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Respiração ofegante, um vírus mais resistente e o perigo das lesões. As preocupações dos especialistas no regresso do futebol

Após dois meses parados, os futebolistas da I Liga devem regressar à competição em maio. Dentro de campo, o distanciamento não pode ser cumprido. Mas a ameaça do vírus continua. E das lesões também.

É dia de jogo e, dentro das quatro linhas, as emoções estão ao rubro. Os atletas suam ao percorrerem vários quilómetros durante os 90 minutos, numa média de quase dez cada entre os titulares, entram em duelo direto pelo controlo da bola, caem contorcendo-se com dores depois de mais um choque, reclamam uma grande penalidade mais perto da cara do árbitro, cospem para o chão para aliviar a tensão, vão ao banco de suplentes beber água, aproveitam uma garrafa do médico adversário nas assistências. Pelo meio, festejam abraçados um golo do companheiro. No final, celebram de forma entusiástica uma vitória ou confortam-se no momento da derrota.

Este é um cenário resumido a algumas imagens de um jogo de futebol. Era assim. Agora deixará de ser. Pelo menos nas ligas que decidiram terminar a temporada, como parece ser o caso da portuguesa. As bancadas estarão vazias, os jogos serão à porta fechada, porque, fora de campo, o mundo vê-se a braços com uma pandemia viral combatida com duas regras essenciais: distanciamento social e etiqueta respiratória. Só que, lá dentro, o desporto não permite que nenhuma delas seja cumpridas – a não ser, claro está, os choques no âmbito de um desporto que é de contacto. Por muito que os jogadores tentem e até evitem algumas das rotinas habituais.

A UEFA (União das Associações Europeias de Futebol) deu até 25 de maio às ligas europeias para informarem sobre os planos que têm para recomeçar ou dar por terminado os campeonatos nacionais. E os presidentes do Benfica, FC Porto e Sporting já apresentaram ao Governo o plano da Federação que prevê o regresso do futebol profissional português em junho (ou no último fim de semana de maio ou no primeiro de junho).

Numa carta enviada às federações, o presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, tinha estabelecido o que se espera nos próximos dias: se quiserem voltar à competição, as ligas ou associações devem explicar “a data de recomeço e o formato de competição relevante”. Em contrapartida, se quiserem terminar a época, têm de “explicar as circunstâncias especiais que justificam essa rescisão prematura” e “selecionar os clubes para as competições” da época seguinte. Ou seja, que clubes participarão nas provas europeias, Liga dos Campeões e Liga Europa, tal como entretanto aconteceu com França e Holanda (sendo que só o primeiro teve campeão, o PSG).

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Por cá, os detalhes desse regresso estão por apurar. A 28 de abril, quando António Costa reuniu com os presidentes dos chamados três grandes, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, disse que estava tudo dependente de uma análise por “técnicos da FPF, com a Liga e as autoridades de saúde”. “A evolução da pandemia dá alguma esperança, mas acima de tudo está a saúde”, resumiu. Fernando Gomes referiu ainda nesse mesmo dia que “se os trabalhos com a DGS [Direção-Geral de Saúde] conduzirem a uma decisão definitiva, ela será anunciada na quinta-feira”, 30 de abril. Mas nesse dia, quando o primeiro-ministro falou ao país, nada de muito concreto foi anunciado em relação ao futebol a não ser as datas referência.

António Costa confirmou que as competições oficiais da Primeira Liga e da Taça de Portugal podiam voltar no final de maio, mas o retorno estava “sujeito a aprovação do protocolo sanitário apresentado pela Liga por parte da DGS”. É preciso fazer uma “avaliação de que estádios cumprem todas as condições indispensáveis para que essa atividade possa ser retomada”. Como o Observador referiu no início de uma semana onde já houve um encontro entre autoridades da Saúde e Federação, há oito estádios em cima da mesa mas a decisão deverá ficar, se for possível em termos de calendários, por seis recintos em três polos: Lisboa (Luz e Alvalade), Porto (Dragão e Bessa) e Minho (Braga e Guimarães). Além destes existem ainda as hipóteses Aveiro e Coimbra.

