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VI Convenção da Iniciativa Liberal - IL. O partido reúne em convenção no Centro de Congressos de Lisboa. Intervenção de Miguel Ferreira Silva, ex-presidente da IL. Lisboa, 11 de dezembro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
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"As notícias sobre a morte da IL são manifestamente exageradas", diz Miguel Ferreira da Silva

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

"As notícias sobre a morte da IL são manifestamente exageradas", diz Miguel Ferreira da Silva

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

"Se deixarmos que a balcanização cresça, acontece-nos o que aconteceu ao CDS"

Em entrevista ao Observador, Miguel Ferreira da Silva, primeiro presidente da IL, considera o partido não pode mergulhar numa luta de fações. E não quer acreditar que existam saneamentos.

Entende que as notícias sobre a morte da Iniciativa Liberal são “manifestamente exageradas”, desdobra-se em elogios a João Cotrim Figueiredo, acredita que qualquer um dos três candidatos está preparado para assumir a liderança, mas não esconde a sua preferência: “Vamos ter cá dentro uma forma diferente e nova de fazer política”, diz.

Em entrevista ao Observador, no programa “Vichyssoise”, Miguel Ferreira da Silva, fundador e primeiro presidente da IL, alerta para os riscos que uma possível balcanização pode representar para a sobrevivência do partido. “Será que a IL se vai deixar encurralar numa luta de fações ou vai cumprir o desígnio que sempre teve e criar uma forma de fazer política em que os membros possam participar sem ficarem fechados em caixinhas de serem apoiantes da Carla ou do Rui?”, interroga.

Com uma Coca-Cola na mão e o Eminem no cardápio, Ferreira da Silva manifesta o seu desejo para o partido: que depois de ter vencido vários sprints — “em cinco anos enfrentámos sete eleições” –, o partido entre agora num novo ciclo. “E a mesma equipa que nos fez ter sucesso na representação [parlamentar] não é necessariamente a mesma equipa que nos fará ter sucesso na governação”, antecipa.

[Ouça aqui a Vichyssoise com Miguel Ferreira da Silva]

Eminem liberal, a dor dos Costas e as sombras de Montenegro

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Foi fundador da IL, o primeiro presidente, assistiu ao nascimento do partido… Como é que é assistir à morte da Iniciativa Liberal?
Essas notícias são um bocadinho exageradas. A sociedade portuguesa não está habituada a esta nova forma de fazer política. Com este desprendimento das lideranças, de construírem e darem o seu contributo para depois seguirem com as suas carreiras profissionais. Este é o futuro da política. Não a sua morte.

Quando é que deixou de se identificar com a linha seguida pela liderança da IL?
Essa pergunta pressupõe que deixei de me identificar com a linha da direção do partido.

Criticou-a, pelo menos.
Critiquei tanto que me estou a candidatar ao Conselho Nacional. Mas a crítica faz parte do que é ser liberal. Qualquer liberal, se não tiver uma crítica a fazer, se calhar tem de pensar duas vezes. O nosso pensamento é crítico por natureza, ao contrário da forma antiga de fazer política, em que os membros aderem a uma liderança — são do António Costa ou do António José Seguro; do Luís Montenegro ou do Rui Rio. Nós não. Todos pensamos pela nossa cabeça. Não há aqui nenhum apontar de culpas. Pelo contrário: as várias direções desde a sua fundação estiveram muito bem para o momento em que estiveram. Mas sejamos claros: em cinco anos enfrentámos sete eleições, elegemos oito deputados. Estamos adiantados pelo menos doze anos.

E isso causou dores de crescimento.
Não são dores de crescimento, é não conseguirmos ir a todas. Fizemos um conjunto de coisas essenciais, estivemos todos focados nesses objetivos, que eram externos, e agora é tempo de…

Arrumar a casa.
Não, é muito mais ambicioso do que isso. É tempo mudar a forma de fazer política para o próximo ciclo, em que vamos ser governação.

