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O que é o luto? Como se define?

O luto é a reação emocional a uma perda significativa. Tradicionalmente, é usado para descrever o processo que se segue à morte de uma pessoa importante, mas também se fala em luto noutros contextos de perda, como o fim de um relacionamento, a morte de um animal de estimação ou a perda de um emprego ou da segurança económica.

O luto consiste no estado de tristeza e dor pelo que se perdeu, bem como o processo de reajuste à vida, agora diferente, depois dessa perda.

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Porque é que há lutos mais fáceis e outros mais difíceis?

A intensidade do luto depende, em primeiro lugar, de se a pessoa era mais ou menos próxima, se estava mais ou menos presente e, sobretudo, da relação afetiva que havia com ela. Sabe-se, por isso, que o luto por um filho ou pelo cônjuge tendem a ser os mais difíceis e intensos.

Se havia questões ou conflitos por resolver com a pessoa que morreu, isso pode dar ao enlutado uma sensação de assunto inacabado e gerar arrependimentos que podem dificultar o processo.

As circunstâncias da morte também podem influenciar a vivência do luto: geralmente, as mortes repentinas e/ou violentas, tendem a dar origem a lutos mais intensos e prolongados do que as mortes que acontecem depois de um período de doença grave e incapacitante.

Por fim, o apoio social e familiar que se tem — ou não — também pode fazer a diferença. Quando as pessoas vivem o luto com o apoio prático e emocional da família, dos amigos e da comunidade, isso tende a facilitar o processo de recuperação e adaptação.

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O que se sente durante um processo de luto?

Há uma série de reações de luto muito semelhantes aos sintomas da depressão, mas outros são muito próprios deste estado.

Para a psicóloga clínica Sara Magalhães, coordenadora da Consulta do Luto no Centro de Desenvolvimento PIN e membro da direção da InLuto – Associação Portuguesa de Cuidados Integrados no Luto, as reações variam muito de pessoa para pessoa, mas estas podem ser consideradas as mais frequentes:

  • Sentimentos de saudade, tristeza, medo, ansiedade, desamparo, culpa, solidão e choque, podendo também haver um sentimento de alívio, em situações específicas;
  • Falta de energia e uma espécie de desaceleração, “que nos torna mais lentos do ponto de vista cognitivo e de movimentos — conhecida como ‘lentificação psicomotora'”;
  • Pelo contrário, pode ocorrer também um aumento de atividade, porque a pessoa tenta ocupar todo o seu dia com tarefas, para assim não parar para pensar (e sofrer);
  • Quebra de rendimento, nomeadamente a nível profissional, com dificuldades de concentração, muitas vezes devido à intrusão constante de memórias, pensamentos e emoções sobre a perda;
  • Comportamentos que têm a função de manter a presença da pessoa que morreu na sua vida, “os chamados continuing bonds”:  sensação de conforto quando usa o relógio que era do pai ou o terço da avó e procura usar o que aprendeu com quem perdeu para tomar decisões e para procurar conforto. Perguntando-se, por exemplo: “O que me diria a minha mãe nesta situação?”
  • São frequentes as sensações às quais os psicólogos chamam “expectativas frustradas de reencontro”. Ocorrem quando, racionalmente, o enlutado sabe que a pessoa querida morreu, mas, por exemplo, ao ouvir a porta de casa a abrir, não consegue evitar a expectativa irracional de que seja aquela pessoa a entrar.
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Há várias fases do luto?

É frequente que sejam mencionadas cinco fases ou estágios do processo de luto: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Foram assim descritas pela psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross no final dos anos 1960.

A psicóloga Sara Magalhães refere que, apesar de haver um conjunto de reações habituais, o que a investigação atual demonstra de forma consistente é que o luto é sempre um processo individual e único em cada pessoa. “Não faz sentido falar-se de fases. Isso pode criar a ideia de que o luto é um processo linear, rígido e, sobretudo, coloca a ênfase no tempo como único fator que promove mudança, sem colocar a pessoa como agente ativo dessa mudança.”

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O luto pode ser uma doença?

O luto, com todas as emoções e comportamentos típicos associados — como a tristeza, a dor emocional, a lentificação e/ou a falta de concentração — é considerado normal e saudável. A maioria das pessoas, com o tempo, acabam por se adaptar à vida sem a pessoa que perderam.

