885kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Aveiro, Esmoriz TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
i

"Não vou fazer o frete a António Costa e a André Ventura", irritou-se Montenegro

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

"Não vou fazer o frete a António Costa e a André Ventura", irritou-se Montenegro

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Ventura, Rocha e Melo tentam crescer à custa de tabu de Montenegro

Decisão de Montenegro de não esclarecer posição sobre eventuais alianças está a ser usada pelos adversários à direita. Ventura tenta normalização, Rocha seduz liberais e Melo procura conservadores.

A ambiguidade de Luís Montenegro em relação ao Chega está a animar os adversários à direita, que veem nas hesitações e contradições do PSD uma oportunidade para, cada um à sua maneira, crescer à custa da família social-democrata. André Ventura explora o desconforto de Luís Montenegro e condiciona a agenda mediática. Rui Rocha tenta seduzir o eleitorado mais liberal, que (também) alimenta o PSD. Nuno Melo procura uma nova vida com discurso contra a relação PSD-Chega, puxando pela ala mais conservadora dos sociais-democratas. Ventura cola-se, Rocha foge e Melo morde. E, já agora, António Costa diverte-se.

Esta semana, aliás, houve novo capítulo do psicodrama em que se transformou a discussão sobre eventuais, futuras e hipotéticas alianças à direita. Depois de uma convenção em que André Ventura decidiu dizer com clareza que só aceitaria apoiar o PSD se integrasse o governo, o líder do Chega veio pedir uma reunião com Luís Montenegro. “Mal seria se o líder do PSD recusasse reunir-se com o líder do terceiro maior partido português sem qualquer razão aparente”, sugeriu Ventura.

Ora, as declarações do líder do Chega deixaram Montenegro obrigado a responder à mesma questão durante dois dias, a quilómetros de distância, no distrito da Guarda. Na quarta-feira, irritou-se com os jornalistas, recusou entrar em “jogos florais” e disse que não estava a “pensar nem na vida de Costa nem na vida de André Ventura”.

Um dia depois, Luís Montenegro irritou-se a dobrar: “Não pôr isso na agenda de prioridades é uma decisão voluntária, consciente e convicta. Não vou fazer o frete a António Costa e a André Ventura de andar a discutir as minudências da politiquice. Sou muito convicto, muito firme. Podem vir as pressões e as opiniões de onde vierem”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A recusa em dar qualquer sinal sobre o que fará se um dia precisar de forjar alianças à direita não é sequer uma novidade no discurso e na estratégia de Montenegro. Tal como explicava aqui o Observador, a convicção da linha dominante da direção do PSD é a de que alimentar o debate em torno de alianças e coligações com Chega não serve os objetivos do partido.

No futuro, acredita-se na São Caetano, o peso verdadeiro do voto útil à direita sentir-se-á quando as legislativas estiverem ao virar da esquina – e, nessa altura, o PSD carregará no discurso de que um voto no Chega ou noutro qualquer partido à direita é um voto desperdiçado.

Por muito que seja assumidamente essa a estratégia dos sociais-democratas – “digam que eu sou ambíguo e continuem a falar daquilo que não interessa às pessoas”, atirou esta quinta-feira Montenegro aos jornalistas que insistiam nas perguntas sobre coligações e arranjos parlamentares –, o PSD não é uma ilha no mapa eleitoral. E os adversários à direita estão apostados em explorar isso mesmo.

PSD acredita que pressão do voto útil esvaziará balão de Ventura. Mas tabu é para manter

André Ventura monta o elefante no meio da sala

Depois de enterrar a ideia da ‘geringonça’ à direita, uma questão que se arrastou durante o reinado de Rui Rio – ora oscilava entre a exigência de pastas ministeriais, ora exigia entrar no governo –, André Ventura entrou agora na segunda fase da sua estratégia: embaraçar Luís Montenegro e condicionar a agenda política e mediática do PSD. Consciente de que a direção social-democrata tem um elefante no meio da sala que não consegue domar, o líder do Chega sabe que tem tudo a ganhar em cutucar o paquiderme.

Primeiro, enquanto for percecionado política e mediaticamente como um jogador a ter em conta em qualquer aliança à direita, André Ventura sabe que ficará protegido do efeito do apelo ao voto útil que o PSD poderia ensaiar desde o primeiro minuto — se Montenegro não convence o próprio eleitorado potencial a não votar no Chega, não será o eleitorado potencial a decidir isso pelo líder do PSD.

