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Rciardo Salgado, imagem genérica
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No despacho de acusação, o MP elenca os rendimentos declarados de Ricardo Salgado e os que recebeu em contas no estrangeiro como prémios "auto-atribuídos"

KIMMY SIMÕES/OBSERVADOR

No despacho de acusação, o MP elenca os rendimentos declarados de Ricardo Salgado e os que recebeu em contas no estrangeiro como prémios "auto-atribuídos"

KIMMY SIMÕES/OBSERVADOR

Ricardo Salgado terá atribuído prémios de 12,8 milhões a si próprio enquanto o BES se afundava

Entre 2008 e 2014, o antigo banqueiro terá recebido 12,8 milhões de euros em contas no estrangeiro. Uma delas designou de "Popcorn". Acusação fala em "total desconsideração pela situação do GES".

Nos seis anos em que BES se afundou até atingir um buraco financeiro de 3,6 mil milhões de euros de prejuízo, levando o Governo a optar pela resolução do banco, o banqueiro Ricardo Salgado terá recebido um total de 18,6 milhões de euros. E 12,8 milhões de euros desse valor total terão sido prémios pagos através de contas abertas no estrangeiro “em total desconsideração pela situação patrimonial do GES”, como se lê no despacho de acusação contra os 25 arguidos do Universo Espírito Santo.

Na acusação conhecida esta semana, o Ministério Público faz as contas a todo o dinheiro declarado em Portugal pelo então banqueiro, entre 2008 e 2014, e aquele que recebeu em contas no estrangeiro. E se, nesse período, Salgado declarou às Finanças ter recebido cerca de 5,8 milhões de euros de rendimentos em Portugal do Espírito Santo Financial Group (ESFG), do Banco Espírito Santo e do Novo Banco ( 5.763.750 euros), de fora dessas contas ficaram os 12.807.499,02 euros que, segundo o despacho, recebeu em contas bancárias abertas na Suíça, nas Ilhas Virgens Britânicas, ou mesmo no Panamá. Dinheiro que, na tese dos investigadores, recebeu a título de pagamento de alegados prémios ou honorários “auto atribuídos”, diz o MP, e sem ter em conta a situação difícil em que o GES se encontrava.

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Na tabela com os valores que declarou é possível perceber que, enquanto o banco que geria entrava em declínio, também os seus rendimentos baixavam. Se, em 2008, Salgado declarou ter recebido 1.211 milhões do BES e 3.76 milhões do ESFP (num total de 1.214 milhões), já em 2011 recebeu do BES 799.39 milhões e nada da ESFP (deixou de receber em 2009). Em 2014, o ano da resolução, Salgado recebeu 388.585, 76 euros do BES.

Já fora de Portugal, Salgado terá recebido “pelo menos” 12.807.499, 02 euros de cinco contas diferentes: da holding ESI (BVI) SA, a das offshore Enterprises e Balenbrook, do Banque Prvivée Espírito Santos e da Newbrook. 2009 foi o ano em que terá recebido mais dinheiro (um total de 5.894.677,81 euros), a maior parte vinda da conta da Newbrook, de onde recebeu dinheiro apenas desta vez. Fora este ano, entre 2008 e 2013, terá recebido sempre uma média de 1,2 milhões de euros anuais. E em 2014, o ano da resolução, recebeu apenas 181.651 euros.

Uma “Popcorn” e como Salgado fazia circular o dinheiro

Durante a investigação a Ricardo Salgado, que se prolongou ao longo dos últimos seis anos, os procuradores do Ministério Público perceberam que, para receber estes valores, e ainda antes de 2009, o antigo dono disto tudo constituiu várias entidades através das quais fazia circular o dinheiro em várias contas. No Panamá, por exemplo, e na tese do MP, mandou criar a entidade Sykalson SA, da qual era o último beneficiário. E foi com o nome desta entidade que Salgado abriu uma conta no banco suíço UBS, assim como criou outras entidades, como a Parwick Investments, que usou também para abrir outras contas.

O dinheiro saía destas contas para uma outra que Salgado detinha no Banco Privée Espírito Santo, e a que chamou “Popcorn”.

Mas como é que, afinal, o dinheiro circulava de conta para conta? Dos 941.292,83 euros que terá recebido através da ESI (BVI), 711.339,78 euros foram transferidos de um conta do Banque Privée Espírito Santo, na Suíça, em nome da Esfil – Espírito Santo Financiére SA, com destino à conta aberta junto ao banco do Panamá em nome de Parwick, da qual o ex-banqueiro é o último beneficiário.

Já em julho, os 229.953,05 euros terão sido usados para amortizar um empréstimo de 2,2 milhões de euros — crédito que foi concedido pela ESI (BVI) a Ricardo Salgado e que foi creditado na conta da Suíça em seu nome.

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Através da Balenbrook, um outro saco azul do GES, Salgado recebeu na conta do UBS na Suíça 511 mil euros, em 2008. Mas até chegar aqui, este dinheiro deu uma grande volta: a 30 de junho terá começado por sair de uma conta da ESFIL em nome da ESI para o KredietBank, na Suíça em nome da Balenbrrok. O dinheiro foi creditado em nome da entidade Collar Seabream Ltd, com sede na Bahamas. Quem são os beneficiários desta sociedade? Salgado e a mulher, Maria João Salgado.

Parte deste valor terá sido investido em ações, cujos resultados acabaram creditados numa conta na suíça de uma outra entidade: a Atkinson Consultancy Inc, com sede no Panamá e cujos beneficiários são também Salgado e a mulher.

A ideia, diz o Ministério Público, era usar o máximo de contas bancárias para tornar “ainda mais remota a associação da origem do dinheiro aos seus destinatários, e para toldar a perceção de propósitos criminosos”, lê-se no despacho de acusado assinado por procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal.

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