“Cotrim? Quando um líder se demite, deve afastar-se”

Existe uma crítica recorrente a João Cotrim Figueiredo: dizia-se não permitia que houvesse mais do que uma linha de pensamento na direção e mesmo no partido. Estava a funcionar como um Comité Central, como chegou a sugerir Mayan Gonçalves? 
Essa expressão é um bocadinho exagerada. Percebo que é a forma mais fácil no debate público de exprimir uma ideia. Temos o hábito de aproveitar as melhores qualidades dos nossos membros. No caso do João Cotrim, uma coisa é inegável: é um excelente gestor. Tudo o que deu ao partido em termos de gestão da ação política para conseguir estes resultados eleitorais é absolutamente notável e temos de dizer “obrigado”.

Mas…
Mas nada. Esse foi o trabalho dele. O que faltou foi que todos os membros percebessem que a par desse esforço no qual o João estava concentradíssimo, com uma equipa a trabalhar dia e noite. Era preciso desenvolver a parte do debate interno e para estas visões conseguirem participar.

Então Cotrim não se comportou como um líder autocrático, como chegou a sugerir Carla Castro.
Não o vejo como um líder autocrático. Vejo-o como um líder tão focado nos objetivos externos que porventura poderá não ter dado atenção suficiente aos desafios internos.

Mas quando Cotrim sai tem a ambição de uma IL mais combativa, popular. Isso é tudo para a parte externa e não interna, em que a campanha acabou por se focar.
Nós pensamos mesmo fora da caixa. Os outros partidos dizem o que querem propor ao partido como uma utopia — um sonho, vender sabonetes, no fundo — ou internamente falam na contagem de espingardas. Na IL queremos criar valor dentro do partido para que as próximas direções estejam em condições plenas de poder abraçar um desafio governativo. Entre os nossos membros temos pessoas com carreiras profissionais, académicas, até pessoais, absolutamente extraordinárias, que até hoje não conseguiram dar todo o seu contributo. Éramos muito poucos e porque tivemos um sprint atrás do outro. Foi brutal.

Vamos a uma coisa em que a IL se assemelha mais aos antigos partidos.
Olhe que não!

No seguimento de um Conselho Nacional da IL, acusou João Cotrim Figueiredo de o ter interrompido com “expressões usadas para parar o gado”. Pode explicar o que quis dizer?
Embora seja um defensor da transparência, gerou-se um consenso no Conselho Nacional para não trazer para fora os detalhes desses debates. Mas posso dizer que o João fez uma leitura política sobre este momento do partido e o que quereria para o futuro. Quando percebeu que o partido estava diferente, muito maior, e como é um excelente gestor, pensou que devia dar o seu contributo a gerir esta transição. E aí eu discordo. Quando um líder se demite…

Deve afastar-se.
Exatamente, mas mais do que isso: deve deixar que as regras da sua sucessão sejam feitas sem a sua presença.

E tentou uma sucessão dinástica?
Não diria isso. [João Cotrim Figueiredo] está tão preocupado com o futuro do partido que teve a tentação de voltar a dar o seu melhor. Neste caso, era preferível não o ter feito.

"Saneamentos depois das eleições? Nem tal me passa pela cabeça. Isto não é o PCP, por amor de Deus. Era o que faltava"

“Espero que a IL não se deixe encurralar numa luta de fações”

É um assumido apoiante de Carla Castro, crítico de uma grande parte das posições da atual direção. Como explica que esteja a apoiar candidata que, apesar das várias oportunidades que teve ao longo dos últimos anos, nunca criticou o rumo que o partido estava a seguir?
Está a presumir que sou crítico da atual direção e eu não critico, eu quero é contribuir mais. Há coisas que ficaram por fazer porque não houve tempo.

Mas Carla Castro devia ter lançado esses alertas ao longo dos últimos anos?
Acho que a Carla Castro cumpriu o seu papel e cumpriu tão bem, tão bem, tão bem que as bases reconhecem. O que lhe foi pedido foram muitas coisas mas sobretudo duas: criar, gerir e desenvolver o gabinete de estudos; e fazer o acompanhamento parlamentar de temas que eram muito complicados tecnicamente. Nas duas funções, foi absolutamente extraordinária. Nesse contexto, acho que se apercebeu, sobretudo no quadro do gabinete de estudos, que havia muito valor nos membros.

