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Porto, 22/10/2021 - cerimónia de recandidatura de Rui Rio à liderança do PSD (Rui Oliveira/Observador)
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(Rui Oliveira/Observador)

(Rui Oliveira/Observador)

Rio usa mais um trunfo para tentar encurralar Rangel

Líder do PSD vai propor antecipação das diretas para 20 ou 27 de novembro. Proposta, além de irregular, deve ser rejeitada. Mas Rio quer controlar narrativa: afinal, quem é que tem medo de ir a votos?

É a última cartada de Rui Rio. Este sábado, quando entrar no Conselho Nacional do PSD, em Aveiro, o líder do PSD vai propor a antecipação das eleições diretas no partido para 20 de novembro (preferencialmente) ou 27 do mesmo mês. É uma inversão completa da narrativa seguida até aqui — Rio tem passado as últimas semanas a pedir precisamente o oposto –, mas que mantém o mesmo fio condutor: se o objetivo é evitar que o partido chegue às legislativas em frangalhos, então que não se arraste mais o processo eleitoral interno.

Se a narrativa é esta, o objetivo estratégico é bem mais largo. Acossado nas últimas semanas por acusações de ter medo de ir a votos contra Paulo Rangel, o líder do PSD quer inverter o jogo e colocar a pressão toda do lado do adversário: se Rio até quer ir a votos mais cedo, afinal, quem tem medo de enfrentar eleições internas?

O plano de Rui Rio tem, ainda assim, uma falha evidente: só uma interpretação criativa dos estatutos do partido permitirá antecipar as eleições diretas. As regras internas do PSD deixam claro que o líder é eleito ao mesmo tempo que os delegados ao Congresso e esses mesmos delegados têm de ser convocados com 30 dias de antecedência. Ora, se as eleições diretas estão agendadas para 4 de dezembro e se a proposta de Rio vai ser votada a 6 de novembro, o prazo estará mais do que ultrapassado.

A direção de Rio, ainda assim, faz outra interpretação dos estatutos: o regulamento diz, no número 3 do seu artigo 69.º, que as assembleias eleitorais devem ser “convocadas” num prazo mínimo de 30 dias; uma vez que as convocatórias já seguiram, vai fazendo contas o núcleo duro de Rio, nada invalida que se altere  apenas a data das eleições diretas.

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Além dos obstáculos estatutários, a proposta do líder social-democrata enfrenta outros dois enormes bloqueios: a oposição de Paulo Rangel, que tem maioria no Conselho Nacional, órgão que terá de se pronunciar sobre o assunto; e do Conselho de Jurisdição do PSD, que tem a competência salvaguardar o respeito das normas internas do partido.

Em entrevista à SIC, de resto, Paulo Rangel foi cristalino: “É preciso serenidade, bom senso e segurança jurídica. A melhor solução é a estabilidade. As eleições estão marcadas para 4 de dezembro e vamos fazê-las.”

No limite, mesmo na hipótese improvável de Paulo Rangel aceitar este desafio de Rui Rio, a solução, sabe o Observador, esbarrará sempre em Paulo Colaço, presidente do Conselho de Jurisdição, que faria sempre uma leitura bastante rigorosa das regras internas. E não bastaria um acordo de cavalheiros entre os dois candidatos à liderança do partido; os estatutos são para cumprir.

O exemplo do CDS serviu de antídoto para as pretensões de Rui Rio. O líder social-democrata (o primeiro a sugerir e a tentar solução semelhante internamente) viu como Francisco Rodrigues dos Santos foi queimado na fogueira da opinião pública e publicada. E percebeu que continuar a comprar essa guerra seria um erro

A narrativa é tudo. Afinal, quem tem medo de ir a votos?

Seja como for, a aposta de Rio vai muito para lá de uma troca de argumentos jurídicos ou de uma simples guerra estatutária. O líder social-democrata quer recuperar o controlo da narrativa mediática e política: se Paulo Rangel chegou a pedir eleições legislativas para o final de fevereiro de maneira a preparar o partido para o embate com António Costa, que motivos terá para recusar agora a antecipação das diretas?