Liga deverá ser jogada apenas em três grandes polos (seis estádios) e há vários cenários para discutir jogos em canal aberto

Mas essa é apenas a parte estrutural do regresso: em que estádios se joga, quem e quando jogam onde. Falta agora tudo o resto. E é isso que preocupa médicos e fisioterapeutas, cá e lá fora. Um dos profissionais de saúde que se expressou contra o recomeço da época foi o chefe da equipa médica da FIFA (Federação Internacional de Futebol), que à BBC Sport sugeriu um adiamento das datas. “A minha proposta é, se possível, evitar jogar de forma competitiva nas próximas semanas. Tentem preparar-se para o início de uma boa competição na próxima época”, salientou, apontando para um cenário onde o futebol voltaria apenas em setembro. Frederico Varandas, presidente do Sporting e médico, falou dessa visão como “antiquada e com pouco conhecimento científico”.

Agora, na conferência de imprensa diária da DGS, Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, confirmou que haverá uma reunião para decidir as regras a seguir para o regresso dos jogos da Primeira Liga.

Uma das questões que justificam o ceticismo de Michel d’Hooghe é como evitar a transmissão do vírus em campo. “Neste momento, o critério significa que é absolutamente difícil dizer que podemos jogar futebol competitivo. Estou com um pouco de medo de que, para ter uma solução completa, tenhamos que esperar até ter um programa de vacinação, mas acho que chegou a hora de pensar em algumas regras de higiene“. Esta ideia, por exemplo, é partilhadas pelas autoridades holandesas, que depois de terem cancelado todos os grandes eventos até 1 de setembro abrem agora a porta à possibilidade de haver apenas futebol quando existir uma vacina.

O médico belga referia-se, por exemplo, ao hábito que muitos jogadores de futebol têm de cuspir para o chão: “Por que temos de ver isso no futebol e não noutros desportos? Essa é uma das coisas que devemos considerar porque esse é um perigo real no futuro”, criticou Michel d’Hooghe.

Covid-19 na bola? Vírus permanece ativo mais tempo em materiais, até sete dias

Michel d’Hooghe não é o único com dúvidas. Os médicos de 20 equipas da Premier League, a liga inglesa, enviaram uma carta a Mark Gillett (assessor médico) e ao diretor Richard Garlick com 100 dúvidas relacionadas com o regresso do futebol. Duas delas, noticiadas pelo El País, são se o vírus sobrevive nas luvas dos guarda-redes e se pode ser transmitido pelo suor. Duas entre 100 de alguns dos maiores especialistas na área.

Todas as decisões que serão tomadas estarão sempre envoltas em mais dúvidas do que certezas. Mas as dúvidas destes médicos já têm resposta. Comecemos pela primeira. De facto, uma das questões a ter em conta é o risco de transmissão do vírus provocado pela interação entre os jogadores e os objetos em campo, como a bola, o relvado ou a roupa. Desde o início da pandemia que os cientistas têm procurado apurar o tempo de sobrevivência do SARS-CoV-2 nos objetos. E, apesar de ser um tema ainda em desenvolvimento, já se obtiveram algumas estimativas.

Por exemplo, o novo coronavírus parece ser particularmente estável em ambientes a 4ºC, mas fica inativo ao fim de cinco minutos caso seja submetido a temperaturas de 70ºC, concluiu um estudo publicado na revista científica The Lancet.

O mesmo documento sugere também que, a uma temperatura de 22ºC e humidade relativa de 65%, o SARS-CoV-2 é muito estável em superfícies lisas – por exemplo, demora quatro dias a ficar inativo no vidro e no papel do dinheiro e sete dias no plástico e no aço inoxidável –, mas é extremamente frágil nos lenços de papel e no papel de impressão, onde desaparece em três horas.

A dúvida é quanto tempo pode permanecer o vírus na bola e na roupa. Poderá ser pouco e não haver transmissão: mas não há testes

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

São conclusões semelhantes às obtidas num artigo publicado no The New England Journal of Medicine, que acrescenta que não foi encontrado SARS-CoV-2 ativo no cobre ao fim de quatro horas e que, ao fim de 24 horas, o novo coronavírus também já não estava ativo em cartão.

