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LUIS ROBAYO/AFP/Getty Images

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Portugal tem baixo risco para surto de zika, mas a Madeira e Espanha têm o mosquito

As recomendações em relação ao zika mudaram desde o início do surto no Brasil e continuarão a mudar à medida que se vai fazendo mais investigação científica sobre o vírus.

Se há conselho que Cristiana Salvi pode dar àqueles que fazem comunicação de risco em saúde é que sejam transparentes com o público com o qual estão a comunicar. Se não souberem tudo sobre um tema devem assumi-lo, mas não podem impedir as pessoas de ter acesso à informação que já está disponível, afirma a assessora de comunicação do gabinete regional europeu da Organização Mundial de Saúde (OMS/Europa).

Sempre que os comunicadores ou especialistas expõe o conhecimento de forma clara, mas também assumem as lacunas nesse conhecimento, aumentam a confiança da audiência. A confiança no portador da mensagem é um elemento-chave na comunicação em saúde, especialmente quando se pretende que haja uma mudança de atitude no público-alvo, como na adoção de medidas preventivas.

Para cada situação de emergência ou crise em saúde, como um surto de zika, podem existir planos de intervenção e comunicação distintos, embora a base destes planos seja comum a todos eles e até pode ter pontos comuns entre os vários Estados-membros. Mas os comunicadores e especialistas têm de estar preparados para adaptar a mensagem aos vários tipos de público que podem ter preocupações, medos e perceções de risco diferentes.

A melhor forma de reagir a uma situação de crise será ter um plano bem definido e testado, e garantir que todos os intervenientes se conhecem e que sabem que medidas devem tomar em cada momento. Para melhorar a comunicação entre países e analisar que planos têm relação ao surto de zika, os países europeus de risco moderado a elevado vão reunir-se em Lisboa entre 22 e 24 de junho. Por enquanto, Cristiana Salvi deixou algumas recomendações e esclarecimentos, mas se ainda restarem dúvidas poderá consultar mais informação no site da OMS.

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Os homens que regressam de países com zika devem praticar sexo seguro durante oito semanas, se não tiverem sintomas, ou seis meses, se apresentarem sintomas da doença.

As recomendações em relação ao zika mudaram um pouco desde que o surto de ébola se tornou uma preocupação internacional. Quais são as principais recomendações neste momento?

Uma das recomendações que mudou recentemente está relacionada com a transmissão sexual do vírus zika. Anteriormente, a recomendação era que as pessoas que viessem das áreas afetadas, e que não mostrassem sintomas, deviam abster-se de ter relações sexuais durante quatro semanas. Agora esta recomendação mudou para oito semanas. Isto porque analisámos os dados [científicos] mais recentes sobre a transmissão sexual do vírus. E, apesar de ainda existirem muitos pormenores desconhecidos sobre a doença, tivemos de alterar as recomendações com base nestes novos resultados.

As novas recomendações baseiam-se em 12 estudos em saúde reprodutiva e transmissão sexual do vírus zika e em três estudos sobre a permanência do vírus no sémen. Daí que a recomendação tenha passado de quatro para oito semanas.

Se [o homem] não apresentar sintomas deve abster-se de manter relações sexuais ou manter relações seguras [com preservativo] durante oito semanas. Mas se tiver sintomas da doença causada pelo zika deve ter este tipo de precauções durante seis meses. E no caso de ser parceiro sexual de uma grávida, estas precauções devem ser tomadas até ao final da gravidez. Isto é muito importante.

Uma notícia recente fala de um atleta que vai estar presente nos Jogos Olímpicos e que decidiu congelar o sémen, porque ele e a esposa desejam voltar a engravidar. Há alguma evidência de que o vírus possa ficar no sémen durante tanto tempo que justifique esta precaução?

Os resultados [científicos] mais recentes mostram que o vírus pode ficar no sémen durante 62 dias. É por isso que aconselhamos os homens que estiveram expostos à infeção que pratiquem sexo seguro ou se abstenham de manter relações sexuais por seis meses. Multiplicámos os 60 dias por três para chegarmos ao período de tempo mais seguro que podemos recomendar. Daí que a recomendação seja por seis meses.

