Ao ataque aos adversários, sem querer perder a “base de apoio” dos jovens até agora conquistados — chamando Rita Matias para mandatária da juventude — e focado essencialmente nos temas da imigração e da agricultura, André Ventura ambiciona uma vitória nas eleições europeias e reconhece que estas são um “barómetro” para umas possíveis legislativas antecipadas.

Pelo caminho, a referência à política nacional e a responsabilidade atribuída a Luís Montenegro pela falta de estabilidade em que o país vive e que, aos olhos do líder do Chega, é “por culpa dos que puseram o ego, a intolerância e a cegueira do politicamente correto à frente do país”. Antes de sair de Portugal e se dedicar à Europa, e enquanto dizia que não queria ser rude nem ofender, Ventura investiu nos ataques aos restantes cabeças de lista, neste caso a Sebastião Bugalho, a Marta Temido e a João Cotrim Figueiredo porque os outros candidato não estão, segundo disse, na “liga” do Chega.

Começou pela a Aliança Democrática e Sebastião Bugalho e descreveu-o como um “jovem que parece tirado do século XIX”, que podia ser uma “personagem de Almeida Garrett e Eça de Queirós”, que “tem assim aquele ar jovem, de quem toma copos no Bairro Alto à noite, mas depois usa aquele casaquinho de malha”.

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Seguiu-se Marta Temido, que o presidente do Chega considera que é um “sinal de que o PS não conseguiu renovar pessoas” e que foi a “ministra responsável pelo estado da saúde em Portugal”. “Demitiu-se porque Governo tinha sangue nas mãos”, afirmou Ventura, numa referência à demissão da na altura ministra da Saúde, na sequência da morte de uma grávida enquanto estava a ser transferida porque havia falta de vagas no Hospital de Santa Maria. “O PS já não tem ninguém para apresentar, apresenta os mesmos”, resumiu.

Por fim, dedicou umas palavras a João Cotrim Figueiredo, dizendo que “no momento em que partido mais precisava”, decidiu abandonar a presidência da IL e ir para um “exílio dourado”, a Europa, porque “pensou nele próprio”. “Não é diferente de António Guterres ou Durão Barroso”, apontou o líder do Chega, que não só acusou Cotrim Figueiredo de ser “um traidor como todos os outros”, como defendeu que “Rui Rocha não dava nem para líder de condomínio” talvez que escolher um contabilista, escolheria Rui Rocha”, mas “nunca” diria “tu és o homem para o meu partido”.

Com movimentos “patriotas a crescer pela Europa toda”, André Ventura acredita que o Chega “não vai ficar para trás” e ambiciona mesmo que nestas eleições seja “o farol da Europa” através do resultado. Num slogan transposto das últimas eleições legislativas nacionais, desta vez o Chega considera que “a Europa precisa de uma limpeza” e leva para a campanha algumas das bandeiras de sempre, designadamente o combate à corrupção, “acabar com a imigração descontrolada”, a defesa de “uma Europa de nações soberanas”, o “fim da impunidade dos criminosos” e Portugal na Europa.

A imigração e a agricultura como prioridades

Com pouco destaque para propostas do programa, nos discursos, André Ventura e Tânger Corrêa focaram-se no tema da imigração — o Chega defende o abandono do Pacto de Migrações da ONU, a revogação do acordo de mobilidade CPLP, o reforço das capacidades da Frontex e a sua transferência para Portugal, a deportação de imigrantes ilegais e a adoção generalizada na UE dos modelos que o Reino Unido tem implantado.

Não é de agora, mas a situação na AIMA — Agência para a Integração Migrações e Asilo, que tem sido incapaz de responder a centenas de imigrantes que procuram aquele serviço, tornou o tema da imigração ainda mais premente André Ventura referiu-se ao os “imigrantes amontoados uns em cima dos outros em frente à agência porque querem ficar legais” e que depois “não são expulsos”, mas antes “saem e vão viver para tenda à frente da agência”.

Ventura argumentou ainda que Portugal, tal como o Governo de Luís Montenegro já assumiu, corre o risco de ser suspenso do espaço Schengen. “Temos que ser duros, exigentes, sem perder o nosso humanismo“, defendeu o líder do Chega, pedindo a aplicação de regras e deixando um alerta que tem repetido sempre que é questionado sobre o tema: “Quem estiver ilegal em Portugal, não terá outra solução, senão ser devolvido aos seus países de origem.”

Ainda antes de André Ventura, Tânger Corrêa tinha dito que “o que se passa em Bruxelas é mais importante do que se passa em São Bento” e que “se for preciso [o Chega devolverá] Portugal aos portugueses a partir de Bruxelas”. E defendeu que “os acordos de Schengen não são uma lei qualquer”, mas sim uma lei aplicada em Portugal e que é “lei portuguesa”. “Governo e governo anterior estão a desrespeitar a lei portuguesa”, acusou o cabeça de lista do Chega.

Outra das prioridades do Chega é a agricultura, com a proposta para que exista uma “revisão intransigente” da Política Agrícola Comum (PAC) e o “veto absoluto de qualquer corte na política de coesão, na PAC e no Programa de Opções Específicas para fazer face ao Afastamento e à Insularidade (POSEI)”. O partido pretende que seja impedido que o Pacto Ecológico “continue a subjugar a atividade agrícola europeia, violando a soberania dos Estados-nação”.

André Ventura recordou os protestos pela Europa e o facto de que estes terem sido justificados com os acordos firmados entre a UE e “países que exploram os seus empregados, países que não pagam impostos sobre o trabalho, países que têm trabalho escravo e com o qual os nossos agricultores são obrigados a concorrer”.

“O que está a destruir a agricultura europeia são esses acordos que esta Comissão Europeia, presidida por Ursula von der Leyen, tem feito com o mundo inteiro, numa lógica de somos humanistas e somos uns tipos de porreiros com todos. Por causa disto, agricultores nossos estão a morrer à fome, famílias inteiras estão a ser destruídas”, alertou o presidente do Chega, frisando que esses acordos levam a “produtos muito mais baratos” que prejudicam os agricultores europeus e que “não se exige” a esses países que “cumpram os direitos humanos”.

Perante o cenário, Ventura avançou com uma das medidas que está no programa, onde está prevista a “a revisão dos Acordos de Comércio Livre (ACL) com países de outras regiões mundiais alvo de crítica à concorrência justa”, mas foi mais longe, argumentando que “países que não cumprem os direitos humanos e os direitos laborais não podem exportar para a União Europeia”.

Tânger Corrêa, no dia de apresentação do programa do Chega, fez questão de deixar claro que o Chega é “a favor de uma UE forte, estável, espaço de paz, mas de nações soberanas”. “Repudiamos qualquer forma de federalismo ou de interferência na soberania nacional e vamos representar não só Portugal, mas o que nós consideramos os bons valores do Ocidente”.