Uma semana depois de PSD e CDS terem apresentado a nova Aliança Democrática, Paulo Núncio, vice-presidente dos democratas-cristãos, não guarda ressentimentos da nega da Iniciativa Liberal à coligação, mas considera que os liberais correm o “risco sério” de verem votos a fugir para essa união. Não revela nomes, nem confirma se mostrou disponibilidade para ir nas listas de candidatos a deputados, contudo não esquece que o “histórico da AD é um histórico de vitórias sobre o PS” — e repete várias vezes que é a “alternativa credível” aos socialistas, num apelo constante ao voto útil.
Quanto ao Chega, Paulo Núncio reitera, em entrevista ao programa Vichyssoise, da Rádio Observador, que “não é não” e coloca todas as responsabilidades nos ombros de André Ventura, questionando se os eleitores de direita perceberiam uma moção de rejeição apresentada pelo partido conservador a um governo da AD e, mais ainda, se o Chega se aliasse ao PS, Bloco e PCP para o fazer. O vice-presidente do CDS considera que não e acusa o líder do Chega de, com estas atitudes, ser um “aliado útil do PS e da esquerda”.
Paulo Núncio faz um balanço “muito negativo” da governação socialista e, apesar de atribuir a António Costa a responsabilidade por um “passado doloroso”, foca-se essencialmente em Pedro Nuno Santos, que acusa de ser “muito incompetente e impreparado“. Cita Passos Coelho para dizer que o líder do PS se demitiu por “indecente e má figura” e que passa uma “ideia de instabilidade e falta de credibilidade”. “Como é possível Pedro Nuno Santos pedir a confiança dos portugueses se não foi digno de confiança enquanto era ministro das Infraestruturas?”, questiona em entrevista ao Observador.
[Ouça aqui a Vichyssoise com Paulo Núncio]
O Natal de Costa, o frio de Luís Montenegro e o CDS renascido
Com a Aliança Democrática, o CDS assegurou um regresso ao Parlamento. Esta foi a forma que o partido arranjou para não correr o risco de desaparecer de vez?
O CDS foi claro nas suas intenções. Ao contrário do que diziam 95% dos comentadores, o CDS sempre disse que estava cá, que estava confiante de que iria crescer, que iria voltar a eleger deputados e chegar à Assembleia da República, quer fosse em listas próprias, quer fosse em coligação. Foi feito um trabalho muito profundo nos últimos dois anos, que passou por uma reestruturação financeira, por uma reorganização de bases do partido, e o partido está hoje preparado para voltar a crescer, a eleger deputados e a voltar à Assembleia da República.
Mas não corre o risco de se tornar uma espécie de Os Verdes, mas do PSD?
Não, o CDS tem quarenta e nove anos, um ADN muito específico, é um partido da direita social, um partido da direita competente, civilizada, que faz falta a Portugal, e por isso esse risco evidentemente que não existe. Lembro-me de um partido, aqui há dois anos, dizer com arrogância e sem respeito pela história do CDS que iria ocupar a sede do nosso partido. Pois bem, enganaram-se redondamente.
Está a referir-se ao Chega.
O CDS está cá, vai voltar a crescer, vai voltar a eleger deputados e não me parece que vá para o Largo do Caldas qualquer outro partido.
Mas na coligação não vamos ficar a saber bem qual é que será o peso, a representatividade, que o CDS mantém ou não na sociedade portuguesa.
Normalmente, os partidos devem ir em listas próprias, devem defender as suas ideias em listas próprias. Isso é o normal que deve acontecer. Estamos a atravessar uma fase excecional em que, pela primeira vez na história da democracia portuguesa, um Governo com maioria absoluta se demitiu, e foi entendido que era necessário criar uma plataforma alargada, a constituição de uma nova Aliança Democrática, para criar uma alternativa credível e estável ao PS. Por isso, nesta altura excecional, os dois partidos entenderam que era importante criar esta aliança e esta aliança é o único voto que pode mudar de Governo, é o voto que conta, é o voto que pode alterar o ciclo político e abrir esperança para um novo ciclo de centro-direita.
Esta nova AD parte dessa tese de unir a direita para pôr fim a este ciclo de governação do PS. Sem a Iniciativa Liberal, esta coligação não nasce coxa?
