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“Há verdades que são mais inverosímeis do que a mentira, mas não vou passar a mentir porque a mentira parece mais credível que a verdade”, disse Pedro Nuno Santos
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“Há verdades que são mais inverosímeis do que a mentira, mas não vou passar a mentir porque a mentira parece mais credível que a verdade”, disse Pedro Nuno Santos

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“Há verdades que são mais inverosímeis do que a mentira, mas não vou passar a mentir porque a mentira parece mais credível que a verdade”, disse Pedro Nuno Santos

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Os sete passos de Pedro Nuno Santos para tentar assegurar um regresso com futuro

Ex-ministro esteve 8 horas na comissão parlamentar de inquérito da TAP, mas plano continua a ser aguentar mais do que isso. Pedro Nuno tentou limpar terreno, definir trilho e também acertou contas.

Pedro Nuno Santos chegou para ficar dez horas (acabou por ficar oito) no Parlamento e mais uns anos na política nacional. Foi o próprio que classificou esta audição na comissão parlamentar de inquérito à TAP como a “mais difícil” e como aquela que trazia “temas desconfortáveis” para si. Ao mesmo tempo que revelou que “ansiava” por ela há muito tempo, pela “oportunidade de poder falar” e poder seguir caminho. Não foi por acaso que antes de a audição acabar atirou que está de regresso ao lugar de deputado no dia 4 de julho. É o passo seguinte e o fim do luto de seis meses que fez, depois da traumática saída das Infraestruturas.

O regresso político já tinha começado a ser preparado na semana anterior, na audição parlamentar na comissão de Economia, este foi o segundo round e aquele em que mais pesos pendiam (e pendem) sobre o ex-ministro. Pedro Nuno diz que não é “candidato a nada”, mas a sua prestação mostra, mais uma vez, que a ambição de vir a liderar os socialistas continua no mesmo sítio. Mesmo ao lado de problemas com que vai ter de passar a conviver e que o socialista tentou aplacar, ora desviando as decisões do decisor político (ele mesmo), ora assumindo erros, ora garantindo que é mais formal do que pareceu e até que, nisso, é diferente de Galamba. E sem nunca confrontar o primeiro-ministro.

Pedro Nuno Santos voltou e quer ficar. Como o ex-ministro socialista se reposicionou no terreno

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Rebater cada um dos pesos que mais pesam

Para um socialista da ala esquerda é um peso insuportável ter aos ombros o ok a uma indemnização milionária a uma gestora de empresa pública que, ainda para mais, estava a atravessar um processo de reestruturação com despedimentos incluídos. E Pedro Nuno Santos sabe disso, tanto que tentou sacudir esse problema e camuflá-lo em frases que soaram a repúdio ao valor pago a Alexandra Reis para sair da TAP, sem nunca o fazer verdadeiramente.

Foi assim quando, logo na intervenção inicial, admitiu que o valor pago era “alto em qualquer país do mundo e em Portugal ainda mais”. A frase marcou este capítulo, mesmo que logo de seguida o ministro tenha também enquadrado o que foi pago como um valor “condizente com os valores pagos na empresa”. E até tentou relativizar, ao comparar esses 500 mil euros com os que foram pagos na CGD, a dois dos membros da equipa de António Domingues, Pedro Leitão e Tiago Oliveira Marques, demitidos pelo acionista Estado sem justa causa: “Pagaram um milhão de euros a um administrador e 750 mil euros a outro.”

[Já saiu: pode ouvir aqui o quarto episódio da série em podcast “Piratinha do Ar”. É a história do adolescente de 16 anos que em 1980 desviou um avião da TAP. E aqui tem o primeiro, o segundo e o terceiro episódios]

Foi na mesma medida que se mostrou compreensivo com as “inquietações” que gera a injeção de 3,2 mil milhões de euros de capital na TAP. Uma decisão que justifica à luz do que aconteceu depois: “Se tivéssemos fechado a TAP em 2020 não tínhamos a recuperação que temos.”

