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PEDRO PINA

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O tiro coletivo a Medina, Moedas a solo e a esquerda num duelo particular. Quem atacou quem no debate a doze

No último debate em Lisboa, Medina foi (naturalmente) o mais atacado. Mas pôs gelo nos pulsos. Moedas tentou secar concorrência e bipolarizar. BE e PCP já não escondem que concorrem entre si.

O último debate televisivo na corrida à Câmara Municipal de Lisboa ficou marcado pelo exercício de tiro a um alvo chamado Fernando Medina. Os doze (!) candidatos não pouparam esforços e atiraram-se forte e feio ao presidente e recandidato, teórico e natural favorito. Carlos Moedas liderou os ataques a Medina e apareceu em jogo para tentar provar que é o único verdadeiramente capaz de derrotar o socialista. À esquerda, Beatriz Gomes Dias e João Ferreira não fugiram ao confronto com Medina, mas o tom ficou vários decibéis abaixo do habitual — com um duelo curioso e particular entre os dois candidatos. Previsível, mas nem por isso menos relevante e revelador.

Fernando Medina foi alvo de 46 ataques e, em contrapartida, ficou praticamente em branco nos ataques dirigidos. O único digno de registo aconteceu no capítulo da mobilidade e sem um destinatário concreto, quando troçou de quem há quatro anos “caricaturizou” as ciclovias.

Um incumbente em modo monge budista e em contraste absoluto com a estratégia que levou para o frente a frente com Carlos Moedas. O socialista esteve largos minutos calado, intervindo apenas quando lhe foi pedido pelo moderador, sem responder às várias acusações de que foi sendo alvo e vinham de todas as cadeiras da meia lua de 12 candidatos.

Evitou entrar em debates laterais, mesmo quando interpelado diretamente, nunca se dirigiu ao seu adversário direto, Carlos Moedas, driblou o tema das alianças à esquerda e acabou por sair sem grandes estados de alma. Só não entrou mudo e saiu calado, porque o moderador não deixou.

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Carlos Moedas para bipolarizar de vez

Uma estratégia, em parte, replicada por Carlos Moedas. Mas só em parte. O candidato social-democrata evitou conversas laterais e centrou-se num único alvo: Fernando Medina. Moedas sabe que tem de apelar ao voto útil à direita (logo, precisa que os eleitores que querem expulsar Medina ignorem que há alternativas à sua candidatura) e que a corrida, apesar do teórico favoritismo do socialista, ainda não está perdida.

Aliás, se Moedas pudesse escolher duas únicas frases e ir embora, não hesitaria: “Estou cada vez mais perto de ultrapassar Fernando Medina”; e “Sou o único que está na posição de retirar Fernando Medina”. Precisamente, as ideias com que começou e encerrou o debate organizado e transmitido pela RTP3.

Com intervenções curtas e claras, Moedas criticou a “arrogância” de Medina, falou em falta de liderança na autarquia, criticou a “loucura das ciclovias mal construídas”, os tiques impositivos do socialista, que “impõe soluções” sem ouvir os lisboetas, o desapego que revela pelos mais velhos sem acesso a médico de família e pelos mais desfavorecidos, em particular na questão da habitação, com o “escândalo” dos 1600 fogos em bairros municipais “entaipados”. Estava cumprido o calendário.

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Uma campanha a andar à roda

De resto, as ciclovias na cidade, que têm marcado esta corrida autárquica, acabaram por dominar também grande parte do debate. Desta vez, os candidatos eram muitos e para todos os gostos, mas as críticas cresceram de tal forma (desastre, empecilhos, “todas para acabar”) que este se tornou mesmo o tema em que o presidente da câmara foi mais atacado, depois de no primeiro debate os adversários se terem concentrado sobretudo nos falhanços da Habitação.

O assunto foi o primeiro a ser lançado depois da primeira ronda de questões mais políticas, mas não deixou de assombrar Medina até ao fim do debate. Os adjetivos e classificações para aquela que é das maiores marcas da governação do PS nos últimos anos foram variados: Bruno Fialho, do PDR, foi mostrando uma indignação cada vez maior à medida que o debate avançava, chegando a sentenciar que as ciclovias recentes são todas “para acabar” e que quem as fez deve ser “despedido”.

Horta Soares, da Iniciativa Liberal, acusou Medina de apostar nesta opção sem “dados” que a fundamentassem. Nuno Graciano, do Chega, repetiu o soundbite das “ciclovazias” e chamou-lhes “empecilhos”. João Patrocínio, do Ergue-te, perguntou porque é que é preciso “imitar” as cidades europeias” que apostam nas bicicletas.

E Carlos Moedas, mesmo por entre juras de amor às ciclovias (“eu amo bicicletas”), falou da “loucura” de ciclovias mal construídas, dos riscos crescentes de atropelamento e dos problemas de inclinação que têm.

