatos todos os dias de mais casos de envenenamento, que não estão a abrandar.

Já houve mortes?

Não há mortes registadas, mas o flagelo — que começou com casos isolados em Qom e rapidamente se alastrou a outras províncias — está a preocupar pais e encarregados de educação que em muitos casos estão a optar por retirar as raparigas das escolas para evitar novos envenenamentos.

Que sintomas têm as vítimas?

As primeiras suspeitas de envenenamento surgiram em Qom, em novembro, altura em que várias raparigas ficaram doentes, tendo 18 sido hospitalizadas. Uma delas sentia náuseas, falta de ar, assim como dormência na perna esquerda e na mão direita, enquanto outra tinha dificuldade em andar, por exemplo.

“Terrorismo biológico”. Jovens iranianas envenenadas nas escolas em retaliação pelo seu papel nos protestos

Os sintomas mais comuns são dores de garganta e de cabeça, dificuldades respiratórias e em andar ou arritmias por alegada inalação de um gás suspeito. Nas redes sociais, segundo a Deutsche Welle, têm surgido imagens de raparigas em urgências de hospitais com o nariz a sangrar e as pupilas dilatadas.

O que já se sabe sobre as substâncias usadas?

É isso que os pais e encarregados de educação têm exigido saber: que substâncias ao certo foram usadas para os envenenamentos? As autoridades dizem que estão a investigar, mas não revelaram em detalhe o que está na origem das hospitalizações.

Os pais têm-se manifestado contra as autoridades, desesperados por respostas. O ministro adjunto da Saúde, Saeed Karimi, já disse que algumas estudantes foram expostas a um “material estimulante através de inalação”, de acordo com a agência de notícias Tasnim, citada pela NBC. Mas acrescentou que os casos de efetiva exposição a esse material só terão correspondido a menos de 10% das situações que estão a ser investigadas. As restantes raparigas sofreram “ansiedade ou stress”.

As raparigas afetadas relataram terem sentido um “cheiro podre”. À DW, Carsten Schleh, especialista alemão em toxicologia, explica que isso pode significar exposição a sulfureto de hidrogénio, um gás com odor a “ovos podres”. “Mesmo uma pequena quantidade pode provocar problemas respiratórios, dores de cabeça”, indica. Mas essa informação não foi confirmada pelas autoridades iranianas.

Protests Continue In Iran Despite Crackdowns

Protestos no Irão foram motivados pela morte de Mahsa Amini às mãos das autoridades iranianas

Getty Images

A NBC relata, por sua vez, que alguns responsáveis iranianos revelaram que foi detetado gás nitrogénio durante testes realizados em escolas afetadas. Hamish Bretton-Gordon, antigo comandante das forças de defesa química e nuclear do Reino Unido e da NATO, citado pela NBC, admite que possa tratar-se de dióxido de enxofre, usado em indústrias, ou dióxido de nitrogénio.

Estes químicos são “geralmente armazenados, numa espécie de recipiente de aço, na forma liquefeita ou gasosa”, pelo que “com a simples abertura destes cilindros se poderiam espalhar por uma área relativamente extensa”, explica. Análises ao sangue das raparigas podem dar muitas respostas, mais do que análises ao ambiente onde terão acontecido os envenenamentos, considera.

Algumas raparigas descreveram também terem sentido um cheiro a tangerinas, a cloro ou a agentes de limpeza. Na altura, uma vez que muitas das escolas são aquecidas a gás natural, especulou-se que os envenenamentos pudessem ter sido causados por monóxido de carbono.

Como é que tudo começou?

As primeiras suspeitas surgiram em novembro, numa escola secundária na cidade xiita de Qom, a cerca de 125 quilómetros a sudoeste de Teerão, que viu 18 alunas serem hospitalizadas. Estudantes do Conservatório de Noor Yazdanshahr adoeceram em novembro e voltaram a ficar doentes em dezembro, com queixas de dores de cabeça, palpitações cardíacas, letargia e paralisia.

O flagelo propagou-se nas semanas seguintes a 25 das 31 províncias do Irão, levando pais a retirar as filhas das escolas. Qom foi, mais recentemente, em fevereiro, alvo de outro incidente, quando mais de 100 estudantes de 13 escolas foram hospitalizadas após alegados “envenenamentos em série” — a expressão foi usada por várias agências noticiosas estatais iranianas.

Vários ativistas acreditam que os envenenamentos podem estar ligados aos protestos que têm acontecido a nível nacional desde setembro do ano passado, catapultados pela morte de Mahsa Amini, a jovem de 22 anos que morreu quando se encontrava sob custódia das autoridades iranianas por usar incorretamente o hijab (o véu islâmico).

