Ouvem-se os sons de alerta na campanha de Ana Gomes. Não é um resultado inédito mas há longos meses que a ex-eurodeputada não surgia em terceiro lugar nas intenções de voto para as presidenciais. Aconteceu agora: tanto a socialista como André Ventura perdem pontos face aos resultados anteriores, mas os 10,8% que a sondagem da Pitagórica para o Observador/TVI atribui a Ana Gomes colocam-na atrás (ainda que dentro da margem de erro) de Ventura. O líder do Chega soma 11% das intenções de voto para as eleições de 24 de janeiro.
Ventura perde quatro décimas em relação ao resultado da última sondagem mas consegue a segunda melhor marca desta tracking poll (na semana passada estava nos 11,4% e ficou a par de Ana Gomes). A socialista também perde balanço e cai seis décimas. Está, assim, desfeito o empate à décima da última sondagem; e está, também, encontrado um novo candidato ao segundo lugar nas eleições presidenciais, de acordo com esta sondagem. As respostas foram recolhidas entre os dias 29 de dezembro e 10 de janeiro 2021, o que significa que parte das escolhas dos inquiridos foi feita quando já tinham decorrido os debates entre todos os candidatos às presidenciais — o frente a frente entre Ana Gomes e André Ventura, por exemplo, aconteceu a 8 de janeiro.
Não é a primeira vez que André Ventura surge em segundo lugar numas sondagens para as eleições presidenciais. Em agosto do ano passado, a sondagem para o Jornal de Negócios/Correio da Manhã dava-lhe 10,1% das intenções de voto. Mais 2,4 pontos percentuais do que o eventual resultado de Ana Gomes. A questão é que, nesse momento, a ex-eurodeputada ainda estava em processo de reflexão — tinha sinalizado uma possibilidade de avançar, mas só oficializaria a candidatura no mês seguinte. O primeiro momento em que Ventura surge à frente de Ana Gomes, estando ambos na corrida, é em outubro: a ex-eurodeputada reunia 10% das intenções de voto e o líder do Chega 11%.
Se a distância já era curta nesse momento, agora ela é ainda menor: apenas duas décimas, com vantagem inédita para André Ventura. Com uma distância tão curta entre os dois candidatos que disputam o segundo lugar, o que é que faz a diferença entre um e o outro?
No caso de André Ventura, poder-se-ia dizer que a grande força eleitoral está na capacidade de agregar os votos dos eleitores que, nas legislativas de 2019, ficaram dispersos por partidos pequenos, votaram em branco ou votaram nulo. De facto, mais de um quarto do resultado de Ventura (27,9%) é feito com votos que lhe chegam desta franja eleitoral. Outro ponto relevante: os 15,2% de abstencionistas que, desta vez, pretendem ir até às urnas para entregar o seu voto ao líder do Chega. A seguir, são os eleitores do PSD (11,9%) e do CDS (9,1%) os que mais contribuem para a posição de Ventura nesta sondagem. O eleitorado comunista ainda contribui com 3,8% dos votos e, mais abaixo, o PS (2,8%) e o Bloco de Esquerda (1,9%) dão uma pequena ajuda.
Para Ana Gomes, o cenário é diferente. Desde logo, porque a maior fatia de votos lhe chega de partidos com assento parlamentar. Olhando para esta sondagem, não deixa de ser curioso que, nos primeiros debates entre os candidatos — em particular, entre as candidaturas de esquerda —, se tenha avaliado a hipótese de os candidatos unirem esforços numa candidatura única. É que, neste momento, Ana Gomes vai buscar 24,5% do eleitorado bloquista (por comparação, 26,4% dos que votaram no partido de Catarina Martins em 2019 admitem entregar o seu voto a Marisa Matias). Depois, então, surgem os eleitores que votaram noutros partidos sem representação parlamentar, branco ou nulo (13,2%). Ana Gomes vai ainda buscar 11,5% dos eleitores comunistas e 9,1% dos eleitores do CDS. Só depois surgem os votos vindos do seu próprio partido: 8,4% do total de potenciais votos do PS vão para a socialista. Os sociais-democratas revelam-se os menos disponíveis para eleger a ex-europutada e apenas 2,1% lhe confiam o seu voto.
