Mais uma publicação no Facebook que usa a imagem de uma figura pública portuguesa, neste caso a do humorista Ricardo Araújo Pereira, para tentar atrair a atenção para uma plataforma financeira que o Banco de Portugal avisa que pode fazer parte de um “esquema de natureza fraudulenta”.
A publicação funciona como um isco e questiona: “O que provocou esta reação do público?” Por baixo surge uma imagem do humorista, no que se apresenta como uma página do Correio da Manhã, e quando se acede ao conteúdo surge uma página semelhante às do site do jornal com o título “O Banco Central de Portugal processa Ricardo Araújo Pereira pelas declarações que fez em direto na televisão”.
“O Banco de Portugal não apresentou qualquer queixa contra Ricardo Araújo Pereira. O conteúdo da página que remete o link enviado aparenta ser falso, não tendo existido, na realidade, qualquer conversa entre os interlocutores quanto à plataforma ‘NovusX’, nem qualquer intervenção do Banco de Portugal durante ou após a entrevista”, alerta o banco central português numa resposta ao Observador.
Acrescenta ainda que “página na internet que contém a publicação referida poderá integrar-se num esquema de natureza fraudulenta, dirigido a obter ganhos patrimoniais de potenciais clientes que julgam (erradamente) estar a investir em ativos virtuais”.
Os sinais de fraude são, de resto, evidentes. O link do Correio da Manhã é outro e a apresentação das notícias online não é aquela que aparece neste link fraudulento. Além disso, o texto refere que as supostas declarações de Ricardo Araújo Pereira foram feitas numa entrevista à Renascença, que teria sido conduzida pela animadora das manhãs Ana Galvão, mas nessa participação do humorista no programa daquela rádio não foi dito nada do que lhe é atribuído, como é possível verificar aqui.
No texto falso é referido que “o programa foi interrompido por uma chamada do Banco Central de Portugal, que exigiu a sua suspensão imediata”. E os leitores são desafiados “a seguir o link fornecido pelo próprio Ricardo Araújo Pereira” antes que o artigo possa “ser apagado em breve, como aconteceu com a emissão”.
O link a que se refere a publicação direciona o leitor para uma plataforma financeira, NovusX, que o Banco de Portugal alerta que “não está, nem nunca esteve, habilitada a exercer, em Portugal, qualquer atividade financeira reservada às instituições sujeitas à supervisão do Banco de Portugal, nomeadamente, atividades com ativos virtuais e receção de depósitos ou outros fundos reembolsáveis.”
São muitas as fraudes com os mesmos contornos a circularem nas redes sociais e o Banco de Portugal tem feito alerta sobre “os riscos associados ao investimento em ativos virtuais” e publicado uma listagem da atividade não autorizada para alertar potenciais investidores. Está também publicada, no site da instituição, uma lista das entidades que podem desenvolver atividades com ativos virtuais. Além desta informação, o “Banco de Portugal tem igualmente comunicado às autoridades com competência para a investigação criminal todos os indícios de crime que apura no exercício das suas competências”, refere fonte oficial.
O Banco de Portugal recomenda ainda “aos potenciais interessados em investir em ativos virtuais que, antes de estabelecerem relações comerciais com qualquer entidade que alegue desenvolver atividades com este tipo de ativos, verifiquem se a entidade em causa está autorizada a desenvolver atividade financeira reservada às instituições sujeitas à supervisão do Banco de Portugal, nomeadamente, atividades com ativos virtuais e receção de depósitos ou outros fundos reembolsáveis”.
Ao longo do último ano, o Observador tem verificado várias publicações semelhantes, que classificou como falsas, como esta que envolvia o nome do líder do Chega André Ventura, ou esta que referia o apresentador de televisão Manuel Luís Goucha, ou ainda esta sobre o especialista em finanças pessoais, Pedro Andersson. Entre 2021 e 2022, o número de queixas por fraudes nas redes sociais mais do que duplicou, como noticiou o Observador há um ano. Nessa altura os danos patrimoniais provocados por situações de fraude como esta já ultrapassavam, só no caso de cidadãos nacionais, os 13 milhões de euros.
Fraudes com ativos virtuais ultrapassam os 13 milhões de euros de prejuízos
Conclusão
É falso que Ricardo Araújo Pereira tenha sido processado por ter feito declarações públicas revelando uma forma de enriquecimento rápido através de um software que utiliza inteligência artificial para negociar criptomoedas. O Banco de Portugal confirma que “não apresentou qualquer queixa contra Ricardo Araújo Pereira. O conteúdo da página para que remete o link enviado aparenta ser falso”, refere ainda. E alerta para mais um “esquema de natureza fraudulenta, dirigido a obter ganhos patrimoniais de potenciais clientes que julgam (erradamente) estar a investir em ativos virtuais”.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.