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O príncipe William faz 40 anos no dia 21 de junho e, desde que saiu da maternidade ao colo da mãe e do pai, a sua vida tem-se desenvolvido sob o olhar do público. Desde que nasceu que assumiu a posição de segundo na linha de sucessão ao trono, e nos últimos anos temo-lo visto assumir cada vez mais protagonismo nas atividades e responsabilidades da família real — é hoje um dos membros mais queridos pelos súbditos. Este ano, o príncipe foi pela primeira vez à abertura do Parlamento e, tal como Camilla, acompanhou o pai, em representação da rainha. No encerramento das celebrações do Jubileu de Platina de Isabel II, a soberana escolheu fazer da aparição na varanda do Palácio de Buckingham um retrato do presente para o futuro e chamou apenas para junto de si as figuras que continuarão as suas pisadas na monarquia britânica: o príncipe Carlos, com Camilla de um lado, e o príncipe William, com Kate e os três filhos do outro.
William já foi o príncipe encantado da Europa e aquilo a que muitas publicações gostam de chamar “solteiro de ouro”. Hoje é um pai de família, homem de causas e um herdeiro focado nos seus deveres. “A monarquia tem tudo a ver com unidade e união do país e creio que o William percebe isso totalmente”, diz Penny Junor autora da biografia “Prince William: Born to be King” (da editora Hodder & Stoughton, 2012) num vídeo publicado no seu site. “A vida na família real é como a vida num circo. Ele deseja normalidade. Ele e o irmão são uma nova espécie de realeza. Ele quer conduzir a vida dele à maneira dele e está determinado a fazê-lo e a não ter ninguém que o faça por ele. Ele um dia será o nosso rei e acho que o está a fazer bem.”, acrescenta.
Entre outros, há um episódio lapidar que ilustra a proximidade do público e o seu entusiasmo. William e Harry iam passar a noite em Clarence House, a residência do príncipe Carlos e de Camilla, mesmo no centro de Londres, perto do Palácio de Buckingham. Contudo ao cair da noite o irmão mais velho teve a ideia de ambos saírem para “confraternizar com as pessoas acampadas” ali perto, nas ruas. “Foi um gesto muito moderno para um membro da família real e muito típico de William” conta Marcia Moody no livro “Kate, Uma Biografia”. “O príncipe perguntou a uma delas ‘têm jacuzzi aqui?’ Enquanto Harry se fazia convidado para entrar noutra tenda”. Nessa noite, escreve a autora, William apenas terá dormido meia hora, com os cânticos e aplausos que se ouviam na rua e a emoção de se ir casar no dia seguinte.”, continua.
Um casamento com amor e uma parceria com sucesso
Em setembro de 2001 o príncipe William e a jovem Kate Middleton começaram os dois uma nova fase das suas vidas na Universidade de St. Andrews, na Escócia. Partilhavam o mesmo curso e a mesma residência. Era inevitável que se conhecessem, mas também ficaram rapidamente amigos, uma vez que partilhavam vários interesses. Curiosamente, no período sabático, um ano antes da entrada na faculdade que é dedicado a trabalho humanitário e que muitos estudantes britânicos optam por fazer, ambos estiveram em atividades no Chile. A história dos anos seguintes foi acompanhada de perto pela imprensa e por muitos fãs e a 29 de abril de 2011 aconteceu o tão esperado casamento real.
Os populares que acamparam nas ruas quiseram fazer parte de um dia histórico para o Reino Unido e o ambiente por aqueles dias era de celebração. O herdeiro do trono ia casar-se com pompa e circunstância com a sua namorada de vários anos e marcar o início de uma nova fase da vida da família real britânica. Habitualmente, os contos de fadas terminam com o casamento do casal de apaixonados e o resto da história é deixado à imaginação com a frase “e viveram felizes para sempre”. No caso de William e Kate é diferente, foi depois do casamento que começámos a acompanhar o desenrolar da sua vida como um conto dos tempos modernos.
Depois do seu casamento, a rainha deu aos novos duques de Cambridge um período de dois anos para terem uma vida de casal normal, que permitisse a William dedicar-se à sua formação na Royal Air Force (RAF) e ao trabalho nas ambulâncias helicóptero, e a Kate adaptar-se à vida da realeza. Ainda assim, não estiveram totalmente afastados e até fizeram uma tour pelo Canadá e Estados Unidos logo no primeiro verão de casados.
