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Autárquicas de 2025 podem ser oportunidade para PS ou PSD, 12 anos depois do início do ciclo de Rui Moreira
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Autárquicas de 2025 podem ser oportunidade para PS ou PSD, 12 anos depois do início do ciclo de Rui Moreira

LUSA

Autárquicas de 2025 podem ser oportunidade para PS ou PSD, 12 anos depois do início do ciclo de Rui Moreira

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Rangel é a cola que pode unir a direita no Porto. PS antecipa divisões, mas tem trauma por curar

PS e PSD preparam-se para tentar recuperar Porto em 2025. Direita vê com bons olhos possível candidatura de Paulo Rangel para unir fações. PS quer explorar divisões, mas tem problemas em casa.

Com o ciclo de Rui Moreira a chegar ao fim, PS e PSD começam a aquecer os motores para a batalha autárquica de 2025. O momento é crucial: ambos os partidos sabem que precisam de agarrar a oportunidade para tentar lançar um novo ciclo na autarquia, depois de três mandatos nas mãos do autarca independente. Ainda assim, primeiro precisam de arrumar as respetivas casas, o que está (muito) longe de ser uma tarefa fácil.

À direita, a primeira dúvida passa por perceber qual é o real risco de divisões que possam frustrar as expectativas do PSD e acabar por entregar a autarquia de bandeja ao PS. Para já, e apesar de dois vereadores de Rui Moreira admitirem concorrer em 2025, o PSD acredita que ambos podem estar dispostos a integrar uma candidatura social-democrata. Fica a faltar conhecer o nome que a encabeçaria, sendo que há muito quem suspire por Paulo Rangel – mas para isso seria preciso convencer o possível candidato, que já rejeitou o mesmo desafio nas últimas autárquicas.

No PS, aposta-se todas as fichas nesse risco de divisão à direita. Os socialistas sabem que boa parte do desaire eleitoral de 2021 aconteceu por culpa própria – as estruturas embrulharam-se em guerras e birras internas e a campanha “foi uma loucura”, assumem – e precisam agora de se focar no objetivo: recuperar o Porto, 23 anos depois. Ainda sem nomes definidos, mas com alguns suspeitos do costume, Manuel Pizarro à cabeça, a voltarem à bolsa de apostas.

A esta distância, apenas um nome que parece agradar a todos: Paulo Rangel. As estruturas do PSD no Porto alimentam há muito a expectativa de ver o atual eurodeputado como candidato à autarquia. Até no núcleo que apoia Rui Moreira a hipótese é vista como mais do que satisfatória. “Paulo Rangel é o único capaz de dar ao PSD alguma amplitude negocial e possibilidades”, sublinha-se.

Rangel agrada a PSD e independentes

No PSD, as próximas autárquicas são encaradas como uma oportunidade quase irrepetível de recuperar a segunda maior Câmara do país. “É quase um agora ou nunca”, resume um destacado dirigente social-democrata. O raciocínio é relativamente simples: depois de uma década governada por um independente – Rui Moreira – que absorve e absorveu grande parte do eleitorado do PSD nas três vezes em que foi a votos –, será de esperar que a cidade se volte com naturalidade para a família política de origem. Mas o caminho não está isento de (muitos) riscos: há várias sensibilidades para gerir, negociações complexas pela frente e um desejado – Paulo Rangel – que precisaria de ser convencido.

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Ninguém no PSD ignora que o movimento que alimentou as candidaturas de Moreira quererá ter uma palavra a dizer. E os sinais públicos são, até ver, pouco animadores. Filipe Araújo, antigo quadro do PSD, número dois do presidente da Câmara do Porto e tido como herdeiro natural de Moreira, já deu indícios de que pode entrar na corrida à sucessão — o que impede qualquer transição de poder sem custos.

Além disso, Ricardo Valente, elemento da Iniciativa Liberal, também ele membro do movimento e vereador no Porto, assumiu publicamente que não exclui a hipótese de se candidatar em nome da IL. Ou seja, a menos que haja um acordo entre estas sensibilidades, a direita pode entrar nessas eleições partida em três pedaços – ao qual se deve juntar o pedaço chamado “Chega” –, arriscando entregar o poder de bandeja aos socialistas.

No Porto, os sociais-democratas esvaziam essas pretensões. “Filipe Araújo e Ricardo Valente estão em rota de colisão. Estão a lutar pelo controlo do movimento porque Rui Moreira já perdeu a mão. Estas aparições servem como chamadas de atenção para ver se não são esquecidos nas listas [do PSD ao Porto]”, argumenta uma fonte do aparelho local ao Observador.

