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O secretário-geral do Partido Social Democrata (PSD), Hugo Soares, discursa durante o inicio das jornadas parlamentares do partido, subordinadas ao tema “Acreditar em Portugal”, em Lisboa, 17 de outubro de 2022. RODRIGO ANTUNES/LUSA
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"O único candidato que recusa governar com extremistas chama-se: Montenegro"

RODRIGO ANTUNES/LUSA

"O único candidato que recusa governar com extremistas chama-se: Montenegro"

RODRIGO ANTUNES/LUSA

"Se o PSD não ganhar eleições, alguma coisa falhou no partido. Era um péssimo sinal"

Em entrevista na Vichyssoise, secretário-geral do PSD sobe a fasquia para eleições que PSD está "obrigado" a ganhar, garante que Montenegro nunca fará geringonça e deixa apelo aos eleitores do Chega.

Em vésperas de congresso do PSD, o secretário-geral do partido não podia ser mais claro: o partido está “obrigado” a ganhar as próximas eleições, que são quase tão decisivas para os sociais democratas como para o país. Reconhecendo que o partido viveu anos de “divórcio” com a população porque se “descolou” das preocupações do eleitorado, Hugo Soares assegura que esta é mesmo a prova de fogo que o PSD tem de vencer — não superar o PS nestas eleições seria “um péssimo sinal”.

Em entrevista ao Observador, no programa Vichyssoise, o responsável do PSD manteve o silêncio sobre eventuais coligações pré-eleitorais, discussão que remete para os órgãos do partido, mas recordou que a Iniciativa Liberal foi a primeira a colocar-se de fora de uma solução que imite a célebre Aliança Democrática. Quanto ao Chega, deixa uma série de apelos aos seus eleitores, de cujos votos o PSD “precisa”.

Nesta entrevista, Hugo Soares deixa também uma garantia: Luís Montenegro não irá em nenhum caso imitar António Costa e formar Governo se perder as eleições, até porque é o “carácter” do líder social democrata que está em jogo. “Quem em 2015 defendeu que governa quem ganha eleições não pode dizer em 2023 o contrário.”

[Ouça aqui a Vichyssoise com Hugo Soares]

Carneiro picado, o sénior turco e um PS em loop

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“Aconteceu um divórcio dos eleitores com o PSD”

Atendendo ao que aconteceu ao PS, o PSD está obrigado a vencer as próximas eleições legislativas?
O futuro dos jovens portugueses, das famílias, das empresas e o prestígio e a credibilidade das instituições obrigam a que o PSD ganhe as próximas eleições. O estado de empobrecimento a que o país chegou, o estado de conflitualidade do governo com a Justiça, com o Presidente da República, os médicos, as forças de segurança, os oficiais de Justiça, os professores, exigem ao PSD uma resposta. É nisso que estamos empenhados, para construir um Portugal mais unido e onde as pessoas tenham os problemas das suas vidas concretas resolvidos.

Mas o que dirá da vitalidade do PSD se, nem mesmo nestas circunstâncias e apesar do diagnóstico que traçou, o PSD não conseguir derrotar o PS?
Era um péssimo sinal. Não há como responder de outra forma. Se o PSD não ganhar estas eleições é porque alguma coisa falhou no PSD, no nosso projeto e no nosso partido. As eleições são decisivas para o país, mas são também muito importantes para o PSD. Nos últimos 28 anos, o PSD passou de raspão pelo governo duas vezes. Vamos olhar para os resultados eleitorais: tirando a vitória em 2011, em 2015 ganhámos em coligação, mas não governámos; em 2013, autárquicas — uma derrota colossal do PSD; em 2017, autárquicas — uma derrota colossal do PSD; neste período, duas europeias — derrotas colossais do PSD. Já para não falar de eleições legislativas. Aconteceu um divórcio dos eleitores com o PSD. Um divórcio que leva a que a sociedade, a maioria das vezes em 28 anos, tenha escolhido o PS para governar. Há alguma responsabilidade do PSD nisso? Certamente, porque há uma constatação óbvia: o PS nunca entregou o país melhor do que o recebeu. O PSD fez sempre o contrário. Neste período, três governações socialistas são equivalentes a três pântanos políticos.

[Já saiu: pode ouvir aqui o terceiro episódio da série em podcast “O Encantador de Ricos”, que conta a história de Pedro Caldeira e de como o maior corretor da Bolsa portuguesa seduziu a alta sociedade. Pode ainda ouvir o primeiro episódio aqui e o segundo episódio aqui.]

Mas então como é que explica esse divórcio? O que é que aconteceu? Identificaram essas falhas?
Tanto achamos que identificámos, como estamos convencidos que vamos ganhar as eleições legislativas. O PSD terá descolado daquilo que são as reais preocupações das pessoas. Aparentemente, as pessoas olhavam para o PSD apenas como se um partido necessário para governar em tempos de crise. E é muito mais do que isso. Não é por acaso que colocamos, por exemplo, a educação no centro das nossas prioridades políticas. Os jovens portugueses no centro, os idosos também. Porque hoje, de facto, as pessoas vivem com dificuldades. Algumas estão escondidas, outras estão vista, como no acesso à Habitação: nós, que circulamos em Lisboa ou no resto do país, vemos a quantidade de pessoas que começa a viver cada vez mais nas ruas.

