A candidatura do PS a Lisboa tem estado a ser alvo de vários estudos de opinião, promovidos pelo próprio partido, que procura um tiro certeiro para tentar reconquistar a capital do país nas próximas autárquicas. Mas a demora, e sobretudo a informação de mais um estudo de opinião feito no final do ano, estão a deixar socialistas impacientes com a aparente hesitação do líder. No partido aguarda-se por uma decisão este mês e alguns socialistas temem que o processo de decisão demorado já tenha fragilizado quem vier a concorrer.
Pedro Nuno Santos queria ter esse processo fechado até ao final do ano, como escreveu o Observador em dezembro, e no partido garante-se que o líder muito dificilmente se anteciparia às eleições à Federação da Área Urbana de Lisboa, que acontecem esta sexta-feira. E que Pedro Nuno Santos já terá a decisão tomada. No entanto, várias fontes contactadas pelo Observador nos últimos dias referiram a existência de um novo estudo de opinião sobre Lisboa feito ainda no final do ano, que mostra que o assunto estava a ser alvo de avaliação há muito pouco tempo. Até essa altura, pelo menos, nenhum socialista tinha recebido qualquer convite do líder do partido para a candidatura a Lisboa.
“Queremos mesmo disputar a Câmara a Carlos Moedas que tem um registo de combate complicado. Temos de ter mais informação para tomar a decisão“, disse ao Observador um dirigente socialista quando confrontado com estudos a esta altura da corrida. “É normal fazermos estudos”, afirma outro dirigente em conversa com o Observador sobre a mesma informação, procurando desvalorizar o tema.
Na tentativa de afastar a ideia de alguma indecisão em Lisboa, os dirigentes do partido vão aparecendo ainda em uníssono na utilização de um mesmo argumento: em 2021, Carlos Moedas também ainda não era candidato nesta altura do campeonato. O social-democrata só oficializou a sua candidatura no final de fevereiro e esse timing vai sendo agora usado no PS para afastar a pressão de um candidato apresentado já nesta fase.
PS ainda hesita nos candidatos autárquicos para Lisboa e Sintra
O vazio de decisão dá espaço à crítica e, na última semana, o “impasse” em Lisboa foi alvo de um artigo de opinão do ex-ministro Pedro Adão e Silva, publicado no jornal Público, que foi visto no topo do partido como uma forma de pressão sobre Pedro Nuno. E isto porque Adão e Silva é muito próximo de Mariana Vieira da Silva, um dos nomes mais falados para concorrer pelo PS em Lisboa e, no referido artigo, dizia que o atraso na decisão “diminui a capacidade de fazer oposição e limita a afirmação de um projeto alternativo”. Assim, e tentando um “critério de racionalidade para esta não-decisão”, Adão e Silva afirmava que “Pedro Nuno Santos pode estar a equacionar ser ele próprio candidato” — o que não está em cima da mesa.
“Tentou encontrar racionalidade naquilo que Pedro Nuno Santos está a fazer”, comenta com o Observador um socialista crítico da estratégia do líder em Lisboa. “Fazer sondagens e falar noutros nomes fragiliza” quem vier a ficar como candidato, acrescenta a mesma fonte, defendendo que, nesta fase, uma sondagem só consegue aferir “índices de notoriedade e isso não se deve tomar como um valor absoluto, já que as campanhas servem para construir essa mesma notoriedade”. “Estão a desgastar os nomes”, analisa outra fonte sobre a gestão deste processo.
Em cima da mesa está o nome de Mariana Vieira da Silva, mas também o da líder parlamentar Alexandra Leitão. E ainda o sonho que alguns socialistas no PS-Lisboa alimentavam até há poucos meses sobre uma candidatura de Duarte Cordeiro. O socialista que foi vice de Fernando Medina na Câmara e ex-líder do PS-Lisboa é o preferido pelas estruturas concelhias e distritais (que dominou durante os últimos anos), mas tem-se colocado fora dessa equação — depois dos processos judiciais em que viu o seu nome envolvido — e assim parece querer continuar. Certo é que esta preferência — e a sua manifestação amiúde, mesmo que só em conversas privadas — também é apontada entre os críticos do processo como mais uma fragilização de quem vier a concorrer.
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Em Sintra também se aponta a janeiro
O mês de janeiro é, por tudo isto, apontando como limite pelas várias fontes no partido contactadas pelo Observador. É, de resto, o mesmo mês para o qual o atual presidente da Câmara de Sintra que está de saída, Basílio Horta, pediu também uma solução para aquele município. Em entrevista ao Observador esta semana, o autarca que desde 2013 tem sido eleito em listas do PS deixava alguma impaciência nas entrelinhas.
Quando questionado sobre o seu tempo de decisão em 2013 (avançou oficialmente em novembro, mas já estava a preparar-se desde setembro do ano anterior) e se está preocupado com o tempo que a decisão está a levar agora, Basílio foi claro: “Bom, não digo que seja motivo de preocupação. Tudo depende. Se o candidato sair de dentro da Câmara de Sintra, não é preocupação nenhuma. Agora, se for uma pessoa que venha de fora, é evidente que o tempo conta”.
O nome mais falado é o de António Mendonça Mendes — o próprio presidente revelou que já tinha falado com ele manifestando o seu interesse em concorrer a Sintra. O deputado e ex-ministro viria de fora e não do executivo camarário. Teria o apoio de Basílio que, ao mesmo tempo, não deixa de elogiar o seu vice na autarquia, Bruno Parreira. O presidente que está de saída será ouvido por Pedro Nuno Santos antes deste tomar a decisão final.
Sobre o timing, Basílio Horta disse que avançar só agora com um nome “ainda não é um desastre, mas obviamente que deve ter-se em conta que o tempo urge“. E definiu mesmo: “O mês de janeiro é um tempo ótimo para decidir quem é o candidato que me irá substituir.”
Basílio Horta. “Altura de PS avançar com candidato em Sintra é agora”
A eleição à Federação da Área Urbana de Lisboa, depois da demissão de Ricardo Leão no início de novembro, tem sido apontada na estrutura do partido como justificação para o adiamento de uma decisão. Mas na direção nunca foi apontado, até aqui, como uma questão a pesar, até porque os processos de decisão já estavam em andamento no tempo do anterior presidente da federação e com as concelhias.
Além disso, tendo em conta que se tratam dos dois municípios mais populosos do país, é natural que seja uma decisão muito centrada no secretário-geral — isto ainda que o processo formal exija a validação dos nomes que vierem a ser escolhidos pelas concelhias e a comissão política federativa. Nos casos em questão, tratam-se de estruturas normalmente alinhadas com o líder (e na Federação, ambos os candidatos à liderança apoiaram Pedro Nuno Santos).
No distrito, há outros municípios de peso, como Cascais, Mafra ou Oeiras, onde o PS ainda não tem decisões tomadas. O maior enfoque vai para as duas primeiras, onde o partido vê oportunidades já que se tratam de municípios onde o PSD enfrenta o fim do ciclo de 12 anos (o máximo permitido pela lei) em funções. Em Mafra, os sociais-democratas jogaram por antecipação e já fizeram a substituição do autarca-limitado por um vice (Hélder Sousa e Silva foi para eurodeputado e ficou o seu vice Hugo Luís). No caso de Cascais, o vice-presidente de Carlos Carreiras, Nuno Piteira Lopes, será candidato pelo PSD. Já no PS o nome apontado é Marcos Perestrello, mas nada está ainda oficializado.