Para o Chega, aliás, a hesitação dos sociais-democratas neste capítulo dar-lhe-á também tempo para amadurecer o ensaio para normalização que tem vindo a tentar seguir e que foi particularmente evidente na última convenção – em teoria, acredita-se entre os mais próximos de Ventura, quanto mais tempo persistir a ideia de que o Chega pode fazer parte da solução, menos anti-corpos causará junto dos eleitores.

Além disso, um PSD fragilizado e embrulhado em declarações contraditórias é (e será sempre) pasto para o Chega crescer. Basta ver o que acontece na própria direção social-democrata: Miguel Pinto Luz nunca descartou alianças com o Chega, Paulo Rangel disse várias vezes que nunca contará com Ventura para nada, António Leitão Amaro, em linha com Montenegro, recusa falar sobre o tema, tal como Margarida Balseiro Lopes.

Ao mesmo tempo, e num curto intervalo de tempo, há figuras influentes no partido e que orbitam em torno de Luís Montenegro – Miguel Relvas, Luís Marques Mendes, Jorge Moreira da Silva ou José Manuel Fernandes – a defenderem coisas exatamente contrárias. No meio da cacofonia do PSD sobre que tipo de relação o partido deve ou não ter com o Chega, André Ventura sobressairá sempre.

O último a juntar-se a este coro, aliás, foi Carlos Moedas, apontando por muitos no PSD como o maior risco à liderança de Luís Montenegro. Ainda que de forma pouco contundente, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa aproveitou uma entrevista ao Público para recordar que excluiu o partido de André Ventura de qualquer coligação pré ou pós-eleitoral e que, mesmo assim, venceu e derrotou os socialistas. “É possível ganhar eleições sem o Chega”, disse, atirando a bola para o campo de Montenegro.

Ora, Ventura jogará muitas das suas fichas nesta divisão do PSD porque sabe que foi a imagem de indefinição de Rio que contribuiu, em muito, para o reforço do Chega. Ao mesmo tempo, vai procurar pincelar o discurso com ataques diretos a Montenegro, com a colagem dos sociais-democratas ao sistema, com críticas à falta de oposição assertiva e com uns pozinhos de vitimização, como quando sugere que seria impensável que o líder do PSD recusasse uma reunião. Ventura sabe que esse encontro não vai acontecer; mas dá-lhe jeito que os mais de 400 mil eleitores que votaram no Chega se sintam igualmente ostracizados.

Na quarta-feira, Montenegro irritou-se com os jornalistas, recusou entrar em “jogos florais” e disse que não estava a “pensar nem na vida de Costa nem na vida de André Ventura”. Um dia depois, irritou-se a dobrar: “Não pôr isso na agenda de prioridades é uma decisão voluntária, consciente e convicta. Não vou fazer o frete a António Costa e a André Ventura de andar a discutir as minudências da politiquice”.

Rui Rocha acrescenta o moderado ao liberal

O novo líder da Iniciativa Liberal tem dito desde a primeira hora – mesmo antes de vencer o partido – que não contaria com o Chega para nada e em nenhuma circunstância. Nem mesmo numa solução idêntica à ‘geringonça’ de António Costa, em que o PS tinha um acordo com BE e outro com o PCP, sem que os dois partidos-rivais se cruzassem, entra nos planos de Rui Rocha. Em linha com a estratégia assumida, Montenegro deixou-o sem resposta.

Por entre lamentos mais ou menos genuínos à falta de clareza do PSD, o núcleo duro de Rui Rocha acredita que estas hesitações dos sociais-democratas lhes abrem uma porta que tem estado praticamente inacessível: a do centro-moderado. Entre os liberais, sabe o Observador, existe a convicção de que o excesso de taticismo em relação ao Chega pode fazer com que os eleitores moderados, que recusam os extremos e o populismo, possam ver a Iniciativa Liberal, não como uma caricatura, mas como uma opção válida.

