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Pixies: "Somos os Grateful Dead da música alternativa"

David Lovering não está certo dos números mas tem as histórias na memória. Em entrevista, antes do concerto no NOS Alive (esta quinta-feira), o baterista diz que a separação salvou os Pixies.

Entre 1986 e o início de 1993 foram a banda indie perfeita: a fazer canções à margem do mainstream mas sem deixar escapar quem as ouvisse. Poucos assinaram angústia distorcida como eles — e quem lá chegou nunca o teria conseguido se não tivesse decorado estes quatro álbuns: Surfer Rosa (1988), Doolittle (1989), Bossanova (1990) e Trompe le Monde (1991).

Separaram-se em 1993 porque não podia ser de outra maneira — nesta conversa por telefone, David Lovering, o baterista que foi também um dos fundadores do grupo, fala em “egos demasiado grandes” e numa espécie de prazo de validade que já tinha acabado. Dez anos mais tarde, e Black Francis, Kim Deal, Joey Santiago e Lovering trocaram telefonemas. Não havia volta a dar, nada se comparava aos Pixies e era preciso tratar do regresso. Aconteceu nos palcos em 2004, uma década antes de um quinto disco de estúdio, Indie Cindy, e da substituição da baixista. Saiu Deal, entrou primeiro Kim Shattuck e agora o quarteto conta com Paz Lenchantin. Entretanto foi confirmada a edição de um novo álbum, Head Carrier, a 30 de setembro.

Esta quinta-feira partilham o espaço maior no cartaz com os Chemical Brothers, no dia de abertura do NOS Alive. E David Lovering diz que as coisas não podiam estar melhores: “Toco bateria e as pessoas aparecem para ver. Já viste bem isto? É difícil que as outras pessoas compreendam como isto é uma sorte”. Começámos pelos 30 anos da banda, mas David não estava nem aí.

[o novo single dos Pixies, “Um Chagga Lagga”, do álbum que será editado em setembro]

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30 anos de Pixies. Nada mau!
Oh meu deus… isso é verdade?

Bom, pensei que um dos músicos que fundou a banda me pudesse ajudar nestas contas.
Sabes, como parámos uns quantos anos pelo caminho…

Mas esclareçamos isto, então.
Sim, claro que me lembro. Agora que falas nisso, sim, de facto faz sentido. Lembro-me agora de algumas coisas desse ano de 1986. Estou a ficar velho, é difícil lidar isto.

Mas é uma pessoa muito diferente, hoje? Isto além das mudanças óbvias e inevitáveis, claro.
Pois, como aquela coisa de ter menos cabelo e assim.

Ora bem.
Acho que não, acho que estou exatamente igual. A sério. E vou mais longe, acho que posso dizer isto pelos outros do grupo. Continuo a pensar como se tivesse 18 anos e acho que os outros também. E isto é uma coisa boa, quer dizer que é possível, que conseguimos ser adultos como se não fossemos. Tenho 54, deve ser um pouco imaturo pensar assim, mas é essa a minha vantagem face a quem não pensa desta maneira.

Devíamos ter todos mais calma, é isso?
Claro que sim. Há coisas engraçadas, as pessoas costumam pensar que isto das bandas e do rock tem tudo a ver com viver depressa e morrer jovem, esse tipo de frases. É tudo ao contrário. Para estarmos numa banda, para fazermos vida disto, é porque não temos pressa, é porque levamos tudo com calma. Com a tranquilidade de uma criança que não sabe o que vai acontecer no dia seguinte, está sempre tudo bem. Ora no rock é a mesma coisa, está sempre tudo bem.

"Muita gente que cresceu com as nossas canções espalhou o nosso nome enquanto estivemos afastados. Quando voltámos éramos maiores do que alguma vez tínhamos sido."

Daí podemos concluir que o melhor mesmo seria todos termos uma banda de rock’n’roll.
Isso mesmo. Todos. Lá diz o ditado, quanto mais velhos ficamos, mais sábios ficamos. Não sei se isso é mesmo assim. O que acontece é que à medida que vamos envelhecendo também vamos deixando que algumas coisas passem por nós porque não conseguimos simplesmente acompanhar. É uma espécie de “deixa andar”. Não tem a ver necessariamente com uma estranha capacidade de seleção e de entendimento, não ficamos de repente iluminados. Isto para te dizer, muito simplesmente, que não toco tão rápido como tocava, mas toco melhor, sou melhor baterista.

E ainda ouve a mesma música?
Sim, completamente. Ainda ouço aquela coisa que costuma levar o nome de “rock alternativo”, acho que é isso. Talvez ainda não esteja completamente dentro das coisas da pop, apesar de ouvir muito mais coisas do que ouvia antes… a melhor maneira de o explicar é esta: se estiver a ouvir uma rádio digital, vou sempre carregar no botão que diz “alternativa”.

Alguma vez pensou em fazer outra coisa da vida?
Gosto muito de ser baterista. E dá para pagar as contas. Claro que houve aquela altura da vida em que me tornei um ilusionista.

Quando os Pixies se separaram.
Isso mesmo. Achei que aí era altura de fazer outra coisa. Mas é muito difícil viver disso. Se achas que ser músico é complicado, experimenta ser mágico.

pixies 2

Os Pixies noutros tempos: Kim Deal, Joey Santiago, David Lovering e Black Francis

Porque é que se dedicou ao ilusionismo?
Porque era divertido, porque era diferente, era novo. Gostava muito dos truques com cartas, coisas com as mãos. Não estava muito virado para cenários grandes e situações complexas. Mas é uma vida muito difícil. Aprendi a respeitar muito os mágicos, é uma arte extremamente exigente.