O outro problema de peso era o da legalidade da indemnização, atirada pelo ex-ministro para a gestora. Por várias vezes repetiu que  “essa não foi uma questão que alguma vez tenha sido colocada ao ministro”, nem lhe foi apresentada “qualquer alternativa jurídica”. “Cada um de nós tem as suas responsabilidades: quando reúno com o presidente da IP para construir uma estrada não lhe pergunto se vai cumprir a lei, é um pressuposto”, exemplificou, sacudindo esse problema dos ombros. O mesmo quando foi questionado sobre o convite que dirigiu a Alexandra Reis, depois da indemnização, para dirigir a NAV: também aqui disse que não era ele quem tinha de saber se havia um valor a devolver, mas sim a gestora.

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Ajustar contas com quem lhe deu mau nome (Galamba incluído)

A outra questão a resolver é a ideia de má gestão interna do seu Ministério, que foi suscitada pelo gabinete do atual ministro das Infraestruturas, e que lhe ficou colada à pele. Para isto trazia uma resposta alinhada que soou a ajuste de contas com João Galamba e a sua chefe de gabinete Eugénia Correia: “Não foi no meu tempo como ministro que havia uma cópia do plano de reestruturação só num computador.” Nesta mesma frente, também garantiu que no seu Ministério as decisões não eram tomadas por Whatssap, tinha sempre de existir validação formal posterior ao que ali pudesse ser conversado.

O pontapé de saída estava dado, no entanto, a oposição não explorou mais este flanco. Foi por outra via, com o PSD a tentar que Pedro Nuno Santos falasse sobre o decisor que se seguiu nas Infraestruturas. O ex-ministro evitou sempre, respeitando o espaço, mas quando Paulo Moniz lhe perguntou sobre a razão de a sua demissão ter sido aceite por Costa e a de Galamba não, respondeu: “Não tenho comentários sobre o primeiro-ministro aceitar a minha demissão. Eu não fui demitido, quando decidi demitir-me, demiti-me”. A frase serve para vincar o que o separa de João Galamba, que se demitiu e não saiu, e não foi a única nesse sentido. Já que antes disto tinha dito — mais uma vez quando justificava a necessidade de se demitir do Governo –, que era a única saída perante um caso que ganhara “centralidade enorme: era claro que não nos podíamos arrastar no Governo”. Uma imagem que, curiosamente, assenta nos dias mais recentes do ministro que se seguiu na pasta.

E ainda numa altura em que a direita cola Galamba à ideia de “mentira” na comissão parlamentar de inquérito, Pedro Nuno tocou na mesma palavra, para mais um momento de diferenciação: “Há verdades que são mais inverosímeis do que a mentira, mas não vou passar a mentir porque a mentira parece mais credível que a verdade.”

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Missão: proteger a relação com Costa contra outras “leituras”

Não faltam provas de que Costa não gostou do que se passou no caso Alexandra Reis, nas suas várias ramificações: além de o primeiro-ministro ter assegurado que teria demitido o antigo secretário de Estado Hugo Mendes “na hora” se tivesse sabido do e-mail em que este pressionava a antiga CEO da TAP a alterar um voo em que seguiria o Presidente da República, considerou o assunto “gravíssimo” do ponto de vista da relação institucional que o Governo deve manter com as empresas públicas, tendo inclusivamente feito questão de dar exemplos melhores (caso da Caixa Geral de Depósitos, do Metro ou da Águas de Portugal, tuteladas por Fernando Medina e Duarte Cordeiro).

Ora questionado sobre se, caso tivesse sabido antes desse e-mail, teria então demitido o secretário de Estado, Pedro Nuno discordou: um só e-mail infeliz não definiria o colaborador e amigo próximo. Mas fez questão de assegurar que nunca sentiu falta de solidariedade do primeiro-ministro, com quem “tinha e tem” uma boa relação, insistiu.

A garantia chega depois de muitas notícias sobre a degradação do relacionamento entre os dois; depois da crise do despacho do novo aeroporto de Lisboa, na sequência da qual fez um mea culpa público para continuar no Governo; e do caso Alexandra Reis, pelo qual foi criticado de forma dura pelo próprio primeiro-ministro, levando a ala pedronunista a ficar preocupada com a hipótese de uma guerra pública com Costa. O momento de tensão deixou inclusivamente parte do PS convencida de que o líder estaria interessado em acabar politicamente com Pedro Nuno, construindo uma espécie de cordão sanitário à volta do ministro e da relação do seu ministério com a TAP. Isto além de todos os outros casos mais pequenos de discordâncias que já tinham vindo a público (como a intenção que tinha de levar ao Parlamento o plano de reestruturação da TAP, travada por Costa – “é pena”, assumiria depois Pedro Nuno).