A perceção pública que se tem gerado é que os envenenamentos são uma forma de punir as raparigas que se manifestam pelos direitos das mulheres. “As raparigas do Irão estão a pagar o preço por lutarem contra o hijab obrigatório e foram envenenadas pelo regime clerical”, defendeu a ativista iraniana Masih Alinejad, que está a viver nos EUA.

Nos protestos têm participado centenas de alunas contra a repressão exercida sobre as mulheres, que retiram o véu islâmico em público — obrigatório, por exemplo, nas salas de aula — e rasgam fotografias do líder supremo iraniano, Ayatollah Ali Khamenei (nalguns casos, apelado mesmo à sua morte).

Nenhum rapaz foi vítima de envenenamento?

O principal foco têm, de longe, sido as escolas femininas. Mas a Reuters relata que pelo menos uma escola de rapazes também foi alvo de tentativa de envenenamento, na cidade de Borujerd. De facto, nos protestos contra o regime, também têm participado manifestantes homens.

Já alguém foi detido?

Segundo a agência estatal IRNA, citada pela CNN este sábado, mais de 100 pessoas foram detidas por suspeitas de ligações aos envenenamentos. O ministério do Interior do Irão diz que os suspeitos foram identificados, detidos e investigados em várias cidades, incluindo a capital, Teerão.

Detidos os primeiros suspeitos por envenenamento de alunas nas escolas iranianas

O que se sabe sobre os suspeitos dos envenenamentos?

No mesmo comunicado, o Ministério do Interior refere que os inquéritos preliminares revelaram que alguns destes detidos utilizaram substâncias “inofensivas” por “malícia ou aventureirismo” com o objetivo de “fechar as salas de aula e influenciados pela atmosfera psicológica criada” com os protestos que se têm multiplicado no país.

Os detidos “tinham motivos hostis”, tendo tentado “suscitar medo e terror entre pessoas e estudantes, fechar escolas e criar pessimismo em relação” ao governo iraniano. Segundo a agência iraniana Fars, citada pela DW, o ministro adjunto do Interior, Majid Mirahmadi, que é responsável pelas forças de segurança, disse na televisão nacional que “alguns deles [dos detidos] não são inimigos de Deus e foram libertados após interrogatório“.

Estas declarações estão a ser interpretadas, segundo a DW, como um sinal de que os autores dos ataques vêm de grupos religiosos conservadores, com possíveis ligações às forças de segurança governamentais, que têm negado envolvimento nos envenenamentos.

Os EUA e as Nações Unidas têm apelado às autoridades para que investiguem até às últimas consequências os suspeitos e punam os responsáveis. A Casa Branca já admitiu que essa investigação “credível e independente” possa ser feita pela ONU. Encarregados de educação e professores, assim como médicos, têm acusado o governo iraniano de tentar silenciar as vítimas.

Como têm reagido as autoridades iranianas?

Só há um mês as autoridades do Irão começaram a admitir que os alegados envenenamentos poderiam ser ataques para privar as raparigas da educação. Há duas semanas, o Presidente do país, Ebrahim Raisi, revelou ter ordenado uma investigação aos incidentes, considerando os alegados envenenamentos um “crime desumano” que tinha como objetivo “intimidar as estudantes” e os pais destas. E só na semana passada é que o líder supremo, Ayatollah Ali Khamenei, apelidou os envenenamentos de “crime imperdoável”, tendo pedido “punição severa” para os responsáveis e admitido mesmo a pena de morte.

Segundo a agência de notícias turca Anadalou, que cita meios de comunicação social estatais, o ministro adjunto da Saúde, Younes Panahi, numa conferência de imprensa, reconheceu este domingo que “algumas pessoas” foram responsáveis pelos envenenamentos de raparigas em Qom com o objetivo de prejudicar a sua educação. “Depois do envenenamento de várias estudantes em escolas de Qom, tornou-se claro que algumas pessoas queriam que todas as escolas, especialmente as escolas de raparigas, fossem encerradas”, afirmou Panahi. Segundo o responsável, o envenenamento em Qom que levou à hospitalização de 18 raparigas foi causado por “compostos químicos” que não são “contagiosos nem transmissíveis”.

A classe política iraniana também tem sugerido que por detrás dos ataques podem estar grupos islâmicos, “inimigos” da República Islâmica. Na semana passada, o procurador-geral Mohammad Jafar Montazeri ordenou uma investigação aos alegados envenenamentos, que ainda não foi concluída.

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora