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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Pedro Nuno empurra AD para o Chega e aposta na degradação num breve prazo

Líder do PS assumiu a derrota com resultados em aberto, convencido de que os números já não viram. Não viabiliza mais do que Governo à AD e deixa a Marcelo a direita apanhada pelo Chega.

Tinha passado pouco mais de meia hora das projeções à boca das urna e o PS já assumia a derrota e ocupava o lugar de líder da oposição. E foi assim mesmo que terminou a noite, ainda que a margem fosse tão curta para a AD (ficou a dois deputados, mas perdeu 40) que até António Costa passou no Altis para dizer que nem tudo estava perdido. Mas Pedro Nuno Santos decretou o fim da “tática política” no PS, assumiu logo o lugar na oposição, com a promessa de viabilizar o Governo da AD mas mais nada. Aposta tudo da degradação breve da frente da direita entregue ao Chega.

“Vamos ver o que vai acontecer nos próximos meses e como a direita vai organizar a governação em Portugal”, desafiou o socialista a dada altura da noite, quando respondia a perguntas dos jornalistas e garantia que não viabilizará nem “moções de rejeição” nem de “confiança” a um futuro Governo da Aliança Democrática.

A ideia do PS é deixar a AD a ter de se entender no Parlamento com o Chega que disparou nestas eleições muito à conta de deputados ganhos diretamente ao PS (ler mais adiante neste artigo), pressionado ao mesmo tempo o Presidente da República — os socialistas ficaram irritados com a notícia do Expresso da sexta-feira passada que dava conta do bloqueio que Belém faria ao Chega. Os resultados foram expressivos para o partido de André Ventura e pouco dilatados para a AD, pelo que o PS pretende explorar essa relação que consideram fatal, até junto de Belém.

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Quando questionado sobre se concordava com o presidente do partido, Carlos César, sobre a tentativa de condicionamento do ato eleitoral, Pedro Nuno assumiu que existe “absoluta sintonia entre secretário-geral do PS e presidente”. A relação entre Belém e o Largo do Rato sai destas últimas semanas ainda mais maculada do que já estava.

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“A direita e a AD que não contem com o PS para governar“, declarou na sala do Altis onde nos últimos anos o PS festejou vitórias eleitorais. A única disponibilidade é para “não inviabilizar a formação do Governo”, já quanto a orçamentos do Estado, Pedro Nuno Santos não só disse que não contem com o PS, como avisou (e serve para dentro e para fora) que “não vai haver divisão no PS” nessas votações.

Diz que já começou a sentir “alguma pressão” para “suportar” um Governo da AD e ainda que tenha dito que não estava a pensar no Presidente da República quando o disse, a verdade é que é para aí que parece dirigir-se. Não quis revelar o que dirá a Marcelo numa futura audiência, mas avisou já: “Não é a nós que têm de pedir para suportar um Governo. Sabemos que essa pressão virá, camaradas, mas vamos aguentar firmes.” As perguntas eram concretamente sobre a viabilização de Orçamentos do Estado, mas a resposta estava acantonada nisto: “O nosso projeto não é compatível, é alternativo ao da AD.”

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“Renovar” o partido e “recuperar” os perdidos para o Chega

Repetiu ainda uma ideia deixada em campanha, sempre que era confrontado com o resultado que acabou por ler nesta noite, dizendo que “o PS vai liderar a oposição e nunca deixará a liderança da oposição para André Ventura”. Na oposição, Pedro Nuno Santos pretende “renovar o partido e procurar recuperar os portugueses descontentes com o PS”.

Ao olhar para o Chega, Pedro Nuno vê a sangria que sofreu por essa via. “O Chega teve um resultado muito expressivo que não dá para ignorar, não há 18,1% de portugueses racistas ou xenófobos em Portugal”, disse para assumir logo de seguida que “há muitos portugueses zangados, que sentem que não têm tido representação. Queremos reconquistar a confiança destes portugueses”, afirmou apontando que quer “voltar” a ter com o seu partido “todos os que estão descontentes com a política, o sistema político e o PS”.

