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Idosos, doentes crónicos e profissionais de saúde são os principais grupos a vacinar antes da época de gripe
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Idosos, doentes crónicos e profissionais de saúde são os principais grupos a vacinar antes da época de gripe

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Idosos, doentes crónicos e profissionais de saúde são os principais grupos a vacinar antes da época de gripe

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Pasi Penttinen, especialista de imunização europeu. "Podemos ter pouca ou nenhuma gripe este ano. Mas também posso estar enganado"

Especialista europeu diz contudo que mesmo com uma época de gripe suave, é melhor estar prevenido para um cenário mau. Investir na prevenção da gripe liberta os hospitais para casos de Covid-19.

O Ministério da Saúde e a Direção-Geral da Saúde estão a olhar para o que se está a passar na Austrália, a braços com a pandemia de Covid-19 e, supostamente, a entrar na época de gripe sazonal. Mas, a verdade, é que as autoridades de saúde australianas ainda não conseguiram detetar o vírus da gripe em circulação este ano.

Pasi Penttinen, especialista em imunização do Centro Europeu de Prevenção e Controlo da Doença (ECDC), diz que olhar para os atuais dados que chegam da Austrália lhe faz pensar que vamos ter uma época de gripe muito suave no hemisfério norte. Mas o diretor do programa de vigilância da gripe também admite que é difícil fazer previsões a esta distância e que pode estar completamente errado.

E no que toca à época de gripe não se pode esperar pelo outono para se tratar do plano de contingência. Por isso, o especialista aconselha que se pense que a época de gripe vai ser grave ou, pelo menos, moderada, para estarmos melhor preparados. Até porque é bem provável que o vírus da gripe e o SARS-CoV-2 circulem em simultâneo na população.

Fundamental, diz Pasi Penttinen, é libertar espaço nos serviços de saúde durante o inverno. A melhor forma de o fazer é com as ferramentas que já existem à disposição: a vacina da gripe e as medidas que se têm usado para evitar a transmissão do coronavírus — máscaras e distanciamento social — e que funcionam tão bem ou até melhor com o vírus da gripe.

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O ECDC ainda não tem as orientações para a próxima época de gripe preparadas, mas o diretor do programa de vigilância da gripe acedeu explicar ao Observador o que se pode esperar que aconteça nos próximos meses.

Pasi Penttinen defende que o investimento nos programas de vacinação contra a gripe compensam

ECDC

O Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças [ECDC] já tem um plano para a próxima época de gripe ou uma ideia de quais são os pontos essenciais nesta preparação, tendo em conta a pandemia de Covid-19?
É difícil antecipar as datas, mas diria que no final de agosto teremos algo a sair [as orientações]. Há várias perguntas nesta área. Uma é a questão de como vamos lidar com os doentes, se tivermos a época de gripe no inverno ao mesmo tempo que temos circulação de Covid-19. Depois há a questão de como fazer os atuais programas de vacinação contra a gripe, com um surto de Covid-19 em curso. Além disso, existem também as questões mais práticas de como administrar um programa de vacinação com os diferentes tipos de medidas de distanciamento social que estão em vigor. Há uma gama bastante alargada de questões complexas que, em grande parte, são operacionais e estratégicas e não propriamente científicas.

Não sabemos como se vai comportar o vírus da gripe ou o SARS-CoV-2, por isso temos de estar preparados para todos os cenários possíveis. O que é que não nos podemos esquecer de incluir na preparação do inverno?
A primeira coisa é que precisamos de vigiar a situação da gripe, não apenas na Europa, mas em todo o mundo. E a situação atual é que parece que não há vírus da gripe em circulação no hemisfério sul como seria de esperar. Parece que a gripe desapareceu. E é muito difícil interpretar esta situação, porque pode querer dizer não há mesmo vírus da gripe a circular — e que pode ser explicado pelo fato de termos as medidas de distanciamento social, que funcionam tão bem para a gripe como para a Covid-19, às vezes até melhor. Pode ser porque as pessoas que estão doentes não têm acesso aos prestadores de cuidados de saúde no meio da pandemia de Covid-19. Ou pode ser que os sistemas de vigilância estejam tão sobrecarregados e focados na Covid-19 que não estejam a recolher informações adequadas sobre a gripe.