Nesta experiência, o tempo de meia vida do vírus – o tempo que demora até metade da carga viral deixar de estar ativa – foi de 5,6 horas no aço inoxidável e de 6,8 horas no plástico. Aliás, segundo as explicações da Johns Hopkins Medicine, mesmo sobrevivendo durante dias em alguns materiais, o material virulento será apenas 0,1% ao fim desse tempo.

É que o SARS-CoV-2 é uma exceção à regra, explica Ana Horta, do Serviço de Doenças Infecciosas do Centro Hospitalar do Porto. Existem dois tipos de vírus – os que estão envoltos numa capa de proteínas, mais resistentes, e os que estão envoltos numa capa lipídica, mais sensíveis às temperaturas, à secagem e a detergentes. O SARS-CoV-2 tem uma capa lipídica mas é mais resistente que a maioria.

“Há vários tipos de coronavírus que têm uma maior resistência. Por exemplo, tendo uma capa lipídica, ele não seria viável no trato intestinal porque seria eliminado. Mas o facto de aparecer nas fezes com alguma viabilidade mostra que, apesar da capa de lípidos, estes parecem mais resistentes que os outros vírus com capa lipídica”, descreve a médica ao Observador.

Ou seja, se o novo coronavírus fosse como a maior parte dos vírus com capa lipídica, ele deixaria de ser viável mais rapidamente nos objetos. Mas “como é uma exceção, nós não sabemos ao certo quanto tempo pode durar”, continua Ana Horta: “A infecciosidade destes vírus diminui rapidamente com o passar do tempo. Embora se tenha identificado algum vírus passado algum tempo, também é preciso fazer testes que permitam saber se esse vírus continuava capaz de infetar as células”.

"A infecciosidade destes vírus diminui rapidamente com o passar do tempo. Embora se tenha identificado algum vírus passado algum tempo, também é preciso fazer testes que permitam saber se esse vírus continuava capaz de infetar as células".
Ana Horta, do Serviço de Doenças Infecciosas do Centro Hospitalar do Porto

Os ensaios clínicos que tentaram apurar a estabilidade do vírus nos materiais foram feitos com testes PCR, que detetam fragmentos do material genético. Mas esses testes não revelam se os vírus encontrados [passado esse tempo] são capazes de entrar nas células e causar uma infeção. “Para saber isso, é preciso inserir o vírus em células ou em animais para ver se se consegue multiplicar ou não”, esclareceu a infecciologista.

Essa segunda fase do ensaio clínico foi concretizada pelos estudos citados acima, considerados os mais robustos nesta matéria. Num deles, os cientistas dizem ter incubado o vírus durante 14 dias para testar o grau de de infecciosidade do agente; outro estudo revela a “viabilidade” do SARS-CoV-2 quando aerossolizado [transmitido via gotículas, como a tosse, os espirros ou até uma respiração mais forte] para as superfícies em teste – plástico, aço inoxidável, cobre e cartão.

O problema? Embora o estudo publicado no The Lancet tenha concluído que “nenhum vírus infeccioso foi detetado em tecido têxtil [roupa] no segundo dia de teste” – dando uma ideia do que acontece caso o SARS-CoV-2 esteja nos equipamentos dos atletas, incluindo nas luvas que preocupam os médicos da Premier Leage –, nenhum dos relatórios estudou a sobrevivência e viabilidade do vírus no relvado de um campo de futebol.

Sabe-se apenas que estes agentes infecciosos não conseguem permanecer ativos muito tempo antes de infetarem um organismo vivo; e que, se forem submetidos a temperaturas acima dos 60ºC, com lavagens, por exemplo, tornam-se inofensivos. Mas um dos estudos sublinha até que “essa recuperação do vírus” das superfícies estudadas “não reflete necessariamente o potencial de ser infetado com o vírus no contacto casual” com os materiais infetados.

