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Maria Malveiro (à esquerda) e Mariana Fonseca (à direita)
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Maria Malveiro (à esquerda) e Mariana Fonseca (à direita)

Maria Malveiro (à esquerda) e Mariana Fonseca (à direita)

Só queria os 70 mil euros de Diogo, mas acabou por matá-lo. A história do crime que começou num ato de sedução

Aos olhos das juízas, Mariana foi influenciada — e acabou absolvida. Maria foi quem matou, desmembrou e planeou livrar-se do corpo de Diogo Gonçalves. Os cinco dias do crime, segundo o tribunal.

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Mariana Fonseca saiu do Tribunal de Portimão pela garagem, sem muitos darem conta. Certo é que saiu pelo próprio pé, sem algemas e sem guardas prisionais a acompanhá-la. Já a saída de Maria Malveiro foi tudo menos discreta. A jovem de 20 anos deixou a sala de audiências desfeita em lágrimas, com a perspetiva de passar os próximos 25 anos presa. Já cá fora, as sirenes da carrinha celular que a levavam de volta à prisão feminina de Tires ecoavam pela cidade algarvia. As duas chegaram juntas à primeira sessão do julgamento como coautoras da morte e desmembramento do corpo de Diogo Gonçalves em março do ano passado, no Algarve, mas acabaram separadas. Maria foi condenada à pena máxima, mas a sua ex-companheira foi absolvida do homicídio.

Apesar de terem aplicado a pena máxima prevista em Portugal, as juízas acreditam que o objetivo de Maria, segurança de profissão, não era matar Diogo Gonçalves: não há provas disso, nem era “verossímil”. A jovem de 20 anos só queria “apoderar-se do dinheiro”, uma indemnização de mais de 70 mil euros que o amigo recebera pelo atropelamento da mãe, em 2016. Só que o plano não correu tão bem como nas séries criminais que Maria Malveiro tanto gostava de ver na televisão — séries que, achava a arguida, lhe tinham dado “talento” suficiente para esconder um crime, como disse o Tribunal. Foi a “recusa do Diogo de transferir o dinheiro que terá levado ao confronto físico” — e, por fim, à sua morte.

O plano não correu tão bem como nas séries criminais que Maria Malveiro tanto gostava de ver na televisão — séries que, achava a arguida, lhe tinham dado "talento" suficiente para esconder um crime, como disse o Tribunal. Foi a "recusa do Diogo de transferir o dinheiro que terá levado ao confronto físico" e, por fim, à sua morte.

No caso, Mariana Fonseca teve uma “postura passiva”, ajudando apenas a limpar o cenário do crime e a livrar-se do cadáver. Até nas imagens de videovigilância essa passividade se nota, segundo o tribunal: é Maria quem assume a posição dianteira e a então namorada segue-a de braços cruzados. As “hesitações” que a enfermeira teve e o facto de ter reanimado Diogo afastam “qualquer intenção” de o matar. Até porque, como lembrou o Tribunal no acórdão, Diogo Gonçalves era amigo apenas de Maria Malveiro. Aliás, a segurança aproveitou o facto de o rapaz estar “apaixonado por ela” e de manter “esperança num relacionamento” para tentar ficar com os mais de 70 mil euros.

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Foi assim que tudo começou: como um ato de sedução.

Dia 1. Maria seduziu-o para o drogar e depois fez-lhe um mata-leão. Mariana reanimou-o, mas Maria voltou a asfixiá-lo

O encontro foi marcado por Maria, na casa de Diogo, na localidade de Algoz, município de Silves. No dia 20 de março, por volta da hora da almoço, as duas deslocaram-se até ali — o tribunal não deu como provado que Maria tenha contando à companheira que Diogo recebera uma indemnização de mais de 70 mil euros. Mariana ficou no carro e a então namorada entrou dentro da casa, levando consigo três ampolas de Diazepam — que a enfermeira retirou do hospital onde trabalhava, sem que tenha ficado provado que soubesse para o que serviriam — e algumas abraçadeiras de plástico.

Homicídio no Algarve. Maria condenada a pena máxima. Enfermeira absolvida do homicídio

Já na casa, Maria começou por misturar o medicamento calmante num sumo de laranja que deu a Diogo. Depois, seduziu-o: convenceu-o a sentar-se numa cadeira, a fechar os olhos enquanto lhe prendia as mãos, uma a cada perna da cadeira, com as abraçadeiras.

Maria vai continuar presa na prisão de Tires. Mariana fica em liberdade

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

Eram já cerca de 17h00 quando Maria foi chamar Mariana, que a seguiu e deixou-se ficar à porta da residência. Ao vê-la regressar, Diogo levantou-se da cadeira, mas sem se conseguir libertar — uma reação que levou Maria a fazer-lhe um mata-leão, uma manobra de estrangulamento. No confronto, Diogo ainda conseguiu soltar uma das mãos, mas acabou por cair no chão, ficando deitado de barriga para cima. Depois, Maria pôs-se em cima dele e apertou-lhe o pescoço: só parou quando Diogo ficou inconsciente.

Mariana aproximou-se então e reanimou o jovem até ele ficar consciente de novo. Mas, quando acordou, Diogo deu-lhe uma pancada para afastá-la de si e começou a tentar libertar-se da cadeira. A enfermeira acabou por sair da sala, deixando a namorada sozinha com o rapaz. Em reação, Maria colocou-se novamente sobre o corpo de Diogo e voltou a apertar-lhe o pescoço. Para o tribunal, o jovem teve ali “a certeza de que ia morrer” — o que viria acontecer efetivamente: a autópsia realizada determinou que a causa da morte foi asfixia e que a decapitação foi posterior.