Rio tenta assim acabar com a tese de que tem medo de ir a votos e virar o jogo contra o adversário. O núcleo duro do líder do PSD acredita que, para fora, para os militantes do partido e, eventualmente, para os eleitores em geral, pouca importa o que dizem os estatutos ou as regras internas do PSD. É demasiado complexo para alimentar horas de emissão televisiva e títulos de jornais.

A mensagem que Rio tem para oferecer é simples. Ao recusar a proposta de antecipar as eleições, será Rangel a passar pelo candidato que hesitou em ir a votos. “Ele vai ficar sem discurso”, diz um dos homens próximos de Rio. No final do dia, o filme do Conselho Nacional ficará resumido a uma ideia: Rio está tão desprendido do lugar que até quis resolver tudo rapidamente; Rangel não e pediu mais tempo para se preparar para o duelo com Rio — mesmo que a proposta do líder social-democrata seja, com elevado grau de certeza, contra as regras internas do partido.

Claro que nem tudo se resume ao controlo da narrativa. Os operacionais de Rui Rio estão bem cientes de que Paulo Rangel tem uma vantagem confortável nas estruturas do PSD e que, se nada mudar até às eleições diretas, o eurodeputado pode muito bem derrotar o líder em funções.

Essa vantagem teórica, no entanto, só se materializará se a máquina eleitoral de Rangel conseguir mobilizar o aparelho a seu favor — e mobilização, em todos os grandes partidos, com todos os candidatos, passados, presentes e futuros, líderes ou challengers, significa sempre pagar quotas de forma maciça para que os militantes saiam de casa. É uma regra universal em todas as disputas internas.

Aí, a equação é bem mais simples de resolver: se encurtar o calendário das diretas, os homens de Rui Rio acreditam que vai ser possível retirar muito espaço de manobra aos operacionais de Rangel para confirmarem o favoritismo (teórico) que têm no aparelho social-democrata. Nesse cenário, o chamado “voto livre” tenderá a ter maior preponderância e a relançar Rui Rio.

Se a narrativa é esta, o objetivo estratégico é mais complexo. Acossado nas últimas semanas por acusações de ter medo de ir a votos contra Paulo Rangel, o líder do PSD quer inverter o jogo e colocar a pressão toda do lado do adversário: se Rio até quer ir a votos mais cedo, afinal, quem tem medo de enfrentar eleições internas?

O plano B que foi sempre o A. E a lição aprendida com o CDS

Se a antecipação das diretas falhar, como é bastante possível que falhe, é muito provável que algum dos apoiantes de Rui Rio venha a propor, neste Conselho Nacional, novamente o adiamento das eleições diretas. Ponto assente: não será a direção social-democrata a propô-lo formalmente.

O exemplo do CDS serviu de antídoto para as pretensões de Rui Rio. O líder social-democrata (o primeiro a sugerir e a tentar solução semelhante internamente) viu como Francisco Rodrigues dos Santos foi queimado na fogueira da opinião pública e publicada. Rio percebeu que continuar a comprar essa guerra seria um erro.

Mesmo que continuem acreditar nos princípios defendidos por Francisco Rodrigues dos Santos (e partilhados por Rui Rio), a direção do PSD percebeu claramente que a mensagem do adiamento das eleições internas é de difícil compreensão e aceitação pública — daí, ter invertido por completo a estratégia até aqui seguida.

Mas isto não quer dizer que Rio tenha desistido da ideia. O núcleo duro do líder social-democrata acredita que as duas propostas andam de mãos dadas: se Rangel recusar a antecipação das diretas e também recusar o seu adiamento, ficará provado (espera Rui Rio) que a única preocupação dos adversários internos foi sempre a elaboração de listas de deputados e nunca a preparação do partido para as legislativas.

Mais uma vez, com os dados que existem hoje na mesa, estas alternativas devem ser chumbadas em Conselho Nacional. No entanto, quando deixar o hotel onde vai decorrer o Conselho Nacional do PSD, em Aveiro, Rio vai juntar argumentos à tese que tem alimentado nesta campanha interna: ele é o único que se move única e exclusivamente pelo interesse nacional; Rangel e os seus apoiantes estão mais preocupados em garantir lugares no partido. Rio não tem nada a perder; Rangel tem tudo. Resta saber se esta narrativa será suficiente para convencer os militantes sociais-democratas.

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