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Apesar de todo esse historial de tensões, o ex-ministro – cuja ambição de vir a liderar o PS é mais do que conhecida, mas sempre num cenário futuro pós-Costa, não equacionando desafiar o atual primeiro-ministro – fez questão de tentar deixar essa relação protegida. Aliás, se sempre houve uma ideia clara na cabeça dos pedronunistas foi que Pedro Nuno não poderia seguir o seu caminho rumo à liderança do Governo desatando a atacar o próprio Governo. O posicionamento teria de ser feito na defesa, e não no ataque, ao PS de Costa.

Curiosamente, depois de fazer a defesa da sua relação com Costa, Pedro Nuno ainda teve a iniciativa, contra “leituras” que vê e lê por aí, de dizer que também o relacionamento com Fernando Medina é bom – isto sem ninguém lhe perguntar.

Contornar o drama Galamba (ouvindo a versão de Pinheiro)

Aqui, o guião de Pedro Nuno era relativamente simples: tendo o drama nas Infraestruturas acontecido depois do seu tempo, já com João Galamba à frente do Ministério, não precisaria de se pronunciar sobre os pormenores ou de dar a sua opinião. Mantinha-se assim longe da polémica que nos últimos tempos ofuscou a questão que deu o mote a toda a sucessão de controvérsias na TAP (e à própria Comissão de Inquérito): a indemnização de Alexandra Reis, essa sim com o envolvimento de Pedro Nuno Santos.

Mas havia um pormenor que podia atrapalhar essa versão: é que Frederico Pinheiro já tinha vindo a público afirmar que tinha Pedro Nuno Santos “ao seu lado” neste momento difícil, tal como “muitos outros amigos”. Nesta audição, percebeu-se que Pedro Nuno falou com o amigo, que elogiou a nível profissional – “inteligente, trabalhador e do que vi respeitador” – por duas vezes na noite de 26 de abril. E com Galamba nenhuma, pelo menos nessa noite.

Primeiro momento: quando Pinheiro lhe ligou a contar que tinha sido demitido por Galamba. Segundo: quando Pedro Nuno decidiu telefonar, já tarde, nessa mesma noite para saber pormenores sobre o drama no ministério das Infraestruturas, até porque “as pessoas começaram a conversar”, explicou.

Pedro Nuno manteve que não tomaria lados sobre acontecimentos que não presenciou. Mas, curiosamente, não fez os mesmos contactos com Galamba que fez com Pinheiro, tendo ouvido só a versão do ex-adjunto – questionado uns minutos depois, esclareceu que não telefonou a mais ninguém do gabinete, mostrando mais uma vez algum distanciamento em relação ao seu sucessor, o ministro que estará neste momento mais fragilizado no seio do Executivo.

Se pareceu que houve interferência, a culpa foi da “entrega” à TAP

Para defender o seu legado no Ministério das Infraestruturas, especialmente a relação com as empresas públicas, Pedro Nuno tinha outra missão particularmente difícil: é que neste caso as críticas não vieram só da oposição ou da opinião pública – foram mesmo de António Costa, e foram duras.

Depois das críticas do primeiro-ministro à relação que o seu Ministério mantinha com a TAP, quando garantiu que a atuação de Hugo Mendes não correspondia de forma nenhuma ao padrão de relacionamento do resto do seu Governo com empresas públicas, Pedro Nuno precisava de vir defender a honra do seu consulado neste ponto.

Mesmo criticando o famigerado e-mail de Hugo Mendes – que “não devia ter acontecido” – sobre o Presidente da República, houve um ponto que Pedro Nuno reconheceu: até pode, de fora, parecer que tinha interferência na TAP – mas isso é só graças ao seu… estilo.

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“Entreguei-me de corpo e alma ao dossiê da TAP. Dei o corpo às balas”, justificou. Mas sabia que não percebia “nada de aviação” e que era melhor não se “meter na gestão” – com exceção, admitiu, do caso da renovação da frota automóvel da empresa, que perante a pressão mediática (e neste caso do Governo) recuou.