Aliás, é essa há muito a batalha do partido: quando entrou pela primeira vez no Parlamento, João Cotrim Figueiredo queria sentar-se ao centro entre o PS e o PSD, precisamente para tentar (sem sucesso) esvaziar a ideia de que era um partido à direita dos sociais-democratas, incapaz de pescar votos tanto no CDS como no eleitorado do PS.

Ora, o facto de Montenegro ser incapaz de rejeitar liminarmente um casamento com Ventura, dará a Rui Rocha, acredita-se na IL, a possibilidade de recuperar o discurso e de falar ao eleitorado do centro flutuante, que historicamente vota entre PS e PSD e que, no futuro, não o vai pretender fazer — seja por recusarem mais um ciclo socialista, seja por temerem a circunstância de terem os sociais-democratas de mãos livres para conversar com o Chega.

Em cima disto, e mesmo reconhecendo que o perigo de esmagamento do voto útil existe, os liberais entendem que as legislativas de 2022 são (ou deveriam ser, pelo menos) uma lição para todos: deixar clarificações para a última hora não resolve nada nas urnas — antes prejudica. Da parte da IL, está tudo claro e toda a gente sabe ao que vai no que respeita a alianças à direita. O discurso vai ser assim até ao fim.

Carlos Moedas, apontando por muitos no PSD como o maior risco à liderança de Luís Montenegro, aproveitou uma entrevista ao Público para recordar que excluiu o partido de André Ventura de qualquer coligação pré ou pós-eleitoral e que, mesmo assim, venceu e derrotou os socialistas. “É possível ganhar eleições sem o Chega"

Nuno Melo arrisca tudo e ataca antigo parceiro

O líder do CDS está num estágio diferente dos seus adversários à direita. Arredado da Assembleia da República, sem espaço mediático, reduzido aos seus mínimos olímpicos, os democratas-cristãos sabem que tem nas próximas europeias, em maio de 2024, a última oportunidade de se manterem à tona. E Nuno Melo está  a intensificar a corrida.

Além de um congresso refundacional agendado para o segundo semestre do ano – e que pode ditar, entre outros aspetos, a mudança do programa do partido, um novo nome, novas cores e simbologia –, o líder do CDS estreou esta quinta-feira uma nova estratégia: usar a ambiguidade do PSD em relação ao Chega para tentar fazer regressar o eleitorado conservador à base.

“O CDS é muito mais do que protesto e conversa de café. O que separa o CDS do Chega é a democracia e a liberdade. Caberá ao PSD decidir com quem é que acha que quererá ter em governos em Portugal, se o CDS ou uma outra realidade qualquer”, atirou Nuno Melo, num almoço-debate no Instituto Adelino Amaro da Costa, em Lisboa, que juntou figuras históricas do partido como Manuel Monteiro ou Diogo Feio.

A tentativa de marcar uma distinção face ao Chega nem sequer é uma originalidade do eurodeputado — com Assunção Cristas ou com Francisco Rodrigues dos Santos, o partido sempre tentou lembrar que tinha programa, história, princípios e quadros que não eram comparáveis aos do Chega. Sem resultado, como se viu. Esta ataque tão direto aos sociais-democratas consiste, isso sim, numa novidade no discurso de Nuno Melo, que até tem partilhado muitos momentos do PPE (família europeia de PSD e CDS) para aparecer ao lado de Montenegro.

Esta nuance na estratégia do partido reside numa convicção que vem ganhando força no Largo do Caldas: os verdadeiros conservadores, aqueles que deixaram o partido porque não acreditavam mais no projeto, não encontram representação no PSD e/ou terão já percebido que o Chega, apesar de ter captado muitas das bandeiras do CDS, está para da lá da tal “parede” de que Paulo Portas sempre falou.

Acossado pela investida antissistema e sonhos ministeriais do Chega, pressionado pela via liberal-moderada que a IL quer vender e atacado pelo frenemy CDS, o PSD tomou, para já, uma decisão: seguir em frente sem olhar para o lado. A direção social-democrata acredita que as últimas legislativas serviram de lição e que, no futuro, e com medo que o PS se perpetue no poder, a pulsão será votar em força no PSD, tornando-o autossuficiente. Resta saber se a tal vacina anti-maioria do PS vai ter ou não efeito.

Nuno Melo pressiona Montenegro a escolher entre CDS e Chega. “O que nos separa é a democracia e a liberdade”

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.