Estes resultados significam que, de uma sondagem para a outra — em traços largos, de uma semana pré-debates para uma semana pós-debates —, André Ventura reforçou significativamente a sua posição junto do eleitorado de pequenos partidos, brancos e nulos e, de um modo mais ligeiro, reforçou-se junto dos abstencionistas. Ana Gomes, por outro lado, ganhou força junto de eleitores do CDS, do Bloco de Esquerda e, também, de eleitores dos pequenos partidos ou que votaram branco ou nulo.
Marcelo, o incontestável
Já se vai transformando numa inevitabilidade. Mais décima, menos décima; mais ponto percentual, menos ponto percentual, Marcelo segue na sua posição de líder absoluto das sondagens. Nesta edição, o Presidente recandidato soma 66,7% das intenções de voto.
Na verdade, é o segundo “pior” resultado de Marcelo, com uma quebra de 1,2 pontos (a maior perda percentual de votos desta série) e apenas duas décimas acima do resultado mais curto que conseguiu nas várias sondagens da Pitagórica para o Observador/TVI. Por contraste, o melhor resultado desta sequência — logo na primeira semana de sondagem — fica já a mais de dois pontos percentuais (foi de 68,9% dos votos, em meados de dezembro).
Para Marcelo, a maior força continua a residir no eleitorado socialista, que sai até reforçado em comparação com a última sondagem: 71,5% dos eleitores do PS estão disponíveis para reconduzi-lo nas funções e garantir-lhe mais cinco anos na Presidência da República. Só depois surgem os eleitores do PSD, com 65% destes inquiridos a declararem-se rendidos a Marcelo.
A percentagem de abstencionistas de 2019 que admite ir às urnas no dia 24 de janeiro (ou já no dia 17, se optarem pelo voto antecipado) e votar no atual Presidente chega aos 45,6%. Apenas mais uma décima do que os eleitores do CDS alinhados com Marcelo (45,5%). Apenas os eleitores comunistas são mais fiéis ao candidato apresentado pelo seu partido do que ao recandidato a Belém, uma vez que os 30,8% de eleitores da CDU que querem eleger Marcelo comparam com os 42,3% que optam por João Ferreira. E só há mais um campo em que Marcelo perde para a concorrência: é entre os abstencionistas, que estão maioritariamente com André Ventura, ainda que por uma diferença ligeira (os tais 27,% de Ventura comparam com os 26,5% de Marcelo). Há, ainda, 26,4% de eleitores de Catarina Martins (em 2019) que agora estão com o Presidente da República.
Marisa nunca pior; Vitorino persegue Mayan
Marisa Matias já desvalorizou as sondagens para estas presidenciais. Um dos argumentos que usou foi o de que, há cinco anos, os estudos de opinião a colocavam muito abaixo dos 10,2% que acabou por alcançar na noite eleitoral. Ora, a 15 de janeiro de 2016 a sondagem da Eurosondagem para o Expresso/SIC dava à candidata do Bloco de Esquerda 4,8% das intenções. Uma semana mais tarde, a 22 de janeiro, já em cima do período de reflexão, a Universidade Católica dava-lhe um resultado de 8% dos votos. Déjà vu? Não saberemos até à noite de 24 de janeiro. O que se sabe é que sondagem desta semana revela mais uma quebra de votos que começou há quatro semanas e não mais parou.
