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Três dias antes das eleições, Costa expressou o seu (pouco surpreendente) apoio ao socialista espanhol.

HUGO DELGADO/LUSA

Três dias antes das eleições, Costa expressou o seu (pouco surpreendente) apoio ao socialista espanhol.

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PS arrefece ânimo de Montenegro, esvazia vitória de Feijóo e faz tiro às sondagens

Socialistas não veem vontade espanhola de mudar ciclo e muito menos acreditam que daí possa soprar algum vento que abale a sua maioria em Portugal. Vitória de Feijóo é atribuída a todos menos ao PP.

Onde Luís Montenegro sente “ventos de mudança”, o PS não sente qualquer brisa, pelo menos favorável ao lado da direita portuguesa. A noite eleitoral espanhola é celebrada pelos socialistas portugueses que focam os comentários no copo meio cheio, isto é, no reforço (em número de votos e em deputados) do PSOE, no chega para lá a uma coligação de poder com a direita radical do Vox e, numa outra dimensão, no esfriar de ânimos em relação ao que ditam as sondagens – até porque em Portugal os estudos mostram um PSD colado ao PS depois do primeiro ano de maioria absoluta. Quanto ao crescimento do PP de Alberto Feijóo, irmão político do PSD, os socialistas desvalorizam os números e sobretudo um eventual efeito de contágio.

A subida dos populares espanhóis é vista no PS como consequência direta de dois factores: o desaparecimento do Ciudadanos, que resultou na transferência de votos para o PP, e o voto útil de que beneficiaram por parte de quem fugiu do radicalismo do Vox. O eurodeputado do PS Pedro Marques acrescenta ainda outro elemento, para desinsuflar a subida: afinal, as últimas legislativas tinham sido particularmente difíceis para o PP, depois do escândalo Bárcenas, o ex-tesoureiro do PP condenado num esquema de corrupção e de financiamento ilegal; só havia caminho para crescer, depois do desaire de 2019, em que os populares ficaram reduzidos a 89 deputados no Congresso espanhol.

No resumo de um alto dirigente do partido, PP e Vox juntos “não conseguem formar uma maioria Parlamentar, com o PP a tirar parte dos votos do Vox e alguns do defunto Ciudadanos” ou, transpondo para Portugal e para o PSD: “Sem IL e tirando parte ao Chega” — o que os socialistas não acreditam que Luís Montenegro consiga fazer.

"Não vai ter uma governação fácil", aponta a socialista Margarida Marques

Ciclo não muda, mas caminho de Sánchez será espinhoso

No PS, não há quem acredite que possa existir uma mudança de ciclo no poder espanhol, até porque estas eleições trouxeram mais dois deputados para o PSOE e mais um milhão de votos do que nas últimas eleições: “O PSOE aumentou votos, mandatos e percentagem. E , sobretudo, pode formar maioria parlamentar”, recorda o mesmo dirigente. Ainda que, o partido, também se apontem “dificuldades” para o caminho de Pedro Sánchez a partir daqui. “Não vai ter uma governação fácil”, aponta a socialista Margarida Marques que, ainda assim, acredita na probabilidade do socialista espanhol conseguir construir uma maioria que lhe permita governar.

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Em declarações ao Observador, esta segunda-feira, o socialista Vitalino Canas também antecipava um caminho espinhoso para Sánchez, ao dizer que, apesar da sua reconhecida “capacidade negocial para encontrar um suporte forte, isso tornou-se mais difícil do que na legislatura anterior”. “Os independentistas vão seguramente aumentar o preço. É muito possível que daqui a alguns meses tenhamos outra vez eleições em Espanha”, antecipou mesmo.

Também à rádio Observador, na manhã nesta terça-feira, Francisco Assis disse que “novas eleições são possibilidade real em Espanha”, tendo em conta as dificuldades que antecipa às negociações do PSOE: “Tudo depende do partido de Puidgemont que é o mais radical na exigência de um referendo para a autonomia da Catalunha. Ou Sánchez o consegue convencer, ou haverá repetição de eleições em Espanha”.

