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Algumas das séries e dos filmes mais populares passam, atualmente, em plataformas de streaming. Já há cinco com produção própria. E para as ter todas — Netflix, HBO Max, Disney+, Amazon Prime e Apple TV+ — terá de pagar um total de 32,95 euros por mês. Numa altura em que a realidade económica é marcada pela inflação e pela diminuição do poder de compra, 5% já admite cancelar as assinaturas desses serviços.
A conclusão é de um estudo de mercado da OnePoll para a eDreams Odigeo que, através de um inquérito feito a 1.000 pessoas, percebeu que 82% dos portugueses subscrevem serviços de streaming — com 60% a pretenderem mantê-las e outros 30% a afirmar que pretendem até aumentar essas subscrições. Porém, 5% já pensa em ‘cortar’ no entretenimento.
Também o BStream, barómetro de plataformas de streaming da Marktest, registou, através de “aproximadamente 6.000 entrevistas”, uma “tendência de quebra” na intenção de subscrição dos portugueses nos próximos três meses.
[A intenção de subscrição] baixa pela primeira vez da fasquia dos 9%, caindo 1,2 p.p [pontos percentuais], dos 9,8% para os 8,6%”, segundo a Marktest, que revelou ao Observador que, em junho, 2.214.000 pessoas em Portugal utilizavam uma plataforma de streaming, 962.000 utilizavam duas e 644.000 três ou mais.
O esforço financeiro feito por quem subscreve as plataformas
Atualmente, os programas não estão concentrados num só serviço de streaming. Os filmes e séries mais populares estão espalhados por Netflix, HBO Max, Disney+, Amazon Prime e Apple TV+. Mesmo que o utilizador escolha os planos mais básicos, a mensalidade pesa na bolsa.
Netflix: 7,99€
HBO Max: 5,99€
Disney+: 8,99€
Amazon Prime: 4,99€
Apple TV+: 4,99€
Total: 32,95 euros gastos por mês.
O valor gasto mensalmente representa apenas o pagamento de plataformas de streaming, sem contar com as outras contas a pagar, como a da internet, telemóvel e televisão ou a da eletricidade. Mesmo se o utilizador decidir optar por subscrever apenas três plataformas, as mais populares são também as mais caras (Netflix, HBO Max e Disney+ custam, juntas, 22,97 euros por mês).
Há plataformas que oferecem, para além da mensalidade, a opção de o assinante pagar uma anuidade — quem opta por esta modalidade por norma tem direito a um desconto. Por exemplo, a HBO Max diz, no seu site, que o utilizador poupa 34% com a subscrição anual (paga 46,99 euros — ao invés dos 71,88€ que pagaria ao final de um ano se optasse pelos 5,99€ ao final de cada mês).
Além da HBO Max, a Disney+ também oferece a possibilidade de os assinantes pouparem o equivalente a dois meses se optarem pela subscrição anual. Assim, por ano, os subscritores desta plataforma pagam 89,90€ ao invés do valor que pagariam por 12 mensalidades (107,88€).
O Amazon Prime é outro dos serviços que oferece um desconto no plano anual. Neste caso, uma poupança de 25% em que o utilizador paga 49,90€ ao invés dos 59,88€ por 12 meses (4,99€ por mês). Esta plataforma oferece um teste grátis de 30 dias aos novos utilizadores.
A Netflix, por sua vez, não oferece uma anuidade, mas apresenta três planos com preços distintos: o “base” custa 7,99 euros por mês, o “standard” 11,99 euros e o “premium” 15,99 euros. As duas principais diferenças entre os planos são a qualidade de imagem e o número de dispositivos em que se pode assistir em simultâneo.
- O plano “base” permite ver conteúdo em HD e assistir a programas em apenas um dispositivo de cada vez.
- Com o plano “standard” já é possível ver conteúdos em Full HD e assistir a programas em dois dispositivos em simultâneo.
- O plano “premium” permite ver conteúdos em Ultra HD e assistir a filmes e séries em quatro dispositivos em simultâneo.
A modalidade da Netflix que se tornará na mais barata e contará com anúncios publicitários ficará disponível numa fase inicial, em novembro, em 12 países (Canadá, México, EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Austrália, Japão, Coreia do Sul, Brasil e Espanha). Portugal não faz parte desta lista. A Netflix também chegou a oferecer um período experimental gratuito de 30 dias, mas agora já não está disponível. A HBO Max e a Disney+ também não oferecem essa opção.
Netflix lança plano mais barato com anúncios em novembro em 12 países. Portugal não está na lista
O caso da Apple TV+ é diferente. A assinatura mensal tem o custo de 4,99 euros após o período experimental de sete dias. Mas não é só isso. Existem outras modalidades que podem ser escolhidas para poupar nesta plataforma, que permite que uma assinatura seja partilhada com cinco membros da família.
