O Reino Unido não registava tantos novos casos de infeção com SARS-CoV-2 desde meados de julho. Há vários dias que a Rússia ultrapassa diariamente o máximo de novos casos de infeção e mortes com Covid-19. O aumento de casos na Letónia levou ao encerramento de escolas e restaurantes por um mês.
As notícias são recentes e marcam um novo aumento dos casos de infeção na Europa. Curiosamente, a região sul parece ser aquela com melhores resultados neste momento, conforme mostram os dados e gráficos da plataforma Our World in Data.
Primeiro, a pandemia afetou mais os países da União Europeia. Agora, é o resto da Europa
A tendência é clara: desde meados de setembro, há um crescimento acentuado no número de novos casos de infeção na Europa — na União Europeia começou um pouco mais tarde e é menos acentuado, mas o crescimento também é evidente.
Muda uma coisa, no entanto. Se, nas quatro primeiras vagas (março-abril e novembro de 2020 e janeiro e março-abril de 2021), a União Europeia tinha mais novos casos por milhão de habitantes do que a Europa, em termos gerais, agora, os países europeus no global seguem com uma diferença de cerca de 75 casos por milhão de habitantes diariamente.
A média de mortes em cada dia também tem vindo a crescer desde meados de julho, tanto na União Europeia como no continente europeu, embora não de forma tão abrupta como durante a vaga de novembro de 2020. Mais uma vez, se a União Europeia tinha mais mortes por milhão de habitantes nas primeiras vagas, agora é o global europeu que segue à frente do grupo dos 27 — mais de duas mil mortes diárias desde a segunda semana de outubro.
Parte da diferença pode estar na taxa de vacinação: a União Europeia tem cerca de 64% da população totalmente vacinada, enquanto no geral do continente europeu esse valor desce para os 54%.
Cinco países com 20% (ou menos) da população vacinada
A taxa de vacinação é, certamente, um dos fatores a ter em consideração. A Bulgária, fruto da desconfiança no governo e autoridades públicas, é um dos países com mais baixa taxa de vacinação da Europa — pouco mais de 20% da população está totalmente vacinada. Ucrânia, Bósnia e Herzegovina e Bielorússia têm todas menos de 20% da população vacinada e a Moldávia (como a Bulgária) está apenas ligeiramente acima.
No extremo oposto estão países como Portugal, Espanha e Islândia que têm, respetivamente, 88, 81 e 82 por cento da população totalmente vacinada contra a Covid-19. Os países europeus que mais doses administraram até ao momento foram a Alemanha, Rússia e França — respetivamente, 110, 99 e 97 milhões de doses, que correspondem a 68, 35 e 75% da população vacinada.
Na Bulgária, os casos de infeção diários estão a subir desde meados de julho e já ultrapassaram os 3.000 (média a sete dias), aproximando-se dos valores máximos registados nas vagas de novembro de 2020 e março de 2021 (inferiores a 3.700). O número de mortes com Covid-19 também acompanha o crescimento dos casos, desde final de julho, e está quase numa média de 100 por dia.
Letónia é o país com maior taxa de infeção no mundo
Ainda assim, a Bulgária, com uma média diária de 440 casos por milhão de habitantes (média a sete dias), não é dos piores casos da Europa, nem tão pouco dos Balcãs. Na península, é a Sérvia que tem a incidência de novos casos mais alta — uma média de quase 920 por milhão de habitantes —, seguida da Roménia, com quase 760. Mais a norte, Estónia e Lituânia aproximam-se dos 900 casos diários por milhão de habitantes e até o Reino Unido está neste grupo, com uma média de 640 casos.
O pior registo em termos de casos, no entanto, vai para a Letónia, que já ultrapassou os dois mil casos diários — o dobro do máximo das vagas anteriores —, mais de 1.100 por milhão de habitantes. O governo decidiu fechar escolas, restaurantes e espaços de lazer e impor recolher obrigatório durante um mês, até 15 de novembro.
Cerca de 79% dos novos casos acontecem em pessoas não vacinadas ou parcialmente vacinadas, os internamentos subiram 56% na última semana e os casos graves registaram um aumento de 62,8%. De notar também que cerca de 20% da população tem mais de 65 anos (em Portugal são 21,5%).
Chipre e Áustria com maior taxa de positividade nos testes de diagnóstico
Em termos absolutos, o Reino Unido, que na segunda-feira chegou quase aos 50.000 novos casos, é o país europeu com maior número de novas infeções (quer no dia 18 quer na média a sete dias). Esta segunda-feira, houve ainda outros países com contagens altas: Ucrânia e Roménia acima dos 10.000, Bélgica com mais de 9.000 e Alemanha com mais de 6.500 (que sobe para mais de 9.300 quando se considera a média a sete dias).
Mas há outros países que, mesmo com números de infeções ainda baixos, denotam a tendência crescente, como os Países Baixos. Apesar da média de 3.500 casos diários (a sete dias), os Países Baixos têm vindo a crescer nas últimas duas semanas — só na última semana cresceu cerca de 50% em relação à semana anterior. Outros exemplos são a Bélgica, República Checa e Polónia — todos eles no centro da Europa —, que também estão a crescer mais de 50% em relação à semana anterior.
A Áustria, por sua vez, é o segundo país da Europa com mais casos de infeção detetados por mil testes feitos — mais de 35 por dia —, ultrapassada pelo Chipre (com 57 casos por cada 1.000) e seguida pela Grécia (com quase 18 casos por cada mil testes). Para comparação, Portugal deteta cerca de cinco casos por cada 1.000 testes realizados.
Em número de mortes, a Rússia apresenta os valores mais altos em termos totais (estando perto de mil por dia). A taxa por milhão de habitantes é, no entanto, mais baixa — perto de sete na média da última semana, num país que tem quase 145 milhões de habitantes. No grupo dos países com mais mortes diárias (média a sete dias) estão a Roménia com 18, a Bulgária com 14 e a Lituânia com 11 — que representam em termos absolutos 345, 96 e 30 mortes diárias (em média), respetivamente.
A Bósnia e Herzegovina é, neste momento, o país europeu com a maior taxa de letalidade (na relação dos mortos com Covid-19 entre os infetados com o coronavírus), com 4,6%, seguido da Bulgária (4,12%) e da Hungria (3,63%).