Mas quando conversamos com nossos colegas na Austrália, por exemplo, eles dizem que estão a testar para a gripe e que não estão a encontrar o vírus. O que parece, por agora, é que podemos ter uma estação muito leve de gripe se a situação se transferir para a Europa. É uma possibilidade real que tenhamos pouca ou nenhuma gripe a circular este ano.

Mas e se for mais intensa do que isso? Como nos preparamos?
A pergunta sobre quanto esforço devemos colocar nos programas de vacinação contra a gripe é muito difícil. Porque todo o esforço que dedicarmos a esse programa estará, obviamente, a ser afastado das atividades relacionadas com a Covid-19. E existem recursos limitados nos países para executar estes programas.

Mas se tivermos uma época de gripe muito dura à nossa frente ou mesmo uma época normal, como vimos nos últimos anos, o impacto na mortalidade e os impactos no sistema de saúde são tão pesados ​​durante aquelas poucas semanas de pico da gripe que, é claro, vamos desejar fazer tudo o que pudermos agora para diminuir essa pressão. É por isso que queremos ter um programa de vacinação contra a gripe muito forte implantado nesta fase.

Um programa de vacinação contra a gripe não se pode decidir numa semana e lançar um milhão de vacinas. É um processo que já está em curso nos países. Todos os países já compraram as suas vacinas contra a gripe para a próxima temporada. Portanto, também não se pode aumentar muito a cobertura dessas vacinas.

E qual tem sido o sucesso do programa de vacinação contra a gripe nos últimos anos?
Nos últimos 10 anos ou mais, a cobertura da vacina contra a gripe na maioria dos Estados membros da União Europeia tem sido abaixo do ideal. Tínhamos metas de cobertura vacinal de 75% para os idosos, mas nenhum país alcançou isso nos últimos 10 anos. É muito difícil executar estes programas. Para as crianças em idade escolar é um pouco mais fácil [estão juntos nas escolas], mas para os idosos precisamos encontrá-los um a um e enviar convites. Convencer as pessoas a fazerem um esforço extra por causa de uma doença para a qual se tem uma perceção menos grave do que aquilo que realmente é. É muito difícil. Mas seria muito importante se antecipássemos uma época má.

Do ponto de vista da precaução, é isso que devemos fazer. Agora, não colocámos isto em nenhuma orientação, por enquanto. Ainda precisamos de pensar um pouco sobre o assunto, mas se há algo que podemos fazer para libertar espaço no sistema de saúde, que é a parte mais importante durante o inverno, então devíamos sinalizá-la [a vacinação contra a gripe] como uma atividade muito importante.

"Com base no que sabemos agora, diria que provavelmente teremos uma época muito suave à nossa frente, mas isso pode estar completamente errado."

Então, apesar de termos do hemisfério sul sinais de que a época de gripe será pouco intensa, devemos preparar-nos, mesmo assim, para o caso de termos uma época com maior atividade gripal?
Exatamente. Fazer previsões com mais de duas a quatro semanas para a gripe — e mesmo para a Covid-19 — não é sensato. Simplesmente não sabemos o que vai acontecer. Com base no que sabemos agora, diria que provavelmente teremos uma época muito suave à nossa frente, mas isso pode estar completamente errado.

Para mim, os riscos de se colocar esforços num programa de vacinação contra a gripe nesta fase são compensados pelo benefício obtido caso a época de gripe se revele grave. É um medida de prevenção.

Quem são os principais grupos de risco?
Os Estados membros da União Europeia concordaram que os idosos — ainda que haja alguma diferença na maneira como são classificados os idosos nos vários países — são o alvo principal. Depois as pessoas com doenças subjacentes crónicas e os profissionais de saúde. Exatamente os mesmos grupos de risco que para a Covid-19, mas com algumas diferenças. O risco da Covid-19 aumenta com a idade de uma maneira muito mais acentuada do que na gripe — é por isso que o risco entre os idosos é muito alto. Por outro lado, o risco entre as pessoas com doenças crónicas subjacentes — e aqui ainda estamos numa fase de aprendizagem — parece não ser tão alto na Covid-19 como é na gripe. Os profissionais de saúde, por sua vez, são o grupo mais exposto à Covid-19. Portanto, o risco da Covid-19 para os profissionais de saúde — médicos, enfermeiros e funcionários dos lares — é muito maior do que o risco da gripe, por exemplo.