Desde logo, a compra de um dispositivo Apple garante o acesso gratuito à Apple TV+ durante três meses. Há ainda a opção do plano estudante da Apple Music, que inclui uma assinatura gratuita da plataforma. Neste caso, a gratuitidade termina, segundo o site da tecnológica, quando “deixar de ser elegível ou não renovar a assinatura estudante da Apple Music”. A oferta está só disponível para estudantes universitários.
O serviço de streaming está ainda incluído no Apple One, opção que junta até cinco serviços da tecnológica (por exemplo, Apple TV+, Apple Music, Apple Arcade, iCloud+ e Apple Fitness+) numa mensalidade — que pode ter três custos, que variam entre os 11,95 euros e os 25,95 euros por mês, dependendo do plano que a pessoa escolher.
Para além de todas estas opções, na próxima semana haverá mais uma para os portugueses. No dia 25 de outubro, o serviço de streaming SkyShowtime chegará ao país e custará 4,99 euros por mês — o mesmo preço da Amazon Prime e da Apple TV+. De acordo com o site dessa plataforma, os subscritores terão acesso a séries como “1883” e “Yellowstone” e a filmes como “The Lost City” e “Sonic the Hedgehog 2”.
Foi registada uma “tendência de quebra” na intenção de subscrição. Porquê?
Os dados divulgados no início deste mês pelo BStream, barómetro da Marktest, mostravam que o universo de utilizadores de todas as plataformas (incluindo as gratuitas, como o YouTube) “englobava 44,1% dos portugueses no segundo trimestre deste ano, o que representa um crescimento de 0,3 p.p [pontos percentuais] face ao trimestre anterior”. Este aumento global é acompanhado pelo “crescimento consecutivo no número de subscritores” das plataformas pagas. Os assinantes representam 32,9% do universo de portugueses residentes em Portugal continental e com mais de 15 anos.
Ainda assim, apesar do aumento de utilizadores e assinantes, o indicador detetou uma “tendência de quebra” na intenção de subscrição nos próximos três meses. Isto significa que existem menos pessoas com intenção de pagar uma mensalidade para terem acesso a filmes e séries de que gostam. Questionada pelo Observador, a Marktest clarificou que o “indicador ‘intenção de subscrição’ é recolhido junto dos indivíduos que conhecem as plataformas, mas não as subscrevem”. A empresa salientou ainda que não “recolhe o indicador” que permite perceber as intenções de cancelamento das plataformas. Embora as intenções de subscrever estejam a baixar, não é possível perceber quantos portugueses pretendem cancelar as assinaturas que têm. No entanto, no estudo da OnePoll para a eDreams Odigeo partilhado com o Observador esta semana já há 5% (de 1.000 inquiridos) que pretende reduzir as despesas com assinaturas.
Para Francisco Conrado, investigador e professor especializado em análise de redes sociais, a dispersão de programas pelas várias plataformas “agravou-se” há medida que novos players entraram no mercado e até pode desmotivar os portugueses a subscreverem esses serviços. “A conjuntura macroeconómica que estamos a viver também pode ajudar” à quebra de intenções de subscrição, acrescentou.
Porém, na opinião do investigador, há que ter em consideração um “cenário completamente atípico” que foi vivido com a Covid-19. Quando a população estava toda em casa existiu “um pico de subscrições”. A mudança de conjuntura, com o fim das restrições e o regresso ao trabalho presencial, “mudou a disponibilidade para consumos culturais”. Assim, o menor tempo para ver conteúdos com o regresso à vida “normal” pode ser outro dos motivos que leva os portugueses a não quererem subscrever ou ponderar cancelar as assinaturas das plataformas.
Questionado pelo Observador sobre se acreditava que a introdução de anúncios publicitários, por exemplo, por parte da Netflix em troca de um plano de subscrição mais barato poderia afastar adesões, Francisco Conrado considerou que isso não será “impeditivo” para que a empresa consiga novos assinantes. Para sustentar a sua opinião, o especialista deu o exemplo do YouTube, que quando começou a ter publicidade antes dos vídeos “toda a gente reclamou”, mas com o passar do tempo todos se habituaram “a fazer skip passados três ou quatro segundos”.
Netflix deixou de perder assinantes. Fim da partilha gratuita de contas pode estar mais próximo
A Netflix também quer “combater a partilha gratuita de contas”, o que faz com que as pessoas fiquem “mais receosas de continuar a subscrever um serviço que eventualmente não possam partilhar”.
Penso que, obviamente, isto acaba por assustar um bocado as pessoas” e a empresa deveria “tentar criar um método que não leve as pessoas a achar que não podem partilhar as contas”, acrescentou Francisco Conrado, em declarações ao Observador.