Embora a popularidade do príncipe William tenha crescido muito nos últimos anos, logo depois do seu casamento chegou a ser criticado por trabalhar pouco, quando estava, afinal, dedicado ao seu trabalho de piloto e à sua família. “Receio que as críticas fazem parte. Penso que o público é muito mais moderado. Eu tenho o meu trabalho nas ambulâncias, cumpro os deveres que a rainha me atribui, tenho as minhas obras de caridade e causas e estou a criar uma jovem família, por isso não posso deixar as críticas afetarem-me”, disse o príncipe numa entrevista à revista GQ britânica em 2017.
Com ou sem críticas, o período de adaptação e recolhimento dos duques revelou-se precioso para a vida equilibrada que a família tem agora. Depois de 10 anos de casamento pode dizer-se que William e Kate são uma parceria de sucesso. “Acho que a Kate tem sido um apoio incrível e construiu uma extraordinária vida caseira para ele [o príncipe William] de forma a que ele se possa concentrar no seu trabalho.” diz ao Observador Ingrid Seward, uma grande conhecedora do universo da realeza, em especial da família real britânica.
Kate Middleton, a plebeia encantada que o povo queria e a monarquia precisava
Amigos do príncipe disseram ao Sunday Times que a igualdade desta parceria é a chave. O jornal britânico dedicou um grande artigo ao príncipe William a que chamou “Um retrato íntimo do futuro rei”, em março de 2021, depois da bombástica entrevista de Meghan e Harry a Oprah Winfrey e um mês antes de fazer 10 anos de casado e embarcar “na década mais formativa” da sua vida. Amigos do casal disseram ao jornal que “eles têm uma relação sólida” e que “não há inveja, nem fricção, eles são felizes com o sucesso um do outro”. O príncipe tem muito orgulho no trabalho da mulher e no seu crescimento na vida pública.
“Eu não poderia fazer o meu trabalho sem a estabilidade da família. A estabilidade em casa é tão importante para mim. Quero criar os meus filhos num mundo feliz, estável e seguro e isso é muito importante para nós os dois como pais”, diria ainda o príncipe à revista GQ. “Quero que o George cresça num ambiente realista e vivo, não quero que cresça atrás dos muros do palácio, ele tem de sair. Os meios de comunicação tornam isto difícil, mas eu vou lutar para que eles possam ter uma vida normal”, acrescentaria em relação ao filho mais velho, que já é o terceiro na linha de sucessão.
Até 2017 os duques viveram afastados de Londres e foi no outono desse ano que trocaram a propriedade em Norfolk, no campo, pelo Palácio de Kensington, na capital, começando a desenhar-se uma fase mais proeminente da sua vida como membros da família real. Por esta altura os Cambridge já eram quatro. O príncipe George nasceu a 22 de julho de 2013 e a chegada ao mundo do herdeiro do trono trouxe grande felicidade e celebração à nação. Em 2015 chegou a princesa Charlotte, a 2 de maio. O príncipe Louis só nasceria a 23 de abril de 2018. Nasceram os três no Hospital St. Mary, em Londres.
Herdeiro do trono e também de Diana
William Arthur Philip Louis Windsor nasceu a 21 de junho de 1982, quase um ano depois do casamento dos pais, o príncipe Carlos e a princesa Diana, e foi o primeiro futuro rei britânico a nascer numa maternidade, a mesma onde nasceram também os seus filhos. A família real vivia uma boa fase, a rainha tinha celebrado o seu Jubileu de Prata em 1977 e o casamento do herdeiro do trono com a bela e jovem aristocrata em 1981 pôs o país em modo de efusivo festejo. Contudo, o período de graça desta união foi pequeno enquanto, em contraste, a popularidade de Diana era cada vez maior. Quando Harry nasceu, em 15 de setembro de 1984, a relação dos pais, que já não era boa, tornou-se cada vez pior. A história, já tantas vezes contada, teve um fim trágico a 3o de agosto de 1997 com a morte de Diana.
William “cresceu a ver a mãe assediada por paparazzi, que a rodeavam, impedindo-a de conduzir em segurança e perturbando-a. De vez em quando havia confrontos físicos entre os agentes de segurança e os fotógrafos”, conta Marcia Moody. “Quando Diana morreu no acidente de automóvel, tinha ele quinze anos, não só perdeu a mãe que adorava como uma grande amiga e esse facto instigou nele um profundo ódio pelos paparazzi.”