Pelo contrário, a Aliança Democrática é uma marca política muito poderosa, que traz à memória dos portugueses um projeto reformista, competente, de desenvolvimento económico, de justiça social, e por isso é que, além do eleitorado tradicional do PSD e do CDS, há o povo da AD, que se mobiliza sempre que vê uma aliança genuína entre estes dois partidos. É por isso que o PS foi sempre derrotado pela AD em legislativas e estou absolutamente convencido de que a AD vai ganhar novamente ao PS nas próximas eleições.
Inicialmente falava-se de que a IL poderia estar incluída nessa coligação, não aconteceu porque o próprio partido se colocou fora. Não fica por preencher um espaço que pertencia à Iniciativa Liberal?
Temos de respeitar as decisões dos vários partidos. A IL decidiu não participar neste esforço conjunto pré-eleitoral com o PSD e o CDS e é uma decisão legítima. Eu acho que fazem mal, faria sentido que participassem nesse esforço.
Os argumentos da IL não são legítimos?
São decisões da IL, já decidiu e nós aceitámos. Acho, no entanto, que correm o risco sério de que os eleitores liberais olhem para a nova AD e vejam a alternativa credível ao PS e votem na AD e não votem na IL.
Mas também que, depois de 10 de março, se for preciso, toda a gente se entende.
Isso é futurologia, a ver vamos o que é que os resultados vão dizer. Uma coisa eu sei: a Aliança Democrática é a alternativa ao PS. É o voto que soma, que permite mudar de Governo, e, por isso, todas as pessoas que quiserem derrotar o PS devem votar na Aliança Democrática. Até porque o balanço do Governo socialista e aquilo que o PS tem para oferecer no presente e no futuro aos portugueses é muito mau.
Fala-se num número entre dois a quatro deputados para o CDS, quantos é que acredita que vai ser possível eleger para o Parlamento?
Não vou dizer uma palavra sobre essa matéria, é uma uma prerrogativa do presidente do partido e Nuno Melo já disse que cada coisa a seu tempo. Neste momento, os dois partidos estão concentrados em aprovar a coligação eleitoral Aliança Democrática, vão os dois celebrar conselhos nacionais no próximo dia 4 de janeiro e depois saber-se-ão os termos do acordo e os nomes. O acordo é um acordo bom para o PSD, bom para o CDS, mas, acima de tudo, é um acordo bom para o país porque passamos a ter uma alternativa credível ao PS. As pessoas que querem mudar a página têm, neste momento, uma alternativa que se chama Aliança Democrática, com toda a credibilidade que tem.
E Paulo Núncio é um dos nomes que vai figurar num lugar elegível?
Não vou dizer nada sobre esse assunto. O presidente do partido já disse que não fez qualquer convite a ninguém e, por isso, essa é uma questão que não se coloca.
Está disponível?
É uma questão que não se coloca neste momento. Estas matérias são matérias que serão discutidas entre o presidente do partido e as pessoas que ele decidir convidar para as listas, e não é evidentemente uma conversa que se tenha na praça pública. O CDS é reconhecidamente um partido de grandes quadros, de quadros com credibilidade, com competência, com experiência governativa e, por isso, independentemente dos convites que serão feitos pelo Nuno Melo, seguramente que o CDS apresentará quadros muito competentes e capazes nas listas para o Parlamento.
O PSD e o CDS foram juntos várias vezes a eleições desde a original Aliança Democrática. Voltam agora a unir-se, numa altura em que o PS está há oito anos no poder. Uma derrota nestas eleições, nestas circunstâncias em específico, coloca em causa os dois partidos e a forma como têm de mudar de rumo?
É uma hipótese que eu nem coloco, nem tenho em cima da mesa. O histórico da AD é um histórico de vitórias sobre o PS, de todas as vezes que a AD se formou como coligação pré-eleitoral derrotou o PS e eu estou absolutamente convencido que esta AD vai novamente derrotar o PS no dia 10 de março. Até porque o histórico dos oito anos de legado socialista é muito mau, Portugal empobreceu em termos europeus e o próximo país a ultrapassar Portugal em termos per capita é a Roménia. Portugal tem dos mais baixos salários da União Europeia.
Mas o que é facto é que não descolam nas sondagens.
A única sondagem que foi feita, até agora, que ponderou a possibilidade de uma coligação dava 38 por cento ao PSD e ao CDS e dava ao PSD, CDS e IL próximo da maioria absoluta. A única sondagem que saiu já depois do anúncio da coligação foi essa e eu estou convencido que a dinâmica da AD é muito poderosa.