Marisa soma 4% das intenções de voto e teve uma perda de três décimas face à semana anterior. Está, agora, a 2,5 pontos do resultado que alcançou na primeira das várias sondagens Observador/TVI. Os debates — que os analistas políticos são unânimes em classificar como um momento desperdiçado por Marisa para se afirmar nesta corrida — podem justificar este último resultado, mas deixam de fora a explicação mais alargada para a perda sucessiva de votos da candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda que mantém o título de mulher com a melhor votação de sempre numas presidenciais.
João Ferreira seguia exatamente o mesmo caminho. Desde meados de dezembro que registava perda após perda após perda — até agora. O candidato apoiado pelo PCP sobe seis décimas face ao resultado anterior e chega aos 3,2% das intenções de voto. É, no entanto, apenas um pequeno alento, se considerarmos que Edgar Silva saiu da noite eleitoral de há cinco anos com 3,95% dos votos.
De resto, e sendo verdade que a distância já foi menor, o eurodeputado está agora com menos de um ponto de vantagem sobre o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal. Tiago Mayan Gonçalves surge com 2,3% das intenções de voto e, logo a seguir, Vitorino Silva tem já 2,1% das intenções — ele que encerrou a noite de 24 de janeiro de 2016 com 3,28% dos votos. E se estes três candidatos surgem aqui em bloco é porque, estando eles no fundo da tabela desta sondagem, conseguem sair dos confrontos com os adversários com potenciais ganhos eleitorais. Às seis décimas de João Ferreira juntam-se as duas décimas de Mayan Gonçalves e um ponto e sete décimas de Vitorino Silva (naquela que é, de resto, a maior escalada desta edição).
Uma nota para os casos de Mayan Gonçalves e de Vitorino Silva: ambos conseguem ir buscar 8,8% dos eleitores que votaram em pequenos partidos, branco ou nulo em 2019; Vitorino recolhe tantos votos socialistas como João Ferreira (0,8%) e ainda consegue 7,5% de eleitores do Bloco de Esquerda; e Mayan Gonçalves absorve tanto eleitorado centrista (9,1%) quanto André Ventura e Ana Gomes.
Ficha técnica
Durante 6 semanas (10 Dezembro 2020 a 21 de Janeiro 2020 ) vão ser publicadas pela TVI e pelo Observador uma sondagem em cada semana com uma amostra mínima de 626 entrevistas. Em cada semana a amostra corresponderá a 2 sub-amostras de 313 entrevistas. Uma das sub-amostras será recolhida na semana da publicação e a outra na semana anterior à da publicação. Cada sub-amostra será representativa do universo eleitoral português (não probabilístico) tendo por base os critérios de género, idade e região.
Semana 5 Publicação: O trabalho de campo decorreu entre os dias 29,30 de Dezembro de 2020 , 2,3 e 7 a 10 de Janeiro 2021. Foi recolhida uma amostra total de 629 entrevistas que para um grau de confiança de 95,5% corresponde a uma margem de erro máxima de ±4,0%. A seleção dos entrevistados foi realizada através de geração aleatória de números de “telemóvel” mantendo a proporção dos 3 principais operadores identificados pelo relatório da ANACOM, sempre que necessário são selecionados aleatoriamente números fixos para apoiar o cumprimento do plano amostral. As entrevistas são recolhidas através de entrevista telefónica (CATI – Computer Assisted Telephone Interviewing).
A distribuição geográfica foi: Norte 23%; Grande Porto 11%; Centro 26%; Lisboa 24%; Sul 11% e Ilhas 5%
O estudo tem como objetivo avaliar a opinião dos eleitores Portugueses, sobre temas relacionados com as eleições, nomeadamente os principais protagonistas, os momentos da campanha bem como a intenção de voto nos vários partidos.
A taxa de resposta foi de 53,13% . A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva.
A taxa de abstenção na sondagem é de 57,2% a que correspondem os entrevistados que aquando do momento inicial se recusaram a responder à entrevista por não pretenderem votar nesta eleição.
A ficha técnica completa bem como todos os resultados foram disponibilizados junto da Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizara oportunamente para consulta online.