Logo na noite eleitoral, o presidente do PS, Carlos César apontava como caminho possível a renovação de uma coligação “agora com o SUMAR, bem como os acordos parlamentares necessários”, mas também admitia que isso “implicará uma muito complexa, mas também muito provável bem sucedida negociação”. De todo o modo, expressava a “grande satisfação” do PS com esse “possível desfecho” e concluía que “apesar do PP ter tido pouco mais de um ponto percentual do que o PSOE, o PSOE também subiu em votos e em mandatos.” No passado, Sánchez já tinha tentado uma “geringonça”, mas acabou com uma solução diferente.

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A lição para a direita europeia que veio do Vox

Ainda assim, o elemento que os socialistas mais destacam nos resultados das eleições em Espanha é mesmo a queda do Vox. Para a eurodeputada do PS Margarida Marques, a entrada do Vox para algumas soluções regionais de Governo (Andaluzia e Valência) expôs o radicalismo e “assustou as pessoas”. “A extrema direita procurou fazer um discurso frequentável, mas, quando chegam ao poder, são o que são e o que o Vox fez foi inaceitável”, diz a socialista, referindo-se aos comentários sexistas de alguns dos responsáveis regionais que acreditem terem contribuído para o afastamento de alguns eleitores que, em 2019, depositaram no partido de direita radical o seu descontentamento com o PP. “Funcionou uma coisa que não era difícil prever que pudesse funcionar: perante o risco da extrema direita chegar ao poder a esquerda espanhola mobilizou-se“, resume o socialista Francisco Assis.

Na CNN, na noite de domingo, a deputada Alexandra Leitão dizia algo de muito semelhante, argumentando que o PP fez “cedências inacreditáveis ao Vox para governar nas comunidades autónomas”. Já Pedro Marques vê este encolher do Vox num dos maiores países da UE como uma lição para a direita europeia e acredita que esta “confrontação” marcará as próximas europeias, marcadas para 9 de junho do próximo ano. “Nas próximas Europeias e em algumas legislativas em alguns países europeus vai existir esta dinâmica de confrontação eleitoral entre o centro esquerda contra a direita coligada com a extrema direita”, sugere.

“Vista do Parlamento Europeu, esta eleição era importante devido ao clima no PPE [a família política do centro-direita onde estão o PSD e o PP], onde se tentam normalizar as coligações entre a direita e a extrema direita”, argumenta o eurodeputado. Tanto Pedro Marques como Margarida Marques apontam o mesmo exemplo recente ao Observador: a Lei da Restauração da Natureza, com o PPE a votar primeiro contra, depois a não anular a lei e a acabar a votar a favor das emendas, esvaziando objetivos e colando-se à extrema-direita.

"É um crime tentar associar o PSD com a extrema-direita", avisa Francicso Assis discordando de alguns elementos do PS

A realidade espanhola dá gás a uma narrativa que reina no PS sobre o PSD e os seus motivos para não ser claro na rejeição do Chega como aliado num cenário pós-eleitoral — e em como essa indefinição ajudou à maioria socialista. Em Espanha, a colagem à extrema-direita, argumentam agora, resultou no enfraquecimento do bloco de direita (PP+Vox) como um todo. Mas, no partido, há também quem alerte para o perigo de “paralelismos excessivos”. Caso de Francisco Assis que diz que as analogias lhe parecem “disparatadas” e avisa que “a realidade espanhola é mais complexa do que a portuguesa e fazer comparações é muito difícil, é um exercíco quase inútil”.

O socialista é mesmo critico desta linha de combate socialista. “Haverá sempre a tentação os partidos socialistas de tentarem utilizar os partidos de extrema direita para enfraquecer a direita democrática. Estou contra esse discurso de alguns elementos do PS, de fazerem crer que o PSD está a resvalar para a extrema direita e que está a renunciar a todo o seu passado. Isso é completamente falso”, afirma. “É um crime tentar associar o PSD com a extrema-direita, como seria um crime associar o PS com a extrema-esquerda”. Assis diz ser “contrário a esse tipo de discurso” que tem visto “em alguns elementos do PS” e alerta para a importância dos “partidos de centro se respeitarem”.  “É evidente que a extrema direita pode favorecer, mas é preciso ter cuidado com isso e que tenhamos consciência que se fizermos isso estamos a prestar mau serviço à democracia”.