Se o vírus está no sémen, que riscos correm as mulheres – grávidas ou não?

Se uma mulher grávida ficar infetada, existe a possibilidade de ter consequências neurológicas no feto. Agora sabemos – há consenso entre cientistas – que o zika é uma das causas de microcefalia e de outros problemas neurológicos [no bebé].

Se a questão é se uma mulher engravida de um parceiro que pode estar infetado… Bem, o que sabemos é que período de incubação que observámos até agora – embora ainda não seja certo – é de 14 dias, e o tempo de permanência do vírus no sangue é, até ao momento, de 11 dias. Este pode ser o período em que a mulher está em risco, mas é difícil dizer.

Focamo-nos mais no risco para as mulheres grávidas porque para as restantes situações ainda se está a fazer investigação. Há muita coisa que ainda não sabemos.

E o vírus pode manter-se noutros fluidos corporais?

Pode estar presente na saliva, mas não há qualquer evidência de que pode ser transmitido por essa via, como pelos beijos. Por isso ainda estamos a tentar perceber se é uma possibilidade ou não.

A OMS não recomenda o cancelamento dos Jogos Olímpicos ou a mudança de local porque não há evidência científica de que isso diminua a disseminação internacional do vírus.

Outra das notícias recentes sobre o zika é que um grupo de médicos apelou a que os Jogos Olímpicos fossem cancelados. Mas a OMS não partilha desta opinião. Certamente que o público fica confuso com estas informações contraditórias. Como é que se pode resolver esta questão?

Como referi, tudo é baseado nos resultados mais recentes, porque mesmo não sabendo tudo sobre a doença, precisamos de fornecer aconselhamento de saúde pública aos países e precisamos de basear-nos na investigação mais recente. Com base nisso, achamos que cancelar os Jogos Olímpicos ou mudá-los de sítio não mudaria significativamente a disseminação internacional da doença. Primeiro, é preciso lembrar que os Jogos Olímpicos têm lugar em agosto – inverno no Brasil -, logo a atividade do mosquito é mais baixa.

A nossa recomendação é que as grávidas não viajem para zonas afetadas [com o surto] e isso inclui os locais onde vão decorrer os Jogos Olímpicos. No que diz respeito aos visitantes e atletas, recomendamos que sigam as medidas de proteção para evitarem ser picados [pelo mosquito – o principal meio de transmissão da doença -], incluindo o uso de repelentes, de roupas claras com mangas compridas e calças. A OMS também está a trabalhar com a organização [dos Jogos Olímpicos] e com o Governo brasileiro para diminuir a população de mosquitos em geral, mas sobretudo na zona onde os Jogos Olímpicos vão decorrer.

As recomendações de saúde têm de ter em consideração outros aspetos, como questões económicas ou culturais?

Temos um instrumento – International Health Regulation – com base no qual os Estados-membros tomam decisões em saúde. Estas decisões tentam ter o mínimo impacto na circulação de pessoas e bens. Mas claro que a OMS dá prioridade às questões de saúde. Quando consideramos que há um risco para a saúde de mulheres grávidas e fetos, dizemos claramente: “Não aconselhamos que vá aos Jogos Olímpicos”. Mas para outras pessoas, como visitantes ou atletas, o mais importante é que se protejam e que, depois de voltarem, sigam as recomendações sobre sexo seguro. Sabemos que o zika pode ser transmitido de homem para mulher através de sexo vaginal, mas não sabemos se a mulher pode transmitir o vírus ao homem pela mesma via.

[Além disso, apenas] uma em cada cinco pessoas desenvolve sintomas. Claro que gera uma grande preocupação nas grávidas pelas consequências que pode ter no feto, mas no que diz respeito à população em geral um em cada cinco tem sintomas e são geralmente leves – febre, vermelhidão, talvez conjuntivite – e duram dois a sete dias. Se viajou para uma destas regiões e apresenta algum destes sintomas, deve consultar o médico de família.

Há alguma recomendação para mulheres que não estejam grávidas, mas que pensem engravidar no futuro?