Assim que se apercebeu que Diogo estava morto, Maria colocou o seu corpo dentro de sacos do lixo, que atou com fita adesiva. Depois, calçou um par de luvas descartáveis e cortou, com uma faca de ponta e mola, o polegar e o indicador da mão direita da vítima. O objetivo era usar, mais tarde, as impressões digitais de Diogo para desbloquear os telemóveis da vítima. Isto feito, colocou o cadáver numa cadeira com rodas que estava na casa e, com a ajuda de Mariana, transportaram-no juntas até ao carro de Diogo, um Mercedes azul. Depois, a segurança colocou o corpo dentro da bagageira.

Também juntas, limparam a casa para eliminar quaisquer vestígios. Ainda antes de saírem do local, Maria levou os dois telemóveis de Diogo e o seu cartão bancário. Já eram 21h00 quando se foram embora: Maria levou o Mercedes de Diogo, com o cadáver na bagageira; Mariana levou o carro no qual tinham chegado.

Maria colocou-se novamente sobre o corpo de Diogo e voltou a apertar-lhe o pescoço. Para o tribunal, o jovem teve ali "a certeza de que ia morrer" — o que viria acontecer efetivamente: a autópsia realizada determinou que a causa da morte foi asfixia e que a decapitação foi posterior.

Já na localidade de Chinicato, no concelho de Lagos, onde vivia o casal, Maria fez dois levantamentos de 200 euros cada um com o cartão da pessoa que acabara de matar — eram cerca de 23h30 da noite. De seguida, a jovem de 20 anos estacionou o Mercedes nas imediações do prédio onde viviam, com o corpo na bagageira. Maria também estacionou o carro que conduzia. E foram dormir.

Dia 2. Maria roubou um cutelo do supermercado e desmembrou corpo na garagem do prédio

Perto das 11 da manhã do dia seguinte, 21 de março, Maria retirou mais 700 euros da conta bancária de Diogo. Para isso, usou os dedos que lhe tinha cortado para desbloquear o seu telemóvel e transferir o dinheiro, através da aplicação MB Way: do total, 350 euros transferiu para a sua conta e os outros 350, para a de Mariana. Por volta das 12h30m deste dia, foram a um multibanco na cidade de Portimão e fizeram dois novos levantamentos de 200 euros cada um. Na mesma tarde, fizeram ainda compras usando o mesmo cartão.

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Enquanto percorriam estas cidades a fazer levantamentos e compras, o corpo do jovem de 21 anos continuava na bagageira do Mercedes. E também enquanto isso, Maria ia pensando num plano para ocultar o cadáver do amigo. Para isso, já na cidade de Lagos, a cerca de 30 quilómetros, roubou um cutelo num supermercado: o objetivo era usá-lo para decapitar e desmembrar Diogo.

O caso foi julgado no Tribunal de Portimão

Virgílio Rodrigues / Algarvephotopress / Global Imagens

Já no sítio onde tinham estacionado o Mercedes na noite anterior, Maria conduziu-o até à garagem do prédio onde ambas viviam e “procedeu, com o uso daquele cutelo, ao corte e desmembramento do cadáver da vítima“, lê-se no acórdão do Tribunal de Portimão. Enquanto isso, Mariana ficou junto ao candeeiro aí existente, que acionava com o movimento. Depois disso, Maria colocou as várias partes do corpo em sacos do lixo, que colocou novamente na bagageira do Mercedes. Voltou a estacionar o carro no exterior do prédio. E foram dormir.

Dia 3. Maria e Mariana abandonaram parte do corpo de Diogo numa arriba em Sagres

Dois dias depois do crime, novos levantamentos de 200 euros cada. Desta vez, feitos por Mariana no Hospital de Lagos, onde trabalhava. Na mesma altura, o casal começou a livrar-se do corpo. Pelas 22h30, Maria e Mariana, em carros diferentes, decidiram ir até ao Forte do Beliche, em Sagres, para ali abandonar o Mercedes e deixar parte do corpo da vítima.

Lá, retiraram do Mercedes o sacos de plástico com a maior parte do corpo de Diogo e projetaram-no para o fundo de uma arriba. Depois, saíram dali no carro que Mariana conduzia e levaram consigo outros sacos com as restantes partes do cadáver.

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Dia 4. Casal percorreu mais de 100 quilómetros para esconder restantes partes do cadáver na cascata do Pego do Inferno

Só no dia seguinte, 24 de março, é que a segurança se livrou totalmente do corpo de Diogo. Nem a investigação nem o tribunal conseguiram descobrir a hora a que o fez. Especialmente porque as duas jovens deslocaram-se por estradas secundárias da sua casa em Lagos até zona da cascata do Pego do Inferno, no concelho de Tavira. Por isso, percorreram muito mais do que os 100 quilómetros que distam, por autoestrada, esses dois pontos. Lá, Maria escondeu os restantes sacos de plásticos numa zona de vegetação e abandonaram o local, seguindo até São Brás de Alportel, a cerca de 35 quilómetros dali.

Dia 5. Maria deitou o cartão e as chaves de Diogo para o lixo

Por volta das 2h00 da madrugada, já de dia 25 de março, Maria fez os últimos dois levantamentos, de 200 euros cada, num multibanco em São Brás de Alportel. Já no regresso a casa, a segurança aproveitou para deitar num caixote do lixo o cartão bancário, as chaves de casa de Diogo e do Mercedes dele — o fim, julgava, de um crime.

O corpo de Diogo seria encontrado cerca de uma semana depois.

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