O especialista afirmou também que a existência ou não de um período experimental gratuito não influencia a vontade de subscrever determinado serviço. Dá o exemplo da Netflix para dizer que a não oferta desse período é uma “posição de mercado” que não tira valor à empresa pela sua posição mais consolidada.
A especialista em redes sociais Graça Canto Moniz pensa de forma diferente. No seu entender, a ideia do período experimental é “capturar a pessoa” e “dar-lhe uma borla” para que não queira, futuramente, sair da plataforma. “A sensação de perda de algo é muito superior emocionalmente à sensação de receber e de subscrição”, justificou. A desistência pode não ser fácil, mas o período “económico muito complicado que está a ser vivido”, com as pessoas a terem de gerir os seus orçamentos e, eventualmente, retirar despesas que não são prioritárias, pode não deixar outra alternativa.
Além disso, Graça Canto Moniz apontou uma “certa frustração” como um dos motivos que pode levar o indivíduo a deixar de ser assinante de uma plataforma de streaming. “Frustração, porquê? Porque apesar daquilo que nos aparece funcionar com base num algoritmo, a sensação que tenho é que existem tantos filmes, tantas séries, tantos jogos disponíveis que uma pessoa nem sabe bem por onde é que há de começar. E depois, quando não sei como começar, há uma ferramenta que é o ‘surpreendam-me’, mas muitas vezes não há um match entre aquilo que eu quero ver e aquilo que me é apresentado. Acho que isso é um problema importante e que leva as pessoas a desistirem”, argumentou em declarações ao Observador.
Para além da imensidão da oferta, Graça Canto Moniz detetou outro problema: quando a pessoa toma a decisão sobre a plataforma que quer subscrever vai concluir que não encontrará aí todos os conteúdos que quer ver. “Acaba por haver uma certa frustração porque vai para o trabalho ou está com os amigos e sabe que estão a ver uma série espetacular que está noutra plataforma… aposto que já lhe aconteceu. A mim já me aconteceu muitas vezes”.
Para resolver estas questões, a especialista apresentou duas sugestões: “ou um agregador transplataforma, uma ferramenta que me apresentasse aquilo que eu gosto na Netflix, na HBO ou na Disney+ — mas isso é muito difícil e não é o que as empresas querem” — ou “melhorarem a personalização e aquilo que me apresentam”.
Que estratégias têm (ou não) as empresas para ganhar novos subscritores?
Os portugueses manifestaram menos intenção de subscrever serviços de streaming nos próximos três meses e outros poderão ter que cancelar as suas assinaturas face à inflação e à perda de poder de compra. O Observador contactou as empresas de conteúdos para perceber as estratégias para Portugal face à realidade económica, mas não houve respostas concretas.
A HBO Max agradeceu “as questões e o contacto”, mas recusou-se a responder com a justificação de que “não partilha dados relacionados com o número de subscrições, o que implica também as restantes questões ligadas à estratégia”.
A Netflix quis saber se as restantes plataformas também seriam contactadas, depois analisou o caso “internamente”. “Neste caso, não vai ser possível contribuir para o artigo”: foi a conclusão a que chegou a empresa. O Observador tentou perceber o porquê de não conseguirem responder às questões, mas já não obteve qualquer resposta.
Por sua vez, a Apple seguiu o caminho das outras empresas e, através de uma única frase, explicou que não partilha “informação acerca do desempenho da plataforma” de streaming “em cada país” onde está presente. O Observador questionou também a Amazon e a Disney+, mas até à publicação do artigo não recebeu qualquer resposta.
Desta forma, não é possível saber como é que as empresas de streaming se preparam para responder à realidade económica em Portugal (e no mundo). E também não é possível perceber quantos portugueses ponderam cancelar as suas subscrições. A realidade do Reino Unido mostra que, segundo The Guardian, este ano já quase um milhão de famílias britânicas tinham cancelado a subscrição de serviços de streaming.
A mais recente realidade do streaming no Reino Unido
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No Reino Unido, de acordo com o The Guardian, que cita a Kantar Worldpanel, o número total de casas que têm pelo menos uma assinatura paga caiu 937 mil entre janeiro e setembro. Isto porque as famílias priorizam o pagamento de energia, alimentação e hipotecas ao invés de serviços de entretenimento pagos para conseguirem ver filmes e séries populares.
Dominc Sunnebo, diretor de visão global da Kantar Worldpanel, considera que “a razão pelas qual as pessoas estão a cancelar é a necessidade de poupar dinheiro”. Agora, um número pouco acima de 16 milhões de casas no país pagam por pelo menos por um serviço de streaming. Mais de cinco milhões de habitações têm os três serviços mais populares no país: Netflix, Amazon Prime e Disney+.