Não temos recomendações específicas, mas certamente que devem evitar as picadas de mosquitos e, neste caso, as recomendações são as mesmas – usar repelentes, mangas compridas e tentar evitar zonas com águas paradas. Temos também de considerar que este mosquito, o Aedes aegypti, pica durante o dia, não durante a noite, portanto é especialmente importante que as pessoas sigam estas recomendações durante o dia. Se decidirem dormir a sesta durante o dia, também se recomenda que usem redes mosquiteiras. Mais, devem ficar alojados em sítios que tenham redes nas janelas para os mosquitos não entrarem.

A principal recomendação de prevenção da infeção com zika é evitar as picadas dos mosquitos. As grávidas estão desaconselhadas de viajar para as regiões com surto ativo.

E em relação à síndrome Guillain-Barré, há alguma forma de prevenção?

Está demonstrado que o zika pode causar a síndrome Guillain-Barré. E as formas de prevenção são evitar as picadas e, nas áreas afetadas, é preciso reduzir os locais de reprodução dos mosquitos – evitar ter água parada dentro de casa ou nas proximidades, porque as larvas de mosquitos podem eclodir mesmo com pouca água.

Agora, uma vez que a pessoa esteja infetada, não há forma de evitar desenvolver a síndrome de Guillain-Barré [que apenas acontece em menos de 5% dos casos de zika]. Mas a síndrome Guillain-Barré pode ser tratada. Quem tiver sintomas deve dirigir-se às autoridades de saúde para ser tratado. O que não pode ser tratado é a infeção com zika. Podem aliviar-se os sintomas, mas não se pode curar a infeção.

Apenas o mosquito Aedes aegypti transmite o vírus ou o Aedes albopictus também poderá fazê-lo?

O mosquito que está a causar o surto no continente americano é o Aedes aegypti. O Aedes albopictus é considerado um vetor [forma de transmissão] potencial. Primeiro, porque no passado mostrou ser capaz de transmitir outros arbovírus – vírus transmitidos por insetos – e foi responsável por surtos de dengue e chikungunya em França e Itália, por exemplo. Depois, em laboratório, o Aedes albopictus mostrou-se capaz de transmitir o vírus e temos registo de um pequeno surto em África, em 2007, no qual foi o Aedes albopictus a transmitir o vírus zika.

Na OMS/Europa fizemos uma avaliação de risco para a região europeia baseada em várias coisas. Primeiro, a presença do vetor: o Aedes aegypti existe apenas em três regiões (na Madeira e na costa do mar Negro da Rússia e Geórgia), mas o Aedes albopictus está em 18 países, em especial na bacia mediterrânica. No caso de o Aedes albopictus ter capacidade para transmitir o vírus, vamos ver aumentar o risco de ter surto de zika nos países europeus.

Portugal é, de forma geral, um país de baixo risco, porque não tem Aedes albopictus. Mas o mosquito está em Espanha, França, Itália ou Grécia.

Esses países em risco têm planos para controlar o mosquito?

De certa forma, este é um dos poucos momentos em que temos oportunidade de nos preparar para um surto, porque o surto surgiu no continente americano e agora podemos preparar-nos para um possível surto na Europa. O que fizemos foi mandar um inquérito para todos os países da região europeia com questões sobre a capacidade de resposta no caso de um surto de zika, com base nos quatro pilares da resposta: controlo do vetor, vigilância, deteção laboratorial e comunicação em risco de emergência.

A maioria dos países – cerca de 70% – tem uma capacidade boa ou muito boa, mas ainda assim varia de país para país. Por isso estamos a organizar uma reunião técnica regional, em Portugal, de 22 a 24 de junho, para nos encontrarmos com os países que têm um risco moderado a elevado de transmissão do vírus zika. Perceber quais as capacidades, quais são as falhas, quais as necessidades e como as ultrapassam as dificuldades.

O Observador esteve presente no “Workshop on targeting media, civil society and health professionals to the implementation of the Decision 1082/2013 on serious cross border threats to health”, organizado pela Comissão Europeia e financiado pelo Programa de Saúde da União Europeia.

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