Mas disse-o em tempo oportuno?
Não estou na Comissão Executiva desde 2018 e por isso não sei.

Num partido que se diz tão diferente e em que os seus membros não aderem ao líder A ou ao líder B seria de supor que Carla Castro aproveitasse um Conselho Nacional para dizer que estava contra.
Está a partir de um pressuposto errado. Carla Castro só estava sentada no Conselho Nacional porque pertencia à Comissão Executiva. A lealdade dela seria com o órgão que a põe lá. E quero crer que, dentro da Comissão Executiva, terá emitido as suas opiniões. Fora da Comissão Executiva, foi leal à decisão que terá sido tomada por esse órgão, tal como eu sou ao Conselho Nacional.

Mas já conseguiu perceber que ideia para o país é que Carla Castro traz que seja tão diferente do atual projeto?
Sim, claro que sim. Esta ideia de criar valor com a cidadania ativa. Esta ideia que está a propor para dentro do partido é aquilo que todos queremos para o país. Não queremos uma democracia direta, mas há que dar o passo seguinte: que é uma democracia participativa. A ideia do “eles políticos” e do “nós cidadãos” tem de acabar. E para acabar há só uma forma: todos os cidadãos podem participar sem terem de mudar de carreira e passarem a ser políticos profissionais. Carla Castro demonstrou isso no gabinete de estudos e é essa a proposta que nos faz: vamos ter cá dentro uma forma diferente e nova de fazer política.

Isso continua a ser uma proposta para dentro do partido. O que perguntavávamos era por ideias sobre Saúde, Educação, Habitação…
Uma coisa não acontece sem a outra.

Não acha que um partido com oito deputados no Parlamento devia também falar mais para fora? Esta campanha permite que as ideias passem?
Não notou que havia muito poucas diferenças entre os candidatos?

Qual é a grande proposta de Carla Castro para a Habitação, por exemplo?
Não há diferença entre os candidatos em termos de políticas públicas. Há pequenos detalhes, mas não há grandes diferenças. E ainda bem: isso vem mostrar que este é um partido de ideias e que todos nós concordamos nessas ideias.

Isso não faz lembrar o caminho que o CDS seguiu? Além das questões internas, era muito difícil distinguir João Almeida e Francisco Rodrigues dos Santos.
Agora sim, está enconstar-me às cordas. Essa é que é a verdadeira questão. Será que a IL se vai deixar encurralar numa luta de fações ou vai cumprir o desígnio que sempre teve e criar uma forma de fazer política em que os membros possam participar sem ficarem fechados em caixinhas de serem apoiantes da Carla ou do Rui?

Uma campanha interna sem ideias para o país augura alguma coisa de bom?
Sem ideias?!

Já lhe perguntámos pela grande ideia de Carla Castro para a Habitação, por exemplo.
Não vou falar do programa eleitoral que aprovámos há um ano, que está em vigor e que ambos os candidatos se comprometeram a cumprir e representam na Assembleia da República.

Quando se elege um líder, não se espera que tenha uma ideia própria?
Mas porque é que há-de ser a Carla Castro ou o Rui Rocha ou o José Cardoso o nosso messias? Essa é a ideia que tem havido no debate político e é errada. Alguém aqui acredita que António Costa saiba todos os detalhes do seu programa ou do que está a acontecer? Ou que Montenegro o saiba? É exatamente essa ideia que vendem aos portugueses.

Que há um candidato do partido com ideias próprias.
Ideias próprias têm todos os três. Mas a questão é outra. Exatamente pelo facto de o João Cotrim ter feito um bom trabalho em focar o partido em desafios externos é que há uma solidez das medidas da IL. Solidez que é representada pelos candidatos.