Não admitiu mais nenhum caso de interferência e ainda acabaria a rematar, já no final da audição, dirigindo-se ao PSD: sobre essa questão, “não tem de nada de materialmente relevante sobre mim”. Mas havia um problema: foi Costa quem fez essa crítica, muito pública. Sobre isso, Pedro Nuno, normalmente palavroso, recusou simplesmente responder: “Não vou fazer nenhum comentário sobre as declarações do primeiro-ministro”. Nem entrar em confronto com Costa.

Se eu não me defender, quem me defenderá? Os lucros do ministro… perdão, do Governo

Na cabeça dos deputados ainda pairava bem viva a memória do autoelogio de Pedro Nuno Santos, que no início do mês fora à comissão de Economia lembrar o resultados das empresas públicas durante a sua era à frente das Infraestruturas: “Em 50 anos mais nenhum ministro deixou a TAP e a CP com lucros”.

Ora Pedro Nuno diz que saiu do Parlamento, leu as reações à afirmação, pensou, até se sentiu mal, chegou a arrepender-se, mas depois voltou a pensar melhor: “Não devia ter dito aquilo porquê? Ninguém vai dizer por mim. Os senhores vão dizer aquilo que eu fiz mal”.

Desta vez reiterou a tese que, ao nível da bancada parlamentar do PS, até era melhor que vingasse na Comissão Parlamentar de Inquérito, sobre os lucros da TAP. Mas Pedro Nuno acredita que ninguém fará essa defesa do seu legado por ele – ainda para mais depois de se ter visto isolado e criticado publicamente por Costa. Fora do Governo, quis manter viva a memória das suas vitórias nas Infraestruturas, tentando dizimar constantemente qualquer tentativa dos deputados de contextualizarem os lucros da companhia aérea ou de falarem dos benefícios fiscais que recebeu. Nem tudo foi mau – e por isso fez questão de lembrar que o caso Alexandra Reis representou apenas “1%” do que fez na TAP e “0,1%” do trabalho no ministério. É essa obra, e a sua capacidade de execução, que Pedro Nuno e os seus apoiantes fazem sempre questão de frisar para memória futura.

Com uma pequena correção: desta vez, Pedro Nuno travou-se quando ia falar nos lucros do “seu” tempo na TAP e falou, primeiro, nos méritos do “Governo” como um todo. Depois é que acrescentou: “E do ministro”.

O sonho da geringonça ainda vive em Pedro Nuno

Pedro Nuno Santos não resiste. Já a audição ia adiantada quando surgiu a oportunidade de meter a geringonça ao barulho – a solução de Governo que tanto defendeu, sendo o principal rosto da ala esquerda do PS e na altura o secretário de Estado responsável pelo diálogo à esquerda – e nem pensar em desperdiçar a oportunidade de reavivar essas memórias. Continua a ser o socialista que mais orgulhosamente, e publicamente, defende esses acordos, mesmo em tempos de maioria absoluta — e oposição absoluta ao Governo por parte da esquerda.

O pretexto não era fácil, mas lá arranjou maneira: estava a falar da maioria parlamentar à esquerda que existia na altura da privatização da TAP e bastou ver Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, a olhar de lado para aproveitar (ou criar?) a deixa. “Sim, aconteceu”, começou por atirar, “com acordos assinados e tudo”. Pausa. “Aconteceu e foi bom”. Pausa. “Enquanto durou…”.

Por esta altura já a sala se ria e já Pedro Nuno se ria com vontade, à procura de mais referências para acrescentar. “É que estava aí a olhar para mim…”. Bastou o PSD atirar que a solução tinha sido boa “para o PS” para Pedro Nuno acrescentar que não: foi boa “para o país”.

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A última parte da sua missão estava cumprida: o pedronunismo continua a acreditar que não é boa ideia fechar a porta ao diálogo à esquerda, ou não acreditasse esta ala do partido que a maioria absoluta foi uma espécie de epifenómeno, dificilmente repetível. Ora esse caso a política continuará, como em 2015, a funcionar por blocos – e Pedro Nuno quererá liderar o da esquerda, até porque acredita que o centro só se vence polarizando por esse lado.

Para já, nem Bloco de Esquerda nem PCP querem ouvir falar no assunto – mas todos têm bem presente a noção de que no futuro (nas próximas legislativas) poderão ter de voltar a colocar possíveis acordos em cima da mesa, com uma direita que poderá incluir o Chega a surgir como alternativa. Nessa altura, a esquerda será forçada a conversar. Com Pedro Nuno sentado à mesa?

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