Suor não preocupa, respiração ofegante pode ser perigosa

Mas o contacto com os objetos não é, ainda assim, a dinâmica que mais preocupações pode causar no contexto de um jogo de futebol. Durante uma partida, a proximidade entre os atletas é inevitável, o distanciamento social não é cumprido e, portanto, pode surgir uma oportunidade de contágio.

Ao Observador, Ana Horta confirma que o perigo não está no contacto físico entre os futebolistas: “Pelo suor não há transmissão. Este é um vírus que entra numa célula pulmonar, multiplica-se no interior dessa célula e, depois, liberta-se. Pelo suor não há qualquer fundamento científico para haver contágio”, indica a infecciologista, respondendo assim à segunda dúvida dos médicos da Premier League.

O risco está na respiração ofegante de um atleta em exercício, que pode emitir gotículas transportadoras do vírus para os adversários com quem interage: “A pessoa está a respirar mais proximamente dos outros, está ofegante e, por isso, pode lançar gotículas a maior distância”, descreve a médica infecciologista. Numa fase inicial, as autoridades de saúde garantiram que o vírus só é transmitido pelas gotículas emitidas pela tosse e espirro de uma pessoa infetada, uma vez que o SARS-CoV-2 infeta sobretudo as células do trato respiratório superior e inferior.

O risco está na respiração ofegante de um atleta em exercício, que pode emitir gotículas transportadoras do vírus para os adversários com quem interage: "A pessoa está a respirar mais proximamente dos outros, está ofegante e, por isso, pode lançar gotículas a maior distância".
Ana Horta, do Serviço de Doenças Infecciosas do Centro Hospitalar do Porto

No entanto, um novo estudo da Academia Nacional de Ciências norte-americana sugere que, afinal, o novo coronavírus pode viajar pelo ar em gotículas mais pequenas que, antes de ceder à força da gravidade, pairam na atmosfera. Após uma revisão literária aos estudos científicos publicados sobre o tema, numa carta enviada à Casa Branca, a academia afirmou que “os resultados [dos estudos] são consistentes com a aerossolização do vírus pela respiração normal”.

Até agora, as autoridades de saúde – incluindo a Direção-Geral da Saúde – repetiram que o novo coronavírus viaja em gotículas maiores, com pelo menos um milímetro de diâmetro; mas que, à conta da força da gravidade, acabam por assentar no chão ao fim de um a dois metros.

Merkel decidiu, está decidido: chanceler autoriza regresso do futebol e Bundesliga volta em maio (à porta fechada)

Mas um dos estudos citados pela Academia norte-americana sugere que o agente patogénico também pode ser encontrado em gotículas com menos de cinco micrómetros (ou 0,005 milímetros) e que podem ficar suspensas no ar durante três horas sem que o vírus perca a sua capacidade infecciosa.

No entanto, esta revisão literária baseia-se em estudos científicos que não são conclusivos, como os próprios autores admitem. Aliás, o aviso feito pela Academia foi criticado pela Organização Mundial de Saúde, que defende que, apesar de essa forma de transmissão ser “possível em circunstâncias específicas”, como uma extrema proximidade entre duas pessoas, tal como acontece no futebol, uma análise a 75 mil casos na China não encontrou casos de transmissão por aerossolização do vírus. Mas, mais uma vez, nada foi testado num campo de futebol, com 22 jogadores a correr 90 minutos.

Dos treinos ao regresso à competição. As regras por apurar

Depois há a questão da partilha dos balneários. Na fase de treinos em que muitos jogadores entraram ao longo desta semana, os atletas não podiam tomar banho nos centros de estágios, tinham de utilizar máscara durante parte do tempo em que não estavam em campo, cada um é obrigado a ter a própria garrafa de água e a própria bola. Mas como será feita a gestão dos balneários quando se passar dos estágios à competição? Ainda não é claro, sabendo-se apenas que a escolha dos estádios está a ser feita enquadrada nessas necessidades.