Nesse ano de 2017 em que William foi capa da edição de julho da revista GQ britânica, na altura com 34 anos, falou sobre as suas causas, família e sobre a perda da mãe como, provavelmente, ainda não o tinha feito publicamente. Quando Diana morreu, William tinha 15 anos e Harry quase 13. Admitiu que provavelmente não fez “devidamente” o luto e esteve “em estado de choque durante muitos anos”. Na sua vida adulta fez da saúde mental uma das suas causas e quer mostrar às pessoas a importância de falar das emoções. “Uma coisa que posso sempre dizer sobre a minha mãe é que ela nos sufocou ao Harry e a mim de amor. Vinte anos passados ainda sinto o amor que ela nos deu e isso é um testemunho do seu enorme coração e da sua extraordinária capacidade para ser uma ótima mãe”, disse o príncipe na altura. Hoje, quase 25 anos depois da tragédia, continua a sentir a falta da mãe e fala muito dela aos filhos.
Combinar inovação e tradição nas causas do século XXI
Em 2009, William começou a treinar para se tornar piloto de busca e salvamento e no ano seguinte juntou-se a um esquadrão da Royal Air Force (RAF) em Anglesey. Manteve este trabalho durante três anos e participou em mais de 150 operações. Teve de lutar para ser piloto de ambulâncias. Segundo uma fonte contou ao Sunday Times, a rainha e o príncipe Carlos apoiaram a decisão, enquanto algumas figuras seniores da corte acharam que um futuro rei não deveria fazer um trabalho de classe média e que ele estava a ser teimoso. Acrescentou que “ele estava muito determinado em relação a isso e decidiu que as expectativas das outras pessoas nos media ou no sistema não deviam interferir com os seus valores”.
Depois de deixar a sua missão nas forças armadas, quis continuar a trabalhar como piloto de helicópteros ambulância e juntou-se à East Anglian Air Ambulance durante dois anos, prestando serviços de emergência médica de helicóptero, fixado na base de Cambridge. À GC recordou como a sua primeira tarefa envolveu um caso de suicídio, uma estreia que muito o afetou. Na altura, as estatísticas apontavam cinco tentativas de suicídio por dia só naquela zona do leste de Inglaterra, dado que terá deixado profunda marca no príncipe, face a um tema ainda tabu.
A saúde mental tornou-se uma prioridade na agenda do príncipe William. Com Kate e o príncipe Harry fizeram uma frente unida a três e deram rosto e voz à iniciativa Heads Together. Mas não ficou por aqui. O segundo na linha de sucessão ao trono foi o primeiro membro da família real a ser capa de uma revista gay, a Attitue. Foi fotografado para a edição de julho de 2016 e deu uma entrevista onde abordou temas como a saúde mental, homofobia, fobia bi e bullying. Em 2017, criou uma taskforce para abordar o problema do Cyberbullying e do suicídio juvenil. Teve reuniões no Palácio de Kensington com as gigantes tecnológicas e das redes sociais como Facebook, Snapchat, Apple, Google e Twitter, mas desta vez o príncipe não conseguiu resultados e terá ficado muito desapontado.
A grande causa do príncipe William, neste momento, parece ser a sustentabilidade. Dedicou ao tema grande parte do seu discurso durante o concerto do Jubileu de Platina da rainha, no início de junho; tem-se unido a Sir David Attenborough para iniciativas variadas; e, sobretudo, em 2020, lançou o prémio Earthshot. Um troféu de 50 milhões de libras, através da sua Royal Foundation, para incentivar a criação de soluções para os problemas do ambiente que teve a sua primeira edição em outubro de 2021.
Um antigo líder do Partido Conservador, Lord Hague of Richmond, tornou-se presidente da Royal Foundation em 2020, para ajudar a desenvolver o trabalho na área da saúde mental e do ambiente, entre outros pontos. “Internacionalmente e nacionalmente, as pessoas respeitam a credibilidade e conhecimento dele nestes assuntos”, disse ao Sunday Times, e acrescentou que o príncipe “é muito persuasivo. Só se vê isso nos bastidores. Ele sabe o que quer e vai atrás para o conseguir.”
O príncipe Filipe disse uma vez num evento que era “o mais experiente revelador de placas do mundo”. Na altura tinha 94 anos e, com um famoso sentido de humor, arrancou muitos risos entre o seu público daquele dia. Contudo, o seu trabalho ia muito além disso e quando morreu, em 2021, foram-lhe feitas inúmeras homenagens por uma vida dedicada ao serviço público. William não quer ser um membro da família real que apenas faz inaugurações, quer fazer a diferença na vida das pessoas. A sua posição social dá-lhe meios e visibilidade para isso, mas é também necessário muito trabalho para estar informado e sobre o que se passa à sua volta.
