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Lixo

© André Correia

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© André Correia

Os guardanapos da família Lopes já moraram lá em casa como jornais

Algum dia pensou qual é o destino dos resíduos que produz? O Observador percorreu esse caminho, desde o caixote lá de casa até ao momento que o lixo se transforma em algo novo.

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 PARTE I

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Quando acaba de ler o jornal do dia, caro leitor/a, e depois mais tarde o coloca no ecoponto azul, já pensou que esse mesmo papel pode voltar a entrar em sua casa “disfarçado”? Não, isto não é uma armadilha.

Com algumas etapas pelo meio, o percurso dos resíduos indiferenciados, ou dos que podem ser reciclados, é um jogo de máscaras. Apagar o que já foi para tornar no que é. Uma pista: a forma geométrica que melhor representa esta história é um círculo.

À mesa

Anabela e António chegam à entrada do prédio onde moram carregados de sacos de plástico do supermercado. Foram às compras para o jantar. Enquanto metem a chave na fechadura, desculpam-se pelo atraso. Os vidros da porta de entrada do prédio ficam embaciados quando alguém fala por perto devido ao frio. É uma noite de dezembro em Lisboa.

Os Lopes são uma família portuguesa igual a tantas outras. Um casal com dois filhos.

Já passa da hora marcada, algo imprevisto aconteceu. Uma familiar de António está doente e ele tem de a levar ao hospital. Para piorar a situação, o metro esteve em greve durante o dia. Por isso, chegado à cozinha, António não perde tempo: tira um folhado misto de uma embalagem de plástico e prepara um copo de leite achocolatado, retirando o pó de um recipiente de alumínio. É o seu jantar. Por sua vez, Anabela abre um móvel. “E, meu Deus, grande arrumação”, comenta. Ricardo, o filho mais novo do casal, sai do escritório da casa em pijama e vai para o quarto. Não parece estar muito à vontade por causa dos jornalistas. Pouco depois dos pais, chega a filha mais velha, Catarina.

A cozinha dos Lopes nada tem de extraordinário: é um espaço igual a tantos outros existentes nas casas de milhares de portugueses. A única coisa mais fora do comum serão os dois frigoríficos, colocados lado a lado a um canto, junto à marquise, que tornam a cozinha ainda mais pequena do que a arquitetura desenhou.

Os primeiros sinais das preocupações ambientais da família são evidentes ali mesmo, na cozinha. Um caixote do lixo com duas divisões: de um lado resíduos indiferenciados, do outro plásticos. Logo ao lado do caixote, mais dois sinais. Um garrafão de plástico com tampinhas e uma caixa com frascos de vidro. “E ainda temos um pilhão”, diz António, a apontar para uma divisão ao fundo da cozinha. Logo a seguir, despede-se e pede desculpa por não ficar para jantar. Ficamos reduzidos a três elementos da família Lopes.

Anabela vai esvaziando os sacos do supermercado: bifes de frango em cuvetes, peito de frango fumado, presunto. Depois, põe água a ferver para cozer esparguete. Bifes fora do saco, sal espalhado numa bandeja e toca de empilhar e temperar. O que vai ser o jantar? “A refeição do despacha, o mais rápido possível hoje”, diz Anabela, pedindo desculpa por não ter tempo para nada mais elaborado.

Para a entrada, corta em fatias um chouriço caseiro que vinha embalado em plástico e papel. E, ao lado, coloca fatias do frango fumado. O papel que envolve o chouriço vai parar logo ao caixote do lixo, mas na parte dos resíduos indiferenciados. “O papel para nós é só revistas e jornais”, diz, a rir, explicando que não é assim tão “picuinhas”, apesar de se preocupar com o ambiente. Catarina, por sua vez, emprata as fatias de presunto que vêm num pacote de plástico. “Isto nunca há cá em casa. Só há porque vocês estão cá”, diz, a brincar com os preparos da mãe.

© André Correia

Depois, é a Catarina que compete a preparação da mesa de jantar, na sala. Talheres, pratos, guardanapos e tudo o resto que é necessário a uma refeição. Os móveis são de estilo clássico e a mesa tem espaço para oito pessoas. Nem por acaso, a toalha tem impressa a mensagem “Everything is green” (Tudo é verde, numa tradução livre). Anabela Lopes é educadora de infância e trabalha com crianças há mais de 20 anos. “Grande parte dos pais, neste momento, em casa, também faz separação do lixo”, diz, lembrando que os seus alunos “trabalham em manuais onde se fala da separação” dos resíduos.

À mesa posta por Catarina sentam-se ela e a mãe, Ricardo prefere jantar mais tarde. Além das entradas que Anabela comprou de propósito, há ainda queijos, azeitonas, pão e um molho especial de maionese e alho para barrar nos bifes.

Inevitável era falar de lixo e de hábitos de separação, mas os sabores do repasto fazem a conversa viajar para paragens mais distantes, a aldeia da Beira Baixa natal do pai Lopes, feita de fumeiro, jeropiga, filhós e outras coisas de salivar. E, a propósito, nessa aldeia só há um ecoponto. Vá lá, nada mau, mesmo que esses caixotes estejam numa das pontas da terra e o frio beirão não convide a saídas ecológicas.

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Andreia Reisinho Costa

À boleia da viagem pela Beira, a conversa regressa ali mesmo, àquela casa, no bairro lisboeta dos Olivais, que em tempos longínquos foi sede de concelho e cuja versão atual é um misto de resquícios de ruralidade e construção dos anos 1960. É num destes prédios, numa zona cujas ruas têm o nome das antigas colónias, que fica a casa dos Lopes, equipada até há não muito tempo com conduta específica para o lixo que desincentivava a separação dos resíduos. Noutras áreas da freguesia mais antigas, relata Anabela, não há ainda ecopontos e a recolha seletiva faz-se porta a porta, quando os cães e gatos vadios não rasgam os sacos e espalham o lixo. Nessas alturas é quando a memória da antiga freguesia rural regressa às mentes dos moradores – pelos piores motivos.

Com a conversa, regada a ice tea e cerveja, uma hora esfuma-se sem quase se ter noção disso. E mais de metade da bandeja dos bifes também. São dez e um quarto e já só falta a sobremesa: mousse de lima. Só Catarina tem coragem para se aventurar no doce, feito na véspera pela mãe Anabela, cuja doçaria já ganhou fama na aldeia da Beira. Para aquecer a alma e fazer frente ao frio que faz na rua, um copinho de brandymel. Está na hora de ir pôr o lixo no caixote.

© André Correia

Passa já das onze horas da noite quando o jantar termina, depois da conversa com os jornalistas. É nessa altura que Anabela desce até aos caixotes, num compartimento específico do prédio. Por coincidência, à mesma hora, passa o camião de recolha do lixo, vindo diretamente do posto de limpeza dos Olivais. Despejados os sacos, Anabela regressa ao calor de casa. Para os homens que acabam de virar os caixotes, a noite está ainda a começar. Mas isso é o próximo capítulo desta história.

© André Correia

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