Há cada vez mais suspeitas de que jovens no Irão estejam a ser envenenadas como vingança pelo seu papel nos protestos pela morte de Mahsa Amini. As autoridades iranianas confirmaram estar a investigar os indícios, mas há quem suspeite do envolvimento do regime de Teerão.

Desde novembro de 2022, têm-se registado vários casos de envenenamento na cidade sagrada de Qom, a sul da capital iraniana, com várias jovens a precisarem de cuidados hospitalares.

Este domingo, o ministro-adjunto da Saúde iraniano confirmou à agência estatal ter indícios de que “algumas pessoas” estavam a envenenar jovens estudantes na cidade para as dissuadir de estudarem:

Depois do envenenamento de várias estudantes em escolas de Qom, foi descoberto que algumas pessoas queriam que todas as escolas, especialmente as escolas para raparigas, fossem encerradas”, referiu Younes Panahi citado pela CBS News.

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Os ataques têm levado a que várias jovens optem por ficar em casa. Segundo o jornal britânico The Guardian, um professor de Qom revelou que, numa escola de 250 alunas, apenas 50 têm comparecido às aulas.

A 14 de fevereiro, familiares das estudantes envenenadas organizaram-se em protesto em frente à sede do poder local de Qom para exigir explicações às autoridades. Um porta-voz do governo garantiu que as autoridades estavam a tentar encontrar uma explicação para os casos e, na última semana, foi aberto formalmente um inquérito judicial aos incidentes. Até ao momento não foram feitas quaisquer detenções.

Ao The Guardian, um médico iraniano, que falou sob condição de anonimato, afirmou que os ataques são uma tentativa de “assustar as manifestantes”, e que os responsáveis têm agido por intermédio de grupos extremistas islâmicos, dentro do Irão e no estrangeiro. “Querem vingar-se das estudantes, que são as pioneiras dos protestos recentes”, sublinhou.

Masih Alinejad, uma ativista iraniana pelos direitos humanos radicada em Nova Iorque, disse acreditar que o Estado iraniano é o responsável. “Na minha opinião, este ataque químico é uma vingança da República de Islâmica contra as corajosas mulheres que [rejeitaram] o uso mandatório do hijab. (…) É um ato de terrorismo biológico que deve ser investigado pelas Nações Unidas“.

Recentemente, os protestos ligados à morte de Mahsa Amini voltaram a subir de tom após várias semanas de tranquilidade. As novas manifestações assinalaram 40 dias desde a execução de dois homens condenados à morte pela justiça iraniana pelo seu papel nos protestos. Organizações humanitárias estimam que mais de 500 pessoas tenham sido mortas pelas autoridades desde o início da onda de protestos.

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