Segundo o jornal britânico, os três últimos secretários pessoais do príncipe (Christian Jones, Simon Case e Miguel Head) têm currículo em departamentos governamentais e o atual continua nesta linha, uma vez que se trata de Jean-Christophe Gray, que já foi porta-voz do ex-Primeiro Ministro David Cameron. Todos o ajudaram a manter-se por dentro do tema da política. Em 2019, acompanhou durante três semanas os serviços de segurança MI5 e MI6 e o Government Communications Headquarters (GCHQ) para aprender como combatem o terrorismo e, durante esse tempo, fez questão de almoçar diariamente no refeitório e ser tratado por “Will”.
Os casos familiares e o afastamento de Harry
No discurso do Natal de 2019 já a rainha se referia ao ano que passava como “algo turbulento” (“quite bumpy”, nas palavras de Sua Majestade) tanto para a monarquia como para a nação. Mas os anos seguintes seriam ainda mais acidentados. Além da pandemia e da morte do príncipe Filipe, nos últimos três anos a família real teve de lidar com algumas situações complicadas, sendo o Megxit e as acusações contra o príncipe André as mais relevantes. E em ambas o príncipe William teve um papel de destaque, o que contribuiu para fortalecer a relação com o pai e com a avó e também a sua imagem como herdeiro do trono.
Quanto ao príncipe André, as acusações de abuso sexual não custaram apenas ao terceiro filho da rainha um acordo no valor de mais de 14 milhões de euros, mas também a perda de todos os títulos militares, patronagens reais e o afastamento da vida pública. Os príncipes Carlos e William têm sido os mais exigentes na exclusão de André, com o objetivo de proteger a monarquia do escândalo.
A 8 de janeiro de 2020, os duques de Sussex anunciaram que queriam “deixar de ser membros seniores da familia real” e trabalhar para serem “financeiramente independentes”. Harry e Meghan tinham decidido deixar a família real e partir para viver a sua vida com o pequeno Archie fora do Reino Unido. O anúncio foi feito à tarde (e na véspera do aniversário de Kate) e foi como uma bomba atirada contra a instituição da monarquia e a própria família real — as notícias daquele dia davam todas conta que nenhum outro membro sabia que isto iria acontecer. Como acontece em casos de guerra, uma cimeira de líderes tenta discutir um plano e encontrar soluções, e assim foi neste caso também. Apenas uns dias depois teve lugar o que ficou conhecido como “Sandringham Summit” (Cimeira de Sandringham), porque reuniu na propriedade onde a rainha passa a época natalícia Isabel II, os príncipes Carlos, William e Harry. O resultado foi o Megxit. Harry e Meghan partiram e estão a viver nos Estados Unidos.
Tina Brown é jornalista, editora e autora. Revitalizou revistas hoje tão conhecidas como a Tatler, no Reino Unido, e a Vanity Fair, nos Estados Unidos. Depois foi editora da revista The New Yorker, fundou o jornal Daily Beast e passou pela revista Newsweek. Na sua longa e prestigiada carreira na comunicação social sempre acompanhou a vida da família real, em artigos, na biografia “The Diana Chronicles”. O seu novo livro “The Palace Papers – Inside the House of Windsor, the Truth and the Turmoil” (editora Penguin) foi lançado no passado mês de abril e é o resultado de dois anos de trabalho e conversas com 120 pessoas íntimas de membros seniors da família real e das suas equipas. Começa onde a biografia de Diana acabou e conta a história da família real britânica ao longo dos últimos 25 anos.
A autora tem partilhado os seus conhecimentos e olhar objetivo em várias entrevistas. O Megxit é, claro, um tema obrigatório, bem como a relação atual entre William e Harry. Em entrevista ao Telegraph a autora disse que a relação entre os dois irmãos era “muito má”, e acrescentou até que lhe disseram que “não se passava absolutamente nada entre eles no momento”. Diz que o irmão mais carismático era o mais novo e que ambos partilhavam interesses, só que Harry era o segundo, por isso era necessário encontrar um papel para ele. Conta que Diana insistiu muito para que ambos fossem tratados da mesma maneira, mas o problema é que isso nunca seria possível e motivou as tensões entre ambos.