Mas isso não se sente.
Mas acho que se vai sentir durante a campanha e acho que essa dinâmica vai, com certeza, aparecer.
Não acha estranho que não se sinta isso numa altura em que houve oito anos de Governo socialista, em que, segundo o que diz a oposição ao PS, há uma coleção de erros e o protagonista do PS tem uma coleção de erros que já admitiu em público? Não era de esperar uma “cabazada”?
Depende da definição de cada um para “cabazada”. Estou absolutamente convencido de que a AD vai ganhar. A coligação foi anunciada na passada quinta-feira, tem uma semana, vamos esperar pelos próximos tempos. Agora, além de o balanço da governação socialista ser muito negativo — aliás, os estudos de opinião dizem que 70% dos eleitores qualifica de mau ou muito mau o último Governo socialista —, o que é que o PS tem para oferecer no presente e no futuro? Tem para oferecer Pedro Nuno Santos e foquemos em Pedro Nuno Santos. Faz hoje um ano que Pedro Nuno Santos se demitiu por indecente e má figura, como diria Pedro Passos Coelho. Uma pessoa que não serve para ministro servirá para primeiro-ministro. Como é possível Pedro Nuno Santos pedir a confiança dos portugueses se não foi digno de confiança enquanto era ministro das Infraestruturas? Pedro Nuno Santos, para tentar afastar aquela ideia que as pessoas lhe colam de radical, de instável, de pouco preparado, repetiu três palavras: estabilidade, credibilidade e obra feita. Diria que se Pedro Nuno Santos tivesse um mínimo de bom senso, estas seriam precisamente as três palavras que ele nunca usaria numa entrevista. Estabilidade? Pedro Nuno Santos pertenceu a um dos governos mais instáveis da história da democracia portuguesa.
O PS facilitou a vida ao PSD e ao CDS ao escolher Pedro Nuno Santos ao invés de José Luís Carneiro?
Pedro Nuno Santos passa, como lhe digo, uma ideia de instabilidade, falta de credibilidade. Pedro Nuno Santos tem inúmeros exemplos de falta de credibilidade.
Mas seria mais difícil derrotar José Luís Carneiro?
Não sei e também não me meto na vida dos outros partidos. Digo é que este líder do PS não tem nada para oferecer em termos de estabilidade, credibilidade e obra feita. Há inúmeros exemplos de falta de credibilidade de Pedro Nuno Santos. É bom que as pessoas não se esqueçam que começou por dizer que não tinha nada a ver com a atribuição da indemnização de 500 mil euros a Alexandra Reis, administradora da TAP, e no final veio-se a saber que foi ele próprio a autorizar pessoalmente aquela indemnização e, ainda por cima, por WhatsApp. Acho que não é possível um primeiro-ministro com este tipo de credibilidade. Depois, obra feita. Mas qual obra? Não há obra nenhuma feita como ministro das Infraestruturas. Não foi feito nenhum novo aeroporto e não começaram as obras do antigo, não há alta velocidade, nem muito menos comboios normais no interior do país, o país não está ligado em termos ferroviários a Madrid e a Paris. Há um caos absoluto na habitação e a única coisa que fez foi injetar 3,2 mil milhões de euros para financiar uma nacionalização ideológica da TAP e agora quer reverter para novamente privatizar a empresa. Não foi feita nenhuma obra. Pedro Nuno Santos é, provavelmente, o candidato mais mal preparado que o PS alguma vez apresentou ao cargo de primeiro-ministro nas eleições legislativas.
A posição da AD quanto ao Chego é conhecida, mas há uma pergunta que pode ganhar importância no cenário pós-eleitoral: se for apresentado um governo minoritário PSD/CDS que não negoceie com o Chega, estão à espera de um milagre para que Ventura viabilize esse Governo?