Por outras palavras: no PSD, existe a convicção de que os elementos que hoje fazem parte da equipa de Moreira aceitarão de bom grado integrar a futura candidatura social-democrata, sob pena de ficarem definitivamente arredados do poder, e que o jogo de sombras que estão a fazer é uma forma de ganhar margem negocial.

Ora, há muito que é dado como adquirido que a aproximação entre Luís Montenegro e Rui Moreira, além de natural – não existe, ao contrário do que acontecia com Rui Rio, qualquer tipo de animosidade entre os dois –, serve também para acertar a tal transição pacífica de poder no futuro.

Apesar de nunca ter sido confirmado, existe a expectativa de que será possível chegar a um entendimento alargado que permita fazer uma candidatura conjunta à sucessão de Moreira, sendo que o atual presidente da Câmara do Porto teria uma palavra determinante a dizer na escolha do cabeça de lista e o seu movimento teria de estar representado nessa candidatura alargada – independentes, PSD, CDS e IL.

CONGRESSO PSD: Luís Montenegro, líder do PSD e Paulo Rangel, no 40º Congresso Nacional do Partido Social Democrata (PSD), no Pavilhão Rosa Mota, no Porto. 2 de Julho de 2022 Pavilhão Rosa Mota, Porto TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Rangel é o primeiro vice-presidente do PSD. Em 2021, rejeitou convite de Rio para ser candidato ao Porto

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Acontece que, a esta distância, ninguém quer vender essa aliança como facto consumado. O próprio Rui Moreira tem alimentado a ideia de que gostaria de ver uma candidatura de continuidade a nascer a partir do seu movimento independente. Foi isso mesmo que sugeriu há um mês numa entrevista à Antena 1: “O Filipe Araújo é o presidente da ‘Associação Cívica – Porto, O Nosso Movimento’. Tem excelentes condições para ser um candidato forte. Mas terá de dizer se quer ser”.

Mais recentemente, em entrevista à TSF, acrescentou uma ideia semelhante: “Afastei-me da liderança do movimento a tempo de dar a uma nova geração de pessoas que estão no movimento o tempo de criarem as suas opções. Espero que esta ideia de movimento independente na cidade possa continuar. Não sei se vai. É uma opção que tem”, observou o autarca.

De resto, no interior do movimento, esta hipótese não está completamente afastada, antes pelo contrário. “Ricardo Valente afastou-se do movimento e tem começado a ensaiar um caminho a solo. Está a marcar terreno. Se a IL quiser ir sozinha, como alguns defendem, não tem melhor candidato. Mas é um risco que pode implicar uma implosão no Porto”, nota um elemento do movimento ao Observador.

Em contrapartida, Filipe Araújo é apontado como tendo todas as condições para ir a jogo e liderar essa aliança à direita, o que implicaria que o PSD aceitasse abdicar de um candidato próprio. “[Se o PSD não aceitar], arrisca-se a entregar a Câmara ao PS”, insiste o mesmo elemento do movimento independente que apoia Rui Moreira. “Se o PSD o que tem é Pedro Duarte [dirigente social-democrata, que também tem sido lançado para a corrida] ou outro qualquer, Filipe Araújo é muito melhor do que qualquer um deles”, remata a mesma fonte.

Nem sequer seria uma excentricidade – nas últimas autárquicas, o independente José Manuel Silva liderou a candidatura do PSD a Coimbra e venceu. Agora, no entanto, os ventos são outros. Entre sociais-democratas ouvidos pelo Observador, a hipótese de replicar essa solução no Porto é praticamente descartada. “Filipe Araújo é um excelente número dois em qualquer sítio. Mas falta-lhe lastro. Ser líder é para quem pode; não é para quem quer”, avisa-se no PSD.

Por isso, e quando falta ainda muito tempo para as autárquicas, apenas um nome que parece agradar a todos: Paulo Rangel. As estruturas do PSD no Porto alimentam há muito a expectativa de ver o atual eurodeputado como candidato à autarquia. Até no núcleo que apoia Rui Moreira a hipótese é vista como mais do que satisfatória. “Paulo Rangel é o único capaz de dar ao PSD alguma amplitude negocial e possibilidades”, sublinha-se.

Resta saber se o próprio – que nas últimas autárquicas rejeitou o desafio endereçado por Rui Rio – estará disponível para voltar a considerar a hipótese, sendo que desta vez teria condições muito mais favoráveis do que em 2021. A esta distância, a hipótese é atirada para o plano do improvável.

Só uma grande operação de charme poderia convencer o eurodeputado a abraçar um desafio deste género, sendo que há um dado que ninguém no PSD ignora: se o resultado das europeias for insatisfatório, se Luís Montenegro sair derrotado em maio de 2024, o processo ficará empatado até à escolha de um próximo líder ou até que o partido volte à paz interna — o que complicaria a vida às estruturas do PSD, que querem lançar o processo de escolha de candidatos autárquicos até ao final deste ano.

