Ainda não há uma única vacina no mercado para travar o novo coronavírus, mas as notícias falsas a circular são muitas. O post viral mais recente garante que a China comprou o fármaco de Oxford para distribuir à sua população e que vendeu as opções que estão a ser desenvolvidas localmente ao Brasil. A ideia que a publicação pretende incutir é a de que o país está a assegurar que fica com a vacina mais promissora, enquanto tenta escoar o resto para outros mercados. A história não corresponde à realidade.

Em agosto foi noticiado um acordo entre a AstraZeneca, a farmacêutica que está a desenvolver aquela que é conhecida como a vacina de Oxford, e a Shenzhen Kangtai Biological Products. No negócio, a empresa chinesa, que tem atualmente capacidade para produzir 100 milhões de doses por ano, comprometia-se a chegar aos 200 milhões. Em nenhum momento foi dito que esta invalidava as outras vacinas que estão a ser testadas na China. Aliás, não existe ainda nenhuma comprovadamente eficaz na prevenção da Covid-19 — estão todas em diversas fases de ensaios clínicos. No entanto, foi daqui que partiu o boato que continua a espalhar-se nas redes sociais.

Em primeiro lugar, a China tem uma população com cerca de 1,3 mil milhões de pessoas. Logo, uma só vacina — mesmo com 200 milhões de doses anuais — não chegaria para muito. O governo assegurou várias opções para que aquelas que forem certificadas possam chegar ao máximo de pessoas.

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Em segundo lugar, a parceria entre a AstraZeneca e a empresa chinesa não é inédita. Acordos semelhantes foram feitos com fábricas nos EUA, Reino Unido, Brasil e Coreia do Sul.

Em terceiro lugar, os ensaios clínicos da vacina de Oxford estão em pausa depois de uma voluntária inglesa ter desenvolvido mielite transversa, uma inflamação na medula espinhal. A FDA (Food and Drug Administration, agência norte-americana que também regulamenta os medicamentos), está a investigar mas, segundo declarações de uma fonte à agência Reuters, os testes podem recomeçar ainda esta semana.

A corrida às vacinas está longe de terminar. Ao consultarmos um localizador de vacinas elaborado pelo “The New York Times”, e que é atualizado diariamente, é possível percebermos em que fase está cada uma delas. Não há nenhuma aprovada. Existem seis na etapa anterior a essa, ou seja, “para uso inicial ou limitado”. Duas são russas: Sputnik e EpiVacCorona. As restantes são chinesas: estão a ser desenvolvidas pela empresa CanSino Biologics, pelo Instituto de Produtos Biológicos de Wuhan, pela Sinopharm e pela Sinovac Biotech — esta última, a CoronaVac, é uma das quais mais se tem falado. Apesar da urgência para travar a pandemia, os especialistas alertam para os perigos desta rapidez. Algumas vacinas não esperaram para ter todos os resultados da fase três, aquela em que há dados suficientes para detetar efeitos secundários que podem não ter sido claros nas primeiras etapas e em que tem de ficar demonstrado que a vacina protegeu pelo menos 50% das pessoas que a receberam.

Em Portugal também está a ser desenvolvida uma vacina. A empresa Immunethep, de Cantanhede, prevê começar os testes em humanos dentro de seis meses.

Conclusão

É verdade que uma empresa chinesa fez um acordo para produzir localmente a vacina de Oxford mas isso não significa que já não pretenda usar as opções que estão a ser testadas no país ou que estas sejam menos eficazes. Aliás, das seis vacinas que atualmente estão na etapa mais avançada, quatro são chinesas.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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