Num dos mais últimos rascunhos da Liga para a “Retoma Progressiva à Competição”, ficou estipulado um mês de treinos condicionados semelhantes ao que se passa na pré-época mas divididos em três fases; na primeira, o jogador é submetido a exercícios de grande exigência física mas o treinador nunca se pode aproximar mais do que dois metros dos atletas (havendo essa possibilidade a nível de clubes, o distanciamento mínimos chegou a ser de dez metros). Antes de entrarem em campo, têm de ter já as chuteiras calçadas e usar a própria bola. Depois, todo o material que usarem deve ser levado para casa. E não podem tomar banho nas instalações.

Como serão as oito semanas de futebol em Portugal – e o que se passa lá fora, entre protocolos e jogos à porta fechada

O jogador é submetido a exercícios de grande exigência física, mas o treinador nunca se pode aproximar mais do que dois metros dos atletas. Antes de entrarem em campo, têm de ter já as chuteiras calçadas e usar a própria bola. Depois, todo o material que usarem deve ser levado para casa. E não podem tomar banho nas instalações do clube.

Ultrapassada essa fase – em que clubes como o Sporting, Benfica, Sp. Braga e FC Porto já se encontram –, todos os atletas e equipa técnica deverá ser testada para o novo coronavírus. Quem estiver infetado é posto de quarentena, como mandam as autoridades de saúde e quem não estiver poderá treinar em conjunto. No entanto, não podem partilhar refeições, os banhos são tomados em casa e é lá que devem permanecer quando não estiverem e trabalhar.

Havendo essa possibilidade, como está a acontecer por exemplo com Benfica e Sporting, é criado um “guia” com o mesmo propósito mas hábitos diferentes. Todos os clubes da Primeira Liga estão a medir a temperatura e a fazer perguntas para um questionário sempre que atletas, técnicos e restantes elementos chegam para os treinos mas os dois “grandes” lisboetas colocaram à disposição (além do circuito de sentido único nas instalações) os quartos individuais dos jogadores nos respetivos centro de estágios para se equiparem e tomarem banho minimizando os contactos, além de reformularem os refeitórios para que sejam respeitadas as distâncias sociais. As refeições que não sejam feitas no local estão também a ser confecionadas pelos próprios clubes.

A terceira fase diz respeito aos jogos, mas é sobre ela que ainda pairam muitas das dúvidas que deverão ser dissipadas na reunião com a DGS. A proposta da FPF é que seja dispensada a ronda motivacional, os cumprimentos entre adversários e com os árbitros, as flash interviews para as TV e a presença de crianças em campo na entrada dos jogos. Nos hotéis, os jogadores devem dormir em camas individuais separados pelo menos um metro. Não devem utilizar o elevador, mas sim as escadas, e devem evitar contactos com outros hóspedes. A questão do balneário não é falada, mas é onde pode residir maior risco de contágio: há proximidade e há muitas zonas que podem ser tocadas por várias pessoas. É por isso que, idealmente, estão a ser procurados espaços que possam ter dois balneários por equipa, para evitar grandes concentrações.

Por cá, ainda não é conhecido o procedimento a seguir pelos clubes caso um jogador no ativo confirme uma infeção pelo novo coronavírus mas a Bundesliga, que regressa à competição a 16 de maio, já delineou as regras a seguir. Nesses casos, aciona-se o plano de atuação típico de um simples caso de lesão e o futebolista infetado é colocado em quarentena durante 14 dias. E em relação ao plantel? Como se percebeu esta semana, não existe qualquer obrigatoriedade que o resto do plantel fique também em isolamento porque dos dez casos positivos encontrados em mais de 1.700 feitos entre primeira e segunda ligas, só o Erzgebirge Aue colocou o plantel de quarentena.

SG Dynamo Dresden v FC Erzgebirge Aue - Second Bundesliga

Erzgebirge Aue foi a única alemã que ficou de quarentena -- a Bundesliga volta dia 16

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Ou seja, e em resumo, se um jogador estiver infetado terá de ficar 14 dias em isolamento numa casa ou num hotel designado pelo clube sem contacto com o exterior e sem visitas de familiares. Já se for um familiar de um jogador a ter sintomas ou um teste positivo, esse atleta deve ser isolado desse membro e do grupo de trabalho, podendo manter a atividade se for testado de forma regular. Em relação aos jogos em si entre equipas quando recomeçar a competição, essa questão não se coloca: todos os intervenientes são testados antes e depois.