Perante o tsunami de críticas, Medina puxou da ironia: “Fico muito satisfeito que os modos suaves de mobilidade, andar de bicicleta e a pé, seja hoje um tema de debate na cidade”. Há quatro anos, frisou, o assunto era “caricaturizado”.

Um duelo particular à esquerda

Tem sido uma das grandes questões a dominar a campanha: afinal, com quem é que Fernando Medina vai querer negociar, caso volte a ganhar a câmara — como as sondagens indicam — mas sem alcançar a maioria absoluta? E quem estará interessado em alinhar nesses acordos?

Interessados em falar dos próprios programas e menos do futuro, os candidatos à esquerda esforçaram-se por pôr água na fervura — tanto Fernando Medina como João Ferreira se esquivaram às perguntas sobre acordos depois das eleições, deixando Beatriz Gomes Dias sozinha mas disponível para voltar a assinar um acordo na Câmara de Lisboa, à semelhança do que tem atualmente com o PS (o trabalho “orgulha” o Bloco e é para “continuar”, justificou).

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Os candidatos à esquerda do PS deixaram, de resto, alguns ataques a Fernando Medina — os incumprimentos na Habitação, a linha circular do metro, entre outros — mas não foram particularmente agressivos no tom, como de resto não têm sido durante a campanha. O equilíbrio é a chave: nesta fase, é preciso marcar diferenças estratégicas e ao mesmo tempo manter a possibilidade de chegarem a entendimentos depois das eleições.

Um foco de conflito mais concreto: se João Ferreira nunca se esquece de referir a participação do BE no acordo de governação da câmara quando está a apontar defeitos ao atual mandato, e se tem acusado o Bloco de ter assinado de cruz um entendimento que já garantia ao PS a aprovação de todos os Orçamentos, Beatriz Gomes Dias entrou para o debate com vontade de desfazer essa ideia: “Não corresponde à verdade, é uma fantasia”. Com o desenrolar de um debate com tantos candidatos, o confronto à esquerda acabou, no entanto, por ser menos evidente e por proporcionar menos momentos de interação direta entre estes rivais.

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As dificuldades de Graciano, o grito de Horta Soares e a agenda de Gonzaga

Além destes duelos — todos contra Medina; Moedas contra Medina; Beatriz contra João Ferreira –, houve outros a registar. Nuno Graciano, do Chega, entrou neste debate numa posição rara: com concorrência no universo dos partidos que afirmam ser antissistema. De tal forma que, quando puxou da bandeira da combate à corrupção, foi imediatamente engolido pelos rivais. Naturalmente, sendo Medina o grande rosto do tal “sistema”, foi também o mais visado por estes candidatos.

Com mais ou menos solidez de argumentos (em alguns casos nenhuma), com ou sem ideias concretas (em alguns casos inexistentes), Bruno Fialho, do PDR, e João Patrocínio, do Ergue-te, apareceram em jogo para dizer que eram diferentes porque não eram mais do mesmo. Graciano só conseguiu sobressair quando denunciou problemas de segurança em Lisboa (“há gangues no Bairro Alto”) e de limpeza na cidade. Pouco mais.

Bruno Horta Soares, da Iniciativa Liberal, juntou-se naturalmente ao batalhão de fuzilamento a Medina, mas tinha outro alvo igualmente preparado: Carlos Moedas. O candidato liberal tem tentado ao longo do período de campanha (e antes disso também) furar a lógica de voto útil à direita e afirmar a importância de eleger o “primeiro vereador liberal” na capital.

De resto, à primeira pergunta, veio logo o grito de independência: “O nosso programa é manifestamente diferente do de Carlos Moedas”, chegou a dizer Horta Soares. O social-democrata nunca respondeu.

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A candidata do PAN, Manuela Gonzaga, enfrentou desafios semelhantes: a agenda verde, sobretudo nos grandes centros urbanos, há muito que deixou de ser um exclusivo do partido agora liderado por Inês Sousa Real. Em vários momentos do debate, tanto Tiago Matos Gomes, do Volt, como Sofia Afonso Ferreira, do Nós, Cidadãos, conseguiram marcar pontos nesse campeonato e ser mais claro nas propostas que trazem para a campanha.

Apesar de terem sido temas laterais, as tensões étnicas e raciais e o multicultarismo de Lisboa não ficaram de fora da discussão. João Patrocínio, do Ergue-te (ex-PNR), elegeu o crescimento dos “lisboetas de papel” (aos olhos de Patrocínio, pessoas que colocam em risco a “identidade” da cidade) como um dos principais problemas da capital. “Temos um candidato que defende um legado que pretende a luta contra a multiculturalidade”, insurgiu-se Ossanda Liber, do “Movimento Somos Portugal”. A troca de acusações só acabaria com a intervenção do moderador. E o debate seguiu, com novos e redobrados ataques a Medina. Até ao fim.

Medina quer encerrar etapa da pandemia, Moedas diz ser o único que pode derrubar Medina

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