Mas apesar dessa renovada estratégia do PSD, o que se tem verificado desde a demissão de António Costa é que as sondagens não indicam uma viragem de jogo. Penalizam PS e PSD, mas a maioria até aponta PS à frente de PSD. O que é que está a falhar?
Uma resposta rápida era: o que está a falhar são as sondagens. Em 2011, a maior parte dos estudos de opinião dava o engenheiro Sócrates a ganhar ao Pedro Passos Coelho — e Pedro Passos Coelho ganhou as eleições. Uma sondagem das eleições autárquicas em Lisboa dizia que Carlos Moedas estava no bolso de Fernando Medina. Ganhou Carlos Moedas. Na véspera das últimas eleições, o PSD chegou a estar à frente. E perdemos com maioria absoluta do PS. Com todo o respeito pelos centros de estudo e por quem faz sondagens, elas têm-se enganado e muito. gostava de que o PSD estivesse a disparar nas sondagens? Se isso fosse materializado em votos, sim. Mas acho que isto merece uma reflexão maior de todos. Porque estes resultados também induzem o voto do eleitor.

“O único candidato que recusa governar com extremistas chama-se: Montenegro”

A hipótese de uma coligação pré-eleitoral com o IL e ou com o CDS está completamente afastada?
Os assuntos que dizem respeito a coligações pré-eleitorais são discutidos nos órgãos próprios do partido. O partido ainda não reuniu para tomar nenhuma decisão.

E qual é a sua posição sobre isso?
O secretário-geral do partido não tem opinião pessoal. Tem uma opinião política, que transmite nos órgãos próprios. A seu tempo, o país saberá qual é a decisão do partido sobre isso. Há uma coisa que é pública: a IL, desde a primeira hora, diz que vai sozinha a votos. Parece uma questão que está esclarecida pelos próprios. Tudo o resto, o partido decidirá a seu tempo.

Existe outra hipótese académica: coligações pré-eleitorais só em determinados ciclos mais pequenos, onde os votos dos partidos de franja são muitas vezes deitados ao lixo. Essa solução seria útil para o PSD?
Decidiremos isso a seu tempo. Devo dizer que é a primeira vez que estou a ouvir isso. Parece-me uma solução um bocado estranha. Perdemos tanto tempo a falar daquilo que não interessa às pessoas. O que as pessoas querem saber é o que é que o PSD acha sobre os problemas concretos da vida delas. Depois queixamo-nos todos de que os populismos crescem.

Se não houver uma situação de governabilidade estável, não conseguirá colocar em prática o seu programa eleitoral.
Por isso é que o PSD vai a eleições para procurar uma grande solução de governabilidade, que é ganhar e ganhar bem estas eleições. Como é que tenho a confiança dos portugueses? É dizendo-lhes se vou em coligação? Ou apresentando-lhes as melhores soluções para os problemas?

"Derrota em legislativas era um péssimo sinal. Não há como responder de outra forma. Se o PSD não ganhar estas eleições é porque alguma coisa falhou no PSD, no nosso projeto e no nosso partido. As eleições são decisivas para o país, mas são também muito importantes para o PSD"

“Alguém conhece uma proposta do Chega que vise resolver os problemas das pessoas?”

Pedro Nuno Santos, que ao que tudo indica será o adversário do PSD nestas eleições, tem utilizado a solução que existe nos Açores para acusar Luís Montenegro de estar a preparar algo semelhante na Assembleia da República. Se estivesse na direção do partido em 2020 teria concordado com aquela solução?
Em primeiro lugar, estamos a partir do pressuposto de que o Pedro das Nacionalizações Socialistas, o Pedro Nuno Santos, já ganhou as eleições internas. Não faço ideia porque eu não conheço o PS a esse nível.

Mas solução dos Açores seria boa?
Hoje sabemos que estamos perante uma crise política nos Açores. Mas sobre essa matéria, até para não criar nenhum ruído à volta do problema que está a ser colocado nos Açores, digo que o único candidato a primeiro-ministro deste país que recusa governar em acordos pré ou pós-eleitorais com partidos extremistas chama-se Luís Montenegro. Sejam eles à esquerda ou à direita.

E, acreditando nessa intransigência, o país não corre o risco de entrar em miniciclos governativos que podem criar instabilidade política?
Espero bem que não, porque se o PSD ganhar as eleições estou absolutamente convencido de que, ainda que viéssemos a ganhar com um governo minoritário, a qualidade das nossas políticas e de nossas propostas ia levar a que pudéssemos conduzir o país. Não tenho nada contra os eleitores do Chega. Conheço muita gente que votou Chega nas últimas eleições.