Está então confortável como membro da IL que uma corrida interna só fale sobre problemas internos.
Claro que não. Adoraria que estivéssemos a falar da próxima governação. E, por sentir isso, é que decidi voltar quando me foi feito o desafio. Sim, é preciso de falar da governação, pegar em temas como a Habitação, mas não só. As medidas que vão levar a IL ao Governo e vão ser implementadas têm de ser debatidas internamente primeiro.

"A Carla Castro cumpriu o seu papel e cumpriu tão bem, tão bem, tão bem que as bases reconhecem. O que lhe foi pedido foram muitas coisas mas sobretudo duas: criar, gerir e desenvolver o gabinete de estudos; e fazer o acompanhamento parlamentar de temas que eram muito complicados tecnicamente"

“O perigo da balcanização existe”

Rui Rocha não está preparado para ser líder da IL?
Quero acreditar que sim. Conheço mal Rui Rocha. Talvez porque ele tenha estado numas ações e eu noutras. Daquilo que vejo, até no Parlamento, é bastante óbvio que sim. Qualquer um dos três candidatos está preparadíssimo para assumir a liderança do partido.

Se Rui Rocha vencer, teme que exista uma tentativa de saneamento de todos os que se opuseram à linha oficial do partido?
Nem tal me passa pela cabeça. Isto não é o PCP, por amor de Deus. Era o que faltava.

Mas falava do perigo da balcanização.
Isso existe, é verdade. Quando as pessoas não sentem estes fóruns de participação individual, qual é a tendência que têm? É de se agregarem em grupos que têm a mesma queixa ou o mesmo anseio. É perfeitamente natural. Se deixarmos que isto cresça, inelutavelmente temos dentro do partido fações e acontece-nos o que aconteceu ao CDS e que, provavelmente, vai acontecer a seguir ao PS e a seguir já aconteceu em parte ao PSD.

Há muitas críticas dentro da IL de que a atual direção fez exatamente isso: saneou os que tinham uma opinião divergente.
A atual direção não teve tempo ou não esteve concentrada em criar esses mecanismos. Mas não levo a mal. Estiveram concentrados naquilo que era urgente, que eram estes sprints eleitorais com o sucesso que todos sabemos.

Só para sistematizar: se Rui Rocha vencer, teme que exista essa balcanização?
Não, não temo. Na IL somos todos liberais. O que temo é outra coisa: que a equipa que está à volta de Rui Rocha esteja tão focada na imagem externa, para a comunicação social, que não tenha tempo nem o ensejo de criar valor nas tais propostas para o país.

Teme que Rui Rocha cometa os mesmos erros que Cotrim Figueiredo.
A mesma equipa que nos fez ter sucesso na representação [parlamentar] não é necessariamente a mesma equipa que nos fará ter sucesso na governação. Se conseguimos mudar de líder com esta frequência e provámos que crescemos, que temos ideias sólidas, porque é que o mesmo não há-de acontecer com a equipa? Podemos mudar de líder e não podemos mudar de equipa?

“Preferia oferecer o meu livro a André Ventura do que a Catarina Martins”

Acompanharemos de perto esses resultados. Vamos então avançar para a fase do Carne ou peixe, em que tem de escolher uma de duas opções. A quem preferia fazer uma visita guiada na Livraria Lello: João Cotrim Figueiredo ou Carlos Guimarães Pinto?
Carlos Guimarães Pinto. Tenho muitos temas de conversa com ele, que sempre tivemos e vamos continuar a ter ao longo da vida.

Se tivesse a oportunidade de voltar a ser presidente-fundador de um partido, quem escolhia para ter ao seu lado: Rodrigo Saraiva ou José Cardoso?
José Cardoso.

Quem levava a dar um passeio de mota: Carla Castro ou Tiago Mayan Gonçalves?
Idealmente os dois. Como sabem, tenho mais do que uma mota, até podíamos ir os três.

A quem oferecia o seu livro “Obrigado pela Democracia, Agora queremos Liberdade”: André Ventura ou Catarina Martins?
André Ventura. Apesar do radicalismo de algumas das suas posições, poderia ser mais útil para o poder descer à terra. Catarina Martins já está para lá da esperança.

 
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