“As realidades são diferentes”, aponta um dirigente do PS em conversa com o Observador, embora admita que um resultado como o de domingo à noite no país vizinho “é sempre inspirador”. “Espero que se sinta a influência aqui”, deseja Margarida Marques quando olha para a redução do Vox em Espanha — que foi reconhecida como uma derrota por André Ventura. “Não foi a noite que queríamos”, assumiu o líder do Chega no Twitter. “Esta foi uma grande derrota para quem tinha expectativas de uma coligação da direita com a extrema-direita”, resume Pedro Marques, alinhando naquele que é o ponto mais focado pelos socialistas no rescaldo da noite eleitoral.

"Vista do Parlamento Europeu esta eleição era importante devido ao clima no PPE onde se tentam normalizar as coligações entre a direita e a extrema direita, diz o eurodeputado Pedro Marques

O fantasma de 2015. “A geometria variável não tem nada de antidemocrático”

Mas na análise dos resultados, a socialista Alexandra Leitão também olhou para o lado da esquerda, para dizer que, nesse plano, “a analogia com Portugal é muito evidente” com os socialistas a “coligarem-se muito bem com os partidos à sua esquerda para formar um bloco à esquerda, seja em que formato for”. E desvaloriza as questões, também levantadas pelo PSD e CDS em 2015, sobre se quem deve formar Governo é o partido mais votado. “Não tem nada de antidemocrático. Em sistemas em que a legitimidade do Governo depende da Assembleia da República, o que é importante é uma maioria democrática na Assembleia da República”, diz a deputada que remata” a geometria variável não tem nada de anti-democrático”.

Em Portugal, os resultados eleitorais de 2015 produziram a “geringonça” e esse é o modelo que os socialistas acreditam que, com mais ou menos dificuldade, Sánchez conseguirá seguir em Espanha — com Leitão a rejeitar que se possa falar na esquerda radical do Sumar como uma força simétrica ao Chega, do lado de lá do arco político.

Aconteça o que acontecer em Espanha, Vitalino Canas acredita que, em Portugal, as soluções de esquerda estão esgotadas e que “a margem de manobra de Costa [e dos socialistas] em relação à esquerda diminuiu”. “Não creio que quem lhe suceder seja capaz de construir uma nova geringonça. As relações entre o PS e a esquerda degradaram-se“, sublinhou Vitalino Canas. Regra que serve também para a direita portuguesa e que deve merecer a reflexão dos dois partidos do centrão: se existe “semelhança” entre os dois países nesta altura é mesmo a ingovernabilidade que resultaria de eleições antecipadas nesta altura. “É mais um argumento para os que entendem que as eleições antecipadas agora ou daqui a algum tempo seriam inconvenientes“, recordou.

"As empresas de sondagens, claro, averbaram mais uma derrota", disse Carlos César na noite eleitoral

Tiro às sondagens

O falhanço das sondagens em Espanha é o outro ponto que anima os socialistas portugueses, embora os sentimentos do PS sobre sondagens sejam contraditórios por estes dias. Tanto valorizam dados dos estudos feitos em Portugal — como a incapacidade do PSD de Luís Montenegro, mesmo num mau momento político do Governo –, como põem em causa os dados relativos às suas próprias perdas e à insatisfação com a governação. Mas depois de, na última quinta-feira, uma sondagem da Universidade Católica Portuguesa ter colocado o PS um ponto à frente do PS, a desvalorização vai ganhando terreno. No partido atira-se mais forte do que nunca ao “binómio sondagens/comentadores”, como ironiza um alto dirigente.

E entre domingo e esta segunda-feira, os resultados das eleições espanholas ajudaram esta narrativa contra as sondagens, com o tiro de partida a ser dado pelo próprio presidente do partido. No Facebook, Carlos César escreveu que “as empresas de sondagens, claro, averbaram mais uma derrota“, referindo-se à discrepância entre a quase maioria de direita que estava prevista com o resultado que acabou por se verificar.

E não foi o único a fazê-lo. Na CNN, Alexandra Leitão destacou essa diferença, tal como repetiria mais tarde Vitalino Canas ao Observador. “Tomar decisões importantes na base em sondagens é cada vez mais arriscado, como se mostra por terem quase todas falhado. Continuam a ser muito importantes para identificar tendências mas não para resultados precisos”, considerou o socialista. Quanto a estudos de opinião, de Espanha parecem ter soprado bons ventos.

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