No entanto, há quem sinta a perda de uma forma mais intensa, com muito impacto no seu dia-dia e durante um período prolongado de tempo — geralmente, mais de um ano. Estas pessoas podem desenvolver aquilo a que se chama “luto complicado”. Essa condição já está contemplada nos manuais de diagnósticos como uma perturbação psicológica.

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E quais são os sinais de um luto complicado?

  • Manifestações intensas de raiva, culpa, tristeza ou saudade, mesmo em perdas ocorridas há largos anos;
  • Incapacidade de chorar e sensação permanente de “anestesia emocional”;
  • Amargura e ressentimento persistente com os outros e com a vida em geral;
  • Mudanças drásticas do estilo de vida após a perda que se mantém no tempo (isolamento social, por exemplo)
  • Não falar da pessoa que morreu ou de alguma coisa que possa trazer recordações;
  • Idealização da relação que se tinha com a pessoa e imitação dos seus comportamentos, hábitos ou características de personalidade;
  • Memórias focadas estritamente no processo de doença ou morte e comportamentos autodestrutivos, como abuso de álcool ou tentativas de suicídio, entre outros.

Perante este sintomas, a pessoa enlutada deve procurar ajuda de um profissional de saúde.

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Há outros tipos de luto?

Além do luto que se segue à morte de alguém — e que pode ser “normal” ou “complicado” —, há outros dois tipos de luto: o luto antecipatório e o luto preparatório, ambos frequentes em caso de doença grave ou terminal.

O luto antecipatório é o que começa antes da morte da outra pessoa. Acontece, por um lado, porque se antecipa a perda futura de quem está doente, ou seja, a possibilidade de essa perda ocorrer a curto prazo. Por outro lado, “numa situação de doença terminal e morte iminente, para além da perda futura da pessoa, existem perdas passadas e atuais”, explica a psicóloga. Começam a sentir-se uma série de mudanças causadas pela doença, ou seja, perde-se a pessoa como ela era antes de adoecer.

Já o luto preparatório é o processo de luto que a própria pessoa que está doente faz no decorrer das alterações físicas e emocionais que a doença lhe traz e ao perceber que está a morrer.

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O que pode ajudar a superar a morte de alguém?

Sara Magalhães aponta duas estratégias importantes: “Dois trabalhos de luto.”

Um é de natureza emocional e passa por aceitar e processar a perda e a dor. Pode ser feito estando em contacto com a saudade e com a tristeza que se sente, revisitando memórias ou vendo fotografias, visitando a campa, falando sobre a pessoa com outros familiares e amigos.

O outro passa por lidar com as consequências da morte da pessoa, o que pode incluir desempenhar tarefas que antes eram feitas por quem morreu ou assumir as responsabilidades deste/a.

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É muito difícil saber o que dizer a alguém em luto. Como posso apoiar?

Primeiro importa saber o que não dizer. “Frases como ‘A vida continua’, ‘Foi a vontade de Deus’, ‘O teu pai está num lugar melhor’, ‘Pelo menos já não está a sofrer’, ‘Tens que ser forte’, ‘Pensa nos momentos bons que tiveste com ele’ são de evitar”, defende a Sara Magalhães.

Quanto ao que é possível dizer ou fazer para ajudar, a psicóloga destaca o seguinte:

  • Estar presente. Dizer “Estou aqui para ti para o que precisares” e tomar iniciativa de estar e de escutar;
  • Mais do que tentar dar respostas, conselhos, soluções ou fazer comparações, importa escutar verdadeiramente o que a pessoa está a sentir;
  • Permitir e acolher o choro da pessoa em luto (sem querer pará-lo) e permitir os silêncios (sem os preencher com conversas de circunstância);
    • Escutar as histórias da vida da pessoa que morreu, acolhendo as lembranças, mostrando que não foi esquecida e que a sua vida teve impacto nos outros;
    • Tomar a iniciativa de ajudar em tarefas específicas e de carácter prático: fazer recados, preparar refeições, ir às compras ou dar apoio com os filhos;
    • Manter a presença ao longo do tempo: é comum a rede de apoio dos amigos e familiares estar muito presente no início, mas, com o tempo, as pessoas afastam-se, o que muitas vezes coincide com os momentos em que a dor está mais intensa e é mais difícil de suportar sozinho.
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Faz sentido procurar a ajuda de um profissional de saúde mental para lidar com um luto?

Sim, se esse processo se prolongar demasiado no tempo ou se for tão incapacitante que dificulta as tarefas do dia a dia e a interação com os outros, como explica a psicóloga Alexandra Coelho nesta entrevista.