Se colocarmos ênfase nos profissionais de saúde, mais do que fizemos no passado, estaremos a proteger não apenas os profissionais de saúde, mas também os idosos, ao mesmo tempo que garantimos que não há tanto absentismo no sistema de saúde por causa da gripe.

A taxa de vacinação contra a gripe nos profissionais de saúde em Portugal é muito baixa. Passa-se o mesmo nos restantes países europeus?
Existe uma grande variabilidade. Depende muito de quão ativamente as campanhas de vacinação dos profissionais de saúde são geridas a nível local. Existem muitas ferramentas e dicas de campanhas e comunicação que fornecemos [o ECDC] e que podem ser feitas sem gastar muito tempo ou dinheiro. Podemos facilmente aumentar a cobertura da vacina entre estes funcionários de 10, 15, 20% para 70 ou 80%. Foi feito em vários países da Europa. Um dos melhores exemplos é o do Reino Unido, onde têm um programa nacional que costumava ser executado pela organização de empregadores do Serviço Nacional de Saúde britânico [NHS]. Foram os próprios empregadores que investiram recursos nisso.

E faz sentido vacinar as crianças e jovens em idade escolar, visto que podem ser os transmissores da doença?
A pergunta é: faz sentido, de forma geral, vacinar crianças contra a gripe? Existem dois países na Europa que o fazem. Para um deles, o principal argumento é que a vacinação das crianças, não só as protege da gripe, como também protege os idosos. Para o outro, o principal fator é a relação custo-benefício para o sistema de saúde: o simples facto de vacinar as crianças reduz tanto as consultas nos hospitais que se poupa dinheiro ao sistema de saúde. Há cada vez um maior ímpeto de o fazer na Europa.

Em relação à Covid-19, o assunto é mais complexo. O papel das crianças na transmissão do coronavírus é muito mais confuso do que no caso da gripe. O que vemos é que as crianças, normalmente, não desenvolvem doença grave com a infeção. Portanto, não parece haver grande necessidade de proteger crianças contra esta infeção.

Assim, embora existam bons argumentos para ter programas de vacinação infantil contra a gripe, o valor que isso teria no contexto da pandemia de Covid-19 é muito limitado. Mas, novamente, isto é baseado no meu conhecimento e experiência. Ainda não tivemos esta discussão e não sabemos o que é que os países estão a pensar fazer.

As máscaras e o distanciamento social funcionam tanto na prevenção da transmissão de Covid-19 como do vírus da gripe

AFP via Getty Images

O que podemos esperar que aconteça, na Europa, em relação ao SARS-CoV-2, podemos ter uma segunda onda?
Antes de mais, evitaria usar a dicotomia de primeira e segunda onda. Estamos no meio da primeira onda na Europa e globalmente. Só vimos declínios [no número de casos] na Europa, por causa das medidas de distanciamento físico. O vírus não mudou a dinâmica. No momento em que relaxarmos essas medidas, vão criar-se oportunidades para o vírus se espalhar novamente. Estamos a ver um aumento significativo dos casos na Roménia e na Bulgária. Vimos isso em Espanha e em Portugal também.

Em França e no Luxemburgo, o número de casos também aumentou, mas em parte devido ao aumento do número de testes. Precisamos de ter cuidado ao analisar os dados porque, no início, a capacidade de fazer testes em muitos países era limitada e ao longo do tempo aumentou-se o número de testes e alargou-se os grupos-alvo, por isso agora temos mais testes a serem feitos nas faixas etárias mais jovens. Olhando para a taxa de mortalidade, não está a aumentar, mesmo com estes novos focos de contágio, porque muito dos novos casos estão entre os 20 e os 30 anos, grupos que começaram a relaxar no distanciamento social.

