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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

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Pedro Fidalgo Marques, do PAN: "Temos visto medidas desproporcionais para ativistas climáticos"

Em entrevista ao Observador, o cabeça de lista do PAN nas europeias alerta para o fenómeno da eco-ansiedade, regista caminho que o IRA tem feito e recusa política ambiental feita de "proibicionismos".

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Pedro Fidaldo Marques demarca-se dos métodos usados por organizações como a Climáximo ou a Fim ao Fóssil e garante que o partido não pode nunca concordar com ações que ponham em causa “o ataque a pessoas ou património”. Ainda assim, o cabeça de lista do PAN às europeias sublinha que estes jovens “vivem em eco-ansiedade” e as suas motivações devem ser compreendidas. Já os excessos cometidos contra eles, argumenta, não. “Não faz sentido vermos medidas desproporcionais para os ativistas climáticos, em que por cortar uma estrada são arrastados.”

Em entrevista ao Observador, no programa “Sob Escuta”, Fidalgo Marques nota também que o IRA — Intervenção e Resgate Animal tem feito um “caminho” de colaboração com as forças de segurança”, mas garante que, apesar de ter participado em manifestações organizadas pelo movimento, os dois, PAN e IRA, não se confundem. “O PAN sempre defendeu e defenderá que as ações devem ser feitas dentro da lei. Temos uma secretaria de ação jurídica, que faz um encaminhamento de milhares de denúncias todos os anos. E esse é o apelo que sempre fazemos. Dentro das normas”.

O cabeça de lista do PAN às europeias recusa alinhar numa política “proibicionista” que afaste as pessoas da causa ambiental, mas defende que a Europa deve fazer mais e de forma mais urgente na “revolução verde”. Sobre a Ucrânia, e apesar de o partido ter defendido no passado restrições na política europeia de armamento, Fidalgo Marques reconhece que o mundo mudou e que a União Europeia tem o dever de garantir todo o apoio a Kiev. Quanto à política de imigração, o PAN afasta qualquer cenário de restrição e imposição de quotas.

Sobre a vida interna de um partido que parece em permanente convulsão, Pedro Fidalgo Marques não deixa de apontar diretamente a André Silva (foi “oportunista”) e de garantir que jamais fará como Francisco Guerreiro, eleito pelo PAN nas últimas europeias que passou a independente depois de se incompatibilizar com a anterior direção. “O mandato pertence ao partido”, sublinha.

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[Veja aqui a entrevista a Pedro Fidalgo Marques na íntegra]

“Montenegro está a fazer um claro retrocesso em matéria de proteção animal”

O PAN participou em ações organizadas pelo grupo IRA – Intervenção e Resgate Animal, e Pedro Fidalgo Marques até apelou a essa participação nas redes sociais. Este grupo chegou a ser investigado pela PJ por suspeita de crimes violentos e os seus membros não mostram a cara. Sente-se à vontade com os métodos deles?
Penso que está a falar da manifestação que existiu no ano passado pela defesa da inclusão da proteção animal e do bem-estar animal na Constituição. Foi uma das maiores manifestações em Portugal em defesa da proteção animal. O que na altura estava em jogo era o Tribunal Constitucional tomar uma decisão que iria desproteger todos os animais. Foi uma manifestação muito maior do que qualquer organização. Foi realmente organizada pelo IRA, mas foi uma manifestação muito maior do que o próprio IRA, em defesa de algo tão elementar numa sociedade empática e moderna do século XXI como a proteção dos nossos animais.

Mas sente-se à vontade ao lado do IRA?
O IRA tem feito um caminho. Por exemplo, vai em conjunto com as autoridades intervir em várias situações.

Há vídeos em que eles aparecem a falar de forma intimidatória com donos de animais. Está perfeitamente à vontade com isso?
O IRA não é o PAN. O PAN tem uma política bastante definida em termos de proteção animal e, quando falamos de proteção animal, falamos também do bem-estar das famílias. Mas o IRA tem atuado em conjunto com as autoridades e tem feito esse caminho em conjunto com as autoridades. E acho que temos de caminhar todos para uma sociedade mais empática, que protege os animais. Ninguém gostava que de hoje para amanhã alguém envenenasse o nosso cão ou desse um tiro com um chumbo ao nosso gato. Proteger os animais de companhia é proteger as famílias. É esse o caminho que tem de ser feito.

A questão passa pelos métodos que são usados na proteção dos animais.
Estão a tentar fazer uma colagem entre o IRA e o PAN.

O PAN é que se colou. O PAN é que foi a uma manifestação organizada pelo IRA. Promoveu-a.
Pelo pretexto que tinha a manifestação, que é garantir que temos uma sociedade do século XXI, que inclui a proteção animal na Constituição, quando estávamos em risco de recrudescer 50, 100 ou 200 anos em Portugal. Voltaria outra vez a essa manifestação. Agora, o PAN sempre defendeu e defenderá que as ações devem ser feitas dentro da lei. Temos uma secretaria de ação jurídica, que faz um encaminhamento de milhares de denúncias todos os anos. E esse é o apelo que sempre fazemos. Dentro das normas. Mas volto a dizer: os vídeos que tenho visto do IRA nas redes sociais, as intervenções que têm sido feitas são-no em conjunto com as forças policiais. Por isso, a não ser que as forças policiais também estejam fora da lei… Se assim for temos de chamar o ministro da Administração Interna, até para perguntar porque é que a PSP e a GNR não intervêm mais.

Porque é que acha que isso não acontece?
Quero acreditar que é por desconhecimento. É necessário dar muito mais formação. O ICNF tem-no feito. Mas o atual Governo de Luís Montenegro, num claro retrocesso, passou o bem-estar animal para a Agricultura, tirando-o do ICNF, que estava a fazer um trabalho paulatino, continuado, de formação, por exemplo, das forças de segurança para conseguirem atuar melhor, mais rápido, de uma forma mais eficaz.

"Também não faz sentido vermos medidas desproporcionais para os ativistas climáticos, em que por cortar uma estrada são arrastados. Mas reforço: discordamos sempre que está em causa o ataque a pessoas ou património. Tirando isso, temos que compreender que estes jovens estão a pensar no seu futuro, são jovens que realmente vivem em ansiedade do que é que será o seu futuro se não fizerem nada"

Climáximo: “Discordamos de ataque a pessoas ou património. Também não faz sentido vermos medidas desproporcionais para os ativistas climáticos”

Temos assistido a uma multiplicação de ações de protesto por parte de organizações como a Climáximo ou a Fim ao Fóssil. Admite, por exemplo, que se possa pintar edifícios para chamar atenção para os problemas do clima?
Não podemos desvalorizar a eco-ansiedade. Mas o PAN defende métodos pacíficos. Tudo o que seja dentro dos métodos pacíficos, estamos totalmente de acordo. Não aceitamos ataques a património e a pessoas.

Acredita que este tipo de ações afasta as pessoas da causa?
As ações que acabam por ser contra pessoas ou património podem não conseguir atingir o objetivo a que se propõem. Temos é de partir para esta sensibilização e mostrar às pessoas o que é a realidade. Não é alarmismo, é realidade.

Mas acredita ou não que este tipo de ações afasta as pessoas da causa climática?
Devemos ir por ações que vão sensibilizar as pessoas. Mas existe o direito ao protesto. Também não faz sentido vermos medidas desproporcionais para os ativistas climáticos, em que por cortar uma estrada são arrastados. Mas reforço: discordamos sempre que está em causa o ataque a pessoas ou património. Tirando isso, temos que compreender que estes jovens estão a pensar no seu futuro, são jovens que realmente vivem em ansiedade sobre o que será o seu futuro se não fizerem nada.

E tentaram perceber se há pessoas do PAN ligadas a este tipo de movimentos?
O PAN é um partido democrático, com democracia interna. Cada um é livre de entrar nas associações que pretender. Não vamos estar armados em PIDE e a perseguir quem é que está numa ou noutra instituição.

Já reconheceu que este tipo de ações pode prejudicar a causa, daí a importância da pergunta: se se está a prejudicar uma causa que também é do PAN, era normal que o PAN procurasse pelo menos chamar para si esse tipo de jovens ou então tentar que os próprios militantes do PAN não alinhassem neste tipo de estratégias.
Cada um é livre de defender as causas em que acredita. O PAN está sempre nesse caminho de sensibilizar e é um partido político. Estamos a trabalhar na área da política e das medidas políticas que precisamos de tomar para mitigar e para alterar o atual panorama.

A Climáximo defende a neutralidade carbónica já em 2030. Isso seria possível?
É uma meta ambiciosa, mas temos de trabalhar o máximo possível para ela. O PAN defende que é necessário antecipar a meta do Pacto Ecológico Europeu, fixada em 2050. Isso é demasiado tarde. Seria necessário antecipar pelo menos para 2040 e ser mais ambicioso na transição energética para as energias renováveis. Estamos a falar de criar, por exemplo, 1,2 milhões de novos empregos na União Europeia. Temos de transitar para uma agricultura mais sustentável, biológica, de precisão e não de extensão e intensiva. Temos de ter maior mobilidade. Por exemplo: se quisermos sair de comboio de Lisboa para a Europa, neste momento, não conseguimos porque nunca foi retomado o comboio de Lisboa para Madrid.

Mas qual seria o prazo para o PAN?
Temos dois valores que temos que equilibrar. Por um lado, a emergência climática, que é uma realidade. Acho que hoje em dia todos vemos as catástrofes naturais, é uma realidade, um facto. Temos cheias e inundações fora de época. É também uma realidade. É necessário atuarmos. Por outro lado, temos que garantir um redirecionamento de investimento para podermos fazer essa transição. O ideal claramente seria 2030. Mas temos que trabalhar para antecipar o máximo possível para 2040.

A meta de 2030 não é realista?
Seria realista se todos os países, se todos os Estados-membros, todas as populações, se comprometessem para isso. Infelizmente, o que estamos a ver, até com esta potencial viragem à direita do Parlamento Europeu, é que poderemos cair num retrocesso em política ambiental que só irá prejudicar as pessoas, mesmo em termos económicos —  porque as externalidades e o impacto económico das alterações climáticas e das catástrofes naturais é muito maior do que o investimento necessário para a transição verde.

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“Não faz sentido entrarmos em proibicionismos”

Na Alemanha, o ministro dos Transportes admitiu a possibilidade de proibição total de circulação automóvel aos fins de semana. Acha uma boa possibilidade?
Temos de ter uma boa rede de transportes públicos para que as pessoas possam ter mobilidade e ter uma rede que realmente funcione, que é fiável, não apenas  nos grandes centros urbanos, mas sim por todo o país. Temos, por exemplo, de garantir passes gratuitos. Se usássemos os 300 milhões que existem em borlas fiscais para a indústria petrolífera e redirecionássemos para os passes, conseguíamos pagar passes gratuitos para todos os portugueses.

De acordo com os dados da Associação Automóvel de Portugal, um em cada quatro carros em Portugal têm mais de 20 anos. Se impedirmos a circulação desses automóveis ou se os taxarmos com medidas fortes teríamos cidades onde só os mais ricos é que podiam circular.
Temos de investir na melhoria da mobilidade suave, na rede de ciclovias, nos transportes públicos.

Mas há pessoas que não podem ir trabalhar de bicicleta.
E é por isso que temos de ter uma boa rede de transportes públicos

A oferta de transportes públicos não é suficiente.
Neste momento não, mas temos que trabalhar não só nas grandes áreas metropolitanas mas pelo país inteiro. Temos que investir numa rede de transportes públicos fiável que funcione e isso pode vir até de políticas de investimento na União Europeia.

Não deve haver proibições de circulação de carros até que haja essa rede de transportes públicos forte?
Temos que pensar nas pessoas e não faz sentido entrarmos em proibicionismos. Esta revolução verde só se faz com as pessoas, não se faz contra as pessoas. Temos de fazer este percurso de dar condições às pessoas para poderem reduzir o automóvel. Temos que apostar nos transportes públicos e na ferrovia.

A tal meta de 2050 faria da Europa o primeiro continente a ter neutralidade carbónica. Está a pedir à Europa que acelere ainda mais essa transição, mas a verdade é que os outros continentes têm metas muito mais alargadas. Portanto, a Europa até está a fazer um bom trabalho. Ou não?
A Europa tem de continuar este caminho da liderança pelo exemplo. Neste momento, o bloco europeu é o terceiro mais polidor do mundo. Não devemos continuar a usar os outros como desculpa. Temos de trabalhar em conjunto com as pessoas, por exemplo, em medidas como o “Sol para Todos” e o “Sol Solidário”, propostas que o PAN já apresentou. Implementar painéis solares mais democráticos em várias casas pelo país em vez de ter os mega-complexos que vão destruir a nossa biodiversidade e os nossos sobreiros. Temos de ir muito mais por esta via de cada um de nós se tornar um produtor. O que eu produzisse em excesso podia doar a uma instituição de solidariedade ou a alguém que necessitasse, por exemplo. Depois, a transição para as energias renováveis traria 1,2 milhões de empregos para a Europa.

Há sondagens que mostram que os Verdes Europeus podem perder 20 dos 72 eurodeputados precisamente porque os eleitores não estão disponíveis para pagar um preço económico alto por essas políticas. Tem falado dos empregos que vão ser criados com a transição verde, mas há muitos empregos que são perdidos e trabalhadores que não são passíveis de reconversão. Reconhece que é uma mensagem difícil de passar?
Temos de falar do que vamos perder e do impacto económico de não fazermos nada. As pessoas vão perder muito mais do que se atuarem agora. Estamos a falar de empregos, alguns deles tradicionais, como os guarda-rios e os guardas florestais, e de empregos criados nas energias renováveis. E não estamos a falar de custos para as pessoas. No caso do “Sol para Todos” e do “Sol Solidário”, por exemplo, estamos a falar numa poupança da fatura energética. Sim, provavelmente tem de existir uma melhor comunicação até por parte do governo e da União Europeia, mas o que temos é que muitas vezes há lobbies que não têm interesse nisso, principalmente o lóbi da indústria petrolífera. Daí a importância da regulação do lóbi e de maior transparência na pegada legislativa

Consegue compreender que ideias como “temos de ser todos produtores” possa chocar de frente com a realidade concreta de muitas famílias? Famílias que têm carência habitacional, que têm rendimentos muito baixos… Como é que essas pessoas vão ser produtoras?
Não podemos deixar ninguém para trás. Temos que apoiar essas pessoas. Mas se perguntar a qualquer uma dessas pessoas se, com os apoios para isso, aceitariam instalar um painel solar em  casa, sendo que isso irá refletir-se na fatura da energia, tenho dúvidas que alguém vá dizer que não.

A questão é que o Orçamento, o dinheiro, não dá para tudo. É preciso fazer escolhas.
É preciso direcionar o dinheiro para os investimentos certos, tirar dos combustíveis fósseis para apostar na transição energética, na transição verde. O mesmo quando falamos de Política Agrícola Comum: temos que direcionar os apoios para uma agricultura mais verde, de precisão, que apoie os pequenos e médios agricultores, aqueles que protegem a nossa biodiversidade e a nossa natureza.

"O IRA não é o PAN. O PAN tem uma política bastante definida em termos de proteção animal e quando falamos de proteção animal falamos também deste bem-estar das famílias. Mas o IRA tem atuado em conjunto com as autoridades e tem feito esse caminho em conjunto com as autoridades. E acho que temos caminhar todos para uma sociedade mais empática, que protege os animais"

“Há casos de animais transportados no porão que chegam mortos”

Falando das prioridades do PAN. Numa entrevista recente apontou como primeira prioridade, caso seja eleito, a questão dos transportes de animais de companhia nos aviões. Não é estranho que um partido ecologista tenha como primeira prioridade facilitar as viagens de avião?
Não estamos a facilitar as viagens de avião: a necessidade de viajar é uma realidade. Até termos outras soluções de transporte que não o aéreo, temos de garantir que as condições são dignas. Os animais de companhia fazem parte das nossas famílias.

Os estudos mostram que 80% dos portugueses não andam de avião. Quando apresenta esta prioridade como sendo uma das principais do PAN não se está a dirigir apenas àqueles que têm mais capacidades e dinheiro para andar de avião?
Não. Essa proposta foi feita num conjunto de outras. Por exemplo, criar um base europeia de dados comum dos animais de companhia — porque se formos viajar e o nosso cão ou gato foge e se perde, a base de dados não é comum e torna muito mais difícil voltar a identificar os donos.

Para enquadrar a pergunta: 80% dos portugueses não andam de avião; dos que sobram, 20%, nem todos terão animais de companhia. Portanto, a principal medida do PAN nestas europeias serve a, digamos, 5% dos portugueses que, simultaneamente, têm animais de companhia e andam de avião.
Todos temos de ser solidários.

Mas qual era então a sua proposta em relação ao transporte de animais?
É que os animais  de companhia devem ir com as pessoa na cabine. Ou se forem no porão que sejam tratados com dignidade. Não como tem acontecido, em que os animais chegam mortos ao destino, se perdem ou acabam totalmente desidratados. Isto é algo que sensibiliza qualquer pessoa.

Haveria alguma limitação? Quem quisesse poderia levar um animal de companhia na cabine do avião sem restrições? Qualquer animal?
Até nós, como pessoas, quando viajamos no avião, temos restrições.

Quais seriam as restrições na sua proposta?
Tem de se garantir condições de bem-estar, que não existem. Os animais de companhia não são carga.

O transporte em cabine também tem problemas de saúde para os animais. Há raças de cães, por exemplo, que têm problemas respiratórios e que para eles é também um perigo viajar na cabine. Haveria algum limite para o número de animais em cabine? As companhias seriam obrigadas a aceitar um número sem limite? O que é que está na vossa cabeça?
Tudo tem que ser regulamentado. Não faz sentido eu, Pedro, querer ir para Bruxelas e de repente querer levar os meus quatro gatos comigo ao mesmo tempo na cabine. Que eu gostaria, gostaria. Mas não faria sentido. Temos de encontrar uma solução que vá privilegiar o bem-estar destes membros das famílias portuguesas. E é disso que estamos a falar. Se falarmos no pilar animal, temos também de falar da revisão da política fiscal da União Europeia, da redução do IVA dos atos médico-veterinários, da medicação médico-veterinária e também da alimentação. Isso é algo que toca o bolso de todos os portugueses que têm animais de companhia, que são mais de metade. Mas temos também de falar das pessoas: temos de pensar se faz sentido continuarmos a política que seguimos em que as famílias estão reféns da taxa de juros, muitas não conseguem chegar ao final do mês a pagar a prestação da casa, as despesas fixa, como a água, luz, telefone e para a alimentação.

"Temos de garantir condições de apoio e de integração para que estas pessoas não não sejam consideradas indigentes, para que não caiam em situação de sem abrigo. E isso é um papel que o Estado deve ter. O que não podemos permitir é que as pessoas vivam sem condições ou que sejam exploradas e muitas vezes quase esclavizadas nos seus trabalhos"

“Ninguém muda de país para depois ficar a viver na rua”

Um dos temas que está a marcar estas eleições europeias é a imigração. Na vossa visão, Portugal deve ter algum limite na entrada de imigrantes?
Portugal deve ter uma política de integração.

Mas deve ter algum limite na entrada?
Não devemos olhar para a questão como pôr limites e restrições. Devemos ter uma política de imigração que acolha as pessoas que vêm para trabalhar e que, acima de tudo, não limite os pedidos de asilo.

São coisas diferentes. Vamos focar-nos na questão da imigração. Alguns partidos propõem quotas para imigração. O PAN concorda ou toda a gente pode vir?
Podem vir desde que cumpram os critérios de imigração.

Que devem ser quais?
As pessoas que vêm à procura de uma melhor qualidade de vida, que vêm para trabalhar.

Devem ter uma promessa de contrato de trabalho para poderem entrar, por exemplo?
Atualmente, isso já não é necessário. Agora, podem vir com essa perspetiva de trabalho. Os portugueses já foram para França, para os Estados Unidos, com a perspetiva de ter o seu sonho de melhor qualidade de vida. Não podemos entrar em políticas restritivas. Não é esse o caminho para uma Europa de integração, para um projeto de integração e de bem-estar. As pessoas devem vir nesta ótica de integração. Os nossos imigrantes são contribuidores líquidos para a Segurança Social, é alguém que vem cá contribuir para a nossa sociedade. Devemos olhar nessa perspetiva e não na perspetiva de estarmos a limitar por limitar.

No programa para as legislativas o PAN dizia o seguinte: “[Devemos] garantir condições dignas de trabalho para todos os trabalhadores, nomeadamente para refugiados e imigrantes, visando combater todas as formas de exploração”. Isso quer dizer que o Estado deve arranjar trabalho para os imigrantes?
Não. O Estado deve fiscalizar.

Mas diz que devemos garantir condições de trabalho. Quem é que tem de garantir trabalho aos imigrantes que não o consigam?
Temos de garantir condições de apoio e de integração para que estas pessoas não sejam consideradas indigentes, para que não caiam em situação de sem abrigo. E isso é um papel que o Estado deve ter. O que não podemos permitir é que as pessoas vivam sem condições ou que sejam exploradas e muitas vezes quase escravizadas nos seus trabalhos. Ninguém muda de país para depois ficar a viver na rua. As pessoas vêm para cá e procuram trabalho. Estamos a falar de pessoas que devem ser apoiadas, garantido que tenham um mínimo de dignidade na sua vida.

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“O mandato pertence ao partido. Nunca ficaria como independente”

Nas últimas eleições europeias o PAN elegeu um eurodeputado, Francisco Guerreiro, que depois deixou o partido, mantendo-se no Parlamento Europeu. Que garantias têm os eleitores do PAN de que isso não se repete consigo?
Estou fortemente comprometido com o PAN, com as causas que representa, com o programa do partido. Estamos a eleger mediante um programa, mediante determinadas propostas e numa lista de um partido. O mandato pertence ao partido e não tenho qualquer previsão de entrar em rutura.

Mas pode acontecer vir uma nova liderança e fazer mudanças.
O caminho passa pelo diálogo. Tenho aliás que lamentar que não tenha sido possível aprofundar esse diálogo no anterior mandato de Francisco Guerreiro ainda com o anterior líder do PAN, André Silva, e que se tenha chegado a esse ponto de rutura.

Se por acaso entrar em divergência com o PAN, deixa o Parlamento Europeu?
Se me desfiliasse do PAN, não fazia sentido estar a representar uma lista que foi eleita pelo PAN.

Para ser claro: admite em alguma hipótese ficar como independente no Parlamento Europeu?
Não.

Neste fim de semana, ficámos a saber que o cabeça de lista do Livre, que pertence à mesma família europeia do PAN, já tinha falado com Francisco Guerreiro para perceber melhor o trabalho de um eurodeputado. No seu caso: já falou com Francisco Guerreiro?
Não tive ainda a oportunidade de falar com Francisco Guerreiro. Terei todo o gosto em fazer essa conversa se houver abertura. Tenho que realçar que da parte da atual direção do PAN existiu essa aproximação a Francisco Guerreiro para poder haver diálogo. Do outro lado, não houve essa abertura. Mas o PAN é um partido de diálogo, estamos sempre disponíveis para o diálogo.

O Livre apontou o PAN como um exemplo de um partido que chegou a ter vários deputados e depois implodiu muito por causa de divergências internas. Francisco Guerreiro saiu do partido, André Silva também já deixou o partido, o PAN volta e meia envolve-se nestas discussões internas. É um partido que não soube crescer?
O PAN é um partido que tem uma forte democracia interna.

Os outros partidos também têm democracia interna e nem todos acabam com o fundador a sair e com o único eurodeputado a sair.
Às vezes, temos que lamentar também os timings com que as pessoas o fazem. Às vezes são oportunistas.

André Silva foi oportunista?
Quando o faz em plena campanha eleitoral vai prejudicar, não a atual direção, não o partido, mas causas que ele defendeu tão arduamente no Parlamento. A pessoa, sendo coerente com as causas que defende, não deve prejudicar o que defendeu.

Mas há ou não um problema estrutural no partido?
Se calhar o que existe, infelizmente, é esta cobertura jornalística do PAN…

A culpa é dos jornalistas?
Não foi isso que disse. Até elogiei a cobertura jornalística do PAN, que permite  mostrar esta transparência e o debate interno. Mas vimos agora que até a oposição no Livre é maior do que no PAN. Rui Tavares só foi eleito por 60% e quase não havíamos falado da corrente interna. A atual direção do PAN foi eleita por mais de 70%. O PAN tem feito este trabalho de consolidação, este trabalho de auscultação, a atual direção tem promovido até uma maior democracia interna.

"Estou fortemente comprometido com o PAN, com as causas que representa, com o programa do partido. Estamos a eleger mediante um programa, mediante determinadas propostas e numa lista de um partido. O mandato pertence ao partido e não tenho qualquer previsão de entrar em rutura"

“Temos de dar todo o apoio à Ucrânia, inclusive militar”

No programa das europeias de 2019, o PAN defendeu o seguinte: “[Devemos] fomentar o fim da comercialização de material bélico para zonas e países em conflito ou em tensão geopolítica direcionando esses investimentos e esforços para a promoção da paz, da cooperação e do comércio justo”. Perante a evolução da situação na Europa entende que a União Europeia não deveria apoiar militarmente e financeiramente a Ucrânia?
2019 parece que foi numa era passada. Foi antes da Covid e antes da invasão da Rússia.

Foram ingénuos quando escreveram isto?
É uma era diferente. Temos de olhar com uma outra perspetiva. Atualmente, o PAN é inequívoco na defesa da paz e é inequívoco na defesa da autodeterminação e da defesa dos povos. Temos de assumir que temos uma guerra em solo europeu e temos de dar todo o apoio à Ucrânia, inclusive militar. A defesa da Ucrânia é a defesa da Europa.

Defende a entrada da Ucrânia na União Europeia?
Sim, cumprindo todos os processos da União Europeia — e a União Europeia tem um processo consistente de integração europeia para garantir que os países cumprem todos os valores europeus.

Mesmo sabendo que isso vai implicar inevitavelmente uma transferência de fundos maiores para a Ucrânia?
A União Europeia é um projeto de paz e de procura de bem-estar de todas as pessoas — e aqui acrescentamos os animais e a natureza. Esse é o caminho que temos de seguir.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

 
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