Há muitas coisas que André Ventura diz que não são para ser levadas a sério, como, por exemplo, que vai ganhar as eleições ou que vai ocupar a sede de outros partidos. Isso não é nada para levar a sério, mas há outras coisas que André Ventura diz que devem ser levadas muito a sério e que os eleitores de direita devem ponderar com muita seriedade. André Ventura disse recentemente que não aceita que haja um Governo de direita sem o Chega e, se isso acontecer, apresentará uma moção de rejeição ao programa de um Governo da AD. O André Ventura está a dizer é a pedir a Pedro Nuno Santos, a Mariana Mortágua e a Paulo Raimundo para se associarem ao Chega para derrubar um governo da AD. André Ventura está a pedir à esquerda e à extrema-esquerda para derrubarem um governo de centro-direita, um governo da AD. Alguém acha isto normal? Algum eleitor de direita acha normal esta posição de André Ventura e do Chega? Será que isto é algum projeto válido para Portugal? Eu diria que não, isto aqui demonstra que, em muitos casos, André Ventura é um aliado útil do PS e da esquerda.
Mas num cenário de vitória sem maioria absoluta, não compete ao PSD e ao CDS encontrar essas condições para governar?
Se houver maioria absoluta, é simples. Se houver maioria relativa, também é simples, é olhar para a história democrática portuguesa e ver a quantidade de governos de maioria relativa que exerceram funções.
Mas alguém tem de viabilizar esse Governo. Estão a colocar o ónus em cima do Chega, o ónus não é de quem venceu as eleições e de quem não consegue uma maioria para viabilizar o Governo?
Já foi dito mais de cem vezes que não é não, e os dados estão lançados.
Se não forem os mais votados, não formam o Governo.
Mas isso está dito.
Está dito que não negoceiam com o Chega, não está dito o que é que é feito se precisarem do Chega e não negociarem com o partido.
Faremos aquilo que tem de ser feito, que é governar em maioria relativa. É isso que nós estamos a dizer aos eleitores. A Aliança Democrática vai governar, nesse caso, em maioria relativa e por isso não é não — e ponto final, parágrafo.
Luís Montenegro já disse que não governa se ficar em segundo. Caso a direita tenha maioria, vê algum inconveniente no regresso de uma figura que possa juntar todas as direitas, como Pedro Passos Coelho?
Não vou especular sobre esse cenário, mas a afirmação de Luís Montenegro mostra uma grande coerência e uma grande dignidade, porque o contrário é que seria estranho. Luís Montenegro, juntamente com um conjunto grande de pessoas do PSD e do CDS e também outras pessoas fora destes partidos, criticou a solução da geringonça em 2015, disse expressamente que quem deveria ter governado era o PSD e o CDS, e teria sido muito bom para o país que isso tivesse acontecido. Não poderia agora, passados oito anos, por razões de vantagem ou de benefício pessoal, inverter a sua posição e dizer que, afinal, uma geringonça, mesmo não ganhando as eleições, é um elemento importante ou relevante para governar. E, por isso, eu saúdo a credibilidade, a coerência e a clareza do pensamento de Luís Montenegro. Estou convencido de que a Aliança Democrática vai ganhar, é uma alternativa credível, nunca perdeu contra o PS, vamos ganhar outra vez e Portugal vai ter um novo ciclo de prosperidade, com menos impostos.
Vamos então avançar para a nossa fase do Carne ou Peixe. Tem de escolher uma ou duas opções. Nuno Melo vai, ao que tudo indica, voltar de Bruxelas e o bilhete dele fica livre. Dava-o à Assunção Cristas ou a Francisco Rodrigues dos Santos? São ambos quadros válidos do CDS, são ambos ex-presidentes do partido que deram muito ao CDS e, por isso, ficava certamente bem entregue a qualquer um.
Não quer ver mais longe um do que outro. Ficava entregue bem a qualquer um.
Regressa ao Ministério das Finanças, como secretário de Estado, e só há duas hipóteses para ministro: Fernando Medina ou Mário Centeno? Ui, venha o diabo e escolha.
A combinação que tem para a passagem de ano é cancelada à última hora e só tem uma de duas opções para entrar no novo ano: Pedro Nuno Santos ou António Costa? Também não escolhia nenhum deles, até passaria sozinho o ano para não ter que passar com nenhum deles. Não tenho nenhuma animosidade pessoal relativamente a nenhum deles, mas um é passado e é um passado doloroso, o outro é um presente, mas é um presente muito incompetente e muito impreparado.
Vai dar um jantar em sua casa e tem ainda um lugar livre. Liga para André Ventura ou para Pedro Passos Coelho? Claramente, para Pedro Passos Coelho. Trabalhei com Pedro Passos Coelho durante quatro anos e meio e tenho um enorme respeito.