Entretanto, a Alemanha também já impôs outras regras. Todos os árbitros serão testados na manhã do dia de cada jogo, os atletas devem deslocar-se no próprio veículo (sempre o mesmo, não andando a trocar diariamente) e os representantes das equipas serão transportados em pequenos grupos e em carros desinfetados antes e depois de cada utilização. No balneário, os jogadores equipar-se-ão em espaços diferentes e tomarão banho separados, à semelhança do que já acontecia quando os plantéis regressaram aos trabalhos no ginásio e no campo muito antes do que nas restantes ligas.

Como treinar um atleta para escapar ao vírus… e às lesões

Coronavírus à parte, os jogadores que regressam à competição trazem outro problema para resolver: passaram cerca de dois meses praticamente parados, com um ritmo de treino incomparável ao que teriam nesta altura do ano nos centros de estágio. A maior parte não descurou no exercício e, em casa, esforçou-se por continuar no ativo. Mas ainda assim, com o regresso à alta competição, os preparadores físicos têm muito trabalho pela frente.

Pol Lorente, preparador físico entrevistado pelo El Mundo, explicou que, após dois meses parados, os atletas “perderam massa muscular e até o sistema neuromuscular será lento quando se trata de terminar ou executar certos movimentos”. Mas nem todos os futebolistas vão sentir dificuldades nas mesmas tarefas, nem na mesma medida: “Provavelmente um guarda-redes vai precisar mais atenção, já que alguns já estão há muito tempo sem cair no chão. Fizemos alguns vídeos para testar a capacidade de reação, mas, mesmo assim, não têm a mesma especificidade”.

Pol Lorente, preparador físico entrevistado pelo El Mundo, explicou que, após dois meses parados, os atletas "perderam massa muscular e até o sistema neuromuscular será lento quando se trata de terminar ou executar certos movimentos". Mas nem todos os futebolistas vão sentir dificuldades nas mesmas tarefas, nem na mesma medida: "Provavelmente um guarda-redes vai precisar mais atenção".

Ou seja, mesmo que a esmagadora maioria dos atletas tenha uma boa condição física neste momento, ela não será compatível com a verificada em plena época de alta competição: os joelhos podem estar mais enfraquecidos porque músculos e as articulações estão menos preparadas, a capacidade de aceleração e desaceleração está comprometida porque é uma característica difícil de treinar em casa; e a zona traseira e costas podem estar mais frágeis ao contacto abrupto com os adversários.

“Fui falando um pouco com todos os jogadores individualmente porque durante este período surgem sempre algumas situações clínicas com eles, bem como com os seus familiares, que tivemos de resolver. Reunimos com todos por videoconferência para esclarecer como estava a ser a evolução da pandemia em Portugal e como nos tínhamos organizado no Centro de Treinos e quais seriam os novos procedimentos e as novas regras. Senti que estavam com curiosidade de ficarem bem informados”, explicou Nelson Puga, médico do FC Porto, ao Jogo.

Mas, psicologicamente, os atletas também poderão estar afetadas, sobretudo nos que pertencem a equipas com colegas que ficaram doentes ou que perderam familiares por causa da Covid-19. Mais: sem o típico apoio vindo das bancadas, os jogadores podem sofrer uma maior desmotivação. “Se misturarmos o psicológico e o emocional, estamos enfrentando uma situação de risco considerável para os jogadores de futebol”, alerta Jordi Balcells, preparador físico do Girona, Sevilha e Espanyol, ao El Mundo. Como a predisposição para lesões musculares é maior, “tudo isso cria fadiga mental em que se precisa trabalhar”.

O regresso do futebol: se fecharmos os olhos e imaginarmos, o que vemos?