A saída prematura de Moreira do Porto teria um efeito prático: permitiria a Filipe Araújo, enquanto número dois do atual autarca, assumir a presidência e ficar mais de um ano a ganhar notoriedade e a mostrar obra na cidade, dificultando ainda mais o caminho ao PSD, que teria de convencer Araújo a sair da equação e passar a número dois numa eventual coligação ou, falhando as negociações, enfrentar um candidato com um peso político renovado.

Moreira nas europeias? Aparelho diz que seria tiro no pé

Em tempos, Moreira e Rangel, que chegaram a ser muito próximos, acabaram de costas voltadas. Nos últimos anos, houve uma reaproximação entre ambos e a relação está normalizada, vai dizendo quem os conhece bem. No futuro, não é absolutamente improvável que Rangel receba a bênção de Moreira para assumir o seu legado. Mas tudo dependerá das negociações que venham a acontecer – e se vierem a acontecer.

A hipótese de Rui Moreira deixar a autarquia a meio do seu terceiro e último mandato para ser cabeça de lista do PSD às europeias também tem sido alimentada com insistência como parte do acordo que permitirá ao PSD herdar a Câmara do Porto no futuro. Sem nunca afastar taxativamente essa hipótese, Moreira tem dado sinais de que não estará disposto a abraçar o desafio. Na já citada entrevista à Antena 1, o autarca garantiu que “não gostaria de sair antes” do final do mandato e sublinhou que não via “razão objetiva” para o fazer.

Confrontado com a hipótese “Europeias 2024”, Moreira cortou a eito. “Nunca me foi falada. De vez em quando falam-me em coisas estranhas, durante anos andaram-me a perguntar se ia ser candidato à presidência do FC Porto. Não vejo o meu futuro a passar por fazer política ativa”, disse. Em entrevista à TSF voltou a falar sobre o assunto, mas desta vez foi mais ambíguo.

“Nunca fui convidado. Nunca falei sobre essa matéria. Fui toda a vida um independente. Suspeito que os partidos não estejam interessados em ter um freelancer. Mas seria deselegante [afastar por completo] porque pressupunha que isso me tinha sido proposto. Admito sempre que amanhã me podem tentar com alguma coisa. Mas não estou à espera que o façam, acho improvável”, sublinhou.

Ainda que a direção do PSD nunca tenha descartado por completo a hipótese de contar com Moreira nas europeias – ao Observador, vários elementos da direção vão garantindo que nada está decidido nesse capítulo –, há quem veja a hipótese de tirar Moreira da autarquia para o lançar para a Europa como um tiro no pé para as aspirações dos sociais-democratas.

Isto porque a saída prematura de Moreira do Porto teria um efeito prático: permitiria a Filipe Araújo, enquanto número dois do atual autarca, assumir a presidência e ficar mais de um ano a ganhar notoriedade e a mostrar obra na cidade, dificultando ainda mais o caminho ao PSD, que teria de convencer Araújo a sair da equação e passar a número dois numa eventual coligação ou, falhando as negociações, enfrentar um candidato com um peso político renovado.

Resta saber se Moreira aceitaria este bilhete dourado e se Montenegro estaria disposto a hipotecar as autárquicas para tentar um brilharete nas europeias – eleições que tem de ganhar se quiser manter o controlo absoluto do partido. Para já, os elementos próximos de um e de outro — Montenegro e Moreira — vão trocando galhardetes nos bastidores: os primeiros sugerem que é o autarca quem anda a alimentar estas notícias sobre as europeias na comunicação social; os segundos dizem que Montenegro está tão desesperado para ganhar as europeias que já só falta estender o tapete a Rui Moreira. A verdade, como sempre, está algures no meio.

Em tempos, Moreira e Rangel, que chegaram a ser muito próximos, acabaram de costas voltadas. Nos últimos anos, houve uma reaproximação entre ambos e a relação está normalizada, vai dizendo quem os conhece bem. No futuro, não é absolutamente improvável que Rangel receba a bênção de Moreira para assumir o seu legado. Mas tudo dependerá das negociações que venham a acontecer – e se vierem a acontecer.

PS aposta em direita dividida e tenta superar trauma

Na visão socialista, a missão a cumprir até às autárquicas é clara: explorar a divisão na direita mas, sobretudo, evitar cometer erros dentro de casa. O PS saiu traumatizado do último processo autárquico, em que se embrulhou numa série de guerras internas e acabou a anunciar à pressa um segundo candidato, depois de o primeiro ter desistido. Por isso, a ideia agora é clara: a eleição de 2025 pode ser uma oportunidade de ouro – mas a primeira tarefa dos socialistas é não a desperdiçarem por culpa própria.