E, em termos práticos, o que se pode esperar de um período em que as pessoas chegam ao hospital com sintomas que tanto podem ser de gripe como de Covid-19?
Essa é uma das perguntas mais difíceis e que, provavelmente, ainda não tem uma resposta muito boa nesta altura. O que é claro é que os sintomas das duas doenças são muito parecidos. Existe apenas um conjunto muito específico de sintomas que distingue as duas doenças: em grande parte dos casos de Covid-19 há uma perda de paladar e olfato. Mas, na prática, precisamos de fazer exames laboratoriais para distinguir as duas síndromes. Não há outra maneira fiável de o fazer.

Em épocas normais, o que acontecia era que se testava um número limitado de pessoas e, quando se percebia que a gripe estava a circular, se aparecesse uma pessoa com este conjunto sintomas — dor de cabeça, dores musculares, febre alta — provavelmente seria gripe. Portanto, geria-se o caso baseado apenas nos sintomas. Isso significa que, na maior parte dos locais, não há capacidade para testar casos de gripe em grande número, como numa época com atividade gripal alta.

Sabendo que, provavelmente, teremos os dois vírus em circulação, precisamos de pensar melhor nas nossas recomendações. Teremos de fazer uma preparação prévia no sistema de vigilância em geral. Há já alguns anos que pensamos em mudar a maneira como testamos as síndromes respiratórias, visto que há laboratórios que dão a possibilidade de fazer testes multiplex, em que com uma única zaragatoa [uma única amostra] é possível testar vários agentes patogénicos [que causam doenças] diferentes.

Pode ser que a situação leve os países a seguir nessa direção, mas ainda é muito caro fazer isso para todos os doentes. Comporta muitos custos para os sistemas de saúde, por isso precisa ser bem pensado. Por outro lado, se tivermos ambos os vírus a circular precisamos de conseguir isolar os doentes que têm realmente Covid-19 e os doentes que têm gripe. E vimos como é que, nos últimos meses, os casos de Covid-19 sozinhos esgotaram os sistemas de saúde.

Portanto, temos perguntas muito importantes, mas ainda não temos respostas. E os países precisam começar a pensar nisto agora.

"As medidas de distanciamento social que implementamos para a Covid-19 , também funcionam com a gripe, portanto é pouco provável que tenhamos as duas doenças a provocar surtos ao mesmo tempo."

É possível que os dois vírus — da gripe e SARS-CoV-2 — concorram um com o outro e não tenhamos dois picos ao mesmo tempo, no mesmo local?
A gripe tende a espalhar-se de forma muito localizada. Portanto, num mesmo país podemos ter epidemias em cidades que não são próximas umas das outras e nas cidades pelo meio não ter quase nada. O que vemos são picos que duram duas, quatro, seis semanas numa cidade, mas que depois acalmam e vão embora. Pode existir uma tendência semelhante para os focos localizados de Covid-19, mas não me parece que esse pico agudo [aumento e redução relativamente rápidos do número de casos], que acontece com o vírus da gripe, esteja a acontecer com o coronavírus.

O que sabemos é que em locais onde não implementaram fortes medidas de distanciamento social a transmissão continua e continua. O pico da Covid-19 é definido pelo tipo de medidas que se implementam na comunidade. E como disse anteriormente, as medidas de distanciamento social que implementamos para a Covid-19 , também funcionam com a gripe, portanto é pouco provável que tenhamos as duas doenças a provocar surtos ao mesmo tempo. Se temos estas medidas em curso e não tivermos o vírus da gripe a circular em lado nenhum é pouco provável que aconteça um pico de gripe. Mas se o coronavírus estiver em circulação, vamos ver um aumento do número de casos. É uma dinâmica muito complexa.

E uma pessoa pode ser infetada com o vírus da gripe e o SARS-CoV-2 no mesmo período?
Há relatos de casos assim. E não há razão para acreditar que isso não aconteceria se uma mesma pessoa fosse exposta [aos dois vírus]. Não há nenhum mecanismo de proteção, que eu saiba, que caso esteja infetado com o vírus da gripe, não vai ser infetado com o coronavírus.

Isso faz com que seja ainda mais importante testar em cada pessoa se tem gripe e se tem Covid-19?
Exatamente. Exatamente.

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