Provavelmente quer conquistar muitos deles.
Quero mesmo. E era para eles que queria falar. Porque esses eleitores que votaram no Chega votam por uma razão de descontentamento. Criou-se a narrativa de que o PSD não apresentou propostas. Vocês conhecem uma proposta do Chega? Uma proposta que vise resolver o problema das pessoas? Quero falar para os eleitores do Chega, porque eles têm mesmo de fazer uma escolha: se querem um primeiro-ministro moderado, determinado, corajoso, que resolva a vida das pessoas, ou se querem um protesto. O PSD precisa desses votos. Têm aqui uma opção.

Se o PS ganhar, mas imaginando que há uma maioria de deputados à direita, Luís Montenegro já disse que não governaria se perdesse eleições. Não se precipitou?
Nas questões de caráter e de definição política e de clareza, não há precipitações. Há coerência. Como sabem, eu conheço bem o presidente do partido. Luís Montenegro é isso mesmo. É absolutamente claro, focado e determinado. Em 2015 insurgiu-se contra aquilo que aconteceu no país. Foi lá a Liga dos Últimos e juntaram-se para poder governar em geringonça. Num governo que, ao contrário do que se diz por aí, é um governo de muito má memória para Portugal. Foi dos piores governos que Portugal teve. Estamos a pagar.

Foi o governo mais estável de António Costa, pelo menos.
Mas a estabilidade política é um bem em si mesmo para resolver os problemas das pessoas? Estamos a pagar todos os erros da nacionalização da TAP. O complexo ideológico que levou ao fim das PPPs nos hospitais e que agora motiva o aumento do prazo para consultas, para cirurgias. O número de pessoas sem médicos de família aumentou exponencialmente. O governo da geringonça foi um péssimo, horrível governo. E agora vou-lhe responder: não, não se precipitou. Quem em 2015 defendeu que governa quem ganha eleições não pode dizer em 2023 o contrário. É isso que os portugueses devem avaliar também. É de facto o carácter e a consistência das propostas. O que levou a esta degradação, esta podridão do regime a que chegamos agora, é os políticos sem caráter e sem verdade. Que mudam de convicções consoante lhes der jeito.

Podemos deixar aqui claro que Luís Montenegro, se tiver uma maioria direta que lhe permita governar, mas não tiver ganhado eleições, não aproveita. Mesmo que o Presidente da República o convida a formar governo.
Ele já deixou isso claro. Quando Luís Montenegro diz “eu só governo se ganhar as eleições”, ele só governa se tiver mais votos do que o PS.

Soubemos esta sexta-feira que o Governo não vai avançar com a regulamentação da eutanásia alegando falta de tempo.
É muito curioso, porque um Governo que tem tempo para fazer um regabofe de nomeações, para fingir que está tudo normal, escudar-se agora na falta de tempo para regulamentar…

Mas se o PSD vencer as eleições e formar Governo, vai fazer o quê em relação à eutanásia?
O PSD vai deixar esse ponto claro no seu programa eleitoral, não tenho dúvida sobre isso, e vai ponderar o que irá fazer. Estamos a ser confrontados hoje com essa notícia. Sabemos também que há uma decisão ainda do Tribunal Constitucional para ser proferida. Não saberemos se ela será proferida ou não até março.

Mas mantém a ideia de fazer um referendo?
O PSD não deixará de dizer aos portugueses com muita clareza o que fará sobre essa matéria.

"Em 2011, a maior parte dos estudos de opinião dava o engenheiro Sócrates a ganhar ao Pedro Passos Coelho - e Pedro Passos Coelho ganhou as eleições. Uma sondagem das eleições autárquicas em Lisboa dizia que Carlos Moedas estava no bolso de Fernando Medina. Ganhou Carlos Moedas"

“André Ventura precisa de correr um bocadinho para espairecer a cabeça”

Vamos avançar para o nosso segundo segmento, o bloco Carne ou Peixe, em que só pode escolher uma de duas opções. Preferia fazer uma campanha presidencial por esse país fora ao lado de Pedro Passos Coelho ou Luís Marques Mendes?
Essa é uma pergunta difícil, porque eu sou amigo dos dois e tenho pelos dois uma grande estima e consideração. Vamos perguntar aos dois qual é que quer ser e depois respondo.

Quem é que levava ao estádio do Dragão? José Luís Carneiro ou Pedro Nuno Santos?
Creio que José Luís Carneiro é portista, portanto levaria o Pedro Nuno Santos. Era para ver se o doutrinava, mas ele não é fácil de doutrinar.

A quem é que ofereceria um voo Lisboa-Bruxelas? José Pedro Aguiar Branco ou a Miguel Poiares Maduro?
Creio que Miguel Poiares Maduro vive mais perto e portanto seria uma experiência diferente para o José Pedro Aguiar Branco.

Se calhar vai ter mesmo de oferecer esse voo, porque pode ser cabeça de lista às europeias…
José Pedro Aguiar Branco, de quem sou amigo, pode ser muita coisa. Agora, se da minha resposta querem induzir alguma coisa que tenha mais do que a brincadeira em si, estão rigorosamente a extrapolar.

A quem é que oferecia uns ténis caríssimos, iguais aos que levou ao pontal: André Ventura ou Mariana Mortágua?
Acho que a Mariana usa muitas vezes ténis. Oferecia ao André. Aliás, o André precisa de correr um bocadinho para espairecer a cabeça.

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