Antes dele, António Costa tinha explicado o crescimento do Chega por duas vias: a crise inflacionista, sim, mas também a “situação de sobressalto e de dúvidas judiciais por esclarecer” que, disse o líder do PS que se demitiu do Governo depois de um processo-crime contra si, “criam um caldo de cultura para o populismo”.

Numa leitura dos resultados, focando cada círculo eleitoral, é possível verificar que a maior transferência de votos foi mesmo do PS para o Chega, tendo acontecido na esmagadora maioria dos distritos. verificou-se em Vila Real, Guarda, Castelo Branco, Portalegre, Coimbra (perdeu dois para o Chega, ainda que se tenha mantido vitorioso no círculo), Leiria (aqui também perdeu um para a AD), em Santarém (perdeu mesmo dois para Ventura), em Évora, Faro, Braga (onde foram três as perdas para o Chega), em Aveiro (no distrito do líder o PS perdeu dois deputados para o Chega e um para a IL), no Porto (dos seis perdidos, cinco foram para o Chega e um para o Livre), Viseu e Setúbal (onde perdeu para o Chega e também para a AD) e nas ilhas.

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Sem contas fechadas mas sem querer sequer olhar para a esquerda

Pedro Nuno Santos chegou ao fim da noite sem as contas fechadas. A dada altura, António Costa fez uma rápida passagem pelo Altis — onde tinha dito que só iria em caso de derrota –, para dizer que nem tudo estava perdido, já que os círculos da emigração ainda têm quatro mandatos para distribuir, quando os votos foram contados, e a noite podia acabar com uma margem menor do que isso entre PS e AD. Os ânimos dos simpatizantes da sala do piso -1 do Altis pareciam ganhar alento — tanto que quando Pedro Nuno chegou à sala os gritos eram de algum contentamento, tendo em conta o que dissera Costa pouco tempo antes e o número de mandatos então quase empatado na contagem oficial dos votos. Gritou-se “PS” e também “25 de abril sempre, fascismo nunca mais”.

Mas no piso superior, o 13º onde a direção do PS estava reunida, a orientação geral era para manter o que fora dito pelo diretor de campanha, João Torres, na primeira declaração da noite: o PS tinha perdido e ia mesmo para a oposição.

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Quando chegou ao palco, Pedro Nuno Santos disse isso mesmo, esfriou a sala, e explicou que tem “resultados que mostram que é muito difícil ao PS ganhar as eleições em votos e mandatos” e que é “improvável” que os círculos da emigração venham a compensar a diferença para a AD. Nas últimas eleições os PS conquistou três destes quatro mandatos em disputa, mas há agora a expectativa que o Chega possa eleger aí também. Mas Pedro Nuno assumiu que, embora a diferença não seja “muito significativa”,  “não podemos estar a manter o país em suspenso mais 15 dias quando é improvável que o círculo das comunidades venha a compensar a diferença que existe hoje.”

Não quis falar na esquerda, excluindo de cogitações nesta altura uma conta que fez várias vezes durante a campanha e que ainda não está excluída: PS, PCP, BE e Livre juntos somam mais mandatos do que a AD e a IL. Nas contas sem os mandatos que estão suspensos nos círculos da emigração, a esquerda soma mais três deputados do que a direita sem o Chega (são 90 de um lado e 87 do outro). No entanto, o líder socialista não quer complicar: “As coisas são simples e claras, não compliquemos. Não temos maioria e não a podemos apresentar como solução”.

Aliás, lembrou mesmo que a direita disse “não é não ” ao Chega para formar o Governo, mas nunca o excluiu para inviabilizar uma solução de esquerda no Parlamento. O sonho de uma reedição da “geringonça” fica, assim, na gaveta de Pedro Nuno Santos.

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