Quarta ronda, três candidatos para dois lugares finais e uma saída da corrida — assim terminou mais um dia de votações dentro do Partido Conversador para eleger o futuro líder partidário e do Governo. Dos quatro candidatos à liderança dos tories, restam três nomes: Rishi Sunak, Liz Truss e Penny Mordaunt. Pelo caminho ficou Kemi Badenoch, ex-secretária de Estado da Igualdade. Um cenário que, aliás, já tinha sido apontado como o mais provável.

O que se espera, então, para o último dia de votações, que acontece já esta quarta-feira? Uma das muitas dúvidas passa por saber a quem é que os deputados apoiantes de Badenoch vão dar o respetivo voto no dia em que terão de ficar apenas dois candidatos. Depois disso, serão os militantes conservadores a decidir quem será o sucessor, ou sucessora, de Boris Johnson, que apresentou a sua demissão há duas semanas.

Os resultados da quarta ronda de votações, que aconteceu esta terça-feira, deram então o primeiro lugar ao ex-ministro das Finanças, Rishi Sunak, que conseguiu mais três votos do que no dia anterior. Logo a seguir, ficou Penny Mordaunt, secretária de Estado do Comércio, com mais dez votos, e Liz Truss, ministra dos Negócios Estrangeiros, que conseguiu o apoio de mais 15 deputados. Olhando para os números, Liz Truss deu o maior salto — passou de 71 para 86 votos —, mas Rishi Sunak conseguiu reforçar a sua liderança. Perante este cenário, parece certo que Sunak conseguirá manter-se na corrida, ficando a dúvida sobre o segundo lugar.

Ainda assim, depois de conhecidos estes três nomes, ao início desta tarde, começaram a surgir sondagens, que abremn vários caminhos. A do Ladbrokes Politics, por exemplo, aponta para uma vitória de Liz Truss, com Sunak em segundo e Mordaunt em terceiro.

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Já outra sondagem, da YouGov, feita com 879 membros do Partido Conservador, revela preferências diferentes. Se a questão for encontrar dois candidatos para disputar a sucessão de Boris Johnson, Penny Mordaunt surge sempre em primeiro lugar.

Rishi Sunak. Favorito dos deputados, mas não dos militantes

“Patriotismo, justiça e trabalho árduo”, disse Rishi Sunak na apresentação da sua candidatura à liderança dos tories, assim que Boris confirmou a sua saída. Na política desde 2015, ano em que foi eleito deputado por Richmond, Yorkshire, este é um candidato que está a dividir opiniões dentro do partido — adorado por uns e odiado por outros. Se por um lado é elogiado por ter sido um dos primeiros ministros a apresentar a sua demissão do Governo de Boris Johnson, por outro lado é visto como um traidor do ainda primeiro-ministro britânico.

A popularidade daquele que é considerado um dos deputados mais ricos da Câmara dos Comuns tem vindo a cair nos últimos tempos, os motivos vão além da sua recente demissão como ministro das Finanças e contam-se, aliás, várias histórias. A primeira tem carimbo de 2018, ano em que Sunak conseguiu um lugar de destaque dentro do governo de Theresa May. Pouco tempo depois, foi precisamente Theresa May que o entusiasta do Brexit quis afastar, quando Boris Johnson apresentou a sua candidatura para substituir May. Foi um dos primeiros a manifestar apoio a Boris e agora foi também um dos primeiros a apresentar a sua demissão para afastar o primeiro-ministro britânico.

Sunak também não escapou ao caso partygate. Não só viu o seu nome envolvido na polémica dos convívios feitos durante a pandemia, como teve de pagar uma multa por ter participado na festa de aniversário de Boris Johnson quando as regras de confinamento proibiam ajuntamentos.

E a família também não fica longe das controvérsias. Akshata Murty, mulher de Sunak e filha de um milionário indiano, foi acusada de não pagar impostos sobre os seus rendimentos vindos do estrangeiros. Os impostos, aliás, que não são uma prioridade para este candidato, que considera que uma diminuição dos impostos só vai refletir-se no aumento dos preços.

