O método multiplica-se no Facebook, numa fraude que envolve supostas plataformas de criptomoedas, sem habilitação para exercer em Portugal, que usam entrevistas reais e manipulam imagens de sites de órgãos de comunicação social para se promoverem. Desta vez, o instrumento usado para divulgar a informação falsa e com isso chamar a atenção de utilizadores é uma entrevista ao especialista em finanças pessoais Pedro Andersson feita num programa da SIC, “Casa Feliz”, apresentado por João Baião e Diana Chaves.

A informação partilhada no Facebook em publicações que envolvem diversas figuras públicas tem quase sempre a mesma forma. Uma fotografia da entrevista à figura pública a que se refere — neste caso, Pedro Andersson –, com um link falso que, em alguns casos remete para um site que nada tem a ver com o que é referido, e noutros casos para uma página falsa do jornal digital Eco. Nestes casos, surge uma suposta notícia sobre uma intervenção do Banco de Portugal, com citações e a transcrição de partes da conversa que não existiram. O texto da publicação detalha que a figura pública em causa terá divulgado “informações financeiras” de tal “magnitude” que podem “abalar as fundações da sociedade portuguesa” — a formulação é sempre igual.

Neste caso concreto é usado um momento que envolve alguém que é ligado à área financeira, ao contrário de grande parte das publicações que têm surgido e que já foram analisadas pelo Observador — caso desta e esta ainda — onde as figuras públicas em causa estão sobretudo ligadas ao entretenimento e aproveitadas pelas projeção que têm e não por serem referências na área.

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A imagem é a única coisa verdadeira nesta publicação, tendo sido retirada da entrevista real. Ou seja, a entrevista no programa “Casa Feliz” aconteceu mesmo. Mas tudo o resto não existe.

Por baixo da fotografia surge um título a dizer que “a entrevista foi interrompida pelas autoridades, mas era tarde demais por causa [sic] Pedro Andersson já falou sobre tudo”. Os erros gramaticais já levantam suspeitas que são agravadas pelo nome do site que surge por cima, “celebseimprove.com”.

Com um clique, os utilizadores do Facebook são, muitas vezes, reencaminhados para uma página que parece do jornal Eco, mas não é verdadeira. Na barra de endereços não aparece o URL do Eco, que é este, mas antes uma descrição complexa que nada tem a ver com o site de notícias especializado em economia. O título em destaque: “Banco de Portugal processa André Ventura pelo que disse ao vivo na TV”. O texto da suposta notícia faz referências que não existiram na conversa real (que pode ver aqui) e, pelo meio, remete o leitor para uma suposta plataforma de criptomoedas.

Mas o redirecionamento dos utilizadores não termina sempre no mesmo destino. O Observador acedeu ao link associado à publicação com a suposta entrevista a Pedro Andersson em diferentes dispositivos e se, nalguns casos, era apresentada uma página que simulava o site do jornal Eco, noutros casos aquilo que surge no ecrã é um site do Azerbaijão com um suposto artigo noticioso com o título “Preparação e defesa de reclamações durante disputas bancárias”. Nesse texto, são também feitas referências a revelações feitas em direto num programa transmitido naquele país. Mas, aparte essa menção, o conteúdo não tem qualquer relação direta com o post do Facebook que alude à entrevista ao jornalista Pedro Andersson.

O esquema é semelhante a outros que já surgiram no Facebook, envolvendo outras figuras públicas, e que já foram analisados pelo Observador no passado.

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Contactado por mais uma publicação semelhante a outras com que já foi confrontado, o Banco de Portugal volta a dizer ao Observador que “o conteúdo da página para que remete o link enviado aparenta ser falso, não tendo existido, na realidade, qualquer conversa entre os interlocutores” sobre uma platafor de criptomoedas quanto à plataforma ‘Ethereum AI’, nem qualquer intervenção por parte do Banco de Portugal durante a entrevista”.

“A página na Internet de onde consta a publicação referida poderá integrar-se num esquema de natureza fraudulenta, dirigido a obter ganhos patrimoniais de potenciais clientes que julgam (erradamente) estar a investir em ativos virtuais”, acrescenta ainda a instituição que detalha que “a suposta plataforma ‘Ethereum AI’ não está, nem nunca esteve, habilitada a exercer, em Portugal, qualquer atividade financeira reservada às instituições sujeitas à supervisão do Banco de Portugal, nomeadamente, atividades com ativos virtuais e receção de depósitos ou outros fundos reembolsáveis”.

O BdP avisa que tem “tido conhecimento de situações similares à relatada, envolvendo outras figuras públicas e outras supostas entidades/plataformas que afirmam dedicar-se a atividades com ativos virtuais, quando, na realidade, desenvolvem apenas esquemas fraudulentos”. Não são adiantados dados concretos devido ao segredo bancário e ao segredo de justiça, no entanto, a entidade afirma que “o número de processos de averiguação abertos relacionados com este tema aumentaram significativamente nos últimos tempos”.

Têm sido publicados “alertas genéricos sobre os riscos dos ativos virtuais”, por parte do Banco de Portugal, bem como “avisos públicos alertando para o facto de determinada(s) entidade(s), pessoas singulares e coletivas, marcas e websites, não se encontrarem registadas junto do Banco de Portugal para desenvolverem atividades com ativos virtuais”, refere a instituição. Além disso, o BdP adianta que “tem igualmente comunicado às autoridades com competência para a investigação criminal todos os indícios de crime que apura no exercício das suas competências”.

Conclusão

O Banco de Portugal não interrompeu a entrevista de João Baião ao especialista em finanças pessoais Pedro Andersson e o conteúdo da conversa também não tocou em nada do que é referido nesta publicação. Trata-se de uma tentativa de fraude, usando não só a imagem de uma entrevista onde não foi dito nada do que é referido, como também de um órgão de comunicação social para criar uma notícia que nunca foi avançada. O Banco de Portugal diz que a publicação “poderá integrar-se num esquema de natureza fraudulenta”, que usa supostas plataformas de criptomoedas, e alerta para a existência de várias situações similares envolvendo outras figuras públicas.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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