Tina Brown diz que Harry adorava Kate, mas depois do casamento do irmão “eles eram o casal perfeito e Harry sentiu-se como a Bridget Jones”. A autora explica que os irmãos precisam muito um do outro. “Só a mulher e o irmão de William serão sinceros com ele. E Harry podia provocar o irmão e pôr-lhe os pés assentes na terra. William dependia disso, disseram-me. Havia o perigo de William se estar a direcionar para uma pomposidade e Harry não deixaria isso acontecer.”A autora confessou ter esperança que haja uma reconciliação entre o príncipe Carlos e os dois filhos. Acredita que, quando a rainha morrer, o impacto vai ser de tal forma grande que todos se vão concentrar na monarquia como o mais importante e que Harry quererá regressar a casa e participar no luto. “Acho que caberá a Carlos e William saber usar esse momento para o trazer de volta”.
Por seu lado, Ingrid Seward, diretora da revista Majesty, que se dedica há mais de 40 anos a famílias reais, e autora de mais de 15 livros, afirma ao Observador que não acredita que os irmãos façam as pazes num futuro próximo, “porque há muita preocupação com o que Harry poderá revelar no seu livro”. O duque de Sussex vai lançar um livro de memórias ainda este ano, acontecimento que vem deixando uma sombra no ano de Jubileu da rainha, por causa das revelações que possa vir a conter.
Ainda não é rei e já podia ter cognome: o diplomata?
Quem pensa que as visitas que os membros da família real fazem a outros países são meros passeios para distribuir sorrisos e proporcionar boas fotografias, desengane-se. Os “royals” podem não discutir política, mas estas viagens carregam um pesado poder diplomático e quando os destinos têm conflitos ou polémicas pendentes, o desafio é ainda maior. E o príncipe William já foi o protagonista de algumas visitas desafiantes.
A China é um país que o príncipe Carlos parece não querer visitar, diz alguma imprensa que por causa da forma como a questão dos direitos humanos é abordada por lá. Em março de 2015 o príncipe William foi em visita à aquele destino, tendo sido recebido pelo Presidente Xi Jinping e, numa visita a um santuário de elefantes criticou, sem medos, o comércio ilegal de vida selvagem e defendeu que o país podia ajudar na luta contra este flagelo. Quando em outubro do mesmo ano o Presidente e a primeira-dama chineses visitaram o Reino Unido, a rainha ofereceu um banquete em sua honra no Palácio de Buckingham e lá estavam William e Kate no seu melhor, a acompanhar a monarca o príncipe Filipe a receber o casal presidencial.
No verão de 2018, o príncipe William foi o primeiro membro da família real britânica a deslocar-se em visita oficial a Israel desde a formação do estado em 1948, bem como aos territórios palestinianos. O príncipe encontrou-se com os presidentes de Israel, Reuven Rivlin, e da Palestina, Mahmoud Abbas, visitou vários locais, entre eles um campo de refugiados e, num discurso na residência do cônsul britânico em Jerusalém (que havia sido considerada recentemente pelo Presidente Trump a nova capital da Israel), incluiu no seu texto uma mensagem de esperança aos palestinianos dizendo que não estão esquecidos e acrescentou: “Espero que através da minha presença aqui e percebendo os desafios que enfrentam, as relações de amizade e respeito mútuo entre palestinianos e britânicos cresça mais forte”. Segundo o Times, o gesto foi ousado, mas a viagem acabou por ser considerada um sucesso por ambos os lados.
A mais recente viagem de oito dias dos duques de Cambridge às Caraíbas, em março de 2022, também deu muito que falar, e não apenas pelo guarda-roupa de Kate. A ideia era celebrar o Jubileu de Platina de Isabel II pelo Belize, a Jamaica e as Bahamas, países da Commonwealth e que têm Isabel II como sua rainha. Mas nem o carisma do casal real os livrou de enfrentarem manifestações contra o colonialismo e o facto da monarquia ter beneficiado da escravatura, que se fizeram ouvir bem alto, e até alguma vontade de afastamento da família real, com o Primeiro Ministro da Jamaica a dizer em frente aos duques que o país “estava a avançar”. Nem tudo foi mau, muitos ficaram felizes por verem William e Kate, e o casal foi, como é hábito, diplomático, com simpatia, com participação em muitas atividades e com mensagens nos discursos. Quase a encerrar esta tour, numa receção oferecida pelo Governador Geral das Bahamas, William afirmou: “Apoiamos com orgulho e respeito a vossa decisão sobre o vosso futuro. As relações evoluem. A amizade continua”.
William diz que Kate é a mediadora da família, mas pessoas próximas dizem que ele é um construtor de pontes.