Se não se tivessem separado naquela altura, o que teria acontecido?
Ora essa é uma boa questão… não faço ideia. Acho que aquela interrupção foi muito boa. Pelo menos fez uma coisa: tornou-nos mais populares. Muita gente que cresceu com as nossas canções espalhou o nosso nome enquanto estivemos afastados. Quando voltámos éramos maiores do que alguma vez tínhamos sido. Isso foi muito interessante… e engraçado, vá! Após 12 anos, quando regressámos em 2014, foi tudo diferente, o mundo não era o mesmo, o pequeno mundo dos Pixies estava muito maior. Se tivéssemos ficado juntos nada disso teria acontecido. Por isso fico contente por termos feito as coisas como fizemos. Mesmo que na altura a reunião me parecesse impossível.

Porquê?
Separámo-nos em 1992 e estava certos que os Pixies tinham terminado por completo. Havia muito cansaço, alguns egos a ocupar espaço a mais, estava tudo pronto para uma vida diferente.

[“Where is My Mind” ao vivo em Glastonbury, 2014]

Quando surgiu a hipótese de se reunirem, disse logo que sim ou teve de pensar no assunto?
Claro que disse que sim. Eram os Pixies, não era preciso pensar muito no assunto. Logo após a separação, continuei a tocar, com outros músicos, outras bandas, coisas em estúdio. E desisti. Parei, por completo. Porque nada daquilo me satisfazia, nada conseguia substituir o que tinha experimentado com os Pixies, percebi que a banda era insubstituível. Cheguei mesmo a deixar de tocar bateria, talvez durante uns nove anos, algo assim. Quando a escolha apareceu, de voltarmos a tocar juntos ou não, foi demasiado fácil aceitar.

Novos discos, novas digressões, isso também é tão bom, divertido e cativante como era?
Continuo a gostar muito. Quando éramos mais novos, tudo isto tinha um maior sentido de aventura, de desafio, era um desconhecido permanente, entrar numa carrinha com os instrumentos e correr a América. Podia ser o pior clube do mundo que continuava a ser maravilhoso. Agora, depois de tantos anos, entre concertos e festivais, a única coisa diferente é que já não somos tão ingénuos e já sabemos o que esperar de algumas situações. Eu toco bateria e as pessoas aparecem para ver. Já viste bem isto? É difícil que as outras pessoas compreendam como isto é uma sorte. Talvez seja tudo diferente na comida…

Na comida?
Sim, nas refeições. Tento sempre provar comida local, dos sítios por onde passo. É uma das melhores coisas agora, quase ao nível de tocar em palco.

E comer à mesa com os fãs?
Bom, isso é sempre mais complicado. Até porque temos fãs muito diferentes, os gostos à mesa também seriam muito diferentes.

"A Europa sempre teve um gosto mais refinado, no EUA só recentemente o gosto começou a melhorar, nós ganhámos com isso, não vale a pena estar com falsas modéstias. Nunca fomos estrelas e isso também ajudou a que a nossa imagem não ficasse gasta."

Que tipo de fã é o dos Pixies?
Ah, essa é difícil. Quando começámos, há 30 anos, como fizeste questão de lembrar, era gente nova, adolescentes, sobretudo rapazes, eram eles que apareciam nos concertos. Quando voltámos, em 2004, fomos cabeças de cartaz em Coachella. Subimos ao palco e conseguia ver gente que nem era nascida em 1986. Miúdos muito novos. Ainda assim, sabiam as canções todas de cor. Isso foi surreal. Em 2014, fomos outra vez a Coachella. De novo, miúdos, nas não eram os mesmo de 2004 já crescidos, eram outros, tudo adolescentes outra vez. Dos 10 aos 60 anos. Somos os Grateful Dead da música alternativa.

Como é que se conquistam novos fãs continuamente?
Porque as canções não têm prazo de validade, só pode. E sabemos que somos viáveis, como qualquer bom produto. Desde 2014 já passaram 12 anos e ainda temos vontade. Baixámos a rotação, fazemos as coisas com menos intensidade, mas isso acontece sempre a quem chega aos 50. Vai mais devagar. E também apanhámos algumas boas mudanças na América. A Europa sempre teve um gosto mais refinado, no EUA só recentemente o gosto começou a melhorar, nós ganhámos com isso, não vale a pena estar com falsas modéstias. Nunca fomos estrelas e isso também ajudou a que a nossa imagem não ficasse gasta.

Mas são há muito tempo cabeças de cartaz em todos os festivais por onde passam, por exemplo. Não era tempo de serem estrelas do rock?
Não, nunca. Nem sequer temos imagem para isso. Já olhaste bem para nós? Só se nos vestíssemos como os Kiss… mas isso nunca resultaria. Canções, é só isso que interessa, as canções.

E que canções gostam mais de tocar?
A “Vamos”. Adoro tocar a “Vamos”. Aparece quase sempre perto do final. É rápida, quer dizer que o dia de trabalho está a chegar ao fim e fiz tudo bem feito, posso ir dormir descansado.

O NOS Alive acontece entre 7 e 9 de julho no Passeio Marítimo de Algés. A 21 de novembro os Pixies tocam no Coliseu do Porto.

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