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Estas posições e as medidas de austeridade que implementou nos últimos tempos não têm sido bem recebidas por outros deputados conservadores, mas a verdade é que Sunak é mais bem visto entre os deputados do que entre os militantes — o que pode jogar contra si, caso dispute a liderança do partido com Truss ou com Mordaunt.

No debate de domingo à noite, Liz Truss acusou-o de aumentar impostos para o nível mais alto dos últimos 70 anos, mas há quem já tenha garantido que o seu voto vai direito para Sunak. Por exemplo, o deputado Desmond Swayne, que até esta terça-feira apoiava Kemi Badenoch, já anunciou que transferiu o seu apoio para Sunak.

Liz Truss, a nova Dama de Ferro

Mais uma favorita. Apesar de continuar atrás de Penny Mordaunt nas votações, a ministra dos Negócios Estrangeiros britânica está a ganhar fôlego. E sempre foi apontada como uma possível sucessora de Boris Johnson, sobretudo porque os dois sempre foram muito próximos. Aliás, Truss pertence ao leque de deputados que não apresentaram a sua demissão há duas semanas, chegando a pedir “calma e unidade” até uma nova liderança.

Se for comparada com Sunak, Truss tem mais experiência de vida política: começou como conselheira em 2006, fez parte dos governos de David Cameron, de Theresa May e agora de Boris Johnson. E acumulou ainda a pasta de ministra do Brexit.

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Os impostos são, de resto, outro tema em que os dois candidatos não chegam a acordo. E um texto publicado no Telegraph coloca estas diferenças em evidência: “Sob a minha liderança, começarei a cortar impostos desde o primeiro dia para tomar medidas imediatas para ajudar as pessoas a lidar com o custo de vida”. “Não é correto aumentar os impostos agora”, acrescentou, num claro recado para Sunak.

Mas se Truss acusou Sunak de aumentar o carga fiscal, Sunak acusou Truss de vender uma ideia de fantasia socialista por prometer diminui-la.

A chefe da diplomacia britânica, que tem sido comparada a Margaret Thatcher e apelidada como a nova Dama de Ferro, vê agora uma oportunidade para conseguir captar os votos mais à direita, já que uma das candidatas com quem poderia dividir o apoio, Kemi Badenoch, foi afastada esta terça-feira.

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De resto, Liz Truss vem de uma família de esquerda, manifestou-se contra o Brexit, apesar de ter admitido mais tarde que respeitava a vontade dos britânicos, e o pai recusou fazer campanha por si, quando foi eleita deputada pela primeira vez, em 2010.

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A possibilidade de Penny Mordaunt se tornar uma verdadeira candidata à liderança do Partido Conservador tem vindo a crescer nos últimos tempos. Olhando para os três candidatos, esta é menos conhecida, mas tem ficado à frente de Truss em algumas das últimas sondagens.

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Enquanto estudava filosofia na Universidade de Reading, Mordaunt teve vários trabalhos — um deles como assistente de um mágico. Depois disso, e já com um passado militar no currículo, tornou-se a primeira mulher britânica responsável pela pasta da Defesa, durante o governo de Theresa May.

Numa altura em que a disputa por um lugar na candidatura à sucessão está mais forte do que nunca, os apoiantes de Liz Truss não têm poupado críticas a Mordaunt. “Para ser honesto, estou bastante surpreendido que ela esteja onde está nesta corrida”, disse David Frost, um dos ex-ministros do Brexit, que liderou as negociações entre a União Europeia e o Reino Unido. “Ela foi minha deputada — mais na teoria do que na prática — nas negociações do Brexit. Lamento dizer, mas não dominou os detalhes necessários nas negociações do ano passado”.

Mordaunt apoiou sempre a saída do Reino Unido da União Europeia, mas ficou conhecida neste tema quando disse que os britânicos não podiam vetar a adesão da Turquia à União Europeia.