O exemplo do Flamengo, mesmo sendo um clube sul-americano e num país onde a pandemia tem vindo a crescer (na Europa isso acontece apenas na Rússia), é paradigmático para explicar o problema inicial que todas as equipas enfrentaram no regresso aos trabalhos: em 293 testes realizados a jogadores, treinadores, elementos do staff de apoio à formação principal, funcionários que residem no Ninho do Urubu (centro de estágio dos cariocas), outros funcionários de serviços regulares que trabalham com o clube e familiares, foram detetados 38 casos positivos e 11 onde se desenvolveram entretanto anticorpos (todos eles assintomáticos).

Argentina Open training Session

Dybala, colega de Ronaldo, já deu positivo quatro vezes e continua positivo

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Foi isso que aconteceu em Portugal, com o Sporting a detetar através dos testes serológicos que um atleta ganhou provavelmente imunidade ao vírus e o Belenenses SAD a encontrar um caso positivo num jogador mais jovem (que, entretanto, ficou em isolamento e vai agora cumprir um período de quarentena). Realizados todos os testes, os cuidados diários na chegada dos jogadores aos treinos com a medição de temperatura e a realização de um inquérito com três a quatro perguntas sobre possíveis sintomas visam despistar novos casos (dentro do possível). Outra particularidade: quaisquer resultados estão a ser sempre comunicados à Liga.

Olhando para a realidade europeia, houve apenas dois casos em específico que levantaram questões entre atletas. Por um lado, o médio francês do Montpellier, Junior Sambia, que chegou a estar nos cuidados intensivos do Hospital Universitário Arnaud-de-Villeneuve, tendo dado negativo num primeiro teste e positivo num novo teste, naquela que foi a situação mais crítica entre um profissional de futebol nas grandes ligas europeias. Por outro, o avançado argentino da Juventus de Ronaldo Paulo Dybala, que quatro testes depois continuava a dar positivo, algo que podia acontecer por duas razões: ou era um falso positivo ou o sistema imunológico não é tão forte.

No entanto, por questões de saúde de todos os participantes e também para passar uma imagem adequada para o exterior, todos os cuidados são poucos. Ponto importante: limitar ao máximo deslocações e viagens.

Tudo vai evoluir em função da própria pandemia e dos resultados, algo que está a ser muito discutido em Itália com os vários resultados positivos detetados em equipas da Serie A que "congelaram" uma decisão.

Em Portugal, quando as equipas chegarem ao estádio (em viaturas que permitam cumprir o distanciamento social – já se chegou a falar na hipótese de cada equipa usar dois autocarros ou viaturas próprias), serão feitos testes rápidos a todos os elementos. Essa é a fase 1: verificar se existe algum infetado. Depois, existirão de preferência dois balneários por equipa e os aquecimentos serão em períodos separados para evitar qualquer tipo de aglomeração no túnel de acesso ao relvado. As bolas serão desinfetadas, o uso de máscara em espaços fechados recomendado. Depois, a seguir ao apito inicial (passando toda a questão protocolar, que cai), é jogo.

Futebol é futebol e assim continuará, ainda que sem festejos nos golos por exemplo – algo que muitos continuam sem perceber, levantando perguntas sem resposta como o que se fará para manter a distância na existência de barreiras nos livres. Os maiores cuidados serão na assistências aos jogadores, que terão regras específicas.

No final do jogo, mais uma lista de formalidades, desde os banhos mais espaçados à realização de novos testes, passando pelo regresso a casa com as mesmas preocupações de distanciamento social. Ainda assim, e como já explicaram ao Observador, há algumas possibilidades em Portugal que ainda não estão salvaguardadas e é por isso que o enfoque na questão dos controlos diários e dos testes antes dos jogos ganha ainda mais relevo nesta fase. Depois, tudo vai evoluir em função da própria pandemia e dos resultados, algo que está a ser muito discutido em Itália com os vários resultados positivos detetados em equipas da Serie A que “congelaram” uma decisão. Em Espanha, esta sexta-feira, a RAC1 avançou também que tinham sido detetados cinco casos positivos nos testes.

 
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