“É uma mudança de ciclo e a direita está muito dividida”, explica fonte do PS local. A perspetiva dos socialistas é que, com a era Rui Moreira a chegar ao fim, as divisões no seu movimento e na vereação e o PSD a precisar de recuperar terreno, o momento pode proporcionar, finalmente, o regresso dos socialistas à autarquia portuense, que não governam desde 2002.

O problema é perceber qual o nome que pode fazer dessas divisões uma oportunidade. E isso não está claro para os socialistas nesta altura. Como não esteve em 2021, embora aí com uma espécie de atenuante: todos estavam conscientes de que, contra Rui Moreira, a eleição seria para perder.

A distrital liderada por Manuel Pizarro (hoje ministro da Saúde), a concelhia de Tiago Barbosa Ribeiro e a fação de José Luís Carneiro (atualmente ministro da Administração Interna) – que admitiu candidatar-se e depois recuou – embrulharam-se em lutas internas. Chegou a ser anunciado como candidato o preferido de António Costa, o secretário de Estado Eduardo Pinheiro, que perante a pressão “brutal” das estruturas (expressão usada por fonte das mesmas) recusou o convite.

Nisto faltavam meses para as autárquicas, Costa disse-se “totalmente solidário” com a decisão de Pinheiro e retirou-se do assunto, o drama interno continuou até que a concelhia acabou por apoiar esmagadoramente o nome de Barbosa Ribeiro – que teve um resultado fraco (18%), ficando décimas acima do PSD e a léguas de Moreira (42%).

No PS, reconhece-se que grande parte da explicação para o desaire é interna. “Claro que o processo desta vez terá de ser muito mais bem preparado”, admite fonte local, lamentando a “campanha impossível, sujeita a todas as dificuldades” que aconteceu em 2021, como resultado da “guerra surda” entre estruturas que “arrastaram a situação até ao limite”.

Além disso, dentro do PS local não foi bem visto o suposto “flirt” que Costa manteria com Moreira, escolhendo um candidato (Eduardo Pinheiro) cuja boa relação com o autarca era bem conhecida e não impossibilitava acordos futuros, em vez de apostar numa oposição forte ao presidente da Câmara do Porto. “Foi uma loucura. A dois meses, nem candidato havia. Este risco não se comete novamente”, assegura a mesma fonte.

Manuel Pizarro será o nome mais citado no PS a esta distância das eleições, mas José Luís Carneiro também faz parte da bolsa de apostas. Hipóteses de Barbosa Ribeiro são mais curtas após o resultado de 2021. Mas desafio principal é a gestão da relação entre as estruturas, que têm um historial de guerras internas

Pizarro bem cotado, mas zangas do costume assustam

A esta distância, ainda não há nomes definidos – os que circulam entre os socialistas são previsíveis, mas também suscetíveis de criar confusão dentro das estruturas. E de provocar baixas no Governo: é o caso de Manuel Pizarro, em que muitos socialistas apostam para tentar conquistar a autarquia, e José Luís Carneiro, também com lugar cativo nas listas de putativos candidatos, sendo ambos representantes de fações que têm um longo historial de zangas e disputas fratricidas. Por fazerem parte do Executivo de Costa, só se afigura provável que avance algum deles se tiver reais hipóteses de ganhar (e para isso as sondagens podem ser um fator crucial).

Para já, há quem se coloque de fora: o nome do socialista e presidente do Conselho Económico e Social Francisco Assis também circulou, mas quem o conhece acredita que é muito improvável que entre no lote de potenciais candidatos. O mesmo para o ex-ministro João Pedro Matos Fernandes, que chegou a ser referido, antes das autárquicas de 2021, como uma hipótese que ganhava força no PS local.

Quanto a Barbosa Ribeiro, a ideia era que, se conseguisse um bom resultado em 2021, essa pudesse ser a sua rampa de lançamento para conquistar a câmara em 2025. Não aconteceu: ficou aquém do resultado das autárquicas anteriores (de 27% para 18%), o que pode hipotecar as suas hipótese para nova tentativa. “Pelo histórico, parece difícil”, assume um dirigente do PS.

O que fica claro para o PS é que desta vez não haverá tempo a perder com zangas e birras dentro de casa – e quem avançar terá de contar com o apoio do partido. Se for minado logo nas primeiras batalhas, internas, dificilmente terá sucesso na verdadeira – e espinhosa – missão externa: reconquistar o Porto.

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